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Ramelau. Via Sacra

Prólogo

Regressar a Dili foi um “processo” muito looooooooooooongo e demorou um dia inteiro de viagens! Primeiro, caminhei de regresso a Tutuala, depois tive um compasso de espera atribulado – informações contraditórias sobre a existência de autocarros para sair da vila – de mais duas horas até conseguir apanhar uma boleia para Los Palos, numa rápida e confortável carrinha strakar de uma empresa do governo. 🙂 Já na cinzenta e desinteressante cidade, mais uma loooooooooonga espera antes de começarmos a percorrer as ruas à procura de passageiros e pouco tempo depois, de realmente partirmos parámos numa aldeia onde estivemos a carregar cocos durante quase uma hora. 😛 Felizmente o resto da viagem decorreu com muito mais normalidade e tranquilidade e se às 19.30 já estavámos em Baucau, a chegada a Dili ocorreu por volta das 22.00, onde andámos a distribuir pessoas durante uma hora como se a carrinha fosse um táxi coletivo – nada de novo em tantas outras viagens que fizera, na Ásia.

Antes de partir para a montanha Ramelau, fiz um compasso de espera de um dia em Dili para ir buscar o meu passaporte já com o visto da Indonésia impresso e quando o abri, vi que existia uma gralha na data de nascimento! Ao relatar este facto, a funcionária disse que não havia qualquer problema e que o importante era o nome estar correcto! :/ Na despedida desta embaixada surreal, se dúvidas ainda existissem, fiquei com a certeza que para além desta ser um templo da burocracia, também o é da incompetência! :/


Dois dias depois de ter dito adeus ao paraíso terrestre de Jaco, estava no mercado de Halilarau na companhia do Gregório às sete e pouco da manhã. Antes de partir comprei água, sumos, pão e bolos para partilhar com os outros passageiros e com as crianças – sujas, ranhosas, esfarrapadas e pobres – e constatei uma falta de educação geral, por não existir um simples agradecimento na hora da partilha. Depois do Gregório se despedir, esperei que a carrinha de caixa aberta/autocarro enchesse durante hora e meia e só quando as pessoas estavam todas umas em cima das outras qual gado humano, o nosso “jarbas” decidiu arrancar.

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A viagem até à junção da estrada que seguia para Hatubuilico foi um verdadeiro “massacre” – temporal – cinco horas para percorrer oitenta quilómetros!! E de desconforto, pois a estrada estava em péssimas condições, a carrinha estava super lotada e era muito, muito desconfortável -, a ponto de na última hora apenas desejar chegar ao meu destino! 😛 Quando finalmente pus os pés no chão e comecei a andar a pé, a paisagem era bastante bonita – verdes vales e serras, nuvens de vários cinzentos, sol e pedacitos de céu azul.

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A estrada de dezoito quilómetros que me levou até à vila de Hatubuilico, já nas imediações da montanha Ramelau foi percorrida sensivelmente em três horas e durante a caminhada aproveitei para fotografar a bonita paisagem isto nas alturas que a chuva deu tréguas: as transições do céu cinzento e neblina para chuva, as plantações, as casas tradicionais, os cavalos, as vacas, as cabras; sentir o ambiente fresco e cheio de água; e pensar que os meus amigos e amigas vão tendo filhos, outros casando… e que eu seguia a andar para o sopé da montanha mais alta de Timor Leste. 😀

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Quando finalmente cheguei à vila, a minha primeira preocupação foi arranjar um poiso para dormir e depois deste assunto estar resolvido, lá consegui com alguma “dificuldade” arranjar um guia, para fazer a ascensão da montanha. Em rifa saiu-me um miúdo minorca que aparentava dez anos – ele dizia que tinha treze – com quem combinei começar a ascensão por volta das 3.30. Durante a noite choveu torrencialmente, eu fui acordando inúmeras vezes e pensando se o meu guia ia cancelar a subida devido a más condições atmosféricas. Felizmente as minhas preocupações revelaram-se infundadas e às 3.40 partimos no meio da escuridão. A viagem para o topo demorou duas horas e meia e posso classificá-la de: escorregadia, escura, molhada, por vezes irritante – o meu “guia” tinha a minha lanterna e andava, muitas vezes demasiado à minha frente, ficando eu no meio das trevas -, “tropeçante”, ventosa e na chegada vimos uma estátua de Nossa Senhora – oferecida pelo exército português – envolta num denso nevoeiro. 😛 À medida que fomos descendo o dia foi clareando e apesar da neblina reinante, o Ramelau mostrou-se uma montanha verde, de árvores místicas e mágicas! 😀 A descida apesar de um pouco escorregadia, foi muito mais fácil, interessante, rápida e deu finalmente para tirar algumas fotografias.

