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Dias em Díli? Dias em Família

Nos dias que permaneci em Díli em casa do Garey, tive a oportunidade de viver com ele, com os seus primos espetaculares  o Cirilo, a Amélia, a Digani, a Jenny e todos os demais… – e de conhecer outros membros da sua magnífica e simpática família… a família Nicolau. 😀

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Com eles tive a oportunidade de aprender muito, muitíssimo sobre o país e falámos sobre muitos assuntos: os fatídicos e negros episódios de 1999 relatados na primeira pessoa pelo Sr. Nicolau e com os quais me emocionei – as perseguições, os assassinatos, as mortes, as fugas para as montanhas/colinas em redor da cidade, a fome existente em 2000… -; os motivos que levaram a Austrália a intervir na invasão – exclusivamente económicos!; a evolução bastante positiva que o país tem tido, apesar das dificuldades existentes – sendo a corrupção generalizada um dos maiores entraves ao desenvolvimento sustentado -; o ensino e as dificuldades da adoção do português como língua oficial – principalmente para a geração de transição, que viveu entre o ensino obrigatório da língua indonésia e da língua portuguesa -; o enorme poder detido pela igreja católica e os sonhos, desejos e anseios destas pessoas tão boas e de coração tão grande.

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Durante aqueles dias, li bastante; escrevi textos para o blog e passei a gerir o mesmo de um modo distinto; falei muito com as pessoas – tradição Timorense/Ocidental – número de filhos; relações; casamento; família e dos “modelos imperfeitos” existentes em cada sociedade -; ganhei ideias sobre que locais deveria visitar no país; mostrei fotografias da minha viagem e contei episódios que vivi; comprei pela primeira vez um cartão SIM fora de Portugal; corrigi o português da monografia do Cirilo; fui em alegre “romaria” com os primos Nicolau até à zona do Cristo Rei já fora do centro da cidade e fiquei com ideia que Díli se assemelha a um senhor alto e magrinho – como a cidade se encontra entre o oceano e as colinas, não existe praticamente margem para crescer em largura, apenas em comprimento – e concluí que a cidade é bastante humilde, pacata, sem grandes locais turísticos a visitar e que a pouco e pouco se está a refazer e modificar, mas que tem no seu interior uma população com um coração ENORME! 😀

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Em Díli vivi dias lentos, mas regra geral tranquilos, tirando os momentos surreais que tive quando me desloquei três vezes para aplicar um novo visto na caótica e burocrática embaixada da Indonésia! O caos na parte exterior da entrada; a falta de organização, informação e cortesia; as portas com gradeamentos – parecia que estava numa prisão -; as cinquenta senhas diárias que se esgotavam em menos de nada; o preço exorbitante do visto – quando comparado com outros países da região -; as regras ridículas, nunca antes vistas em nenhuma embaixada – formulários preenchidos exclusivamente com canetas de tinta preta, fotografias tipo passe com fundos vermelhos! – Ahhhhhhhhhhhh! “Preciso” gritaaaaaaaaaaaaaar! Exasperante… horrível… uma experiência a nunca mais repetir! :/

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Na cidade vivi verdadeiramente em família e senti-me um felizardo por ter essa oportunidade. Obrigado família Nicolau, pelo carinho e amor… seguramente que vou voltar… mas “agora” seguirei para Baucau na companhia do Garey e do Cirilo! 😀

P.S. – Se tiverem de obter o visto da Indonésia – com antecedência – aconselho vivamente a fazerem-no noutro país. Fazê-lo em Timor Leste revelar-se-á um duro teste à vossa paciência e sanidade mental.

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Reflexões

Reflexões Lamalerianas

Após tudo o que vi em Lamalera, fiquei com a certeza que os pescadores/baleeiros têm uma vida bastante dura, de muito trabalho físico e não encontro nenhum motivo para se parar com a pesca tradicional, nesta vila. NENHUM! Os nativos apanham o que conseguem sem destruírem o ecossistema e não existem extermínios em massa, como acontece por exemplo no civilizadíssimo Japão. Após apanhada a “presa” quase tudo é aproveitado e os desperdícios são mínimos. Estas pessoas pescam para sobreviver e respeitam o mar com veneração, ou pelo menos sentem-lhe temor e sabem que se abusarem dele, no final não sobrará NADA! A não ser um deserto de ossadas e que a partir desse momento, a sua vida estará invariavelmente arruinada e perdida.

