Em Xing Ping – pode encontrar mais aqui – tive múltiplos momentos memoráveis, principalmente os passeios de bicicleta, a pé e de barco pela vila e verdes arredores onde despontavam colinas singulares e o encontro com pessoas muito amistosas, entre elas uns camponeses que eram um perfeito retrato vivo da China rural.
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No dia anterior fruto do tempo carregado, eu e o Greg não chegámos a sair da vila, tão pouco conseguimos ver o nascer do sol e a nossa despedida foi efetuada no corredor do hostel. Estavam lançados os dados para o que seria este dia. Às 8.55 eu e a Zheng apanhámos o autocarro para Guilin e depois de percorrido meio caminho, começou a chover. A chegada à cidade foi abençoada por uma chuva torrencial e da estação de autocarros onde parámos – que mais parecia um depósito de autocarros – para a estação Oeste percorremos o caminho num pequeno autocarro local. Aí apanhámos um novo autocarro e durante o trajeto continuou a chover com intensidade.
Ao sairmos do autocarro, perguntaram-nos se queríamos seguir viagem num dos famosos “táxis manhosos”, ao que respondemos que não estávamos interessados e que íamos esperar pelo autocarro regular. O problema é que esse autocarro, deveria ser invisível pois nunca mais aparecia 😛 e depois de muita chuva, um almoço à base de doces, perguntas de quando o autocarro viria, conversas sobre música, muita chuva e… duas horas depois rendemo-nos à fatalidade que tínhamos de apanhar o “táxi”.
O último troço, foi realizado numa estrada esburacada e lamacenta, serpenteando montanha acima com visões de um rio a correr com pujança e vigor e de zonas onde tinham ocorrido deslizamentos de terras. Para ajudar à festa, continuou a chover mas diga-se em abono da verdade, nunca mais tinha parado de chover. Nunca! A chegada a Ping´An foi feita sob o signo da chuva e da névoa e naquele final de tarde quase que podia jurar que estávamos numa vila fantasma, onde apenas circulavam dois ou três “fantasmas” de capas plásticas transparentes e um silêncio tão pesado que se ouvia cada passo dado.
Xing Ping. Búfalos & Camponeses
Como combinado na noite anterior, o Greg apareceu de manhã no nosso hostel e juntamente com a Zheng e uma rececionista – que eu nunca tinha visto – partimos para um terreno nas proximidades de Xing Ping e o mesmo era tão grande que podia ser utilizado para se jogar futebol de onze! 😛 Porém o pensamento geral foi piqueniques, barbecues e acampamentos.
O terreno estava colado ao rio e havia uma mini cascata com uma ligeira névoa na superfície da água barrenta. Era de facto um local idílico 🙂 e aí estivemos sentados tranquilamente, a falar e mandar pedras rente à água, até chegar um búfalo para pastar e ele se aproximar, aproximar… aproximar até estar – sensivelmente – a vinte metros de nós! Nessa altura e para pintar o quadro com cores mais garridas, apareceram dois camponeses muito rústicos e castiços – o mais novo tinha ar de gozão e não tinha os dois dentes da frente e o mais ancião era muito magro, de pele escura, tinha um dente de ouro, cabelo prateado e cortado à “escovinha” e usava uns calções cinzentos, uma camisola rosa-choque muito gasta e um cajado – acompanhados de mais um búfalo! 😉
Os búfalos foram até o rio e os camponeses ficaram ao pé de nós a falar com Zheng e com a rececionista, claro que eu e o Greg nesta altura aproveitámos para tirar fotografias – o momento era demasiado “rico” para não ser aproveitado – tanto retratos, como detalhes: mãos, porta-chaves, “adereços” e ao quadro geral… foi um momento espectacular e dos mais engraçados que tive no país, que terminou quando fomos semi-expulsos/afugentados como quem enxota o gado… 😛
Os Alemães, o Belga e a Chinesa