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Na chegada à pousada fiz os meus pagamentos, tomei banho e o pequeno-almoço, arrumei a minha pequena bagagem e falei durante um par de minutos com o viajante mais stressado que alguma vez conheci – a forma dele falar com as pessoas era tão acelerada que chegava a ser aflitiva. Às nove da manhã e na altura em que estava de saída de Hatubuilico, a máquina fotográfica deu um erro de mau contacto entre a lente e o corpo! – “Ok! Vamos relaxar, também está de chuva.” – à semelhança do dia anterior, percorri a pé quase todo o caminho até à junção, pois quase no final apanhei uma boleia de uma carrinha das obras. Desse local, comecei a descer caminhando em direção a Maubisse e passado um quilómetro, apanhei uma nova boleia desta feita para o centro da vila. Quando cheguei à zona do mercado, reparei numa carrinha de uma ONG que estava estacionada com pessoas a bordo e sem complexos fui pedir boleia para Dili, moral da história? Poupei tempo, dinheiro e principalmente o meu corpo! Já chegava de vias sacras, o dia e a noite anteriores tinham sido pródigos nelas… 😉    

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Laclubar. O Irmão e o Ateu

A longa e “saltitante” viagem entre Baucau e Laclubar foi feita numa carrinha strakar, na companhia do Irmão Vitor, catequistas, freiras, um seminarista e antes de arrancarmos, houve uma oração a pedir proteção divina. Das cinco horas que durou a viagem, os momentos que mais recordo foram a paragem em Laleia onde visitámos o centro paroquial e a bonita igreja da vila, que foi restaurada com bastante bom gosto e que conserva os seus traços originais; as condições da estrada que foram piorando progressivamente, pois o asfalto estava cheio de crateras; a bonita paisagem, muito verde por entre vales e montanhas e a temperatura bastante fresca que encontrámos, na chegada ao nosso destino.

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Quando chegámos ao centro João de Deus em Laclubar fiquei instalado num quarto individual, que segundo os meus padrões de viagem era super-luxuoso! 🙂 E ao jantar conheci os nomes dos “aprendizes” do Irmão Vitor: Marcos, Mateus, Emílio, Álvaro e Bosco, uns rapazes muito simpáticos, educados e gentis, e perante eles assumi-me como ateu, devido à minha falta de fé e tivemos algumas conversas interessantes à volta do tema.

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Durante os cinco dias em que estive na pacífica e tranquila vila de Laclubar, senti que estava a fazer uma pausa dentro da viagem e aí, tive a oportunidade de parar um pouco, antes de recomeçar o ciclo do movimento. Tive por isso, a oportunidade rara de estar “fora do mundo, dentro do mundo”. 🙂

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Ao longo do tempo, conheci as diferentes seções que compõem o centro – a casa dos irmãos, a hospedaria, a parte hospitalar, a cozinha, a lavandaria, as hortas, as casas dos animais, o centro de internet, a receção, a capela, a biblioteca… – e as fantásticas pessoas que por lá “habitam”, tanto o staff como os pacientes. Pela primeira vez em longos anos tive contacto com literatura cristã/católica e li: Bento XVI, visto de perto – gostei da coerência demonstrada, ao longo da obra, pelo ex-papa e pelo jornalista, Peter Seewald – e Olhar para Cristo, Exercícios de Fé, Esperança e Caridade. Tive bastantes conversas muito interessantes com o Irmão Vitor sobre vários assuntos – sociedade e mudanças observáveis – não necessariamente para melhor, “excessos”, religião, Timor Leste, Portugal, Mundo… atualizei o caderno e escrevi textos para o blog. Tentei curar duas feridas incómodas que tinha abertas no pé direito – peito e entre os dedos. Conheci o Bruno e a Carolina, dois simpáticos portugueses que estavam a trabalhar no centro na parte hospitalar. Visitei o bonito Monte Maubère, donde pude observar panorâmicas da vila e da paisagem envolvente – muito, muito verde -, ver cavalos, vacas, aldeias, plantações, cercas sagradas e campas. Acompanhei o Irmão Vitor até à aldeia de Hadulas, onde houve uma reunião sobre as jornadas da juventude. Fui até ao concorrido e tradicional mercado de Domingo, onde comprei um farri – porquito, neste caso uma porquita – para oferecer ao Irmão Vitor/centro e poder assim retribuir um pouco, a generosa e inesquecível hospitalidade que me ofereceram.

