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Trekking para Inle

O trekking até ao lago de Inle veio a revelar-se mais um passeio de amigos do que um desafio físico, uma vez que o ritmo foi quase sempre muito lento. 😛 De qualquer modo, a travessia até ao lago foi bastante agradável, fruto da bonita e serena paisagem e do facto de termos criado entre nós um grupo unido e coeso! 😀

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Ao longo dos dias, a paisagem revelou-se um misto de campos de cultivo, pinhais, verdes colinas, alguma paisagem cársica – já na parte final do trekking –  aldeias, mosteiros, escolas, árvores de buda (Paian). A nossa guia, Jully, mostrou ser bastante profissional e uma excelente pessoa, e sempre que podia foi-nos ensinando algo sobre Myanmar e sobre a sua etnia, a etnia Pa-o   como por exemplo a lenda da mãe dragão e do pai alquimista e de como os ovos negros, deram origem aos trajes tradicionais das mulheres Pa-o, as filhas do dragão. 🙂 E em termos meteorológicos, também tivemos sorte, pois nem choveu, nem fez muito calor. Perfeito! 😉

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Ao longo dos dias, conversei muito com os meus companheiros de trekking, com quem passei bons momentos; os almoços foram simples, mas saborosos e os jantares autênticos manjares, pois a comida era ultra-mega-deliciosa! 😀 ; os camponeses revelaram-se super simpáticos, afáveis e calorosos e as crianças, absolutamente encantadoras! 😀 Para além das fotografias à paisagem tranquila, aos camponeses nos seus afazares e às alegres crianças, tive a felicidade de encontrar alguns anciões, verdadeiramente belos. 🙂 Depois de dois dias e meio de uma caminhada vagarosa, despedimo-nos de Jully e do nosso cozinheiro, seguimos o nosso barqueiro… estávamos prestes a entrar no reino de Inle.

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Reflexões

Reflexões Filipinas

Nos quase dois meses que estive no país, houve algumas coisas que me surprenderam: a quantidade de ladyboys foi totalmente inesperada, ainda para mais num país católico, aliás ferverosamente católico, como comprovam os acontecimentos que ocorrem durante as celebrações da semana Santa (enormes procissões, chicoteamentos, crucificações…). Também fiquei admirado com a quantidade de “vovozinhos” e não só, que anda de mãos dadas com raparigas/mulheres Filipinas! E ao vê-los, recordei que não acredito que exista um “pinguinho” de amor, nestas relações.

O país é sem dúvida, um país de praia (Boracay, El Nido, Sugar Beach…), mergulho (Coron, Malapascua, Moalboal, Apo, Dauin, Balicasag…) e de belezas naturais (o vulcão Mayon e toda a Região Administrativa da Cordilheira, onde depois da China encontrei os terraços de arroz mais perfeitos de toda a viagem, principalmente na aldeia de Batad). 😀 Também foi neste destino, que fruto das companhias e do ambiente geral, tive mais festa em dois meses, do que num ano em todos os outros países. 😛

Tal como na Indonésia, a larga maioria dos habitantes são boas pessoas, quentes e afáveis, mas nas Filipinas fiquei agradavelmente surpreendido com a honestidade da larga maioria dos agentes de transportes, e se me posso “queixar” de algo, acho que só mesmo da comida. Um pouco aborrecida, tirando os famosos Baluts!  😛

Foi na cidade de Manila, que encontrei pela primeira vez na Ásia uma pobreza mais crua e real. A sujidade, as vestes esfarrapadas, famílias inteiras a dormir nas ruas. Não posso dizer que me tenha sentido inseguro, mas o ambiente pode e torna-se mais pesado. Para além disso, há muita corrupção, tanto da polícia, como dos agentes políticos, nada de novo portanto, naquelas terras abençoadas do Sudeste Asiático.

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Reflexões

Reflexões Timorenses e Asiáticas

Depois de aproximadamente um mês em Timór Lorosa’ede algumas observações e muitas conversas com os seus habitantes, principalmente com os membros da família Nicolau que me receberam e me fizeram sentir como mais um dos seus membros :), cheguei a algumas ilações sobre o país e sobre a Ásia.

O país tem muitas riquezas naturais – petróleo, minérios, madeira de sândalo… -, porém, fruto do setor secundário ser praticamente inexistente o país tem de importar praticamente tudo. Tal facto, origina um país bastante dependente do exterior – da Indonésia principalmente – sendo todos os produtos de consumo, bastante mais dispendiosos que noutros países do sudeste asiático – alimentação, vestuário, materiais de construção… em relação aos produtos considerados de “luxo” – que no mundo ocidental são absolutamente banais: caixas de cereais, enlatados, doces… – a discrepância ainda se torna mais gritante e o acesso generalizado torna-se impossível.