Depois da chuva torrencial, fomos jantar ao mesmo restaurante da noite anterior e gostaria de ressalvar a falta de criatividade gastronómica dos restaurantes locais: arroz frito, noodles e pouco mais do que isso, parece que nem estou na China! Antes de irmos para o terraço passei por momentos de indefinição e como não consegui decidir se partiria para Yangshuo ou Guilin, resolvi tomar a minha decisão apenas na manhã seguinte. Já no terraço, estava em amena cavaqueira com a “parelha” alemã, quando apareceu uma chinesa – Zheng Shaoqin – que pôs conversa connosco e nos entretantos, chegou mais um ocidental que se juntou à conversa… As conversas começaram a cruzar-se e eu mudei de lugar para junto do recém-chegado, Greg de seu nome, belga e fotógrafo que estava na região há seis meses! 🙂 A conversa estava animada, mas os alemães tiveram de abandonar o “barco”, pois no dia seguinte teriam de partir muito cedo e fiquei na companhia do belga e da chinesa, quando… recebi um convite do Greg para no dia seguinte dormir nos arredores da vila e depois fotografarmos o nascer do sol. 😀 Por essa altura a Zheng disse-nos, que daí a dois dias partiria para os terraços de arroz a norte de Guilin e eu perguntei-lhe se podia acompanhá-la. Foi assim, que os planos para o meu futuro imediato me foram “revelados” nessa noite. 😉
Bamboo Rafting
E agora vem a explicação pelo qual não pude ir até Shawan… 🙂 No dia anterior conheci no hostel dois alemães – Klaus e Julien – que me perguntaram se estaria interessado em juntar-me a eles e fazer um passeio no rio durante a tarde. Desse modo, marquei um compromisso na minha “agenda” ao qual não podia/queria falhar e todas as minhas movimentações neste dia foram condicionadas pelo “famoso” passeio de Bamboo Rafting, um dos ex-líbris do turismo da zona de Yangshuo. 😉
Como estávamos todos prontos antes da hora marcada, os alemães resolveram antecipar a partida e olhando para trás, ainda bem que o fizeram, mas já lá vamos. Na vila apanhámos um carrinho turístico – tipo golfe, mas maiorzito – que nos transportou até Chaobshan e aí entrámos num barquito – a base assemelha-se a uma jangada feita com bambu, mas hoje em dia, de bambo só mesmo o nome! – que nos levou rio acima até Yangdin.
Durante três horas, sensivelmente vimos o espetáculo natural que faz o turismo desta região carburar a todo o vapor e apesar do barulho incessante dos inúmeros barquitos – iguais uns aos outros – e de barcos maiores tipo cruzeiro, os nossos olhos vão-se deleitando com tudo o que vêem: o rio e as colinas/montes verdes espalhados por ambas as margens e senti-me privilegiado por poder visitar um local assim no nosso planeta, um local tão singular e único. 😀
Durante o passeio, tirámos fotografias, conversámos, vimos noivos em sessões fotográficas, parámos numa pequena ilhota no meio do rio para apreciarmos a paisagem e na qual eles, exemplares alemães beberam a sua cerveja fresca, cumprimentámos outros turistas – chineses, não vimos mais ocidentais – e foram-me mostradas fotografias de terraços de arroz, a norte de Guilin que despertaram em mim o desejo instantâneo de lá ir – à semelhança da paisagem em redor de Yanghsuo e Xing Ping, a paisagem era de facto singular e única. O regresso foi mais rápido, pois desta feita navegámos a favor da corrente e quando chegámos a Chaobshan voltámos a apanhar o carrinho de “golfe” para Xing Ping e… no momento exato da chegada começou a chover torrencialmente, tal e qual uma chuva tropical, pura e bruta! Durante uma hora redondinha, os deuses das colinas fizeram o céu desabar sobre a vila e arredores, e consequentemente sobre as nossas cabeças. 🙂 Num derradeiro golpe de sorte ainda fui a tempo de salvar a roupa e o calçado que tinha posto a secar no terraço. Perfeito! 😉
A Compra do Telemóvel
Antes de ir comprar o telemóvel, muni-me de “artilharia pesada” e preparei-me para o “combate”, trocado por miúdos, pedi à rapariga do hostel para me escrever num papel (em caracteres, pois claro): a) “Este cartão tem de ser detetado pelo telemóvel”; b) “Venda-me o telemóvel, mais barato que tiver na loja”. Com o papel mágico, comecei a minha peregrinação por todas as “capelinhas” de Xing Ping, antes de decidir que “vela” comprar. No final a escolha recaiu sobre um dual-SIM laranja e a cores, uma autêntica pérola do Oriente! 😛 Ou como me disse a rececionista do hostel: “Esse é um telemóvel para velhos”. Sim minha querida, sem dúvida, mas o importante é que este assunto está encerrado e eu tenho novamente acesso a um relógio, a um despertador e a algo que possa ser utilizado numa eventual emergência. Mission accomplished! 🙂
Percalços Matinais
Acordei às seis da manhã com o objetivo de fazer um trekking até Shawan – três horas num sentido – porém para o iniciar havia que cruzar o rio e devido à inexistência de barcos – pelo menos àquela hora – e de informações manhosas – novamente? onde eu que já vi este filme? Ah! Isso mesmo no dia anterior – andei uma hora para trás e para a frente. Irritante!
