Categorias
Crónicas Fotografia

Em “Torajilândia”

Ato V – Rumo a Norte e à Bruma

Depois de tantas emoções nos dias anteriores, neste dia parti rumo a Norte. Primeiro, fui a pé até ao terminal de Balu, onde tentei apanhar um bemo (autocarro) para Lempo. Porém, as coisas não correram muito bem uma vez que o motorista informou-me que se quisesse seguir, teria de pagar o veículo todo, pois não havia mais passageiros. Percebi o argumento, mas o valor pareceu-me excessivo, por isso decidi aguardar… no entanto, algum tempo passou e ninguém apareceu. :/

IMG_9870 (FILEminimizer)     IMG_9871 (FILEminimizer)

IMG_9874 (FILEminimizer)     IMG_9898 (FILEminimizer)

IMG_9902 (FILEminimizer)

Comecei a pensar em alternativas, fui a um posto de ojeks perguntar o preço para seguir para Lempo e o valor mais baixo que consegui já era menos de metade, do valor do carro. Ok! A solução, já se começava a avistar. Porém, como ainda não estava satisfeito, fui seguindo a pé com o intuito de pedir boleia. A verdade é que não me sentia muito otimista, mas passados dez minutos, já estava numa carrinha das obras em cima de umas sacas de cimento, a caminho do Norte. 😉 Como o destino final da carrinha era Pallawa, tive que desmontar e ficar à espera num cruzamento, de qualquer modo, neste momento estava bafejado pela sorte e assim, logo de seguida apanhei um bemo montanha acima e aos zigue-zagues até Batu Tumanga. No caminho, apesar do espesso nevoeiro deu para observar uma  bonita paisagem, de verdes arrozais em socalcos.

IMG_9909 (FILEminimizer)       IMG_9936 (FILEminimizer)

IMG_9919 (FILEminimizer)    IMG_9928 (FILEminimizer)    IMG_9930 (FILEminimizer)

Quando cheguei a Batu Tumanga como estava muito, muitooooooooooo nevoeiro, decidi seguir diretamente para Lokkomata e num instante, cheguei ao local onde se podem encontrar túmulos dentro da rocha. Aí, fruto da bruma fiz uma curta visita ao local e quando estava a caminho de Pana apanhei nova boleia, desta feita de mota. Na pequena povoação, visitei mais uns túmulos – para bebés – cravados numa enorme parede de rocha. Este local, fruto da mescla perfeita de rocha e vegetação parecia saído do mundo perdido ou de um Indiana Jones. Espetacular! 🙂 Para além da visita, foi na aldeia que conheci o simpático e afável Mr. Papakiki com quem bebi um café e estive uns momentos a conversar, em amena covaqueira. De Pana, sempre em descida cheguei primeiro à vila de Tikala e finalmente a Rantepao. Ao longo do caminho a viagem foi agradável e por volta das 14.00 já estava de regresso ao centro da cidade, já fora do reino da névoa, num ambiente quente e solarengo.

IMG_9945 (FILEminimizer)     IMG_9962 (FILEminimizer)

IMG_9963 (FILEminimizer)     IMG_9977 (FILEminimizer)

IMG_9967 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Fotografia

Em “Torajilândia”

Ato IV – O Funeral. A Manhã

No dia seguinte, acordei bastante cedo (algures entre as cinco e as seis da manhã) e quase imediatamente bebi café e comi uns bolitos secos. Entretanto apareceu Machin, o irmão mais velho de Julius, com que estive a falar durante um bocado e que me explicou que o búfalo no dia anterior tinha sido sacrificado à maneira muçulmana e que aquela não era a forma tradicional. Entretanto, o tempo foi passado e foram aparecendo progressivamente pessoas, as crianças vestiam trajes tradicionais (os rapazes listas verticais vermelhas e lenços na cabeça e as raparigas vestidos brancos decorados com rendilhados de missangas).

IMG_9751 (FILEminimizer)

IMG_9750 (FILEminimizer)     IMG_9753 (FILEminimizer)

IMG_9755 (FILEminimizer)     IMG_9757 (FILEminimizer)

Quase sem aviso, foram sacrificados mais dois búfalos, desta feita, de modo tradicional. Nesta maneira, o búfalo assente na suas quatro patas, recebe uma pancada seca com uma faca muito afiada no pescoço, e tal como no dia anterior, sangra até à morte. Esta maneira pareceu-me menos “limpa” e eficaz, uma vez que o animal demora mais tempo a morrer. É sem dúvida uma tradição sangrenta! Mas é cultural e nós nos países ibéricos temos touradas por isso… e tal como em Lamalera, os animais são mortos por motivos válidos e são comidos. Não são deixados a apodrecer. Para além dos búfalos, são sacrificados muitos porcos, porém estes não morrem com tanta dignidade, morrendo aos guinchos nas “traseiras” da festa.

IMG_9759 (FILEminimizer)      IMG_9763 (FILEminimizer)

IMG_9770 (FILEminimizer)     IMG_9776 (FILEminimizer)

Na altura do sacrifício já lá estavam outros turistas (um italiano, um checo, uma americana e uma austríaca) levados por um guia e eu senti-me um “bocadito cagão” por ter chegado sozinho ao funeral! (Novamente, tal como noutras ocasiões da viagem, o ego humano pode ser tramado! 😛 ) Quando o Julius reapareceu, trouxe-me um sarong preto e eu fiquei muito feliz! De manhã, a cerimónia continuou: música tradicional com flautas, desfiles de pessoas conduzidas pelo mestre de cerimónias, crianças trajadas, pessoas a fumarem, rirem e conversarem. O funeral é uma grande mescla de reunião familiar e romaria popular, onde apenas falta a música de bailarico, sendo o ambiente geral, alegre mas respeitoso.

