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Dicas Reflexões

Dicas Made in China

1) Percam as peneiras ocidentais. Convém aprender umas palavras de mandarim, preparar o dia seguinte com os nomes dos sítios já escritos em chinês e sobretudo acabem de vez com a pretensão do “Ai, eu não estou a ir por um sítio turístico”. Aqui nunca podemos dizer, cheguei ao fim da estrada, não existe ninguém.

2) Misturem o campo com a cidade. A maneira certa para não deitar a China pelos olhos é ir metendo pelo meio alguma natureza. Façam isso porque as belezas naturais são espetaculares. Há lugares tão bonitos que chegam a ser comoventes.

3) Os chineses são uma massa humana gigantesca e que se move muito, por isso os transportes ficam rapidamente superlotados. Conselho: tratem das vossas ligações com antecedência.

4) Não se esqueçam, estão na Ásia… regateiem os preços mesmo que estes vos pareçam baratos. Acreditem! Estão inflacionados porque nós/vocês somos ocidentais e, apesar de fazer parte da sua cultura, nestas cabeças, existe o estigma:  “São todos ricos, podem pagar mais”.

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Reflexões

Entrevista concedida ao Diogo Azeredo (na íntegra)

1. Conhece o termo Dromomania? Considera-se um dromomaníaco, alguém com o “bichinho” de viajar e que não consegue ficar no mesmo local por muito tempo?

Tomei conhecimento do termo quando me falaste do mesmo na primeira mensagem que enviaste via facebook e depois disso acabei por ir investigar. Em termos patológicos não me considero um dromomaníaco, se o termo puder ser considerado de uma forma mais saudável nesse caso, sim. Aliás, sinto que a minha natureza é como o vento. 

2. Porque surgiu esta vontade de deixar o país? Qual é a tua história?

A vontade de deixar o país, ou melhor dizendo Viajar, está presente em mim desde sempre, mas talvez de forma mais intensa desde os 14 anos, altura em que acompanhei a minha irmã no seu interrail (durante 2 semanas) e aí foi plantada em mim (sem que eu desse conta) uma semente que despontou na altura da faculdade. Durante esse período viajei primeiro em Portugal e depois fiz dois interrails a solo. Tudo correu sempre bem e a experiência foi de tal modo enriquecedora que percebi que era isso que queria fazer na minha vida, viajar pelo Mundo. Claro que quando acabei o curso não tinha dinheiro disponível e comecei a trabalhar com o objetivo de poupar o máximo que conseguisse para concretizar esse sonho/objetivo. E hoje em dia estou a viver o meu sonho.  

3. O mochileiro é considerado um estilo de vida. Concorda? Porquê?

Claro que concordo. Um mochileiro é um cidadão do mundo, um mágico, um ilusionista dos tempos modernos. Da mesma forma que a prática de desporto, Yoga, meditação podem ser considerados estilos de vida, viajar deve estar no mesmo pé de igualdade pois todos estas “atividades” tem como objetivo ajudar o ser humano a evoluir e transformar-se num ser mais completo.

4. O Quirino possui o blogue www.historiasdovento.com. Porque sente esta necessidade de escrever as suas histórias que surgem com o vento e partilhá-las com o mundo?

As minhas histórias não surgem com o vento, surgem sim do facto de eu viver como o vento. Partilhar as minhas histórias faz parte da minha natureza de “escrever”, algo que me dá imenso prazer, desse modo acho que escrever é o complemento ideal de viajar. Para além disso escrever, “obriga-me” a recordar e recordar significa ter memória. Num mundo tão rápido como o atual em que parece que as pessoas só vivem para o futuro, preservar a minha memória faz-me sentir humano e consciente das minhas ações.

5. Através destes géneros de blogues, já conheceu outros “mochileiros” com quem partilhou experiências? Se sim, algum que queira destacar?

A resposta será dada de forma inversa. Ao longo da viagem tenho conhecido outros mochileiros com que tenho partilhado experiências e a partir daí tenho tomado conhecimento dos seus blogues. Como das pessoas que conheci não há ninguém a escrever em português, prefiro não destacar nenhum deles.

6. Existe alguma comunidade de mochileiros portugueses?

Pode existir, que eu tenha conhecimento, não. Mas tenho de dizer a verdade, nunca me debrucei sobre o assunto, nem sequer tiver curiosidade para investigar informação acerca disso.