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Muito obrigadu, Irmão Vitor e todos os demais, por me darem a oportunidade de vos conhecer e de partilharem o vosso tempo comigo e na despedida de Laclublar guardarei para sempre no coração e na memória o vosso carinho e bondade. 😀

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Família e Luta de Galos em Baucau

Inesperadamente parti para Baucau, na companhia de Gregório e de Cirilo, e mesmo antes de partirmos de Díli tivemos alguns problemas com a “malta” das carrinhas/autocarros, pois quando quisemos mudar de veículo, não nos queriam deixar tirar as bagagens. Durante a discussão, houve momentos em que pensei que iria haver pancadaria, pois o Gregório normalmente sempre calmo, estava passado! Felizmente o Cirilo, resolveu a questão com um misto de “tomates” e muita serenidade. 🙂

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Durante as três horas da viagem, colina abaixo, colina acima, fui alvo da curiosidade geral dos outros passageiros e fui observando a bonita costa timorense: o mar, as rochas, as árvores, as praias…, as aldeias muito simples e humildes, e as pessoas sempre sorridentes.

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Em Baucau, deixei o “monstrinho” em casa do irmão de Gregório e andámos até Yatua, uma pequena aldeia localizada nas imediações da cidade, no meio da serra, rodeada de vegetação e coqueiros, e onde chegámos já ao anoitecer. Aí, fomos extraordinariamente bem recebidos e pude sentir uma vez mais todo o calor, simpatia e grande coração do povo timorense, neste caso da família Nicolau! 🙂 Na aldeia conheci mais membros da família: os pais do Cirilo – o Sr. Joaquim e a Sra. Joaquina, os pais do Gregório – o Sr. Ricardo e a Sra. Isabel, o avô Júlio e mais tios, tias, sobrinhos e sobrinhas – e com eles tive um jantar, e serão muito animados, conversando sobre os nossos países em bom português.

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No dia seguinte, depois do pesado pequeno-almoço – folhas de papaia com arroz – e de nos despedirmos dos pais de Gregório e de Cirilo, voltámos ao centro de Baucau onde continuei a visitar a família Nicolau 🙂 e tive a oportunidade de ver as tradicionais e sangrentas lutas de galos. Em Timor Leste, estas lutas estão profundamente enraizadas na cultura do país e no mercado da cidade, vi a “loucura” que envolve esta tradição. A multidão frenética, o ruído, as apostas, as regras dos combates – vitória em caso de morte ou fuga -, os prémios – dinheiro e galo do perdedor, vivo ou morto -, a arena, os galos garbosos, as lâminas afiadíssimas presas nas patas, a “dança” mortal, os golpes na carne, o sangue espesso, os olhos dos animais no seu último fôlego e a morte a reclamar a vida dos vencidos…

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P. S. – Ainda em Baucau, despedi-me do Gregório com um abraço de até breve e reencontrei o irmão Vitor com quem parti para Laclubar…   

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Dias em Díli? Dias em Família

Nos dias que permaneci em Díli em casa do Garey, tive a oportunidade de viver com ele, com os seus primos espetaculares  o Cirilo, a Amélia, a Digani, a Jenny e todos os demais… – e de conhecer outros membros da sua magnífica e simpática família… a família Nicolau. 😀

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Com eles tive a oportunidade de aprender muito, muitíssimo sobre o país e falámos sobre muitos assuntos: os fatídicos e negros episódios de 1999 relatados na primeira pessoa pelo Sr. Nicolau e com os quais me emocionei – as perseguições, os assassinatos, as mortes, as fugas para as montanhas/colinas em redor da cidade, a fome existente em 2000… -; os motivos que levaram a Austrália a intervir na invasão – exclusivamente económicos!; a evolução bastante positiva que o país tem tido, apesar das dificuldades existentes – sendo a corrupção generalizada um dos maiores entraves ao desenvolvimento sustentado -; o ensino e as dificuldades da adoção do português como língua oficial – principalmente para a geração de transição, que viveu entre o ensino obrigatório da língua indonésia e da língua portuguesa -; o enorme poder detido pela igreja católica e os sonhos, desejos e anseios destas pessoas tão boas e de coração tão grande.