IMG_9777 (FILEminimizer)     IMG_9784 (FILEminimizer)

    IMG_9793 (FILEminimizer)     IMG_9796 (FILEminimizer)

IMG_9799 (FILEminimizer)     IMG_9804 (FILEminimizer)

Para além de ter assistido a tudo isto e ter passado a manhã a conversar, fui fazer umas explorações nas imediações e nas mesmas, encontrei uma caverna cheia de ossadas, caixões e estátuas, e uma vez mais, fiquei feliz por ter encontrado o local sem a ajuda de terceiros. Já de regresso à cerimónia fúnebre, subi ao local de honra onde estava o caixão e fiz uma oferta – monetária – à viúva e avó de Julius. continuei a falar com os nativos, fumei mais uns cigarros, e comi uma vez mais a deliciosa comida Toraja. Depois de almoço e um pouco de surpresa, voltei a Rantepao numa carrinha de transporte de animais, que me pareceu o veículo apropriado… 🙂 mas antes de partir, ainda me consegui despedir de Julius, a quem dei um abraço apertado de amizade. Terima Kasih (obrigado) meu amigo, foi um privilégio e uma honra ter assistido ao funeral do teu avô. 😀  

IMG_9814 (FILEminimizer)

IMG_9824 (FILEminimizer)    IMG_9829 (FILEminimizer)

IMG_9849 (FILEminimizer)     IMG_9854 (FILEminimizer)

IMG_9855 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Fotografia

Em “Torajilândia”

Ato III – O Funeral. A Tarde e a Noite 

Pessoas vestidas de preto, logo de seguida um tendong (búfalo) a ser desmembrado e cortado, e no segundo andar de uma construção de madeira, um caixão. Estava num funeral! Fiquei estupefacto. E ao olhar para a minha roupa envergonhado, pois estava vestido com uma t-shirt vermelha. Rapidamente e apesar do calor vesti o meu corta-vento, que apesar de não ser preto, sempre tinha uma cor mais neutra e pus o keffiyeh a tapar as pernas, qual um sarong. Com essa indumentária, avancei funeral adentro e a primeira coisa que reparei foi na consistência pastosa do sangue que estava espalhado pelo solo. Discretamente, tentei colocar-me num local mais afastado do centro, fazendo a partir daí as minhas observações, mas nessa altura um rapaz convidou-me a entrar numa das múltiplas construções de madeira existentes, mais pequenas. Aí, juntamente com outras pessoas jovens, troquei umas palavras em bahasa, bebi um café, oferecemos cigarros uns aos outros e fiquei sentado, até ao momento que houve o sacrifício de outro búfalo, e eles disseram que eu podia tirar fotografias.

IMG_9667 (FILEminimizer)

IMG_9670 (FILEminimizer)

Enquanto várias pessoas atavam o búfalo com uma corda e o fizeram deitar no chão, tentei colocar-me o mais próximo possível sem atrapalhar. À minha frente, uma faca afiada penetrou a carne do animal, o pescoço foi cortado e num segundo, a traqueia foi dilacerada, o sangue começou a jorrar aos brobotões, acumulando-se e fazendo espuma. De vez em quando o animal mexia-se silenciosamente, os olhos foram perdendo brilho e luz, a vida foi abandonando o seu corpo e a sua morte serviu para honrar o ancião falecido.

IMG_9678 (FILEminimizer)     IMG_9683 (FILEminimizer)

IMG_9686 (FILEminimizer)      IMG_9696 (FILEminimizer)

IMG_9707 (FILEminimizer)

IMG_9709 (FILEminimizer)

Voltei então ao local, onde tinha deixado a minha mala, o rapaz que me tinha convidado a entrar, apresentou-se como Julius e disse-me para segui-lo. No meio de uma alegre e ruidosa multidão segui até ao meio de um arrozal, onde assisti durante uns momentos a uma luta de búfalos. Porém, a verdade é que de luta, houve pouco ou nenhuma, pois os animais, depois de duas ou três cornadas ou paravam, ou um deles fugia! Os búfalos pareciam uns autênticos pacifistas. 🙂 Voltámos então ao recinto central e nessa altura o Julius informou-me que iria regressar a Rantepao, mas que se quisesse assistir ao funeral no dia seguinte, podia ficar a dormir ali mesmo (os funerais tradicionais geralmente duram três dias, o dia seguinte seria o segundo dia de festividades e o mais importante). Perguntei se não atrapalhava, e como ele disse que não, aceitei o convite. Estava muito feliz, não só tinha encontrado um funeral, como sido convidado para assistir ao mesmo! 😀

IMG_9711 (FILEminimizer)     IMG_9715 (FILEminimizer)

IMG_9726 (FILEminimizer)     IMG_9728 (FILEminimizer)

