Em Baucau reencontrei o Irmão Vitor e com ele segui por uma paisagem muito verde, por entre vales e montanhas até chegarmos à vila de Laclubar. Durante os cinco dias em que estive na pacífica e tranquila Laclubar, senti que estava a fazer uma pausa dentro da viagem e aí, tive a oportunidade de parar um pouco, antes de recomeçar o ciclo do movimento. Tive por isso, a rara oportunidade de estar “fora do mundo, dentro do mundo”. Durante os dias, conheci as diferentes seções que compõem o Centro de Apoio à Saúde e as fantásticas pessoas que por lá “habitam”, tanto o staff como os pacientes; pela primeira vez em longos anos tive contacto com literatura cristã/católica; tive múltiplas conversas interessantes com o Irmão Vitor sobre vários assuntos; caminhei o cénico Monte Maubère, donde pude observar panorâmicas da vila e da paisagem envolvente e visitei o concorrido mercado de Domingo, onde comprei um farri – porquito, neste caso uma porquita – para oferecer ao Irmão Vitor/Centro e retribuir assim um pouco, a generosa e inesquecível hospitalidade que me ofereceram.
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Uma Geografia. Uma Fotografia: Baucau
Nos arredores de Baucau – pode encontrar mais aqui – encontrei Yatua, uma pequena aldeia no meio da serra, rodeada de vegetação e coqueiros, e onde cheguei ao anoitecer. Aí, fui extraordinariamente bem recebido e pude sentir uma vez mais todo o calor, simpatia e grande coração do povo timorense, neste caso da família Nicolau. Na aldeia conheci mais membros da família: os pais do Cirilo – o Sr. Joaquim e a Sra. Joaquina, os pais do Gregório – o Sr. Ricardo e a Sra. Isabel, o avô Júlio e mais tios, tias, sobrinhos e sobrinhas – e com eles tive um jantar, e serão muito animados, conversando sobre os nossos países em bom português. Já no dia seguinte e no regresso ao centro de Baucau, tive a oportunidade de observar as tradicionais e sangrentas lutas de galos. Em Timor Leste, estas lutas estão profundamente enraizadas na cultura do país e no mercado, vi a “loucura” que envolve esta tradição. A multidão frenética, o ruído, as apostas, as regras dos combates – vitória em caso de morte ou fuga -, os prémios – dinheiro e galo do perdedor, vivo ou morto -, a arena, os galos garbosos, as lâminas afiadíssimas presas nas patas, a “dança” mortal, os golpes na carne, o sangue espesso, os olhos dos animais no seu último fôlego e a morte a reclamar a vida dos vencidos…
Uma Geografia. Uma Fotografia: Dili
A capital de Timor Leste, Díli – pode encontrar mais aqui – ficará para sempre marcada como a cidade em que vivi na casa de Garey e dos seus primos espetaculares – o Cirilo, a Amélia, a Digani, a Jenny e todos os demais… – e onde conheci os outros membros da sua simpática família… a família Nicolau. Com eles tive a oportunidade de aprender muito, muitíssimo sobre o país ao falarmos sobre muitos assuntos: os fatídicos e negros episódios de 1999 relatados na primeira pessoa pelo Sr. Nicolau e com os quais me emocionei – as perseguições, os assassinatos, as mortes, as fugas para as montanhas/colinas em redor da cidade, a fome existente em 2000… -; os motivos que levaram a Austrália a intervir na invasão – exclusivamente económicos!; a evolução bastante positiva que o país tem tido, apesar das dificuldades existentes – sendo a corrupção generalizada um dos maiores entraves ao desenvolvimento sustentado -; o ensino e as dificuldades da adoção do português como língua oficial – principalmente para a geração de transição, que viveu entre o ensino obrigatório da língua indonésia e da língua portuguesa -; o enorme poder detido pela igreja católica e os sonhos, desejos e anseios destas pessoas tão boas e de coração tão grande. Em Díli vivi dias lentos, mas regra geral tranquilos, tirando os momentos surreais que tive quando me desloquei três vezes para aplicar um novo visto na caótica e burocrática embaixada da Indonésia! Antes de partir do país fizemos uma grande festa de despedida e na hora do adeus fizeram-se brindes, tiraram-se retratos, trocaram-se beijos e abraços. Foi uma despedida FELIZ, uma despedida calorosa e emocionante, uma despedida que me ficará para sempre no coração e na memória. Como últimas palavras, quero dizer que foi uma honra e um privilégio conhecer-vos, quero por isso deixar um agradecimento muito profundo e especial a toda a família Nicolau, a família que me abriu as portas da sua casa, do país e que me fez sentir durante o tempo que estive em Timor Leste, não um mala´e – estrangeiro -, ou um turista, mas sim mais um membro da família Nicolau. BARAK OBRIGADU!
