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Mulu. Back to the Primitive

Ato VI – Dicas, Atividades Finais e Despedida de Mulu     

Depois da “escalada” do dia anterior, parti do campo 5 na companhia do casal de romenos às 7.30 de volta a Kuala Litut e o caminho de regresso foi tranquilo. A viagem até ao HQ do parque correu dentro da normalidade, ou seja, tivemos de empurrar o barco algumas vezes e mais uma vez choveu torrencialmente! Três dias, três molhas! 100% de eficácia! 😛

Já na receção do parque perguntei se era possível antecipar a caminhada noturna para este dia e perante a resposta afirmativa, ficou automaticamente decidido que no dia seguinte partiria no voo da tarde.‏ Como fisicamente me sentia bem e simultaneamente tive conhecimento da existência de uma “Adventure Caving” de nível intermédio em Stonehorse (nesta altura, já sabia que não teria a oportunidade de ir até “Sarawak Chamber” ou “Clear Water Connection”) decidi que esta era a minha oportunidade de fazer algo diferente em termos de cavernas. 🙂

Logo no início desta atividade conheci Rudy, um rapaz indonésio que trabalha em Singapura e passados poucos minutos de conversa, ficou combinado que durante a tarde ele me daria umas dicas sobre o seu país. Antes de entrarmos na caverna recebemos um nano, mini, micro briefing e durante duas horas e meia penetrámos num reino de escuridão, humidade, morcegos, aranhas, escorpiões, lama, cordas, passagens estreitas próximas de alguns locais profundos; senti a imensidão do espaço negro; vi algumas formações rochosas interessantes (cavalo de pedra e que batiza a caverna; zona micro a fazer lembrar os pináculos…); e principalmente senti o coração a bater mais acelerado, em duas ou três passagens mais complicadas e perigosas (momentos cheios de adrenalina), onde apenas tínhamos recurso a uma corda e à nossa destreza física, pois as condições de segurança eram precárias (inexistência de sistemas alternativos de segurança). :/

Depois da adrenalizante experiência e tal como no primeiro dia, regressei ao observatório dos morcegos. Desta feita na companhia de Rudy, que me desenhou um mapa da Indonésia, com locais a visitar (informações privilegiadas para um novo destino no futuro próximo). Nesta observação, fiquei ainda mais fascinado com o fenómeno! Pois desta feita e apesar de a novidade não ser reinante, observei e apreciei ainda mais o movimento sincronizado e as formas variadas, desta dança aérea proporcionada pelos únicos mamíferos voadores! 😀

O objetivo das caminhadas noturnas, é sempre tentar encontrar o maior número possível de animais e na minha primeira caminhada deste género, percorri um trilho apenas com o auxílio de lanternas. Durante uma hora encontrámos insetos: pirilampos, aranhas, escorpiões, centopeias e outros ilustres desconhecidos alguns peludos, outros venenosos e bem granditos; sapos e rãs; pássaros a dormir com expressões serenas; mas o melhor de tudo era quando apagava a lanterna, ficava um pouco para trás e sentia-me a caminhar no reino das trevas.‏ 😀

A despedida de Mulu foi feita depois de percorrer uma das canopy mais longas do mundo (480 metros), aí caminhei a trinta metros do solo e em alguns momentos acima de copas de árvores, de ponte em ponte mas, infelizmente sem conseguir avistar muita vida animal. De qualquer modo Mulu, será sempre um local selvagem, mágico e especial… o reino encantado da selva, onde é possível regressar a um mundo puro, natural e primitivo! 😀

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Ato V – Guiado por Lucas a Caminho das Alturas

Durante a noite acordei múltiplas vezes e às 5.30 já estava a tomar um pequeno-almoço reforçado. A partida para os Pináculos ocorreu às 6.35 e a caminho do topo, andámos no meio de uma selva de rochas e raízes de árvores em que estes dois elementos combatiam entre si pela supremacia da paisagem. 🙂 Aliás, às vezes, sentia que estava mais a observar uma fusão ou uma mescla perfeita entre os elementos, do que uma batalha! Surreal, belo e escorregadio! 😀 Durante a ascensão fui quase sempre a sombra de Lucas, o nosso guia e desse modo pude observar a sua tatuagem na “barriga” da perna direita: “Jesus is the Lord”. Ao imaginar que fui guiado por um “apóstolo” a caminho das alturas, não pude deixar de sorrir. 😛