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Crónicas Em trânsito Fotografia

Em trânsito: Até ao Infinito? Naaaaaaaaaaaaaaaa… Lewoleba

Se chegar a Moni já foi uma looooooooonga viagem pelo interior da ilha das Flores, a ida até à ilha de Lembata revelou ser uma jornaaaaaaaaaaada e uma caixinha de surpresas. 🙂 A viagem durou dia e meio, e para lá chegar apanhei dois autocarros, três ojek – táxi-mota – e dois barcos. Mas vamos aos factos…


Depois de visitar o bonito vulcão Kelimutu e as suas três crateras/lagos, apanhei um autocarro para as imediações da pequena aldeia piscatória de Sikka. Durante a viagem, à medida que fui descendo o ar começou a ficar mais denso, o ritmo mais lento e a vegetação, tornou-se novamente, tropical. Completamente rodeado de sacos e “nativos”, segui por verdes vales, escarpados e profundos, vendo em algumas ocasiões o mar azul, enseadas e baías, pequenas vilas, praias de areia negra e outras de areia branca – nas imediações de Sikka. Já na aldeia, estive com crianças na praia que gritavam: ”Photo, photo, photo…” mas que quando chegava a “hora da verdade” se escondiam com feições envergonhadas, falei um pouco e bebi um café com um grupo de senhoras e visitei a bonita igreja que tem no seu interior uma estátua de Cristo, que se acredita ter sido trazida pelos portugueses em 1641, aquando da queda de Malaca às mãos dos holandeses.

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Em Sikka apanhei um ojek para Maumere, mas desta feita, segui montado num “foguetão”, veloz e poderoso. Durante a curta viagem, de meia hora, pensei – principalmente a partir do momento que começou a chover – que se caíssemos, íamos ficar agarrados ao asfalto qual hambúrgueres na grelha. 😛 Maumere, que se situa entre o mar e montanhas, mostrou-se à semelhança de tantas outras cidades Indonésias, suja, pobre e deixada à sua sorte mas com pessoas incrivelmente sorridentes e calorosas. Porém, o que recordo principalmente da cidade é o encontro que tive com um “verdadeiro viajante”. Um senhor de mais idade, cheio de sentimentos de soberba, por nunca apanhar aviões e que à primeira opinião contrária que ouvia, se afastava imediatamente. Depois de assistir ao seu comportamento, desejei nunca me vir a transformar nele e no seu slogan: “Eu é que sou o verdadeiro Viajante!”.

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Em Maumere, não me fiz de velho e no dia seguinte, bem cedo apanhei um autocarro para a cidade de Larantuka. Novamente, a viagem fez-se pelo meio de uma cordilheira montanhosa, desta feita de norte para sudeste. Durante o trajeto e enquanto a música distorcia fruto da elevada intensidade sonora das colunas roufenhas, dormi aos poucos, fumei à grande com os nativos, tirei retratos e retribuíram-me a gentileza, vi muitas carrinhas decoradas com motivos religiosos, observei um grande mercado que estava a haver em Boru – pessoas, galinhas, motos, carrinhas, vegetais… -, senti que me estão sempre a pedir coisas – lenços, óculos de sol, pulseiras – como se o estrangeiro fosse uma “vaca leiteira”, pensei: “porque é que têm de conduzir tão depressa” e tive pensamentos soltos: viajar sozinho/acompanhado; tempos mortos; inabilidade para comunicar com os nativos e necessidade de comunicação; binómio andar/parar – “onde queres ir? Onde queres chegar? O que queres ver?”. Tal como no resto das montanhas das Flores, o cenário era deslumbrante e ao fim de três horas surgiu no horizonte, Larantuka e as ilhas de Solor e Adonara. A proximidade dessas ilhas à costa fazia com que o mar se assemelhasse a um lago rodeado de montanhas. Incrível!