Desse modo fiquei na companhia da família de Julius, entre eles o simpático Jacobs. As horas foram passando, eu fui comendo (primeiro arroz com peixe frito, depois arroz com babi (porco) assado dentro de bambo, vegetais e búfalo grelhado – em sabor parecia borrego, mas a carne era mais tenra); bebendo cafés e tua  vinho tradicional indonésio; falando em bahasa com as pessoas presentes e inglês com o Jacobs; observando o ambiente envolvente: o som de alguns foguetes, os homens envoltos em sarongs negros, a sonoridade profunda do mamodang (cântico fúnebre em honra dos mortos); fumando e apreciando a grande oportunidade que estava a ter para aprender mais sobre os Tana Toraja. Cerca das 22.00 deitei-me para dormir bem forrado e com a capa da chuva a servir de “cobertor” (como a capa era praticamente impermeável e não transpirável, o calor concentrava-se), sentindo-me um privilegiado com tanta “fortuna” e boa sorte. 😀

IMG_9738 (FILEminimizer)

IMG_9734 (FILEminimizer)     IMG_9744 (FILEminimizer)

IMG_9745 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Em trânsito Fotografia

Em “Torajilândia”

Ato II – Rumo a Sudeste e à Magia

No dia anterior, tinha decidido que no primeiro dia a “sério” seguiria para Norte, mas como nessa direção, o tempo estava meio encoberto e cinzento, mudei de ideias e parti rumo a Sudeste. Antes de sair do centro da cidade, muni-me de água e comida e de mochila às costas, segui andando. O primeiro local que visitei foi Kerassik e encontrei-o um pouco ao acaso, uma vez que não havendo separação física, pensei que ainda estava na cidade de Rantepao. 🙂 Aí, vi pedras que pareciam minin megalitos e umas casas tradicionais. Continuei a andar por uma estrada de alcatrão, numa paisagem dominada por verdes arrozais e rapidamente cheguei a Bantu Pune, onde encontrei casas tradicionais que pareciam bastante antigas – telhados cheios de vegetação – uma zona cerimonial no topo de uma colina e na base da mesma, caixões suspensos com ossos a aparecerem pelas frinchas e buracos da madeira já podre. Diferente! Estranho! Belo! A magia da morte em “Torijilândia” começava a revelar-se.

IMG_9445 (FILEminimizer)     IMG_9450 (FILEminimizer)

IMG_9464 (FILEminimizer)      IMG_9478 (FILEminimizer)

IMG_9480 (FILEminimizer)

Sempre a andar e mantendo-se a paisagem de arrozais em redor, continuei até Ke´te Kesu, que segundo a informação que tinha lido era um dos locais mais completos e fascinantes em Tana Toraja. A verdade é que Ke´te Kesu, não desiludiu! Nada mesmo! Primeiro deambulei em redor do seu bonito enquadramento natural: o lago, as palmeiras, as árvores, os trilhos verdes, as colinas e as grutas. Seguidamente, visitei a área das casas tradicionais, onde numa loja de artesanato local, apaixonei-me pelo trabalho efetuado por uma idosa artesã e sai de lá com três placas de madeira, gravadas e pintadas à mão com motivos típicos. 🙂 Daí fui até à zona das colinas, onde à semelhança de Bantu Pune vi múltiplos caixões suspensos e esqueletos, mas depois encontrei muito mais “representações” dos mortos: figuras de “anciões” esculpidos em madeira, uma gruta/túmulo onde repousava um caixão, túmulos escavados na rocha e “jazigos” gigantes e coloridos. Enfim, muita diversidade que me fez ficar, cada vez mais fascinado com a cultura desta tribo. 😀

IMG_9492 (FILEminimizer)    IMG_9494 (FILEminimizer)

IMG_9504 (FILEminimizer)     IMG_9517 (FILEminimizer)

IMG_9507 (FILEminimizer)     IMG_9512 (FILEminimizer)    IMG_9519 (FILEminimizer)

IMG_9534 (FILEminimizer)       IMG_9545 (FILEminimizer)

IMG_9542 (FILEminimizer)

IMG_9533 (FILEminimizer)

Pela estrada fora, cheguei a Sullukan onde falei com um nativo muito simpático que me deu umas pequenas explicações sobre os Toraja e sobre o que acabara de observar, e depois parti em busca de Pala Tokke, uma colina cársica já afastada da estrada principal, rodeada de belos e idílicos arrozais onde no topo encontrei mais caixões, esqueletos e ossadas. O caminho para La´bo e Randan Batu, continuou a levar-me por uma paisagem de arrozais, colinas cobertas de vegetação e pequenas aldeias com casas tradicionais. Quando estava quase, quase a chegar à povoação de Sangalla falei com uns nativos que me informaram que Suaya, o meu próximo destino, ainda ficava a dez quilómetros de distância, por esse motivo e pelo avançar do relógio, acabei por negociar a “travessia” com um ojek.