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O caminho em distância percorrida foi curto, apenas 2400 metros mas em altitude fomos de uma cota quase nula até aos 1200 metros, ou seja o declive era muuuuuuuuuito acentuado e os últimos 400 metros de distância transformaram-se mais num desafio de escalada, com recurso a escadas, cordas e busca de bons apoios para os pés e para as mãos. Neste momento a minha concentração estava no “pico”, pois a rocha que nos rodeava mais parecia um mar de lanças e facas afiadíssimas prontas para ao mínimo descuido nos partir facilmente um osso, ou cortar a pele, a carne, os músculos e os tendões. Aliás nessa altura fui pensando várias vezes: “Como raio vou voltar para baixo!?” :/

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Atingi o pico por volta das 10.40 e a paisagem foi de facto algo de totalmente novo e inesperado. Estávamos num miradouro de onde víamos uma floresta de picos de rocha, a emergir do meio das árvores e suplantarem estas em altura. Ver para crer! A natureza criadora na terra da magia e dos espíritos selvagens. 😀 No topo estivemos cerca de uma hora e durante esse tempo aproveitámos para almoçar, para tirar fotografias (nesta altura o casal de romenos tirou-me alguns retratos) e observar uns esquilos verdes que por lá passeavam.

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Perto do meio-dia iniciei a minha descida e nos primeiros 400 metros a concentração estava novamente elevadíssima e à medida que ia descendo fui procurando os melhores apoios possíveis. Nesta altura, agradeci à boa sorte ter optado por fazer o trekking com os sapatos de borracha, uma vez que os mesmos são muito mais flexíveis e menos largos e escorregadios do que as botas, pois a sola é completamente deformável. Deste modo, consegui encaixar os pés em quase todos os nichos existentes na rocha, a única desvantagem era sentir todas as variações da superfície na planta dos pés, principalmente porque as rochas eram completamente afiadas! :/

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Lentamente, o caminho foi sendo percorrido e aos poucos e poucos os obstáculos e desafios ultrapassados. Quando cheguei ao final da secção dos 400 metros, estava contente pois a parte mais problemática estava ultrapassada. Porém… o São Pedro pregou uma partida ao seu amigo Lucas e respetivo rebanho pois quando estava a chegar à placa que indicava, 1900 metros começou a chover torrencialmente! “Bonito! Agora é que vão ser elas!” E infelizmente não me enganei! :/

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O caminho em condições normais já é escorregadio e como se pode deduzir, a chover tornou-se num ringue de patinagem no gelo e cada passo começou a requerer concentração absoluta, pois o mínimo descuido poderia revelar-se catastrófico. A energia necessária para manter a concentração foi de tal modo elevada, que o caminho não me trouxe quase nenhum prazer… :/ o esforço físico tornou-se irrelevante quando comparado ao esforço mental associado ao “jogo” do sempre em pé e quase no final do trilho só desejava que esta aventura terminasse de vez, pois estava entediado e cansado de manter a concentração. Felizmente consegui descer sem me magoar e por volta das 16.20 cheguei finalmente ao campo 5, onde respirei de alívio… sem mazelas, os Pináculos de Mulu estavam conquistados. 😀

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Ato IV – A Caminho do Campo 5 e o Repouso

Depois da visita às lindíssimas cavernas, retemperámos forças num cenário idílico: rio cor de esmeralda, água transparente, areia fina e uma floresta verdíssima e luxuriante; onde almoçámos (delicioso caril de abóbora, encomendado no dia anterior) e nessa altura comecei a conhecer melhor os meus companheiros de trekking: Cristian e Ana (casal de romenos a viver em Londres); Amas e Alexa (casal de australianos); Igor e Mia (casal de Cazaques) e uma rapariga chinesa, bastante reservada.