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Durante aqueles dias, li bastante; escrevi textos para o blog e passei a gerir o mesmo de um modo distinto; falei muito com as pessoas – tradição Timorense/Ocidental – número de filhos; relações; casamento; família e dos “modelos imperfeitos” existentes em cada sociedade -; ganhei ideias sobre que locais deveria visitar no país; mostrei fotografias da minha viagem e contei episódios que vivi; comprei pela primeira vez um cartão SIM fora de Portugal; corrigi o português da monografia do Cirilo; fui em alegre “romaria” com os primos Nicolau até à zona do Cristo Rei já fora do centro da cidade e fiquei com ideia que Díli se assemelha a um senhor alto e magrinho – como a cidade se encontra entre o oceano e as colinas, não existe praticamente margem para crescer em largura, apenas em comprimento – e concluí que a cidade é bastante humilde, pacata, sem grandes locais turísticos a visitar e que a pouco e pouco se está a refazer e modificar, mas que tem no seu interior uma população com um coração ENORME! 😀

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Em Díli vivi dias lentos, mas regra geral tranquilos, tirando os momentos surreais que tive quando me desloquei três vezes para aplicar um novo visto na caótica e burocrática embaixada da Indonésia! O caos na parte exterior da entrada; a falta de organização, informação e cortesia; as portas com gradeamentos – parecia que estava numa prisão -; as cinquenta senhas diárias que se esgotavam em menos de nada; o preço exorbitante do visto – quando comparado com outros países da região -; as regras ridículas, nunca antes vistas em nenhuma embaixada – formulários preenchidos exclusivamente com canetas de tinta preta, fotografias tipo passe com fundos vermelhos! – Ahhhhhhhhhhhh! “Preciso” gritaaaaaaaaaaaaaar! Exasperante… horrível… uma experiência a nunca mais repetir! :/

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Na cidade vivi verdadeiramente em família e senti-me um felizardo por ter essa oportunidade. Obrigado família Nicolau, pelo carinho e amor… seguramente que vou voltar… mas “agora” seguirei para Baucau na companhia do Garey e do Cirilo! 😀

P.S. – Se tiverem de obter o visto da Indonésia – com antecedência – aconselho vivamente a fazerem-no noutro país. Fazê-lo em Timor Leste revelar-se-á um duro teste à vossa paciência e sanidade mental.

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Oecussi. Por Timor com Amor

Tal como em outros destinos – Laos, Tailândia e Malásia -, em Timor Leste passei a fronteira, de mochila às costas, a caminhar. Quando encontrei o primeiro controlo e comecei a falar com os polícias em português, emocionei-me por ouvir a nossa língua passados tantos meses e comecei a chorar de alegria e emoção, parecia uma Maria Madalena. 😛 Foi como sentir-me em casa, sem realmente estar em casa! 😀 No segundo controlo de passaporte, já no posto de fronteira tudo correu com sorrisos e com um carimbo vermelho a marcar 90 “diaz” segui a caminhar, desta feita já na companhia de um tímido rapaz timorense.
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Na pequeníssima aldeia de Bobometo, esperei uma hora por um mikrolet – carrinha/bus – e quando este chegou, rapidamente ficou apinhadíssimo de pessoas muito sorridentes e simpáticas. Durante a viagem, de cerca de duas horas, segui primeiro até Tono e daí até Oecussi e ao longo do trajeto a paisagem mostrou um misto de verdes colinas, montanhas, arrozais e estradas esburacadas e poeirentas. Oecussi revelou-se uma vila muito mais “rudimentar” e pequena do que esperava, mas envolvida por uma paisagem natural bela, serena – entre o mar azul e colinas/montes verdejantes, muitas vezes cobertos de nuvens nos topos – e nos três dias que aí estive, comecei a descobrir Timor Leste, a simpatia do seu povo e o lado mais obscuro do país.