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Em Larantuka, tentei informar-me acerca de barcos e ligações para chegar a Timor Oeste, mas devido ao mau tempo não havia ligações. Como não consegui arranjar nenhuma opção barata para dormir decidi partir para Wureh em Pulau Adonara e visitar mais vestígios portugueses, porém fruto de problemas nas negociações da travessia, desisti da ideia – “às vezes é chato e cansativo verem-me apenas como dinheiro andante”. Sem muitas opções, parti então para Pulau Solor, onde em Lahayong encontraria as ruínas de um forte português do século XVII. A fortaleza construída pelos descobridores lusos como entreposto militar, servia de apoio e defesa aos seus barcos que faziam o transporte de madeira de sândalo de Timor para Malaca.

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Na partida da ilha das Flores e enquanto esperava pelo barco, pensei no desgaste de viajar, na sua beleza, no seu desafio e improviso constantes! E se escrevi improviso, foi isso que acabou por acontecer. Soa a “piada”, mas afinal o barco estava em rota para Pulau Adonara! Instantaneamente desisti de visitar Wureh e Lahoyang. O plano imediato, passou a ser dormir em Waiwerang e na manhã seguinte seguir para Pulau Lembata, porém… assim que desembarquei no porto, voltei a embarcar noutro barco que estava de partida. Para? … exatamente – caro leitor – para a ilha de Lembata! Mais precisamente para a capital, Lewoleba e foi aí que acabei por ficar. Viagem até ao Infinito? Naaaaaaaaaaaaaaaaaaaa… Lewoleba! 😀

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Reflexões

Reflexão Balinesa

Bali é uma das mecas do turismo na Ásia e quem visita a Indonésia, dificilmente não pára aqui. Existem factores incontornáveis que explicam o sucesso da ilha como destino turístico:

  • A ilha é profundamente marcada por uma espiritualidade hinduísta e isso é notório a todos os níveis – culturais, religiosos, comportamentais… -, fruto dessa premissa a ilha tem um ambiente singular no enorme conjunto de ilhas que formam a Indonésia;
  • em termos de área, quando comparada com outras ilhas do país – Java, Sulawesi, Sumatra, Kalimantan… – é minúscula e muitas das estradas estão em excelentes condições, desse modo, percorrer a ilha é fácil e relativamente rápido;
  • o aeroporto de Denpassar, está ligado via low-cost à Austrália – país riquíssimo e com elevado poder económico – e outros destinos asiáticos – Singapura, Kuala Lumpur, Bangkok…;
  • existe um marketing poderoso à volta do nome Bali, que vende a ilha como “pãozinho quente”;

Quanto à minha experiência pessoal, fiquei com a certeza que quanto mais afastado de Kuta estive melhor me senti. O ambiente de Kuta  tal como em muitos locais da Tailândia – gira à volta do que a grande maioria dos ocidentais procura – é triste, mas é a realidade – animação noturna, bares e álcool, sexo e prostituição e praia para assarem que nem camarões, procurando a maioria das vezes, o que já têm nos seus países mas a preços mais baixos.

Depois de sair do “inferno” de Kuta, o ambiente da ilha melhora exponencialmente à medida que nos afastamos e rumamos em direção a norte. Como em todo o lado, quanto mais afastados dos centros turísticos estamos, melhor somos tratados pelas locais e cada vez menos vistos como um cifrão andante.

Depois de percorrer um pouco de Sumatra onde a maioria das pessoas eram extremamente genuínas e calorosas, chegar a Bali e conhecer os balineses comparou-se a comer comida sem sal. Sem dúvida, que eram corteses e polidos a maioria das vezes, mas simpatia pura? Poucas vezes a senti! :/

Com base nestas considerações, guardarei na memória Bali como uma ilha agradável, culturalmente interessante e que merece ser visitada por alguns dias, mas que não deixou muitas saudades, nem tão pouco uma marca impagável no meu coração.