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Findada a pausa e o repasto, mudei de calçado (usei pela primeira vez os meus sapatos de borracha) e despedimo-nos do nosso guia. Voltámos a embarcar, mas desta feita com destino a Kuala Litut (que fica ainda mais a norte) e durante a travessia tivemos de desmontar várias vezes do nosso barco e empurrá-lo, pois havia seções onde o rio estava muito raso. Claro que nestes processos de monta e desmonta, os calções ficaram bem encharcados e quase, quase no final do percurso no rio, houve mais um twist, o dia que até ao momento estava solarengo, ficou muito, muito escuro e… começou a chover torrencialmente. 😛

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Na despedida dos barcos e antes de começarmos a caminhada para o campo 5 já estávamos completamente encharcados, pois o que o rio não molhou a chuva terminou o “serviço” e durante pelo menos metade dos dez quilómetros, choveu com uma intensidade brutal! A ponto do meu único objetivo ser: andar, andar…andar. A certa altura da caminhada, tive de parar para pôr umas meias, pois os famosos sapatos de borracha estavam a começar a ferir-me o peito do pé. :/

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Passados poucos minutos depois de ter recomeçado a andar a chuva parou finalmente! 🙂 O trilho tornou-se então mais agradável, pois finalmente a água não me fustigava o rosto e a floresta estava mais clara, havendo por isso uma melhor visibilidade, porém a verdade é que a caminhada nunca passou da fasquia do agradável.

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Quando finalmente cheguei, quase todo o grupo já lá estava, só faltava eu e o casal de romenos. Durante o resto da tarde esvaziei a mochila e pus roupa a secar; organizei a comida, a água, os produtos de higiene, o calçado e o pouco vestuário que me restava seco; tomei um retemperador duche de água fria; comi; estive na converseta; preparei o almoço para o dia seguinte; e ouvi um breve briefing sobre os Pináculos, o dia seguinte tudo indicava, seria longo e desgastante

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Ato III – A Avaria e as Grutas

Depois da tarde inolvidável do dia anterior, a nossa viagem para os Pináculos começou no cais do HQ do parque. Depois duma curta viagem de barco, parámos na aldeia de Batu Bungan para visitar o tradicional mercado de artesanato, que no final não se revelou nada de especial. Voltámos a embarcar e seguimos viagem, desta feita em direção a nordeste e às cavernas do “Wind” e “Clearwater”.

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Na chegada ao cais, tentei tirar uma fotografia e a máquina deu erro! Voltei a ligar e a desligar e novamente… erro! :/ “Eu não acredito nesta #*%$@! Agora a caminho dos Pináculos é que decidiste avariar!?” Quando Cristian (um dos romenos) chegou, pedi-lhe para experimentar a minha objetiva na máquina dele para ver se estava tudo bem com ela e… estava! Deste modo, concluímos que o problema estava no corpo da máquina! “Ai F%&@ – $&”! Era só mesmo isto que me faltava avariar!” Depois do laptop, do telemóvel e da antiga objetiva esta era a última coisa que eu queria que avariasse. 😦

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Stressado e irritado com esta situação comecei a subir os degraus que nos levaram à caverna do Vento e na medida do possível comecei a tentar controlar-me emocionalmente e a relativizar a situação. Uma vez que no imediato não podia fazer nada e, muito possivelmente aquela seria a minha primeira e última vez naquelas cavernas e nos Pináculos de Mulu, mais valia aproveitar o momento ao máximo. Claro que falar é fácil, fazer é mais díficil e só aos poucos e poucos me abstraí da situação e comecei realmente a viver o presente! E ainda bem que o consegui fazer pois a caverna do Vento revelou-se espetacular com uma forma inicial que se assemelhava a um túnel em elipse, fruto desta caverna ter sido criada por um rio que corria através do seu interior. À medida que fomos andando o caminho começou a estreitar e depois começámos a descer, escadas e mais escadas que nos levaram primeiro a uma “chaminé” perfeita, onde pudemos observar o céu azul que brilhava acima de nós e mais à frente estava a câmara do rei.