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Na vila e nas suas imediações, passeei à beira-mar encontrando praias de areia clara e outras de areia negra, zonas de arvoredo, manguezais, campos de cultivo, cabras, vacas e galinhas; disse olá a muitas pessoas e crianças e senti uma energia super-positiva e contagiante; vi muitas crianças a banharem-se no mar nuas com uma pureza cristalina; em mais do que uma ocasião houve nativos que se aproximaram, que me tentaram dar beijos e me apalparam a “salada” – “mas o que é que se se passa em Oecussi!?” -; visitei Linfau e o seu monumento histórico – local onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez em Timor em 18 de Agosto de 1515; estive alguns momentos no bonito e tranquilo café das irmãs Dominicanas, onde bebi sumos extraordinários, entre os quais de papaia e abacate 😀 ; fui até à colina de Fatusaba, onde encontrei vestígios de um antigo forte e pude observar a vila do topo; estive na Timor Telekom  único local com internet – a enviar e-mails para a minha família; visitei a longa praia de Mahata; atualizei o caderno e escrevi textos para o blog; percebi que o país é bastante mais caro que outros aqui no Sudeste asiático e que existe um aumento generalizado de preços – comida, alojamento, transportes, etc… – mas que tal é natural, uma vez que tudo ou quase tudo é importado – maioritariamente da Indonésia; tive um serão na “cavacada” a beber tuasabo  vinho timorense, feito de palma – e a esfumaçar com timorenses, entre os quais Benny – um médico que esteve a estudar em Cuba e no Brazil e que agora estagia no enclave – e senti na pele algo que nunca tinha sentido antes…
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Reflexões

Reflexões Lamalerianas

Após tudo o que vi em Lamalera, fiquei com a certeza que os pescadores/baleeiros têm uma vida bastante dura, de muito trabalho físico e não encontro nenhum motivo para se parar com a pesca tradicional, nesta vila. NENHUM! Os nativos apanham o que conseguem sem destruírem o ecossistema e não existem extermínios em massa, como acontece por exemplo no civilizadíssimo Japão. Após apanhada a “presa” quase tudo é aproveitado e os desperdícios são mínimos. Estas pessoas pescam para sobreviver e respeitam o mar com veneração, ou pelo menos sentem-lhe temor e sabem que se abusarem dele, no final não sobrará NADA! A não ser um deserto de ossadas e que a partir desse momento, a sua vida estará invariavelmente arruinada e perdida.

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Lamalera. Na Terra dos Pescadores

Ato II – Fishing Day

Às 6.40, como combinado no dia anterior dirigi-me à praia, mas não encontrando ninguém aproveitei para tirar algumas fotografias, principalmente às redes. Quando começaram a aparecer pescadores, o capitão perguntou-me se queria embarcar com eles, eu respondi que sim e depois de uma curta negociação, preparámo-nos para partir.

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Antes do bote sair da “garagem” e em conjunto, os pescadores fizeram uma curta oração em busca de proteção divina e quando esta terminou, começaram a colocar cilindros de madeira na areia, qual um “carril” empurrando o barco até ao oceano. Às 8.00 estávamos oficialmente de abalada e nos primeiros momentos tirei fotografias aos tripulantes, à paisagem e aguardei que víssemos alguma coisa, dividido se queria que arpoassem ou não o golfinho, mas… durante três horas nada vimos, a ponto de fazer uma mini-soneca. 🙂

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Finalmente, às 11.00, vimos golfinhos pela primeira vez e durante uma hora e tal, andámos a “jogar” ao gato e ao rato, com os cetáceos a superiorizarem-se claramente aos humanos. Se estivéssemos num jogo de futebol seria um “15-0”! 😛 A goleada cetácea, pode explicar-se pela falta de pontaria do arpoeiro no momento da verdade e/ou pela extraordinária capacidade dos golfinhos desaparecerem repentinamente, quais fantasmas aquáticos, apenas voltando à superfície, minutos depois e já afastados da embarcação. Comecei então a perceber, que a pesca é um processo looooooooongo e demoraaaaaaaaado, que se baseia na leitura de correntes e da observação da natureza – em modo sequencial: aves – peixes – golfinhos. Neste “jogo” não havia GPS, radares, pistolas ou redes, apenas e de um modo bastante justo, homem Vs. natureza . 🙂

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Entre o meio-dia e as duas, passei o meu momento mais negro do dia. Razões!? Primeira. Estava calor, muuuuuuuouito calor! Segunda. Sentia-me saturado do processo. Terceira. Não estava mentalmente preparado para passar tantas horas no mar, uma vez que queria regressar ainda nesse dia a Lewoleba. Porém, quando aceitei o facto que apenas iria regressar ao final da tarde e que teria de ficar um dia extra em Lamalera, o panorama geral melhorou. Nessa altura, também me consegui proteger um pouco do sol com a minha toalha, criando um mini-toldo e o meu sentimento relativamente à pesca mudou! Se era para ficar tantas horas no mar queria que arpoassem um golfinho! E nesse momento comecei a desejar “sangue” e uma “vitória” para os humanos. Porém…