IMG_9611 (FILEminimizer)     IMG_9613 (FILEminimizer)

IMG_9625 (FILEminimizer)     IMG_9619 (FILEminimizer)

IMG_9629 (FILEminimizer)      IMG_9631 (FILEminimizer)

IMG_9634 (FILEminimizer)     IMG_9641 (FILEminimizer)

IMG_9647 (FILEminimizer)

Em Suaya, logo na entrada da zona turística, o porteiro cobrou-me metade do bilhete e ficou com o dinheiro (corrupção direta), ao invés de eu receber um papel e de pagar para os cofres de alguém (corrupção indireta). Nestes casos, nada a apontar. Ganho eu. Ganha o trabalhador, que tem um salário baixíssimo. Perde o estado podre e corrupto da Indonésia, que ensinou aos seus habitantes como se “deve” fazer. No local, encontrei uma enoooooorme parede de rocha, com inúmeras estátuas de madeira e com túmulos escavados ao longo de grande parte da superfície. Brutal! 🙂 Dessa parede, continuei a andar despreocupadamente, até que comecei a ver muitas, muitas pessoas e algumas trajas vermelhas e pensei: “comício político!?”. Passei, por uma banca que parecia ser um piquet de controlo e as pessoas a sorrir, a fazerem-me sinal para avançar. Dei mais uns passos e começo a ver 

IMG_9657 (FILEminimizer)     IMG_9650 (FILEminimizer)

IMG_9652 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Fotografia

Em “Torajilândia”

 Ato I – Em Rantepao e Arredores

No meu primeiro dia em Tana Toraja, uma das tribos mais interessantes e singulares da Indonésia, comecei o mesmo com um agradável pequeno-almoço no terraço da guesthouse (Wisma Monton), donde se via a paisagem na direção Norte. Já nas ruas da cidade, o meu primeiro passo foi tentar arranjar um mapa da área, para me poder orientar e tentar falar com alguém ligado ao turismo para saber mais detalhes acerca da zona onde me encontrava. Ainda no interior de Rantepao, falei com um agente que me arranjou um mapa e me informou acerca de preços de trekkings, guias e veículos privados, e como achei tudo demasiado dispendioso decidi fazer as visitas por conta própria (apenas precisava de ler a informação que tinha no laptop, com mais atenção e escrever as diferentes rotas). De qualquer modo, continuei a andar na estrada principal em direção a Sul e depois de cruzar um arrozal em direção a Este, tive a minha primeira experiência dentro de uma pequenina aldeia, onde vi com atenção os famosos telhados em forma de cornos de búfalos (os animais mais sagrados para os Tana Toraja) ou de cascos de navios (os antigos antepassados, que segundo a mitologia Toranja se acredita terem vindo do mar).

IMG_9265 (FILEminimizer)     IMG_9267 (FILEminimizer)

IMG_9270 (FILEminimizer)     IMG_9283 (FILEminimizer)

IMG_9286 (FILEminimizer)     IMG_9284 (FILEminimizer)

IMG_9294 (FILEminimizer)

Da aldeia, continuei em direção a Sul por uma pequena estrada de terra batida e como vi umas colinas que me pareciam interessantes parti ao seu encontro. Enquanto houve trilho tudo correu bem, o problema foi quando este acabou! A partir daí, só escalando rochas e atravessando vegetação muito densa! Depois de alguns minutos a andar para trás e para a frente, desisti! “Naaaaa… não me vou por aqui em aventuras parvas.” De qualquer modo, consegui encontrar um trilho que me levou a uma cota mais elevada, e tal foi suficiente para ter uma pequena visão do alto (apenas se viam árvores em meu redor e colinas calcárias acima do ponto onde me encontrava). Continuei a seguir a pequena estrada, encontrando um ajuntamento de casas onde fui convidado a tirar fotografias. Pela primeira vez, vi muitos cornos de búfalos (vinte e três!) pregados a um poste em frente a uma das casas, e percebi que aquela era a casa dominante e do poder. Durante meia hora, estive com os nativos a beber café e a tentar comunicar (palavras simples de bahasa indonésia e gestos 🙂 ) e com um deles regressei a Rantepao de jeep. 😉

IMG_9333 (FILEminimizer)

IMG_9325 (FILEminimizer)      IMG_9337 (FILEminimizer)

Novamente no centro da cidade, parti para a colina de Singk (a colina com uma cruz no topo) donde pude avistar a cidade de Rantepao (mesquitas, igrejas, casas…), os muitos arrozais que a “cercam”, o rio, as verdes colinas e montanhas em redor. Todo o cenário natural, torna esta área da tribo Tana Toraja um local muito aprazível e agradável. Da colina, também observei dois grandes ajuntamentos de casas tradicionais e uma segunda colina, um pouco mais a Norte que parecia um miradouro interessante. Nesta altura o céu que tinha estado muito azul, estava agora muito carregado e assim estuguei o passo para ver se conseguia fintar a chuva. Nesses ajuntamentos, ao ver uma casa com uma quantidade de cornos absurda, percebi que aquela casa era de uma família muitoooooooooooo rica e poderosa (sendo os búfalos, os animais mais sagrados para os Toraja e os mais dispendiosos, cada par de chifres pregado aos postes, mede a riqueza e o poder da família) e fotografei a orgulhosa proprietária. 🙂 Daí, segui para a colina de Tambolang, onde me cheguei a irritar com uns miúdos que pediam dinheiro (devo referir que na Ásia, se existe coisa que mexe negativamente com as minhas entranhas, é ver crianças que não passam fome a pedir e saber que tal processo nasce da ideia/preconceito criado que os bule (homem branco) são todos ricos :/ ) e donde vi a chuva a aproximar-se a todo o vapor, as diferentes transições de cor e luz no céu e pus as pernas a mexer para escapar da intempérie. 🙂