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Antes de partirmos para lá, o nosso guia propôs-nos que quando aí estivessemos conhecessemos pessoalmente o rei (“Today is your lucky day! You have the opportunity to meet the king.”). Descemos então ao magnífico “salão” real coberto de estalagmites e colunas, mas o rei não estava lá, desconfio que tenha ido caçar veados ou algumas aias! 🙂 Quando regressámos o guia perguntou-nos, a sorrir, se o tínhamos encontrado e claro que respondemos que não. Então e à maneira “muluense” começou a falar-nos por enigmas e com a “magia” associada à natureza e ao divino/ sagrado/ espiritual disse-nos que o rei estava entre nós, aliás estava em nós… uma vez que todos éramos reis e rainhas! E este foi mais um momento especialíssimo made in Mulu, proporcionado por um guia. 😀

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Fizemos o caminho de regresso e depois enveredámos por uma escadaria que nos levou primeiro à pequena Lady cave, batizada deste modo pois existe uma rocha que fruto da luz projeta a sombra de uma donzela; e depois à magnífica “Clearwater”, uma caverna que tem um enorme rio subterrâneo a correr no seu interior e que vai moldando a sua forma. A caverna é profunda, larga e enorme e a sua beleza não provém tanto das formações geológicas, como no caso da Lang cavemas sim das chaminés existentes, do canal subterrâneo e da dimensão e luz do espaço! Quatro cavernas em Mulu? Poker de Ases! 😉

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Mulu. Back to the Primitive

Ato II – Viagem Espiritual ao Coração de Mulu

A visita guiada começou pontualmente às 14.00 e no início andámos durante aproximadamente uma hora até às imediações das cavernas: Lang e Veado (“Deer”). Durante esse tempo, atravessámos um passadiço de madeira e pudemos ver alguma fauna (insetos: borboletas, uns que pareciam pequenos galhos, libelinhas (verdes) e outros não identificados; lagartos e um camaleão); flora (flores, incontáveis tipos de árvores, vegetação e fungos) e a mescla entre a vegetação e a rocha (sendo este o príncipio que está na génese dos Pináculos). 🙂

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Mas mais importante do que tudo isso, foi ouvir a nossa guia falar da floresta como um ser vivo, sagrado e energético onde tudo está interligado existindo uma teia de ligações e dependências entre todos os seres que a habitam. Foi muito especial ser guiado floresta adentro por esta pessoa e o meu sentimento geral é que estava a penetrar no coração e na alma de Mulu, acompanhado de uma guru espiritual! Fascinante! 😀

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A primeira caverna que visitámos foi a Lang e aqui estivemos cerca de meia hora. Apesar de na mesma existirem formações geológicas magníficas, não senti que estava num local verdadeiramente especial, uma vez que no Laos em redor de Vang Vieng já tinha visto muitas formações deste género. Quando saímos desta gruta, dirigimos os nossos passos para a caverna do Veado (que tem a maior passagem do mundo) e à medida que íamos penetrando, fui ficando siderado com a sua monumentalidade. A paisagem era esmagadora e eu senti-me uma pequena partícula no meio da mesma. Ao continuar a andar fui sentindo que estava a entrar num mundo perdido e completamente primitivo e se por acaso nesse momento visse um dinossauro a passar-me à frente do nariz, podia acreditar que o mesmo era real e que não era fruto da minha imaginação ou uma alucinação! 😀

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Quanto mais nos embrenhávamos na caverna, mais o ar se ia tornando pesado, fruto do cheiro criado pelas fezes dos milhões de morcegos que a habitam e a paisagem era surreal, pois para além de sentir que estava a penetrar num espaço cada vez maior, mais amplo e profundo, o cenário à nossa volta era desértico fruto das rochas que se fundiam com as fezes. A certa altura do percurso a nossa guia parou e convidou-nos a olhar para trás, para cumprimentarmos o Presidente Lincoln, pois na entrada/saída da caverna via-se na perfeição o perfil do mesmo. A natureza é realmente uma criadora inesgotável! 😀 O mundo à nossa volta ia-se tornando uma massa de escuridão e trevas e a única coisa que descortinava era o trilho marcado com discretas luzes de presença. Até que chegámos a um miradouro onde vislumbrámos a outra entrada da caverna, que marcava o início do “Garden of Eden Valley” e neste ponto fizemos inversão de marcha e voltámos para trás pelo mesmo caminho.