7. Considera-se mais um imigrante ou um turista?

Considero-me um viajante! A verdade é que todos somos turistas, excepto na nossa cidade Natal. Porém e dada à conotação negativa que a palavra TURISTA tem no meio mocheiro, custa-me a assumir essa realidade, apesar de reconhecer a veracidade da palavra. Emigrante!? Talvez…se poder ser considerado emigrante uma pessoa que está sempre em movimento.

8. Por que países já passou e em qual permaneceu por mais tempo?

Europa: Espanha, França, Itália, Suiça, Eslovénia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Roménia, Bulgária, Turquia, Alemanha, Eslováquia, República Checa, Hungria, Holanda, Grécia, Áustria, Noruega, Reino Unido

Ásia: China, Laos, Tailândia, Malásia, Brunei, Singapura, Indonésia, Timor Leste, Filipinas, Myanmar

Indonésia (quatro meses).

9. Na hora da despedida, foram criados laços suficientemente fortes para criar saudades no momento de vir embora e partir em nova aventura?

Depende sempre de quem se encontra pelo caminho. Mas sim acontece e sem dúvida que podem ser criados laços bastante fortes e duradouros.

10. Com quanto dinheiro, sensivelmente, inicia as suas viagens? Define algum objetivo antes de partir?

O máximo que conseguir amealhar. Vamos ver relativamente ao futuro, como vai ser a evolução. E não nunca defino objetivos completamente estáticos.

11. O que leva na mala? E o que nunca leva na mala?

Cadernos de viagem e capacidade de improviso. Preconceito e sentimentos de superioridade.

12. No artigo da Visão “Correr o Mundo com pouco dinheiro” é possível ler a propósito da sua vida na China. Quais foram as maiores dificuldades que por aí sentiu e qual a experiência que mais o marcou?

A China foi uma escola de vida e de viagem. Foi altamente exigente em vários níveis sendo a linguagem e a incapacidade de ler as maiores barreiras. Desse modo preparar o dia a dia tornou-se fundamental (marcar hostels, ter indicações em caracteres, aprender um pouco de mandarim…).

Dois momentos (mas muitos mais poderia dizer): Dormir numa montanha com trabalhadores humildes da construção e viajar durante 15 dias no país com um “nativo” em que a única maneira de comunicar era com recurso ao seu smartphone (traduções entre chinês e inglês).

13. Apesar dos portugueses serem um povo que tem na sua génese uma grande veia de descobridores, nos últimos tempos, e principalmente com o acentuar da crise económica, acha que estão cada vez mais deprimidos e agarrados ao sofá?

Acho que aos poucos e poucos, perdemos a capacidade de sonhar e de sermos audazes e aventureiros. Estamos acomodados, tacanhos e amorfos e não conseguimos ver que há mais vida fora do défice, da crise e da nossa pequenez.

Acredito que a crise tenha dado uma ajuda mas penso que os factores mais relevantes são a nossa incapacidade mental de lidar com a perda de um Império que foi imenso e com a nossa falta de imaginação para procurar vias alternativas a uma sociedade profundamente doente e autofágica.    

14. A falta de dinheiro é um motivo válido para os portugueses viajarem menos ou é um desafio à criatividade e um apelo à aventura?

Para as pessoas que têm responsabilidades para com uma família, não posso dizer que não é um motivo válido. Porém a minha opinião é que na maioria dos casos as pessoas têm demais, compram demais, desperdiçam demais… Investem em coisas ocas e vazias como bens materiais… A viagem pode ser um “investimento” de sensações, experiências, aprendizagens, desafios, aventuras e o retorno que traz é algo que nunca um bem material trará. Nunca! Desse modo penso que a falta de dinheiro é muitas vezes um falso pretexto e que no fundo tudo se resume a uma questão de prioridades.   

15. Pensa que o atual contexto económico português é fomentador de dromomania? Ou seja, devido à crise, há mais portugueses a pensar “deixar tudo” e a partir à conquista do mundo à boleia? 