IMG_9341 (FILEminimizer)    IMG_9358 (FILEminimizer)    IMG_9374 (FILEminimizer)

IMG_9352 (FILEminimizer)     IMG_9360 (FILEminimizer)

IMG_9399 (FILEminimizer)      IMG_9407 (FILEminimizer)

IMG_9408 (FILEminimizer)

IMG_9419 (FILEminimizer)      IMG_9421 (FILEminimizer)

IMG_9426 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Fotografia

3 Dias e 2 Noites no Tour dos Vulcões

Ato II – Kawah Ijen e as Chamas Azuis

De regresso ao jeep fui reconduzido ao hotel, onde tomei o pequeno-almoço e recolhi a bagagem, antes de voltar à cidade de Probolinggo, onde o grupo que tinha vindo comigo no dia anterior se fragmentou todo. Nesse momento, fiquei apenas na companhia de um casal bastante simpático de franceses (Guillaume e Marianne), com quem parti numa pequena carrinha, até às “imediações” de Kawah Ijen. Durante cinco horas, estivemos sempre acompanhados por música indonésia e uma condução acelerada e amalucada. 🙂 Inicialmente seguimos junto à costa, vendo arrozais e pequenas vilas, e depois à medida que subimos na direção de Bondowoso, observando árvores gigantes, pinheiros muito antigos, plantações de café, vegetação verdejante e sentindo uma temperatura fresca e agradável. A paisagem era de facto espetacular, e fiquei com a certeza que esta era uma das estradas mais bonitas, que percorri durante os meses que estive no país. Na aldeia de Jampit, ficámos hospedados na Arabic Homestay e tal como no dia anterior, fiquei alojado num quarto agradável e no qual me deitei bastante cedo.

IMG_9023 (FILEminimizer)      IMG_9031 (FILEminimizer)

IMG_9045 (FILEminimizer)      IMG_9047 (FILEminimizer)

À 1.00, já com as mochilas no carro partimos para o Ijen, onde conhecemos Mr. Bain que ao longo da noite, revelou ser um dos melhores guias que tive no país! E possivelmente em toda a viagem! 😀 Os três quilómetros, a subir até à cratera foram feitos em ritmo Plan Plan (devagar) e até esse momento, pouco ou nada há que relatar. Porém, quando chegámos à cratera tudo mudou e do local onde nos encontrávamos víamos ao longe um fogo azul bruxuleante, fruto da extração do enxofre! Entusiasmados, seguimos o Mr. Bain, cratera abaixo e nessa altura recebemos máscaras, do género “Darth Vader” para suportarmos o fumo e os gases tóxicos – caso fosse necessário. À medida que nos fomos aproximando, fomos vendo as chamas cada vez maiores e quando chegámos às proximidades, vi algo único e singular à minha frente. Fogo azul, no meio da escuridão a arder! Espetacular! Belo! Na altura, em que observávamos aquele “fogo de artifício” natural, tivemos bastante sorte pois o vento estava a soprar o fumo noutra direção, ou será que não foi sorte, mas antes um feitiço do Mr. Bain, o feiticeiro branco do Ijen!? 🙂

IMG_9055 (FILEminimizer)      IMG_9075 (FILEminimizer)

IMG_9077 (FILEminimizer)      IMG_9109 (FILEminimizer)

No caminho de regresso ao topo da cratera, vimos alguns grupos de turistas a descer qual uma centopeia luminosa e ficámos muito satisfeitos porque enquanto os outros grupos iam a caminho, nós já estávamos a regressar. 🙂 Na cratera, fomos para um ponto mais elevado e aí, no silêncio quase absoluto da noite, vimos o progressivo aparecimento da luz do dia, as chamas azuis a arderem, o fumo a sair da cratera , o lago azul a ganhar cor, as estrelas a desaparecerem e o vulcão a passar do negro absoluto para vermelhos e castanhos! Belo! Belíssimo! Grandioso! 😀 E se o Bromo no dia anterior, já tinha sido bom, o Ijen neste dia deu “cabazada”. 😉 No caminho de regresso, o amanhecer estava carregado de cores suaves, e na despedida do Ijen, vimos outros vulcões à nossa volta, entre eles o Gunung Raung, que na primeira vez que estive em Yogyakarta, fez kabuuuuuuum! Obrigando-me a seguir mais cedo do que o previsto para a ilha de Kalimantan.

IMG_9112 (FILEminimizer)      IMG_9125 (FILEminimizer)

IMG_9136 (FILEminimizer)      IMG_9155 (FILEminimizer)

IMG_9152 (FILEminimizer)

P.S. Java é de facto uma ilha abençoada, pelos deuses dos vulcões e o Kawah Ijen é um local magnífico. Observar as chamas azuis noturnas, foi sem dúvida, uma das MAIORES experiências que tive na Indonésia e em toda a viagem! 😀 E se existe algum lado negro a apontar, só se pode referir do lado “social” do vulcão e dos homens que carregam, cestos de cerca de oitenta quilogramas de enxofre aos ombros e às costas, mais do que uma vez por dia!! Recebendo cerca de 0,50€ por cada quilograma transportado! Trabalho pesadíssimo, que não dá saúde a ninguém… 😦

IMG_9165 (FILEminimizer)      IMG_9233 (FILEminimizer)

IMG_9237 (FILEminimizer)      IMG_9169 (FILEminimizer)

IMG_9215 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Fotografia

Bailados e Danças em Yogyakarta

Às 11.30, estava de regresso ao hostel onde fiz finalmente o check-in e o meu primeiro passo foi tomar, finalmente um banho 😛 e lavar roupa. Durante a tarde, para além de repousar da ascensão, comecei a informar-me sobre tours para o vulcão Bromo e eventualmente para o vulcão Ijen (informação dada por Doni, aquando da minha estadia em Sintang), porém havia duas questões importantes. A companhia escolhida tinha de apanhar-me na cidade de Surakarta  meu próximo destino – e quando o tour terminasse, deixar-me em Surabaya   donde partiria para a ilha de Sulawesi.