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Esta caverna magnífica, sedutora e exótica, esmagou-me, triturou-me, deixou-me boquiaberto e transportou-me para uma realidade natural, pura e primitiva! Quando saí da mesma estava maravilhado e pensei que mesmo que não visse mais nada, a viagem para Mulu já tinha valido a pena e se tivesse de regressar à “civilização” naquele instante, o faria de coração e alma cheios 😀 , porém… a história não acaba aqui!

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Depois de abandonar a caverna e já sentado no observatório dos morcegos na companhia de cerca de cinquenta almas, tive a oportunidade, o privilégio e a felicidade de observar um dos mais espetaculares eventos da vida animal que presenciei na vida! 😀 Durante uma hora, vi milhões de morcegos a sair das cavernas para caçarem insetos ao entardecer. Porém, os morcegos não saíram todos em debandada ao mesmo tempo, saíram sucessivamente e à vez, ordenados em nuvens negras de milhares, formando no céu imagens tridimensionais – espirais de morcegos no interior de “serpentes”! ESPETACULAR! E eu regressei já no lusco-fusco à entrada do parque a desejar:  “espero conseguir guardar esta tarde no coração e na memória por muitos, muitos, muitos… anos”. 😀

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Crónicas Em trânsito O 1º Dia

Mulu. Back to the Primitive

Ato I – Chegada & Logística

Depois da curta visita ao país do Brunei, voltei a reentrar na Malásia, desta feita de autocarro e no estado de Sarawak. Para chegar ao parque nacional de Mulu, tive que apanhar um pequeno avião na cidade de Miri e pela primeira vez na vida apareci no aeroporto sem voo marcado, pois os preços que estavam na internet eram ridiculamente elevados! :/ A verdade é que arrisquei e ganhei a aposta e deste modo aprendi uma importante lição: na Ásia, voos comprados diretamente nos aeroportos muitas vezes, compensam. 😉

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Ir até Mulu foi como ir até uma ilha, porém em vez de estar rodeado de água, estava rodeado de selvaIMPRESSIONANTE! 😀 Depois de meia hora de voo, aterrei no coração da selva e de sorriso nos lábios saí do aeroporto a caminhar…

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O primeiro passo foi arranjar um poiso para dormir nas imediações do Parque Natural e concluída essa tarefa, fui até à receção do mesmo, confirmar em que dias teria as atividades que estavam previamente marcadas, uma vez que por e-mail já tínhamos “discutido” alguns detalhes.

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Nessa altura recebi a excelente notícia que poderia juntar-me, no dia seguinte a um grupo para fazer uma viagem que duraria três dias, até aos Pináculos de Mulu (um dos ex-líbris do parque) e ao mesmo tempo visitar duas cavernas: “Wind” e “Clearwater”. Fruto desta oportunidade caída dos céus tive de adaptar-me muito rapidamente pois havia questões logísticas a resolver, antes de partir: que mantimentos comprar – quantidades e que “tipo” – e onde os comprar – pois dentro do parque, tudo era vendido ao preço do ouro; falar com os donos da guesthouse para tentar transferir uma das duas noite que já tinha pago para quando voltasse dos Pináculos e perguntar se poderia lá deixar quase toda a minha bagagem.