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Crónicas Em trânsito Fotografia

Bukittinggi e Arredores

Depois da viagem inesquecível e de aterrar no aeroporto de Padang, apanhei uma carrinha para a cidade de Bukittinggi, onde cheguei já de noite. Depois de arranjar poiso na agradável Hello Guesthouse, conheci Manu, um rapaz espanhol que também estava a viajar a alguns meses na Ásia e com naturalidade começámos a falar sobre pequenos tudos e pequenos nadas, e uma vez que estávamos pela primeira vez no hemisfério sul fizemos uma pequena experiência sobre o efeito de coriolis. A verdade é que nos entendemos tão bem que combinámos ir juntos a um lago – danau Maninjau – e a um vulcão – Gunung Marapi – que ficavam nas imediações da cidade, quando ele regressasse do lago de Singkarak.

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Em Bukittinggi ademais de comer deliciosos martabaks tal como em Berastagi – e pequenos-almoços, fui acordado todas as noites as quatro da manhã com cânticos, não de uma, mas de duas mesquitas! 😛 E passeei na caótica e animada zona do mercado, em Kato Gadang  uma antiga muralha – em Siank Canyon rio entre vales – e no Panorama park, do qual tive uma visão mais elevada sobre verdes vales e montanhas.

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Para além de percorrer a cidade, fui até à vila de Batu Sangkar  a cerca de quarenta quilómetros de distância e coração da etnia matriarcal/patriacal dos Minangkabau – onde visitei o bonito palácio do rei em Pagaruyung, mas principalmente onde tive a oportunidade de conhecer Revi Suhendi, um ojek – condutor de táxi-mota – extremamente amistoso e caloroso que me levou a “passear” em redor da vila. Desse modo, tive a oportunidade de observar a bonita paisagem campestre e muito verde, cheia de plantações, arrozais e afáveis camponeses e no final do nosso pequeno tour, Revi ofereceu-me um refresco e meio maço de tabaco! Na despedida tirámos um retrato juntos e fiquei a saber que amigo, na língua Indonésia se diz SUKA! 😀

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Outra das visitas que fiz, aliás que tentei fazer, foi ir até ao vale de Harau, nas imediações da cidade de Payakumbuh. Porém o que à primeira vista parecia simples, revelou-se uma tarefa impossível devido aos múltiplos problemas que tive com os transportes: bilhetes hiper-inflacionados, longas discussões de preços, múltiplas conexões e desconexões, carrinhas/autocarros a cair aos bocados e longuíííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííííssimas esperas, tudo somado resultou num passeio surreal passado na Indonésia, mais precisamente em Sumatra, onde a lógica se torna ilógica e o caos passa a comandar as situações do quotidiano. Neste dia esperei, irritei-me, praguejei, ri-me e aprendi uma lição: em Sumatra há que ter tempo para viajar e uma paciência de Jo, ou nas palavras mais sábias e perfeitas de Saramago: “Afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte”.

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Reflexões

Reflexões Asiáticas

Outros momentos que guardo na memória, ainda da ilha de Tanahmasa foram as longas e interessantes conversas que tive com o Luke sobre a Indonésia, segundo ele um “sistema” caótico de regras, e outros países tropicais, e nas quais ouvi e retive algumas frases soltas: “Eles não aprendem por eles próprios”; “Eles querem que o coco lhes caia em cima da cabeça”; “Ao mesmo tempo com a televisão/internet aprendem que querem “coisas” – materiais -, mas não se apercebem que para ter essas “coisas” à que trabalhar e não se ficarem a queixar da sua “sorte” ou “má sorte”.

Outras ideias que discutimos relacionaram-se com a influência do sol e da temperatura, que permite ao ser humano usufruir de uma vida mais pacífica/amena – ao contrário dos países frios, uma pessoa senão trabalhar, ou não tiver uma casa robusta, dificilmente morrerá de frio, quanto muito poderá apanhar uma gripe – e como esses fatores – sol e temperatura – influenciam a nossa própria natureza humana, tornando-nos mais relaxados e indolentes; bem como a falta de visão/imaginação associada à ausência das pessoas terem de se preocupar demasiado, pois a própria natureza encarrega-se de lhes dar gratuitamente algumas “coisas”.

