Ato II – Fishing Day
Às 6.40, como combinado no dia anterior dirigi-me à praia, mas não encontrando ninguém aproveitei para tirar algumas fotografias, principalmente às redes. Quando começaram a aparecer pescadores, o capitão perguntou-me se queria embarcar com eles, eu respondi que sim e depois de uma curta negociação, preparámo-nos para partir.
Antes do bote sair da “garagem” e em conjunto, os pescadores fizeram uma curta oração em busca de proteção divina e quando esta terminou, começaram a colocar cilindros de madeira na areia, qual um “carril” empurrando o barco até ao oceano. Às 8.00 estávamos oficialmente de abalada e nos primeiros momentos tirei fotografias aos tripulantes, à paisagem e aguardei que víssemos alguma coisa, dividido se queria que arpoassem ou não o golfinho, mas… durante três horas nada vimos, a ponto de fazer uma mini-soneca. 🙂
Finalmente, às 11.00, vimos golfinhos pela primeira vez e durante uma hora e tal, andámos a “jogar” ao gato e ao rato, com os cetáceos a superiorizarem-se claramente aos humanos. Se estivéssemos num jogo de futebol seria um “15-0”! 😛 A goleada cetácea, pode explicar-se pela falta de pontaria do arpoeiro no momento da verdade e/ou pela extraordinária capacidade dos golfinhos desaparecerem repentinamente, quais fantasmas aquáticos, apenas voltando à superfície, minutos depois e já afastados da embarcação. Comecei então a perceber, que a pesca é um processo looooooooongo e demoraaaaaaaaado, que se baseia na leitura de correntes e da observação da natureza – em modo sequencial: aves – peixes – golfinhos. Neste “jogo” não havia GPS, radares, pistolas ou redes, apenas e de um modo bastante justo, homem Vs. natureza . 🙂
Entre o meio-dia e as duas, passei o meu momento mais negro do dia. Razões!? Primeira. Estava calor, muuuuuuuouito calor! Segunda. Sentia-me saturado do processo. Terceira. Não estava mentalmente preparado para passar tantas horas no mar, uma vez que queria regressar ainda nesse dia a Lewoleba. Porém, quando aceitei o facto que apenas iria regressar ao final da tarde e que teria de ficar um dia extra em Lamalera, o panorama geral melhorou. Nessa altura, também me consegui proteger um pouco do sol com a minha toalha, criando um mini-toldo e o meu sentimento relativamente à pesca mudou! Se era para ficar tantas horas no mar queria que arpoassem um golfinho! E nesse momento comecei a desejar “sangue” e uma “vitória” para os humanos. Porém…
As horas foram passando, loooooooongos momentos sem que se avistasse nada, outros em que havia adrenalina na perseguição, mas na hora da “finalização”… ao lado! Os golfinhos continuaram a dar uma abada monumental ao humanos. A partir das 15.30, começámos a ver mais barcos no mar, o que dificultou ainda mais a pescaria – quanto mais barulho e ruídos, mais “esguios” os golfinhos se tornaram. O único momento em que vi um “golo”, foi quando vi um golfinho já arpoado por outro barco a ir abaixo e acima da superfície bastantes vezes e à medida que a corda ia sendo tensionada, ele foi-se aproximando do barco até ao momento que um pescador saltou do barco com um gancho na mão e nada mais vi, pois o nosso barco afastou-se para outras zonas.
Às 18.00 estávamos finalmente de regresso à praia, dez horas depois da partida, sem nada arpoado! Antes de voltar à guesthouse vi os barcos a serem empurrados de regresso às “garagens” e o único golfinho que foi apanhado, a ser desmembrado osso a osso, víscera a víscera, pedaço a pedaço até não sobrar nada… e a areia ficar coberta de sangue… coberta de morte… coberta de vida.