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Depois de resolvidas as questões logísticas, voltei ao parque natural onde comprei uns sapatos de borracha – fundamentais para a viagem até os Pináculos, almocei, enviei uns e-mails, encomendei comida para o dia seguinte e parti para uma visita guiada, a um mundo mágico… 😀

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Sepilok. Inchaço, Floresta e Orangotangos

Depois da ascensão da montanha Kinabalu, as pernas ressentiram-se do esforço despendido, principalmente o tornozelo esquerdo que ficou com um inchaço considerável e como tal, antes de partir para Sepilok tive dois dias mais repousados na base da montanha e nas imediações do lodge.

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Durante a semana e como o inchaço não desapareceu com o tempo, os dias em Sepilok ficaram marcados por uma ida ao médico em Sandakan que me revelou que a causa deste inchaço, era um agente externo – possivelmente algum inseto ou bactéria. Por esse motivo, apesar dos dias serem fisicamente mais tranquilos, foram mentalmente mais stressantes, pois tinha um segundo curso de mergulho já marcado em Semporna – nas imediações das ilhas de Sipadan e Mabul – e o médico não me aconselhava a mergulhar, caso o tornozelo não voltasse ao normal. :/

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De qualquer modo e nos quatro dias passados em Sepilok ainda deu para ver nas imediações do lodge uns crocodilos “velhacos” e uma bonita e elegante ave branca; fazer duas visitas ao RDC (Rainforest Discovery Center) onde tive novamente contato com uma floresta tropical e com o seu ambiente verde, quente e extremamente húmido – cheirinho a selva; mas principalmente fazer duas visitas ao centro de proteção dos Orangotangos, onde tive a oportunidade de observar pela primeira vez estes bonitos primatas. 🙂 Neste centro, a maioria são órfãos e como tal, têm de ser ensinados a alimentarem-se e a tornarem-se independentes. O problema é que de todos os primatas, os orangotangos são os mais dependentes da progenitora e como tal o caminho para a completa reabilitação é moroso e exigente.

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Apesar de alguns deles parecerem bastante debilitados, foi bom observar e aprender que estes animais estão a ser tratados com toda a dignidade possível. Mas o melhor de tudo, foi sem dúvida ter a oportunidade de ver as traquinas crias juntamente com as extremosas mães. Comovente… encantador! 🙂 Saí de Sepilok, muito FELIZ e a sentir que estava num sonho. Sonho esse, que tinha o nome… Bornéu! 😀

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Khao Yai!? Na Selva!

Ato II – A Redenção   

Depois do almoço e de recarregarmos um pouco as baterias, partimos a caminhar para o Orchid campsite, uma vez que era aí que começava o trilho número 2 – um dos dois, que se podia fazer sem guia. Porém e quando seguíamos pela estrada de alcatrão, voltámos a apanhar boleia de uma carrinha do parque natural e esta largou-nos na Haew Suwat Waterfall. Como já estávamos no final do trilho resolvemos visitar primeiro a cascata e depois seguir no mesmo no sentido inverso. Posso afirmar que a cascata não desiludiu, pois o seu caudal era realmente massivo e a sua altura imponente! Rugia como um tigre, selvagem! 🙂

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Daí partimos então para o trilho e às três da tarde começou a redenção de Khao Yai! O caminho estava bem marcado e era de facto no meio da selva, lamacento, havia alguns troncos caídos, a vegetação era abundante e cerrada por vezes. Sentia-se finalmente o sabor da selva e o seu toque exótico, mas uma selva que podíamos penetrar sem ajudas de terceiros. À medida que progredíamos sentia o meu estado de espírito a modificar-se e nesta altura já estava a achar que a vinda a Khao Yai não tinha sido nenhum desperdício. 🙂

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Chegámos então às imediações de um rio e do primeiro aviso: “Beware of Crocodile”. Prosseguimos e uns minutos mais à frente, novo aviso: “No Swimming”, mais uns metros e novamente: “Beware of Crocodile”, a cada passo sentíamos que estávamos a aproximar-nos, até que… o trilho lamacento tornou-se mais lamacento e a sua direção virou completamente para o rio! Para além disso havia uma curva muito fechada e que nos cortava completamente a visibilidade. “Oh diabo! Tanto aviso ao crocodilo e agora somos encaminhados para os seus domínios!? Ainda para mais num terreno tão escorregadio e empapado!? Mau!” Parámos e ficámos a olhar um para o outro. :/