Para aliviar a irritação que sentia, decidi subir a colina Laozhai e em boa hora o fiz pois a luz matinal estava de facto bela. 🙂 A colina é bastante íngreme mas o problema principal é mesmo a falta de aderência dos degraus e a sua antiguidade, por isso… cuidados redobrados! De qualquer modo, a chegada ao topo da colina compensa o risco – que não é assim tão grande – pois a paisagem bem “aberta” sobre o rio e a vila é de facto majestosa e memorável. 😀
Quando regressei à vila, vi que finalmente o barco já andava a cruzar o rio e finalmente lá o consegui atravessar, não sem antes o “capitão” me tentar cobrar um preço inflacionado e eu me rir à medida que lhe entregava o valor real. Claro que fruto do percalço com o barco, percebi que já não tinha tempo para ir até Shawan e decidi por isso ir até Tungjiao Tunnery – três horas em ambos os sentidos. Claro que falar é mais fácil do que fazer e por entre trilhos, pomares e campos de cultivo consegui perder-me. Andando junto ao rio, fui até onde me foi permitido pelo terreno. Aí o rio invadiu a terra e eu fui automaticamente travado, mas antes desse momento, ainda tive oportunidade de ver uma cascata, desbravar caminho por entre a floresta e ver um templo parcialmente construído numa caverna. 🙂 Fruto deste novo percalço percebi que não tinha tempo para mais improvisos e regressei a Xing Ping, com um novo objetivo em mente…
Xing Ping e o Campo
Na chegada à pequena vila de Xing Ping dirigi-me ao hostel e aí recebi um briefing sobre o que podia fazer na mesma e nos seus arredores. Depois de um pequeno almoço à base de dumplings, aluguei uma bicicleta montanha e parti rumo à descoberta das pequenas aldeias e campos de cultivo que rodeiam a vila.
Durante o trajeto e devido à existência de múltiplos trilhos, tive que parar várias vezes e “perguntar” – apontar para o mapa – se estava na direcção certa e fruto das estradas de terra, lama e esburacadas qual um queijo suíço, das múltiplas plantações, dos camponeses com quem me fui cruzando e da paisagem coberta de verde, senti-me completamente embrenhado na China profunda, ou pelo menos na China rural. 🙂
Quando regressei a Xing Ping entreguei a bicicleta e como ainda era cedo (16.00) resolvi fazer um pequeno trekking até à vila dos pescadores. Para encontrar o início do trilho ainda demorei algum tempo, pois para além da pouca clareza do caminho, na altura de pedir informações houve muitas opiniões contraditórias, um pandemónio! Passada meia hora, lá dei com o trilho e a partir daí foi sempre a subir, com cuidado – aliás muito cuidado – pois as rochas eram extremamente escorregadias, por entre uma vegetação verdejante e uma paisagem envolvente bela. 🙂 Por essa altura reparei que o telemóvel estava com problemas e resolvi desligá-lo, por um bocado.
Quando cheguei ao topo, o céu estava azul e eu desci um pouco a colina para ver como era a paisagem do outro lado: a larga curva do rio, a água a refletir os raios de sol, as nuvens, a aldeia com os seus barcos nas margens e belas as colinas de pedra, cobertas de vegetação. 🙂 No caminho de regresso confirmei que de facto o telemóvel não se ligava e fiquei irritado com a situação – gastar mais dinheiro, sem “necessidade” aparente – mas lá relativizei a questão e percebi que a única coisa que havia a fazer era resolver o “problema”. Passado esse momento de frustração momentânea, voltei a apreciar a paisagem mas sempre concentradíssimo, para garantir que não haveria nenhum acidente na descida até Xing Ping, a vila do rio, a vila das verdes colinas de pedra, a vila do… campo. 😀
Logo no início da viagem para Yangshuo, conheci um rapaz sueco com quem estive a falar durante uma hora. Depois disso adormeci, mas num estado de semi-consciência senti o autocarro a oscilar em estradas secundárias, a acelerar por entre camiões, arrancar qual um carro de rally e a parar longamente devido a engarrafamentos e obras na estrada. A meio da noite e sem qualquer aviso prévio, tivemos de mudar de autocarro e depois desse momento made in China só voltei a acordar quando o dia já rompia por entre as trevas, e fruto da bela paisagem que me rodeava, comecei a deleitar-me com a visão de montes/colinas verdes que brotavam do solo, quais árvores de rocha. 🙂 Como curiosidade, refiro que quando abri os olhos pensei que era noite cerrada, porém passados poucos momentos e quando vi os primeiros raios matinais, percebi que acordara num túnel. 😛 Assim que cheguei a Yangshuo parti para Xing Ping e a viagem foi efetuada numa estrada de terra batida, cheia de buracos, camponeses, campos e montes verdes e água, muita água… Xing Ping? Welcome to the countryside, my friend!