Ato IV – O Funeral. A Manhã
No dia seguinte, acordei bastante cedo (algures entre as cinco e as seis da manhã) e quase imediatamente bebi café e comi uns bolitos secos. Entretanto apareceu Machin, o irmão mais velho de Julius, com que estive a falar durante um bocado e que me explicou que o búfalo no dia anterior tinha sido sacrificado à maneira muçulmana e que aquela não era a forma tradicional. Entretanto, o tempo foi passado e foram aparecendo progressivamente pessoas, as crianças vestiam trajes tradicionais (os rapazes listas verticais vermelhas e lenços na cabeça e as raparigas vestidos brancos decorados com rendilhados de missangas).
Quase sem aviso, foram sacrificados mais dois búfalos, desta feita, de modo tradicional. Nesta maneira, o búfalo assente na suas quatro patas, recebe uma pancada seca com uma faca muito afiada no pescoço, e tal como no dia anterior, sangra até à morte. Esta maneira pareceu-me menos “limpa” e eficaz, uma vez que o animal demora mais tempo a morrer. É sem dúvida uma tradição sangrenta! Mas é cultural e nós nos países ibéricos temos touradas por isso… e tal como em Lamalera, os animais são mortos por motivos válidos e são comidos. Não são deixados a apodrecer. Para além dos búfalos, são sacrificados muitos porcos, porém estes não morrem com tanta dignidade, morrendo aos guinchos nas “traseiras” da festa.
Na altura do sacrifício já lá estavam outros turistas (um italiano, um checo, uma americana e uma austríaca) levados por um guia e eu senti-me um “bocadito cagão” por ter chegado sozinho ao funeral! (Novamente, tal como noutras ocasiões da viagem, o ego humano pode ser tramado! 😛 ) Quando o Julius reapareceu, trouxe-me um sarong preto e eu fiquei muito feliz! De manhã, a cerimónia continuou: música tradicional com flautas, desfiles de pessoas conduzidas pelo mestre de cerimónias, crianças trajadas, pessoas a fumarem, rirem e conversarem. O funeral é uma grande mescla de reunião familiar e romaria popular, onde apenas falta a música de bailarico, sendo o ambiente geral, alegre mas respeitoso.
Para além de ter assistido a tudo isto e ter passado a manhã a conversar, fui fazer umas explorações nas imediações e nas mesmas, encontrei uma caverna cheia de ossadas, caixões e estátuas, e uma vez mais, fiquei feliz por ter encontrado o local sem a ajuda de terceiros. Já de regresso à cerimónia fúnebre, subi ao local de honra onde estava o caixão e fiz uma oferta – monetária – à viúva e avó de Julius. continuei a falar com os nativos, fumei mais uns cigarros, e comi uma vez mais a deliciosa comida Toraja. Depois de almoço e um pouco de surpresa, voltei a Rantepao numa carrinha de transporte de animais, que me pareceu o veículo apropriado… 🙂 mas antes de partir, ainda me consegui despedir de Julius, a quem dei um abraço apertado de amizade. Terima Kasih (obrigado) meu amigo, foi um privilégio e uma honra ter assistido ao funeral do teu avô. 😀