O Mekong – pode encontrar mais aqui – foi o meu último destino no Laos e durante dois dias naveguei em direção à Tailândia observando a paisagem – as margens cheias de vegetação, a inexistência quase total de aldeias, o largo, castanho e barrento rio que nalgumas zonas estava repleto de rochas parcialmente submersas – e a vida a bordo – onde existia uma mescla de turistas e nativos, em que se destacavam as sorridentes crianças, famílias inteiras a dormirem no soalho de madeira e pessoas a desembarcarem saltando para as lamacentas margens.
Etiqueta: Laos
Vientiane, a capital do Laos – pode encontrar mais aqui – foi uma cidade cheia de boas recordações e memórias, tendo sempre algumas palavras chave, associadas: o todo poderoso Mekong; a sensação singular que tive ao Meditar pela primeira vez na vida; o Dinheiro que ganhei, fruto de câmbios sucessivos entre a moeda local e o dólar e foi aí que me despedi do Zhou. Goodbye, Zhou! Goodbye, my “crazy” friend! Goodbye, my good friend!
Na vila/cidade de Vang Vieng – pode encontrar mais aqui – comi inúmeros e deliciosos crepes, visitei pelo menos três ou quatro grutas espetaculares – tendo a oportunidade de fazer tubing numa delas; fiz canoagem; entediei-me… deu para tudo, inclusivamente… para refletir sobre as presunções que por vezes surgem na mente de alguns viajantes.
Nos arredores de Phonsavanh – pode encontrar mais aqui – visitei os campos arqueológicos da misteriosa planície dos Jarros e na companhia de Zhou vivi momentos insólitos, inúmeras aventuras e “voei” qual uma graciosa águia.
A visita à cascata de Kuangsi – pode encontrar mais aqui – realizou-se depois de uma noite de recuperação da malfadada bactéria. Apesar de nesse dia, o vigor físico não estar no auge, todo o enquadramento da beleza natural – a grandeza da cascata e dos seus três patamares, a luxuriante e verde paisagem, as múltiplas piscinas de água azul cristalina – fizeram com que a visita, vale-se de facto a resilência.
Na pequeníssima e sonolenta vila de Muang Ngoi – pode encontrar mais aqui – e que parece já não ser deste século, regressei a um tempo em que praticamente tudo parou. Em redor da vila visitei uma gruta negra como breu e bonitos arrozais, vi pela primeira vez monges de vestes laranjas, comi divinalmente e… cheguei ao Paraíso.
Na pequena vila ribeirinha de Nong Khiaw – pode encontrar mais aqui – fiz travessias de barco no rio Nam Ou, visitei uma gruta histórica dos tempos da Guerra do Vietname, esperei durante hoooooras por uma boleia que nunca se concretizou e fui polícia sinaleiro de pintainhos.
Vindo da monumentalidade da China – pode encontrar mais aqui – chegar ao Laos e a Luang Nam Tha foi uma mudança de paradigma. Nos arredores da vila/cidade encontrei verdes arrozais, cidadãos simpáticos e afáveis, cascatas, nativos a banharem-se no rio, pequenas aldeias, estradas de terra e lama… e um silêncio bastante singular.
Ato II – Pak Beng – Huay Xai. Pânico Matinal
A viagem entre Pak Beng e Huay Xai, já na fronteira com a Tailândia decorreu com normalidade e foi em tudo uma fotocópia, do dia anterior. Mesma paisagem, mesmo preço do bilhete, mesmo número de horas de viagem, mais conversa com as mesmas pessoas, procura da guesthouse e jantar em grupo. 🙂

Porém, houve um momento que ativou o meu modo de pânico e fez esta viagem ficar ainda mais memorável. Mas vamos aos factos: estava já no interior do barco a falar com um casal de americanos sobre fronteiras e vistos quando mecanicamente pus a mão no bolso lateral dos calções e… caiu-me tudo ao chão! Principalmente as bolas! Não tinha comigo as bolsas dos cartões e documentos – passaporte, cartões MB e de crédito – e onde estava todo o dinheiro tailandês que tinha arranjado no Laos – 35.000 Bath! Cerca de 875€!. Tinha ficado tudo debaixo da almofado no quarto! Fiquei em pânico e disse ao meus companheiros de viagem para não deixarem sair o barco enquanto não regressasse – isto com as mochilas a bordo.
Larguei a correr encosta acima até ao local da guesthouse e quando lá cheguei as portas estavam todas fechadas! “Eu não acredito nesta m#%£@! Logo hoje é que tinha de encontrar uma guesthouse que funciona a meio gás!?”. Dirigi-me ao piso do quarto… Tudo fechado! Entrar pela janela? Impossível. Grades na mesma! “Ai a P%#@ da minha vida!”. Voltei a descer ao piso térreo e mesmo com um cadeado na porta – metálica e de correr – comecei a tentar abrir a mesma. Passados dois minutos desisti, nada feito! “E agora?”. Quando me preparava para procurar alguém nas redondezas, chegou uma carrinha com parte da família que geria a guesthouse. Muito rapidamente e freneticamente tentei explicar-lhes que me tinha esquecido do passaporte no quarto e num minuto deram-me a chave do mesmo. Galguei os degraus à velocidade da luz, abri a porta, dirigi-me à cama e ao levantar a almofada… lá estavam as famosas bolsas! 🙂 Deitei-lhes uma mirada rápida e pû-las no bolso. Tranquei o quarto, desci as escadas a voar, entreguei as chaves e voltei a correr desalmadamente encosta abaixo. Desta feita com a “santa” gravidade a ajudar-me no caminho de regresso ao barco.
Quando lá entrei, disse aos meus companheiros de viagem que estava tudo bem e sentei-me dez minutos num banco, sozinho, a respirar e a deixar o meu corpo regressar a um ritmo normal. Durante esses minutos o barco acabou mesmo por partir e agradeci à boa sorte o facto de quase todos os transportes no Laos, atrasarem. Ai boa sorte, fortuna, estrela, destino, fado… ou outro nome que tenhas. Agradeço-te novamente, salvaste-me o pêlo! 😀
P.S. – A viagem de dois dias foi longuíssima, mas perfeita e o Mekong merece uma viagem destas. Porém ouvi relatos que a viagem feita na direção inversa, Tailândia – Laos, pode por vezes transformar-se num verdadeiro inferno e tormento, devido à lotação completamente esgotada dos barcos.