Juntando o desemprego e salários relativamente baixos, que não permitem às famílias grandes veleidades, os timorenses são cada vez mais guiados ao consumismo, deste modo é natural que exista uma enorme vontade das gerações mais novas emigrarem para países ocidentais – Europa, Austrália, EUA… – à procura de mais oportunidades e melhores condições de vida. Porém, à semelhança de outros países asiáticos, a emigração é muito pouco facilitada e torna-se muito difícil conseguir abandonar o país.

Em Timor Leste, o crédito bancário é praticamente inexistente – pelo menos, para os cidadãos comuns -, por isso, quase tudo tem que ser feito lentamente à medida que se pode – reconstrução das casas, por exemplo. Esta realidade, apesar de algumas consequências negativas, permite que as famílias vivam realmente com o que têm ao contrário de viverem numa bolha imaginária de crédito, como a maioria dos habitantes do mundo ocidental. Outra consequência, é a criação de uma geração de “cowboys”nome que os timorenses mais jovens evocam para si próprios, pois têm de aprender a “desenrascar-se”, em múltiplas tarefas: construção, bricolage, culinária…

Apesar de muito jovem, o país está a ter uma enorme tendência para vir a ser minado pela corrupção. O exemplo tem vindo de cima – governo de Mari Alkatiri, por exemplo – e começa a enraizar-se nos habitantes.

Segundo a opinião de quem vive em Timor Leste há cerca de dez anos, existe a convicção de quem dominar a língua portuguesa, dominará o país. Apesar do esforço empregue pelo governo Timorense, os resultados ainda mostram um enorme fosso entre as elites e os outros cidadãos. Tal facto, pode levar no futuro a profundas clivagens sociais entre os vários estratos da sociedade.

Os timorenses na sua generalidade – pelo menos as gerações mais velhas -, guardam o nome de Portugal com bastante carinho, respeito e admiração. Essa “aura”, permitiu-me ser muito acarinhado e sentir um calor humano, ainda mais intensificado que noutros países do sudeste asiático. 😀

No país, apesar do mesmo ter uma área bastante reduzida, as pessoas perdem imenso tempo em viagens. Motivos?  Vias de comunicação em péssimo estado e a tradição enraizada, dos transportes públicos funcionarem como táxis coletivos – tal facto ocorre também em muitas ilhas da Indonésia – Sumatra, Flores, Timor Oeste… ainda relativamente aos autocarros, de referir que a música – “cascabulho” – é posta a tocar nas colunas roufenhas, em decibéis elevadíssimos e como consequência, daqui a uns anos quase todos os timorenses, que utilizam os transportes públicos estarão surdos. É de facto um massacre sonoro. 😛

Em Timor Leste e na Ásia a palavra ainda tem valor! 😀 Por isso os enganos que possam vir a existir, ocorrem nas alturas em que se negoceiam os preços – transportes, alojamento, comida, “recuerdos”…

Diferentes locais, diferentes culturas, sensibilidades e formas de agir. O que “aqui” é de uma maneira, pode ser de outra completamente distinta “ali ao lado”. Por isso, caso seja possível, a melhor forma de atuar é perguntar, mesmo que as perguntas pareçam despropositadas. Afinal de contas, estamos na Ásia, a muitos milhares de quilómetros do Ocidente e mesmo num mundo tão globalizado e standarderizado como o atual, algumas “coisas” ainda e felizmente são necessariamente diferentes.

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Crónicas Fotografia

Laclubar. O Irmão e o Ateu

A longa e “saltitante” viagem entre Baucau e Laclubar foi feita numa carrinha strakar, na companhia do Irmão Vitor, catequistas, freiras, um seminarista e antes de arrancarmos, houve uma oração a pedir proteção divina. Das cinco horas que durou a viagem, os momentos que mais recordo foram a paragem em Laleia onde visitámos o centro paroquial e a bonita igreja da vila, que foi restaurada com bastante bom gosto e que conserva os seus traços originais; as condições da estrada que foram piorando progressivamente, pois o asfalto estava cheio de crateras; a bonita paisagem, muito verde por entre vales e montanhas e a temperatura bastante fresca que encontrámos, na chegada ao nosso destino.

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Quando chegámos ao centro João de Deus em Laclubar fiquei instalado num quarto individual, que segundo os meus padrões de viagem era super-luxuoso! 🙂 E ao jantar conheci os nomes dos “aprendizes” do Irmão Vitor: Marcos, Mateus, Emílio, Álvaro e Bosco, uns rapazes muito simpáticos, educados e gentis, e perante eles assumi-me como ateu, devido à minha falta de fé e tivemos algumas conversas interessantes à volta do tema.