IMG_8563 (FILEminimizer)     IMG_8567 (FILEminimizer)

Nesse sábado à noite, na zona do templo de Prambanan assisti a um espetáculo de bailado/ballet Ramayana e o mesmo valeu bastante a pena. 🙂 A sua beleza residiu principalmente nos gestos dos bailarinos, ora delicados e precisos (que algumas vezes parecem robóticos), ora mais enérgicos. A iluminação, os trajes, a voz do narrador em sânscrito e o som dos instrumentos musicais, à semelhança da performance de Wuyang Kulit, ajudaram à difusão da magia e voltei a ser transportado para o mundo místico dos deuses hindus. 🙂

IMG_8364 (FILEminimizer)     IMG_8378 (FILEminimizer)

IMG_8389 (FILEminimizer)      IMG_8395 (FILEminimizer)

IMG_8399 (FILEminimizer)

No último dia em Yogyakarta, visitei o bonito Keraton (palácio do sultão), onde tive a oportunidade de ver mais um espectáculo de dança javanesa (quatro performances de dança mais curtas, com diferentes bailarinos) e o agradável museu de Sonobudoyo. Antes de voltar ao hostel onde tive uma tarde tranquila (arrumar a mala, organizar as fotografias e descansar…), voltei a comer pizza passados vários meses, mas no final fiquei ligeiramente desiludido com o sabor da  Pizza Hut. Enfim, nada como a comida indonésia tradicional! 😉

IMG_8103 (FILEminimizer)      IMG_8444 (FILEminimizer)

IMG_8461 (FILEminimizer)      IMG_8466 (FILEminimizer)

IMG_8501 (FILEminimizer)      IMG_8511 (FILEminimizer)

IMG_8528 (FILEminimizer)      IMG_8535 (FILEminimizer)

IMG_8541 (FILEminimizer)      IMG_8146 (FILEminimizer)

IMG_8139 (FILEminimizer)     IMG_8128 (FILEminimizer)

IMG_8546 (FILEminimizer)      IMG_8558 (FILEminimizer)

IMG_8557 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Fotografia

Lanjak & Danau Sentarum. Sob o Signo da Vida Feliz

Em Lanjak fiquei alojado na companhia de Doni e de Yuda (o seu braço direito), numa casa do parque natural e durante aqueles dias, o denominador comum foi a boa disposição. 😀

IMG_6605 (FILEminimizer)      IMG_6611 (FILEminimizer)

No primeiro dia, fui na companhia de Doni até à aldeia de Souah, onde visitámos uns amigos seus no meio de um arrozal. Aí, para além de conversarmos com as pessoas, tirei vários retratos e comi um babi (porco selvagem) delicioso, confeccionado de duas maneiras distintas – o primeiro tinha sido grelhado nas brasas, o segundo foi cozinhado em lume brando dentro de um tubo de bambo, com ervas (a carne era tenra, ligeiramente salgada e temperada) – Ponsoh. No regresso à vila, acabámos de organizar toda a logística necessária para o término do torneio de futebol organizado pelo parque natural do Danau Sentarum e assistimos à grande final, onde a equipa de Putussibau acabou por se sagrar campeã (3-1 contra a equipa da casa). Este primeiro dia, terminou com uma festa noturna no arrozal, bem regada com o tradicional tuak (vinho de arroz) e comigo a conduzir a carrinha no regresso! 😉

IMG_6615 (FILEminimizer)      IMG_6635 (FILEminimizer)

IMG_6644 (FILEminimizer)      IMG_6682 (FILEminimizer)

IMG_6676 (FILEminimizer)

IMG_6685 (FILEminimizer)      IMG_9836 (FILEminimizer)

IMG_6781 (FILEminimizer)      IMG_6773 (FILEminimizer)

No segundo dia, tive a minha primeira incursão no Danau (lago) Sentarum e esta foi uma experiência única, uma vez que nunca tinha andando de mota dentro de um lago! A vastidão da paisagem era surreal e assombrosa, parecia que estava num deserto de lama. Na companhia de Safary (um dos trabalhadores do parque) fiz motocross com uma moto de estrada, aliás, ao longo do dia fomos fazendo patinagem na lama. 😛 A caminho do topo de uma das colinas, da ilha de Semitau e de repente, o corpo da minha máquina avariou (recordei-me imediatamente de Mulu e da montanha Ramelau), mas felizmente desta vez, pude utilizar o corpo da máquina do parque natural! 🙂 Daí pude observar uma panorâmica do lago: as rochas, as zonas secas, as “ilhas” de árvores e fiquei estupefacto por o lago em plena época das chuvas, estar tão seco!! (Ainda dizem que não há aquecimento global!? :/ ). Antes de regressarmos a Lanjak, fizemos uma visita a uma vila piscatória, onde as casas estão construídas sobre estruturas de madeira, ou chegam a ser casas flutuantes (como se de barcas se tratassem), atravessámos riachos barrentos, vimos peixes a secar, outros mortos em decomposição e nativos a pescar… este dia tão perfeito, acabou quando conheci e tive a oportunidade de ter Oscar ao colo, um orangotango bebé de nove meses ainda muito frágil e delicado.