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As horas foram passando, loooooooongos momentos sem que se avistasse nada, outros em que havia adrenalina na perseguição, mas na hora da “finalização”… ao lado! Os golfinhos continuaram a dar uma abada monumental ao humanos. A partir das 15.30, começámos a ver mais barcos no mar, o que dificultou ainda mais a pescaria – quanto mais barulho e ruídos, mais “esguios” os golfinhos se tornaram. O único momento em que vi um “golo”, foi quando vi um golfinho já arpoado por outro barco a ir abaixo e acima da superfície bastantes vezes e à medida que a corda ia sendo tensionada, ele foi-se aproximando do barco até ao momento que um pescador saltou do barco com um gancho na mão e nada mais vi, pois o nosso barco afastou-se para outras zonas.

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Às 18.00 estávamos finalmente de regresso à praia, dez horas depois da partida, sem nada arpoado! Antes de voltar à guesthouse vi os barcos a serem empurrados de regresso às “garagens” e o único golfinho que foi apanhado, a ser desmembrado osso a osso, víscera a víscera, pedaço a pedaço até não sobrar nada… e a areia ficar coberta de sangue… coberta de morte… coberta de vida.

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Lamalera. Na Terra dos Pescadores

Prólogo

Da sonolenta e poeirenta capital, “fugi” a vinte pés com destino a Lamalera, uma pequena aldeia piscatória no sul da ilha e um dos únicos locais – senão o único – do nosso planeta onde se podem pescar livremente baleias, tubarões e golfinhos! Apesar da distância não ser longa e uma vez que a estrada estava em péssimas condições a travessia foi demorada, cerca de quatro horas. Durante o trajeto, aproveitei para tirar fotografias ao ambiente, às pessoas e adormeci embalado pela topografia acidentada, pela estrada esburacada e pela música romântica que toca em quase todos os autocarros na Ásia. Ao fim da tarde estava no meu destino e na Abel Bending Homestay encontrei o meu poiso na Terra dos Pescadores.

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Ato I – Lumba Lumba

No primeiro dia do ano acordei cedo e depois de um saboroso pequeno-almoço – café, pão com doce e bolo -, quando ia a caminho da igreja vi pescadores na praia a desmembrar dois Lumba Lumba, vulgarmente conhecidos entre nós por golfinhos.

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Instantaneamente troquei o “sagrado” pelo “profano” e fui observar este “ritual”No areal dezenas de pescadores de corpos robustos, secos e extremamente morenos, desossavam com rapidez e eficácia os animais. A carne era vermelha e branca, havendo muitas partes que se assemelhavam à gordura do toucinho e à medida que se amontoavam peças de carne na areia negra, pescadores iam “lava-la” ao mar para uma posterior partilha entre os membros das embarcações que pescaram os golfinhosA areia estava a ser fecundada com sangue e no ar sentia-se um cheiro forte ao mesmo, a carne e a vísceras. Tudo foi aproveitado e no areal nada ficou, nem sequer as ossadas! Apesar do golfinho ser um animal “simpático”, este “ritual” não me chocou, possivelmente por saber que o mesmo, faz parte da cultura, tradição e modo de subsistência/sobrevivência, destas pessoas tão humanas e tão amistosas.

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Quando me estava a despedir dos pescadores fui convidado a acompanhá-los no dia seguinte, e a caminho da aldeia de Tapobali  direção oeste de Lamalera – passei pela igreja da vila. Durante hora e meia caminhei em estilo sobe e desce, estive com crianças e tirei-lhes alguns retratos, senti o sossego, o calor abafado e vi a paisagem envolvente: a vegetação, o mar, as enseadas e falésias de rocha vulcânica negra e castanha. Quando cheguei à igreja de Tapobali senti-me um alien a ser observado, pois estavam cerca de vinte pessoas paradas a olhar para mim, porém passado esse momento “estranho” tudo voltou à normalidade, os pedidos de retratos sucederam-se e foi aí que aprendi a desejar Bom Ano, na língua indonésia – Salamat Tahun Baru. 🙂