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Durante os cinco dias em que estive na pacífica e tranquila vila de Laclubar, senti que estava a fazer uma pausa dentro da viagem e aí, tive a oportunidade de parar um pouco, antes de recomeçar o ciclo do movimento. Tive por isso, a oportunidade rara de estar “fora do mundo, dentro do mundo”. 🙂

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Ao longo do tempo, conheci as diferentes seções que compõem o centro – a casa dos irmãos, a hospedaria, a parte hospitalar, a cozinha, a lavandaria, as hortas, as casas dos animais, o centro de internet, a receção, a capela, a biblioteca… – e as fantásticas pessoas que por lá “habitam”, tanto o staff como os pacientes. Pela primeira vez em longos anos tive contacto com literatura cristã/católica e li: Bento XVI, visto de perto – gostei da coerência demonstrada, ao longo da obra, pelo ex-papa e pelo jornalista, Peter Seewald – e Olhar para Cristo, Exercícios de Fé, Esperança e Caridade. Tive bastantes conversas muito interessantes com o Irmão Vitor sobre vários assuntos – sociedade e mudanças observáveis – não necessariamente para melhor, “excessos”, religião, Timor Leste, Portugal, Mundo… atualizei o caderno e escrevi textos para o blog. Tentei curar duas feridas incómodas que tinha abertas no pé direito – peito e entre os dedos. Conheci o Bruno e a Carolina, dois simpáticos portugueses que estavam a trabalhar no centro na parte hospitalar. Visitei o bonito Monte Maubère, donde pude observar panorâmicas da vila e da paisagem envolvente – muito, muito verde -, ver cavalos, vacas, aldeias, plantações, cercas sagradas e campas. Acompanhei o Irmão Vitor até à aldeia de Hadulas, onde houve uma reunião sobre as jornadas da juventude. Fui até ao concorrido e tradicional mercado de Domingo, onde comprei um farri – porquito, neste caso uma porquita – para oferecer ao Irmão Vitor/centro e poder assim retribuir um pouco, a generosa e inesquecível hospitalidade que me ofereceram.

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Muito obrigadu, Irmão Vitor e todos os demais, por me darem a oportunidade de vos conhecer e de partilharem o vosso tempo comigo e na despedida de Laclublar guardarei para sempre no coração e na memória o vosso carinho e bondade. 😀

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Reflexões

Reflexões Asiáticas

Outros momentos que guardo na memória, ainda da ilha de Tanahmasa foram as longas e interessantes conversas que tive com o Luke sobre a Indonésia, segundo ele um “sistema” caótico de regras, e outros países tropicais, e nas quais ouvi e retive algumas frases soltas: “Eles não aprendem por eles próprios”; “Eles querem que o coco lhes caia em cima da cabeça”; “Ao mesmo tempo com a televisão/internet aprendem que querem “coisas” – materiais -, mas não se apercebem que para ter essas “coisas” à que trabalhar e não se ficarem a queixar da sua “sorte” ou “má sorte”.

Outras ideias que discutimos relacionaram-se com a influência do sol e da temperatura, que permite ao ser humano usufruir de uma vida mais pacífica/amena – ao contrário dos países frios, uma pessoa senão trabalhar, ou não tiver uma casa robusta, dificilmente morrerá de frio, quanto muito poderá apanhar uma gripe – e como esses fatores – sol e temperatura – influenciam a nossa própria natureza humana, tornando-nos mais relaxados e indolentes; bem como a falta de visão/imaginação associada à ausência das pessoas terem de se preocupar demasiado, pois a própria natureza encarrega-se de lhes dar gratuitamente algumas “coisas”.

Com base em todas estas ideias e questões deixadas no ar, fiquei a magicar e penso que existe um misto de falta de oportunidades e uma ausência de imaginar algo diferente. Porém e devido à complexidade do ser humano e das suas motivações, não é fácil chegar-se a uma conclusão, mas não tenho dúvidas relativamente a uma coisa… é sempre o conjunto dos ingredientes que resulta na caldeirada.

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Citações Reflexões

O Viajante Volta Já

Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmos estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia  que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que lá não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos no lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.