Com base em todas estas ideias e questões deixadas no ar, fiquei a magicar e penso que existe um misto de falta de oportunidades e uma ausência de imaginar algo diferente. Porém e devido à complexidade do ser humano e das suas motivações, não é fácil chegar-se a uma conclusão, mas não tenho dúvidas relativamente a uma coisa… é sempre o conjunto dos ingredientes que resulta na caldeirada.

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Pulau Tanahmasa. O Paraíso Escondido!

Na praia fomos recebidos por crianças sorridentes e curiosas, que assim que atracámos começaram logo a desmontar o motor do nosso barco. Fizemos uma pequena caminhada até à “catedral” construída pelo “Luke the builder” e a cada passo dado, fui sentindo um respeito quase “sagrado” pelo local. Entrei lentamente e subi ao primeiro andar, para por a bagagem no quarto. Era simples, mas limpo e sólido e o colchão e a almofada um “luxo”! 🙂 Quando voltei ao piso térreo, disse-lhe o quanto apreciava aquela casa e o respeito que tinha por ele e pela sua criação.

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Em pulau – ilha – Tanahmasa fiquei alguns dias e durante esse tempo, deambulei sem objetivos; vi e tirei algumas fotografias a uma paisagem bela de selva, coqueiros, praias de areia branca, dourada e coral partido, reflexos de céu espelhados em pequenas piscinas naturais, mar de múltiplos azuis e verdes; barcos; canoas e pescadores; senti tranquilidade e sossego; passei por pequenas aldeias, onde cumprimentei muitas pessoas amistosas e curiosas e senti o seu calor humano; fui convidado para discursar num funeral!? – agradeci, mas não o fiz -; visitei escolas, repletas de crianças às quais tirei retratos e senti a sua alegria infantil e joguei voleibol, noutra escola com miúdos um pouco mais velhos e espertalhões, sentindo que a sua pureza infantil, já se tinha ido.

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Para além disso, fui apelidado de turista pela primeira vez por crianças e não gostei nada – depois “caí” em mim e percebi que a conotação negativa estava em mim e não nelas, ao mesmo tempo que percebi que eu era mesmo isso, um turista, quer o aceitasse ou não! E lembrei-me das palavras de Klaus em Xing Ping: “Serás sempre um turista, a menos que estejas na tua terra natal!” -; fiz um pouco de praia e escolhi pequenos corais para guardar; acabei de atualizar o caderno; li o “The Great Gatsby” e apreciei a sua simplicidade lírica, bem como o excelente retrato que traça de uma sociedade, que ainda hoje se mantém atual; ajudei o Luke em pequenos biscates – canalização, montagem de um esquentador… -; fiz snorkeling algumas vezes e vi a beleza do sol a penetrar na água e a espalhar reflexos e cores, a perfeição dos tubos das ondas a serem formados, alguns peixes coloridos, o Luke a pescar com arpão e num dos dias… também tentei pescar com ele, mas não correu muito bem devido a alguns fatores: forte corrente, demasiado próximos, coral raso e ondas, algum cansaço físico, não ter força suficiente para armar o arpão, que mais parecia uma arma para elefantes! 😛 E nesse momento pensei que não pode correr sempre bem, desde que não acabe mal! 😉 E a ilha de Tanahmasa, ficará para sempre guardada no meu coração como um paraíso escondido, um local dentro do mundo, mas que praticamente foi esquecido por este. 😀

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E você caro leitor, já teve a felicidade de estar num local do mundo, praticamente esquecido por este?

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Em trânsito: Medan – Berastagi. Fórmula Zuuuum!!!