Uma Geografia. Uma Fotografia: Oecussi
O enclave de Oecussi – pode encontrar mais aqui – foi o meu primeiro destino em solo Timorense. No posto fronteiriço, ao falar com os polícias em português, emocionei-me por ouvir a nossa língua passados tantos meses e comecei a chorar de emoção. Foi como sentir-me em casa, sem realmente estar em casa! Oecussi revelou-se uma povoação envolta por uma paisagem natural bela e serena – entre o mar azul e colinas/montes verdejantes, muitas vezes cobertos de nuvens nos topos. Na vila e arredores, passeei à beira-mar encontrando praias com distintos areais, zonas de arvoredo, manguezais, campos de cultivo, cabras, vacas e galinhas; cumprimentei muitas pessoas e crianças, sentindo uma energia super-positiva e contagiante; vi muitas crianças a banharem-se no mar nuas com uma pureza cristalina; visitei Linfau e o local onde os portugueses desembarcaram há 500 anos; no bonito e tranquilo café das irmãs Dominicanas, bebi sumos extraordinários; fui até à colina de Fatusaba, onde encontrei vestígios de um antigo forte e donde pude observar Oecussi do topo; estive na longa praia de Mahata; percebi que o país é bastante mais dispendioso que outros no Sudeste asiático e que existe um aumento generalizado de preços – comida, alojamento, transportes, etc… – mas que tal facto é natural, uma vez que tudo ou quase tudo é importado; tive um serão na “cavacada” a beber tuasabo – vinho timorense, feito de palma – e a esfumaçar com timorenses, entre os quais Benny e senti na pele algo que nunca tinha sentido antes… uma corrupção gritante, mostrada à vista de todos…
Da capital de Timor Oeste – pode encontrar mais aqui – não guardo especiais memórias, a não ser os “taxistas” trapaceiros que consegui evitar na chegada ao porto, a viagem numa carrinha coletiva que me levou até ao centro e a “passeata” forçada que fiz durante um par de horas até sair de Kupang, uma vez que a carrinha/autocarro andou às voltas na habitual tentativa de angariar passageiros. A tradição indonésia, ainda continua a ser o que era!
A caminho da aldeia de Wulandoni – pode encontrar mais aqui – percorri uma estrada plana e de topografia suave, observando o mar e algumas praias com areia. Durante o trajeto, encontrei um grupo de jovens nativos que celebravam o novo ano e devido ao abafado calor suei abundantemente, ao ponto de quase sonhar com uma cola-cola fresca, no regresso a Lamalera.
A oeste de Lamalera, visitei a aldeia de Tapobali – pode encontrar mais aqui – e durante hora e meia caminhei em constante regime de sobe e desce, estive com crianças e tirei-lhes alguns retratos, senti o sossego, o calor abafado e vi a paisagem envolvente: a verde vegetação, o azul do mar, as enseadas e falésias de rocha vulcânica negra e castanha. Já na igreja de Tapobali, senti-me um autêntico alien ao ser observado por aproximadamente vinte pessoas, que estavam especadas a olhar para mim. Porém, passado esse momento lost in translation, tudo regressou à normalidade, os pedidos de retratos sucederam-se e aprendi a desejar Bom Ano, na língua indonésia – Salamat Tahun Baru.
Depois do longo périplo e de uma noite dormida na sonolenta e poeirenta Lewoleba, rumei à aldeia piscatória de Lamalera – pode encontrar mais aqui – um dos únicos locais do nosso planeta onde se podem pescar livremente baleias, tubarões e golfinhos. Na mesma tive a oportunidade de observar “rituais” de desmembramento de cetáceos e desse modo, vi golfinhos a serem cortados osso a osso, víscera a víscera, pedaço a pedaço até não sobrar nada… e a areia ficar coberta de sangue… coberta de morte… coberta de vida; e passei um dia inteiro no mar, a bordo de um barco onde observei o que é a pesca tradicional sem recurso a tecnologia, apenas o homem Vs. natureza… após tudo o que presenciei em Lamalera, fiquei com a certeza que estes pescadores têm uma vida bastante dura, de muito trabalho físico e não consegui encontrar nenhum motivo válido para se parar com a pesca tradicional, nesta aldeia. Os nativos apanham o que conseguem de uma forma justa e limpa, sem destruírem o ecossistema, não existindo extermínios em massa, como acontece por exemplo no civilizadíssimo Japão. Estas pessoas pescam para sobreviver e respeitam o mar com veneração, ou pelo menos sentem-lhe temor e sabem que se abusarem dele, no final não sobrará NADA! A não ser um deserto de ossadas…
Uma Geografia. Uma Fotografia: Moni
De Labuan Bajo parti para a vila de Moni – pode encontrar mais aqui -, nas imediações de verdes florestas, arrozais e do vulcão Kelimutu. Durante a minha estadia, passeei com um ojek, observei o processo de tecelagem de ikat´s, visitei casas tradicionais, túmulos e campas na aldeia de Jopu, vi uma bonita cascata no meio da floresta e tomei um relaxante banho nas hot springs locais.
A praia de Kuta – pode encontrar mais aqui – foi uma enorme miscelânea. A água não era tão límpida e cristalina como nas Gili, mas a areia era confortável e parecia grãos de pimenta, existiam rochas vulcânicas, cheias de óxidos e sulfatos e uma zona de manguezais, para além de macacos e cabras, muitos adolescentes a fazer as “célebres” entrevistas – tal como em Sumatra -, vendedoras muito insistentes – à semelhança de Koh Samui – e principalmente, muitas crianças alegres e sorridentes.