Saramago in, Viagem a Portugal

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Crónica de um Regresso

Como medir dezasseis meses fora do nosso país? No regresso nada e tudo mudou. Nós, os outros, os demais… As casas estão iguais, os cheiros e as conversas imutáveis, até o aspeto da maioria das pessoas pouco se alterou… mas e nós? Podem dizer-nos que estamos mais magros e a nossa pele mais escura… mas será que isso é o fundamental? 🙂

A 21 de Fevereiro de 2013, escrevi no primeiro dos meus cadernos que me acompanharam durante toda a viagem asiática: “ (…) cheguei a Pequim, que o meu sonho se transforme finalmente em realidade! Agora é tempo de agarrar a mesma, com toda a força do meu ser e neste período, que dure o que durar, eu o veja e sinta sempre como um período de aprendizagem e de enriquecimento pessoal e que saia da viagem: mais humano e mais completo; com uma ânsia de viver e de conhecer continuamente renovada; e com o meu caminho de vida pessoal mais clarificado ou iluminado, tal como um bodhisattva.”

Passado este tempo e relendo um dos últimos parágrafos do separador “Sobre” no meu blog, não posso deixar de sorrir… 😀 Fiquei a milhas de chegar a Istambul na Turquia e tão pouco me aproximei do estado de iluminação. Não sou Buda, não sou Jesus, nem tão pouco Alá e não pretendo ser nenhuma destas pessoas… Sou humano, tenho ossos e músculos, carne e sangue, tenho a mesma luz e sombra, a mesma destruição e criação, que todos temos dentro de nós e a minha vida é tão mais interessante e desafiante desse modo.

Ontem dia 21 de Junho de 2014, quase a aterrar escrevi: “(…) quase, quase a chegar a Lisboa posso afirmar que estou contente… sinto-me feliz por regressar e vou tentar aproveitar ao máximo estes primeiros tempos no meio da minha família e dos meus amigos que me amam. Vou continuar a escrever e a viajar na minha vida. Ambas fazem parte da minha essência e não me tenciono negar mais a mim mesmo. Acredita em ti miúdo! Não hesites! Não desistas do teu sonho de viajar! A jornada é demasiado bela para parar e o vento uma força demasiado poderosa para ser travada! O mundo é um local belo! Que merecer ser visto e revisto, e eu faço parte dele e ele parte de mim! Hoje no regresso ao meu país que me criou como homem e cidadão do mundo, faço votos de casamento com o Mundo! Não me abandones! Que eu ser-te-ei fiel.”

P.S. – No aeroporto e depois de uma espera interminável pela bagagem (que cheguei a pensar que se tinha extraviado) reencontrei a minha mãe, a minha irmã, uma prima e um dos meus melhores amigos e depois de os abraçar e beijar e de um pequeno compasso de espera partimos para a minha cidade natal. Aí e na casa de uma das minhas avós… recebi o maior presente de todos! 😀 Grande parte da minha família e dos meus amigos organizaram-me uma festa surpresa! 😀 Saí do carro aparvalhado e mega FELIZ e com eles partilhei as minhas primeiras horas em solo luso. A todos eles e a todos vós, MUITO OBRIGADO, por fazerem parte da minha vida e por me deixarem fazer parte da vossa. É um privilégio e uma honra! E eu sei que sou uma pessoa com sorte… 😀

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Pedalando em Phonsavanh

Ato IV – Tempestade e Nascer do dia

Já de volta ao mercado, estacionámos, prendemos as bicicletas uma à outra e à mesa e preparámo-nos para dormir. Nessa altura chovia torrencialmente, o céu estava a ser rasgado por raios enormes e eu pensava que aquela tempestade ia ser a nossa proteção e que o cretino mor não ia aparecer mais, naquela noite abençoada pela chuva e pela luz do céu. 🙂

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Quando nos deitámos eram cerca de 21.00 e antes de o fazer forrei-me ao máximo com toda a roupa que trazia na mala: meias, transformei os calções em calças, softshell, bonnie – para proteger a cabeça e as orelhas da mosquitagem; pus por cima de mim o lençol de seda e a almofada insuflável no pescoço; prendi a mala ao meu braço e adormeci no meio das trevas – pois nessa altura, a aldeia estava sem eletricidade – embalado pelo doce som da chuva torrencial e dos trovões.