Em Medan e nas imediações do meu hotel de “sonho”, apanhei um tuk-tuk que me levou pelas caóticas e fumegantes ruas da cidade. O meu condutor foi tão Sócrates (“porreiro pá!”) que me deixou dentro do autocarro. Vá… quase… 😉

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O autocarro era um mini-bus de cerca de vinte lugares, bancos azuis e verde alface e carregadíssimo de bagagem no tejadilho. Quando me sentei, fiquei fascinado a observar as pessoas a deitar fumo pela boca, qual dragões! Ao mesmo tempo que ouvia um cascabulho altíssimo (saído das colunas roufenhas) que quase nos deixava surdos. Estava num psycotrance bus, só faltavam as luzes e os flashes a piscar. 😛

Durante a serpenteante viagem até às terras altas do Karo, saímos da humidade e calor da cidade, para um mundo mais fresco de selva, floresta e neblina e apenas notei que chegara ao meu destino quando me apontaram a saída já no interior de uma pequena e cinzenta vila, perdida nas nuvens. 🙂

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Ainda acerca da viagem, gostaria de referir que o meu condutor buzinou freneticamente, observei imensas pessoas a viajar nos tejadilhos dos mini-bus/carrinhas! E vi a minha vida a andar para trás em algumas situações, uma vez que as ultrapassagens eram efetuadas em todos os lados: subidas, descidas, curvas fechadas, pela direita, pela esquerda… nunca estive num local com uma condução tão louuuuuuuuca! Welcome to Indonesia. O país da fórmula Zuuuuum! 😛

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Ideias soltas sobre a Malásia

Quando cheguei à Malásia vindo da Tailândia e do seu sul de mafiosices constantes, o facto que mais me surpreendeu foi ver os preços dos transportes afixados e tabelados, como o caso dos autocarros e dos táxis – na grande maioria dos casos. No país a probabilidade de haver enganos nos transportes públicos é por isso muito mais reduzida. 🙂 Isso não significa que não possam existir situações dúbias, por exemplo os barcos em Bako e em Perhentian, onde existe um monopólio associado e as carrinhas de transporte  mini-vans – em Georgetown e nas Terras Altas do Cameron, onde se deve tentar encontrar os preços mais atrativos, pois existe uma grande concorrência entre agências de viagens/transportes.

O símbolo do país está bem patente na nota de 50 MYR  a segunda de valor mais elevado – a palmeira que gera o óleo de palma. A península da Malásia está coberta de hectares e hectares sem fim de palmeiras e infelizmente muita da selva primitiva do Bornéu foi destruída na transformação da paisagem. A verdade é que no mundo atual não existem soluções mágicas. O óleo de palma gera, dinheiro… muito dinheiro! Para além disso substituí-lo é uma tarefa muito complexa, devido ao elevadíssimo número de produtos existentes no mercado – alimentares e não só – que utilizam este óleo na sua composição e a sua substituição pode tornar-se ecologicamente insustentável – o óleo de palma produz quatro a dez vezes mais do que qualquer outra cultura.

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A corrupção – tal como na maioria dos países asiáticos – está muito presente no sistema político e tal situação afeta de forma preocupante e negativa a economia do país. Durante as últimas décadas, muitas decisões foram tomadas de forma leviana e com o objetivo de favorecer certas empresas e indivíduos, em detrimento do bem-comum. Desse modo a Malásia, construiu muitos elefantes brancos e esbanjou um elevado número de recursos naturais. Apesar de no dia-a-dia, em termos gerais, existir uma excelente unidade entre etnias: Malaios, Chineses e Indianos. A unidade da Malásia é abalada pela existência de uma enorme discriminação na atribuição de cargos de estado entre as três etnias, uma vez que os cargos de chefia são quase sempre entregues a cidadãos de etnia Malaia. Tal situação mina a crença das pessoas, na igualdade e na justiça da sociedade.