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Alternativas? Subir uma ladeira íngreme e embrenhar-nos no meio da selva? Não! Não era opção. Aliás não havia muito a fazer, ou voltávamos para trás ou seguíamos em frente. Foi o que fizemos. Muni-me com um pau grosso, de dois metros de comprimento e segui em frente, com a M. logo atrás de mim. Pé ante pé… Tum, Tum… Tum, Tum… o meu coração batia mais acelerado fruto da adrenalina e logo a seguir à curva, estancámos! Ali estava ele! Em cima de um tronco, no meio do rio a apanhar um banho de sol. Naquele momento relaxámos um pouco, pois soubemos onde estava o nosso “bichano” e qual o seu tamanho – aproximadamente três metros – e aparência – verde claro e olhos dissimulados, que nunca sabemos para onde estão a olhar. Foi realmente emocionante ver um predador no seu habitat e tão perto de nós – cerca de oito metros! Muito mesmo! E Khao Yai podia ter acabado ali que a redenção já estava feita! 😀 Porém a história não acaba aqui

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Khao Yai!? Na Selva!

Ato I – Carrossel

De Pak Chong para uma das entradas do parque natural distam apenas vinte e seis quilómetros, mas os mesmos foram feitos de forma muito… muito vagarosa num dos famosos táxis coletivos do país. Já no pórtico de entrada, pagámos o bilhete e assim que metemos o pé na estrada, pedimos boleia a uma carrinha do staff que estava de passagem. 🙂 Os últimos dez quilómetros da viagem – que começara nessa manhã em Ayutthaya – já em direção ao HQ (Headquarters) foram desse modo, feitos numa carrinha de caixa aberta e com um sentimento profundo de felicidade e liberdade. 😀

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Quando aí chegámos marcámos duas noites num dos bungalows e recebemos mapas e informações gerais sobre o parque e o seu funcionamento: horários, regras, trilhos… Do HQ até à zona do nosso alojamento, distavam dois quilómetros e os mesmos foram feitos de mochilas às costas, num ambiente quente e húmido numa estrada de alcatrão, que ficava no meio de uma paisagem vasta e muito verde. Belo! Senti que estava num lugar “mesmo” natural e esse sentimento foi acentuado pela presença de macacos e de “bambis” que fomos vendo à medida que caminhávamos. 🙂

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O segundo dia, foi um carrossel de emoções. Mas vamos aos factos. De manhã eu e a M. decidimos fazer uns passeios em trilhos marcados mas por conta própria, porque desconfiámos da informação que referia que apenas dois dos trilhos existentes no parque, poderiam fazer-se sem recurso a guias/rangers – achámos que aquela era mais uma tentativa de “sacar” dividendos e uma armadilha made in Tailândia, para turistas – porém…

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A manhã foi passada nas imediações do HQ a ser atacados por exércitos de mini sanguessugas muito persistentes e a andar para trás e para a frente sem conseguirmos quase sair do mesmo sítio! Os trilhos no início pareciam claros e óbvios, mas bastavam apenas cinco minutos, para mudarmos de opinião e voltarmos para trás. O ambiente era quente, húmido e a vegetação muito, muito, muito densa… pela primeira vez vimos e sentimos o que era a SELVA! Aos poucos caímos na realidade e percebemos que a informação que recebêramos não era nenhuma “balela” para “papalvos”, mas uma verdade cristalina! Só com o acompanhamento de alguém experiente e devidamente treinado se poderia chegar a bom porto.

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Nessa altura, senti um misto de irritação e desilusão. Sentia-me preso e confinado a um espaço muito pequeno e com alternativas muito reduzidas, num local tão vasto como é o parque. Naquele momento pensei que a visita não estava a valer o investimento – tanto em termos de tempo, como de dinheiro – e que seria necessário algo realmente especial, para haver uma mudança no meu estado de espírito e eu modificar a minha opinião acerca de Khao Yai.