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Ao longo da noite fui acordando e adormecendo, não conseguia ter um sono sereno e continuado, talvez fruto da preocupação inconsciente com a bagagem e fruto do frio da noite que criava um ambiente desconfortável. Seriam talvez 1.00 quando acordei com o som de relinchos e ao abrir os olhos o mercado tinha sido invadido por cavalos, que se quiseram abrigar da tempestade, da chuva torrencial e dos raios que cruzavam o céu. Ou melhor dizendo, vultos e sombras com formas de cavalos, em que o seu som -relinchos, cascos a bater no solo… – era a única coisa que os desligava do mundo dos espetros e das trevas. Voltei a adormecer e por volta das 4.30 acordei com o som de badalos e mugidos, desta feita o mercado fora invadido por espetros de vacas que apenas voltaram a ganhar corpo e densidade quando o relógio avançou e o dia começou a vencer a noite. 😉 Às 5.00 levantámo-nos, arrumámos a bagagem e seguimos viagem, afinal já tínhamos luz suficiente para continuarmos a pedalar e não queríamos mais encontros imediatos do décimo segundo grau com o cretino mor & Lda. 😉

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O início do dia foi algo de maravilhoso e um dos momentos altos do Laos! 😀 A saber: um céu cheio de nuvens densas que reflectiam as múltiplas cores do nascer do astro rei, as verdíssimas montanhas e colinas circundantes, as plantações de arroz, os campos cheios de água, os búfalos, os reflexos do céu na água, a estrada de argila castanha transformada numa estrada dourada… a experiência de pedalar ao longo de tanta beleza foi de tal modo gratificante que senti que se o dia  acabasse naquele instante já teria valido a pena vivê-lo… 😀

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Shall We Start the “Game”?

Antes de iniciarmos o “jogo”, decidimos que queríamos pagar no máximo 30.000 kip por cada thai, por isso e uma vez que ninguém falava inglês, escrevi na terra 3 → 90.000, escolhi o meu thai – azul e dourado – e esperei que o Zhou escolhesse os outros dois. Porém, quando ele começou a olhar para eles, disse-me que eram todos tão bonitos que não era capaz de escolher. Passados dois ou três minutos estávamos a dialogar:

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Zhou: – “E se eu comprar muitos?”

Kiri: – “O que são muitos? Ou melhor, quantos são muitos?”

Zhou: – “Dez!? E tu ficas com um!?”

Kiri: – “Agora, estamos a falar!” 😉

Preparei-me, respirei fundo e lancei um preço “canhão”. No solo escrevi, por baixo do preço anterior, 10 → 200.000, a rapariga olhou para nós e exclamou: “Ohhhh!” e acenou que não com a cabeça. Primeiro apontei para o 3 → 90.000 e depois destaquei o 10 (círculo à volta) e olhei para ela. Ela olhou para nós e voltou a acenar que não. Olhei para o Zhou e perguntei-lhe o que queria fazer. Ele disse-me para subir o preço. No solo apaguei então o primeiro valor e escrevi 250.000 e acenei triunfante! 🙂 Qual não foi o meu espanto, quando a rapariga apagou o valor e escreveu 300.000. Eu acenei que não com a cabeça e apontei novamente 3 → 90.000, 10 (apaguei os números dela) → 250.000 e apontei várias vezes para o 10, algo do género: “Estás a vender dez de uma vez, o que queres mais?”.

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Porém ela manteve-se intransigente e nós também, por isso acabámos por comprar-lhe os três lenços por 90.000 kip. A partir desse momento, eu já estava satisfeito e por isso limitei-me a fotografar a aldeia e os seus habitantes, os seus thais e teares, o processo de execução de cestos, a paisagem envolvente… 🙂 enquanto o Zhou insatisfeito continuou a perguntar preços e a fazer negociações, acabando por ter “sorte” pois conseguiu comprar mais quatro lenços por 100.000 kip… Abandonámos a aldeia e o “tabuleiro de jogo” satisfeitos, presumo que os aldeões também, pelo menos aqueles que fizeram negócio, com a equipa Luso – Chinesa. 😉

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Reflexões

Learning Mode

Se geralmente, andar em aprendizagem já é o meu estado “normal”, durante a primeira semana no Laos esse processo foi intensificado e o learning mode foi definitivamente ativado. 🙂 Assim sendo, aprendi o que significa chegar a uma pequena cidade, sem nada marcado e procurar alojamento; que o comum no país é haver guesthouses e não hostels e desse modo somos obrigados a alugar um quarto e não uma cama – como na China; comecei a entender a dinâmica da comida e do seu preço; falámos do país e da sua realidade com “nativos”; compreendi que as ATM´S no Laos são quase inúteis – a quantia máxima que pode ser levantada são 100€ – e que apenas devo utilizá-las em último recurso; aprendi a agradecer – khàwp ja̖i – e a dizer olá – sába̖ai-di̖i  na língua Laosiana e principalmente, aprendi que andar à boleia é um processo longo e demorado, uma vez que estamos a desafiar a ordem natural do país – existem poucos carros a circular; as estradas estão muitas vezes em péssimas condições; os habitantes não estão acostumados e desconhecem o fenómeno e no caso de finalmente alguém parar, diria que 99% das vezes é quase sempre esperada uma compensação monetária.