IMG_6804 (FILEminimizer)      IMG_6834 (FILEminimizer)

IMG_6784 (FILEminimizer)      IMG_6795 (FILEminimizer)

IMG_6806 (FILEminimizer)      IMG_6841 (FILEminimizer)

IMG_6883 (FILEminimizer)      _MG_9962 (FILEminimizer)

_MG_9969 (FILEminimizer)       _MG_0045 (FILEminimizer)

IMG_0212 (FILEminimizer)

Sábado foi muito semelhante ao dia anterior, porém desta feita, eu e o Safary fomos mesmo montados numa mota de cross. Neste dia, em que a paisagem estava mais realçada fruto do céu azul, conseguimos chegar à ilha de Malaiu (na primeiro dia, bem tentámos, mas foi de todo impossível lá chegar, tal a quantidade de lama existente) mas para isso, tive que desmontar da mota vários vezes. Nesses momentos, em que andava a pé descalço na lama mole e quente (por vezes enterrado até aos joelhos), senti-me bem… senti-me feliz e livre! Estava fascinado com aquela paisagem, com aquele enoooooooooooooooooorme lago sazonal, situado no coração do Bornéu. 😀 Da ilha, seguimos e visitámos a enorme aldeia piscatória de Selimbau/Labaoyan, onde acabei por ter a oportunidade de observar o dia-a-dia dos nativos e aí acabámos por almoçar. Quando cheguei a Lanjak, parecia um bonequinho de lama! 😛 Mas este dia só acabou depois de uma festa, onde houve um gigante peixe grelhado, karaoke, tudo regado com cerveja, animação, cantorias, cigarros e boa disposição.

_MG_9981 (FILEminimizer)      _MG_0071 (FILEminimizer)

_MG_0079 (FILEminimizer)      _MG_0086 (FILEminimizer)

_MG_0095 (FILEminimizer)    _MG_0125 (FILEminimizer)    _MG_0204 (FILEminimizer)

No Domingo, regressei a Sintang, na companhia de Doni, esse mágico da vida 😀 e de Yuda, mas antes de partirmos não nos livrámos de um susto, pois deflagrou um incêndio nas imediações do parque natural e só partimos depois da situação estar controlada (o Doni, apesar de muito brincalhão é um funcionário profissional, diligente e preocupado). Depois do fogo da manhã e ironicamente, na viagem de regresso (passada a dormitar, a falar e a ser massacrado pela estrada) apanhámos uma grande tempestade tropical, que nos atrasou (chegámos ao nosso destino por volta das 3.00). Deste modo, o dia da partida do coração do Bornéu ficou marcado pelos elementos. Pelo signo do fogo e da água.

_MG_0113 (FILEminimizer)     _MG_0130 (FILEminimizer)

_MG_0139 (FILEminimizer)     _MG_0189 (FILEminimizer)

_MG_0208 (FILEminimizer)     IMG_0238 (FILEminimizer)

Categorias
Reflexões

Reflexões Timorenses e Asiáticas

Depois de aproximadamente um mês em Timór Lorosa’ede algumas observações e muitas conversas com os seus habitantes, principalmente com os membros da família Nicolau que me receberam e me fizeram sentir como mais um dos seus membros :), cheguei a algumas ilações sobre o país e sobre a Ásia.

O país tem muitas riquezas naturais – petróleo, minérios, madeira de sândalo… -, porém, fruto do setor secundário ser praticamente inexistente o país tem de importar praticamente tudo. Tal facto, origina um país bastante dependente do exterior – da Indonésia principalmente – sendo todos os produtos de consumo, bastante mais dispendiosos que noutros países do sudeste asiático – alimentação, vestuário, materiais de construção… em relação aos produtos considerados de “luxo” – que no mundo ocidental são absolutamente banais: caixas de cereais, enlatados, doces… – a discrepância ainda se torna mais gritante e o acesso generalizado torna-se impossível.

Juntando o desemprego e salários relativamente baixos, que não permitem às famílias grandes veleidades, os timorenses são cada vez mais guiados ao consumismo, deste modo é natural que exista uma enorme vontade das gerações mais novas emigrarem para países ocidentais – Europa, Austrália, EUA… – à procura de mais oportunidades e melhores condições de vida. Porém, à semelhança de outros países asiáticos, a emigração é muito pouco facilitada e torna-se muito difícil conseguir abandonar o país.

Em Timor Leste, o crédito bancário é praticamente inexistente – pelo menos, para os cidadãos comuns -, por isso, quase tudo tem que ser feito lentamente à medida que se pode – reconstrução das casas, por exemplo. Esta realidade, apesar de algumas consequências negativas, permite que as famílias vivam realmente com o que têm ao contrário de viverem numa bolha imaginária de crédito, como a maioria dos habitantes do mundo ocidental. Outra consequência, é a criação de uma geração de “cowboys”nome que os timorenses mais jovens evocam para si próprios, pois têm de aprender a “desenrascar-se”, em múltiplas tarefas: construção, bricolage, culinária…

Apesar de muito jovem, o país está a ter uma enorme tendência para vir a ser minado pela corrupção. O exemplo tem vindo de cima – governo de Mari Alkatiri, por exemplo – e começa a enraizar-se nos habitantes.