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De tarde fui até à aldeia de Wulandoni, desta feita parti na direção este. Ao contrário da manhã o caminho era muito mais plano e a topografia suave, existiam algumas praias com areia e o mar esteve sempre visível. Durante o trajeto e devido ao calor, suei, suei, suei e no regresso a Lamalera quase que sonhei com uma cola-cola fresca. 🙂 O primeiro dia do ano foi uma elipse perfeita, pois se começou com golfinhos a serem desossados na praia, acabou com estes no prato ao jantar – a carne era vermelha, um pouco rija, de sabor forte… não foi um manjar inesquecível, mas ficou para a posteridade.

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Crónicas Em trânsito Fotografia

Em trânsito: Até ao Infinito? Naaaaaaaaaaaaaaaa… Lewoleba

Se chegar a Moni já foi uma looooooooonga viagem pelo interior da ilha das Flores, a ida até à ilha de Lembata revelou ser uma jornaaaaaaaaaaada e uma caixinha de surpresas. 🙂 A viagem durou dia e meio, e para lá chegar apanhei dois autocarros, três ojek – táxi-mota – e dois barcos. Mas vamos aos factos…


Depois de visitar o bonito vulcão Kelimutu e as suas três crateras/lagos, apanhei um autocarro para as imediações da pequena aldeia piscatória de Sikka. Durante a viagem, à medida que fui descendo o ar começou a ficar mais denso, o ritmo mais lento e a vegetação, tornou-se novamente, tropical. Completamente rodeado de sacos e “nativos”, segui por verdes vales, escarpados e profundos, vendo em algumas ocasiões o mar azul, enseadas e baías, pequenas vilas, praias de areia negra e outras de areia branca – nas imediações de Sikka. Já na aldeia, estive com crianças na praia que gritavam: ”Photo, photo, photo…” mas que quando chegava a “hora da verdade” se escondiam com feições envergonhadas, falei um pouco e bebi um café com um grupo de senhoras e visitei a bonita igreja que tem no seu interior uma estátua de Cristo, que se acredita ter sido trazida pelos portugueses em 1641, aquando da queda de Malaca às mãos dos holandeses.

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Em Sikka apanhei um ojek para Maumere, mas desta feita, segui montado num “foguetão”, veloz e poderoso. Durante a curta viagem, de meia hora, pensei – principalmente a partir do momento que começou a chover – que se caíssemos, íamos ficar agarrados ao asfalto qual hambúrgueres na grelha. 😛 Maumere, que se situa entre o mar e montanhas, mostrou-se à semelhança de tantas outras cidades Indonésias, suja, pobre e deixada à sua sorte mas com pessoas incrivelmente sorridentes e calorosas. Porém, o que recordo principalmente da cidade é o encontro que tive com um “verdadeiro viajante”. Um senhor de mais idade, cheio de sentimentos de soberba, por nunca apanhar aviões e que à primeira opinião contrária que ouvia, se afastava imediatamente. Depois de assistir ao seu comportamento, desejei nunca me vir a transformar nele e no seu slogan: “Eu é que sou o verdadeiro Viajante!”.

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Em Maumere, não me fiz de velho e no dia seguinte, bem cedo apanhei um autocarro para a cidade de Larantuka. Novamente, a viagem fez-se pelo meio de uma cordilheira montanhosa, desta feita de norte para sudeste. Durante o trajeto e enquanto a música distorcia fruto da elevada intensidade sonora das colunas roufenhas, dormi aos poucos, fumei à grande com os nativos, tirei retratos e retribuíram-me a gentileza, vi muitas carrinhas decoradas com motivos religiosos, observei um grande mercado que estava a haver em Boru – pessoas, galinhas, motos, carrinhas, vegetais… -, senti que me estão sempre a pedir coisas – lenços, óculos de sol, pulseiras – como se o estrangeiro fosse uma “vaca leiteira”, pensei: “porque é que têm de conduzir tão depressa” e tive pensamentos soltos: viajar sozinho/acompanhado; tempos mortos; inabilidade para comunicar com os nativos e necessidade de comunicação; binómio andar/parar – “onde queres ir? Onde queres chegar? O que queres ver?”. Tal como no resto das montanhas das Flores, o cenário era deslumbrante e ao fim de três horas surgiu no horizonte, Larantuka e as ilhas de Solor e Adonara. A proximidade dessas ilhas à costa fazia com que o mar se assemelhasse a um lago rodeado de montanhas. Incrível!