Entre a Península da Malásia e o Bornéu Malaio, sente-se uma diferença geral de atmosfera. A religião muçulmana diminui em termos de importância e torna-se menos rígida, a religião cristã aparece no mapa e ainda se conseguem encontrar algumas tribos com algumas tradições vivas e raízes antigas. Estas premissas, influenciam de forma decisiva os habitantes da ilha e as pessoas tornam-se no geral mais descontraídas. Para além disso o Bornéu ainda é um espaço mágico e primitivo, onde se podem encontrar alguns pedaços de selva muito antiga, muitos animais selvagens e pessoas muito calorosas e humanas; e desse modo, ficar-me-á para sempre na memória, como um dos locais mais especiais de toda a viagem e onde fui verdadeiramente FELIZ! 😀

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Viagem Sentimental a Malaca

A Malaca, essa histórica terra de sultões malaios, portugueses – durante centro e trinta anos: 1511 a 1641 – holandeses, britânicos e posteriormente chineses e indianos, cheguei às sete da manhã, depois de uma viagem noturna de comboio – a primeira e única que fiz no país – que ligou Jerantut a Tampin e de uma breve travessia de autocarro entre Tampin e Malaca.

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Nos três dias que estive na quente, sonolenta e turística cidade, que é património da UNESCO desde 2008, lavei toda a roupa que usei na selva de Taman Negara e que estava um “caco” 😛 ; desfiz toda a mala e decidi o que enviar para Portugal via correios; marquei o meu voo para entrar na Indonésia, via Sumatra; escrevi postais; vi muitos episódios de uma série, que tinha em atraso; marquei hostel em Singapura e combinei reencontrar-me com o Rudy  um rapaz Indonésio que conhecera no parque natural de Mulu; tive um jantar delicioso de comida tradicional de Malaca, na companhia de um rapaz britânico, um rapaz malaio e uma rapariga singapurense e deambulei pela cidade fazendo dois percursos pedestres, muito interessantes. 🙂

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O primeiro percurso chamava-se a herança holandesa e assim que vi essa denominação, pensei instantaneamente “que os portugueses também mereciam algum crédito”, afinal a Porta de São Tiago – “A Famosa” – e a Igreja de São Paulo foram construídas por nós bravos lusos! 😉 Durante o passeio, percorri a Jalan Kota, observando o exterior de bonitos museus de fachadas brancas – arquitetura, antiguidades, selos… – e o jardim da coroação. Na Porta de São Tiago, detive-me mais tempo e senti orgulho por ver um bocadinho de Portugal, num país que fica a tantos quilómetros de distância e segui até ao cemitério holandês – que na verdade de holandês tem muito pouco, uma vez que das trinta e oito campas existentes, apenas cinco são holandesas! As restantes são britânicas 😛 – e até às ruínas da Igreja de São Paulo – antiga igreja da Nossa Senhora da Conceição, mandada construir pelo capitão luso, Duarte Coelho em honra da Virgem Maria e que posteriormente foi rebatizada pelos holandeses. Do alto tive uma agradável panorâmica da cidade e segui andando até à margem oeste do rio.

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Nessa margem, a herança revelou uma faceta mais moderna de Malaca, pois aqui destacaram-se bonitas casas de fachadas coloridas – de antigas famílias chinesas -, grandes e belos antiquários, o hotel Puri; o fresco, delicioso e tradicional gelado malaio – cendol  e a rua da harmonia onde numa curta distância existe, o templo hindu mais antigo do país – Sri Poyyatha Vinayagar Maarthi, 1781 – a mesquita de Kampung Kling  1868 – e o templo chinês, das nuvens brilhantes – Cheng Haan Teng, 1654 – e de facto foi emocionante visitar esses locais tão distintos, mas ao mesmo tempo tão próximos entre si. 🙂

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Nestes percursos para além dos emblemáticos monumentos, vi a multiplicidade da decoração e riqueza que os tuk-tuk/riquexós ostentam: corações, flores, yellow kitty´s, motivos religiosos. Numa palavra? Kitch! Para além do forte impacto visual, quando estão em andamento provocam um impacto auditivo ainda mais estrondoso! 😛 Uma vez que há recurso a sistemas sonoros complexos e potentes que emitem decibéis de músicas de amor chorosas, hits em inglês, lambada e o chamado “cascabulho”. Sem dúvida que estes veículos se fazem notar, nas ruas da cidade e na minha opinião deviam fazer parte da lista da UNESCO, tal como os inúmeros monumentos… 🙂 E na despedida de Malaca e da Malásia, senti-me orgulhoso por ser Português!

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