Segundo a opinião de quem vive em Timor Leste há cerca de dez anos, existe a convicção de quem dominar a língua portuguesa, dominará o país. Apesar do esforço empregue pelo governo Timorense, os resultados ainda mostram um enorme fosso entre as elites e os outros cidadãos. Tal facto, pode levar no futuro a profundas clivagens sociais entre os vários estratos da sociedade.

Os timorenses na sua generalidade – pelo menos as gerações mais velhas -, guardam o nome de Portugal com bastante carinho, respeito e admiração. Essa “aura”, permitiu-me ser muito acarinhado e sentir um calor humano, ainda mais intensificado que noutros países do sudeste asiático. 😀

No país, apesar do mesmo ter uma área bastante reduzida, as pessoas perdem imenso tempo em viagens. Motivos?  Vias de comunicação em péssimo estado e a tradição enraizada, dos transportes públicos funcionarem como táxis coletivos – tal facto ocorre também em muitas ilhas da Indonésia – Sumatra, Flores, Timor Oeste… ainda relativamente aos autocarros, de referir que a música – “cascabulho” – é posta a tocar nas colunas roufenhas, em decibéis elevadíssimos e como consequência, daqui a uns anos quase todos os timorenses, que utilizam os transportes públicos estarão surdos. É de facto um massacre sonoro. 😛

Em Timor Leste e na Ásia a palavra ainda tem valor! 😀 Por isso os enganos que possam vir a existir, ocorrem nas alturas em que se negoceiam os preços – transportes, alojamento, comida, “recuerdos”…

Diferentes locais, diferentes culturas, sensibilidades e formas de agir. O que “aqui” é de uma maneira, pode ser de outra completamente distinta “ali ao lado”. Por isso, caso seja possível, a melhor forma de atuar é perguntar, mesmo que as perguntas pareçam despropositadas. Afinal de contas, estamos na Ásia, a muitos milhares de quilómetros do Ocidente e mesmo num mundo tão globalizado e standarderizado como o atual, algumas “coisas” ainda e felizmente são necessariamente diferentes.

Categorias
Crónicas Fotografia

Party Dili

A minha estadia em Timor Leste, estava quase, quase a terminar e depois de voltar da “via sacra” à montanha Ramelau fiquei em Dili mais um par de dias. Porém, antes de partir, fiz uma visita ao interessante e didático museu/arquivo da Resistência Timorense – onde aprendi bastante sobre a história deste jovem país -, tentei encontrar uma loja especializada de fotografia sem resultados práticos – mas recebi informações acerca de uma loja existente em Bali -, mandei imprimir algumas fotografias da família Nicolau, voltei ao centro comercial Plaza onde ao visitar o Burger King e um super-mercado me “ri” com a disparidade gritante de preços no país entre a economia dos cidadãos comuns e dos mais endinheirados, pensei em duas rotas possíveis tendo em conta o tempo e o dinheiro disponíveis até regressar a Portugal (Rota 1: Sulawesi, Bali, Java, Vietname, Cambodja, Laos e Myanmar | Rota 2: Bali, Sulawesi, Kalimantan, Java, Filipinas e Myanmar) e principalmente, falei com a família Nicolau para saber a disponibilidade que eles tinham para se fazer uma festa de despedida. 😀

CIMG1912 (FILEminimizer)       CIMG1918 (FILEminimizer)

Com o aval geral, pusemos mãos à obra e na companhia do meu amigo Gregório andei em Dili a comprar tudo o que era necessário para uma despedida em grande: carne de vaca, galinhas, vegetais, especiarias, vinho tinto, coca-cola, sumo de laranja, batatas… o meu último dia em Timor Leste foi assim, um dia de preparação para a festa e por coincidência foi também nessa altura que se terminou a instalação elétrica lá em casa… 😉

CIMG1914 (FILEminimizer)      CIMG1927 (FILEminimizer)

Com a ajuda de todos – ou fazendo a comida ou arranjando a casa – a festa foi montada e antes de começarmos o jantar fizeram-se discursos de agradecimento e trocaram-se ofertas de despedida – eu recebi um thai com as cores do país e os membros da família receberam fotografias. Houve comida em quantidades abundantes e a mesma estava deliciosa! 😀 E na hora da despedida fizeram-se brindes, tiraram-se retratos, trocaram-se beijos e abraços. Foi uma despedida FELIZ, uma despedida calorosa e emocionante, uma despedida que me ficará para sempre no coração e na memória. Como últimas palavras, quero dizer que foi uma honra e um privilégio conhecer-vos, e quero deixar um agradecimento muito profundo e especial a toda a família Nicolau, a família que me abriu as portas da sua casa, do país e que me fez sentir durante o tempo que estive em Timor Leste, não um mala´e – estrangeiro -, ou um turista, mas sim mais um membro da família Nicolau. BARAK OBRIGADU! 😀 😀

CIMG1921 (FILEminimizer)       CIMG1945 (FILEminimizer)