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Em Larantuka, tentei informar-me acerca de barcos e ligações para chegar a Timor Oeste, mas devido ao mau tempo não havia ligações. Como não consegui arranjar nenhuma opção barata para dormir decidi partir para Wureh em Pulau Adonara e visitar mais vestígios portugueses, porém fruto de problemas nas negociações da travessia, desisti da ideia – “às vezes é chato e cansativo verem-me apenas como dinheiro andante”. Sem muitas opções, parti então para Pulau Solor, onde em Lahayong encontraria as ruínas de um forte português do século XVII. A fortaleza construída pelos descobridores lusos como entreposto militar, servia de apoio e defesa aos seus barcos que faziam o transporte de madeira de sândalo de Timor para Malaca.

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Na partida da ilha das Flores e enquanto esperava pelo barco, pensei no desgaste de viajar, na sua beleza, no seu desafio e improviso constantes! E se escrevi improviso, foi isso que acabou por acontecer. Soa a “piada”, mas afinal o barco estava em rota para Pulau Adonara! Instantaneamente desisti de visitar Wureh e Lahoyang. O plano imediato, passou a ser dormir em Waiwerang e na manhã seguinte seguir para Pulau Lembata, porém… assim que desembarquei no porto, voltei a embarcar noutro barco que estava de partida. Para? … exatamente – caro leitor – para a ilha de Lembata! Mais precisamente para a capital, Lewoleba e foi aí que acabei por ficar. Viagem até ao Infinito? Naaaaaaaaaaaaaaaaaaaa… Lewoleba! 😀

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Crónicas Em trânsito Fotografia

Moni & o Vulcão das três Crateras, Kelimutu

Depois de uma enooooooorme viagem de “sobes e desces” constantes pela topografia acidentada da bonita e verde ilha das Flores, e de apanhar três autocarros – o primeiro em Labuan Bajo, o segundo em Ruteng e o último em Ende, onde passei a noite – cheguei à pequena vila de Moni, nas imediações de verdes florestas, arrozais e do vulcão Kelimutu.

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O dia em Moni foi tranquilo e durante o mesmo passeei com um ojek, observei o processo de tecelagem de ikat´s e gostei tanto deles, que cheguei a comprar um, na aldeia de Jopu visitei casas tradicionais – de madeira e palha -, túmulos e campas, vi uma bonita cascata no meio da floresta e tomei um relaxante banho nas hot springs.

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Na madrugada seguinte, acordei como previamente combinado com a dona da minha guesthouse – Maria -, para tentar ver o nascer do sol no topo do vulcão. Porém à hora marcada – 4.00 – o meu ojek não apareceu e pela primeira vez na Indonésia, tive de andar a bater a portas no meio da noite para ver a situação resolvida – “don´t play games with me Maria!” – por volta das 5.00, lá consegui partir e durante a rápida subida – cerca de meia hora -, o dia foi clareando e ganhando cor, mas fruto da elevada densidade de nuvens não houve um nascer de dia exuberante.

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Do parque de estacionamento onde fui largado, até às primeiras duas crateras e lagos, o caminho fez-se num ápice e se o lago verde esmeralda já era bonito, o lago azul turquesa era lindíssimo! A paisagem envolvente estava em constante mutação: o sol, a neblina, as nuvens que eram fiapos esvoaçantes, os jogos luz/sombra, a mescla de verdes e azuis dos lagos e das rochas de várias cores. Belo! Continuei a subir degraus e quando cheguei ao topo, vi a terceira cratera e um lago de águas negras e espessas, as nuvens continuavam a aparecer e a desaparecer velozmente e como consequência a  paisagem alterava-se e renovava-se a cada segundo, a cada instante, a cada olhar.

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Depois de visitar o singular vulcão Kelimitu e as suas três crateras, fiz o serpenteante caminho de regresso a Moni – treze quilómetros – num ritmo tranquilo. Durante o trajeto vi verdes e agradáveis florestas, vales e montanhas, nuvens brancas, um sol radioso… Porém à medida que me aproximava da vila, o tempo foi piorando e progressivamente entrei num mundo de cinzas, chuva, arrozais, campos de cultivo e a última memória que guardo da vila de Moni, é o tempo quente e abafado que se fazia sentir, em contraponto à frescura do Kelimutu.

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