Penso que o atual contexto económico português pode ser fomentador de dromomania, porém penso que a crise de identidade que a maioria das sociedades ocidentais apresenta é um motivo ainda mais forte que leva as pessoas a dizer basta e “deixar tudo” e partir à conquista de algo, algo maior que as desafie e as enriqueça…no fundo partir rumo à Viagem.

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Crónicas Fotografia O 1º Dia

O Asteróide, Didier!

Esta história passou-se na Captain´s House, no dia em que conheci o Peter´s e tudo começou quando chegámos da rua com uma cerveja na mão e nos dirigimos para o terraço onde ficámos um bocado à conversa, quando… a Terra foi atingida por um asteróide, chamado Didier e o mesmo teve consequências quase catastróficas! 😛 Mas, afinal o que/quem será Didier? Didier era o tio do Robert e um party animal de um calibre bastante elevado! 😀

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Assim que se sentou ao pé de nós começou logo a oferecer cervejas, depois ofereceu uma “zurrapinha” e mais uma cerveja, depois uns noodles absolutamente divinais -talvez os melhores que comi na China – ovos com tomate e carne – para ensopar – e mais… umas cervejinhas! 😀

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Ao que parece Didier fora cozinheiro, professor e agora estava reformado. Eu e o Peter´s estávamos deliciados com aquela recepção – o Peter´s então estava nas nuvens, talvez por ter sido a primeira vez que estava a sentir a bondade dos desconhecidos, pelo  menos com aquela intensidade! – e a única coisa que pudemos fazer foi entrar no ritmo e “dançar” com leveza. O tempo foi passando e foram aparecendo e desaparecendo pessoas, um casal de gays (polaco), uma inglesa e uma americana e o próprio Robert. Foi um serão de magnífico, proporcionado pelo asteróide, Didier! 😀

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Crónicas O 1º Dia

Conversetas e Animação

Depois de um dia tão perfeito, quando regressámos ao hostel, havia mais uma surpresa… na receção encontrei Fábio  um rapaz brasileiro que conheci em Xi Ping, mas com quem apenas falara cinco minutos, pois ele partiu no dia em que cheguei – e o dia fechou com chave de ouro. Entretanto Zheng, juntou-se a nós e quase sem darmos por isso um rapaz de feições asiáticas, mas com um “British” perfeito seguiu-lhe o exemplo. O seu inglês era de tal modo irrepreensível que a certa altura da conversa não me “contive” e perguntei-lhe de onde era e quando ele respondeu que era Britânico, tudo fez sentido. Entretanto, ficámos a conversar e todos – exceto Zheng – bebemos uma “jola”. 🙂 Entretanto o tempo foi passando e descobrimos que estávamos com fome e decidimos jantar no hostel. A verdade é que tive mais uma magnífica refeição: abóbora, arroz, arroz aromatizado dentro de uma cana de bambu, carne de porco e vegetais, outros vegetais e ovo com tomate, e para finalizar a noite, parodiámos com uma frase profunda encontrada numa garrafa de cerveja: ”Se sabes onde ir, o mundo levar-te-á lá…” 😛 e rimos… rimos… rimos, antes de combinarmos acordar cedíssimo para ver nascer o sol. 🙂

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Crónicas

Os Alemães, o Belga e a Chinesa

Depois da chuva torrencial, fomos jantar ao mesmo restaurante da noite anterior e gostaria de ressalvar a falta de criatividade gastronómica dos restaurantes locais: arroz frito, noodles e pouco mais do que isso, parece que nem estou na China! :/ Antes de irmos para o terraço passei por momentos de indefinição e como não consegui decidir se partiria para Yangshuo ou Guilin, resolvi tomar a minha decisão apenas na manhã seguinte. Já no terraço, estava em amena cavaqueira com a “parelha” alemã, quando apareceu uma chinesa – Zheng Shaoqin – que pôs conversa connosco e nos entretantos, chegou mais um ocidental que se juntou à conversa… As conversas começaram a cruzar-se e eu mudei de lugar para junto do recém-chegado, Greg de seu nome, belga e fotógrafo que estava na região há seis meses! 🙂 A conversa estava animada, mas os alemães tiveram de abandonar o “barco”, pois no dia seguinte teriam de partir muito cedo e fiquei na companhia do belga e da chinesa, quando… recebi um convite do Greg para no dia seguinte dormir nos arredores da vila e depois fotografarmos o nascer do sol. 😀 Por essa altura a Zheng disse-nos, que daí a dois dias partiria para os terraços de arroz a norte de Guilin e eu perguntei-lhe se podia acompanhá-la. Foi assim, que os planos para o meu futuro imediato me foram “revelados” nessa noite. 😉

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Crónicas Fotografia O 1º Dia

Back to HK. D(epois).P(ortugal).

No regresso a Hong Kong (HK), a cidade voltou a receber-me calorosa e abafadamente e o sentimento de destilação apenas era aliviado em locais onde havia ar condicionado. 😛 Nas ruas, fui serpenteando pela turba humana, pelos carros, elétricos e autocarros e tirando fotografias aos edifícios, aos habitantes, aos mercados de rua -comida, roupa e bugigangas – aos templos e ao movimento incessante e frenético, que apenas acalmou quando cheguei às imediações do emblemático Victoria Peak.

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A ascensão para o “pico” de HK pode ser feita no famoso elevador/elétrico ou a pé, mas como o Kiri é um tipo poupado mas que não se poupa, a subida foi encetada pelo próprio pé. 😛 A ascensão foi agradável e se no primeiro momento o caminho foi linear pois acompanhava o carril do elevador, finalizado o primeiro terço este mudou e transformou-se num trilho serpenteante que passava por áreas residenciais e zonas verdes. À medida que a vista sobre a cidade, abriu, abriu… abriu, a panorâmica da cidade começou-se a revelar: edifícios, baía, céu azul, piscinas. 🙂 As indicações desapareceram e na parte final do trajeto tive que recorrer a um mapa, à bússola, ao pedido de indicações e ao meu sentido de (des)orientação. Quase no topo fiz um atalho qual Indiana Jones e perdi-me momentaneamente, porém e graças a esse pequeno contra-tempo tive a oportunidade de ver o outro lado de HK e o seu lado mais selvagem e natural – paisagem verde de florestas, mar, baías e enseadas – a ponto de pensar se estaria de facto na mesma cidade. 😉

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Quando finalmente cheguei ao pico, estava feliz pois tinha concretizado o meu objetivo e maravilhado com a bela vista sobre a cidade. 😀 Posicionei-me para o entardecer e à medida que fui tirando fotografias conheci Carlos – Peruano emigrado no Canadá – e Sebastián – Argentino – e com eles encetei uma conversa muito interessante sobre economia, países, viagens e profissões. 🙂 Na despedida do Victoria Peak, dei mais uma mirada à cidade iluminada e acenei um adeus à única cidade que teve um A(ntes) e um D(epois) e no meio a palavra Portugal. 😉

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Reflexões

Dias em Portugal

Durante os dezanove dias em que estive em solo Luso, fiz uma grande surpresa a toda a gente e fiquei radiante por ter proporcionado alegria à minha família, M. e amigos. Como não ficar FELIZ por proporcionar felicidade a quem nos ama? 😀 Para além de distribuir felicidade, passei o máximo tempo com as pessoas, comi a deliciosa comida do nosso país, o meu organismo resolveu o problema da malfadada hemorróida  após uma segunda consulta já em Lisboa – fui ao dentista, toda a bagagem levou uma limpeza profunda e foi reestruturada ligeiramente, engordei um par de quilos, resolvi algumas burocracias que tinham ficado pendentes aquando da minha partida, acabei de escrever o meu primeiro diário da viagem, fiz um backup das fotografias e instalei programas em português, apanhei uma multa – por ausência de documentos – soube que uns amigos meus iriam ser pais e outros casar e… amei e fui amado. 😀 Esta viagem foi completamente inesperada mas muito, muito gratificante e só posso dizer: “Obrigado por TUDO! M., família e amigos!”

 P.S. – Escrito no voo de regresso a Hong Kong (Lisboa – Amesterdão).

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Crónicas Fotografia Reflexões

Incompreensões

Na zona da cidade que abrange a concessão francesa e apesar de lá ter visto algumas casas elegantes, fiquei a pensar qual o encanto especial da área ou no porquê de tanta fama, uma vez que para mim não passou de mais um local, que aposto se revelará facilmente “esquecível”.

IMG_0579 (FILEminimizer)O que de facto me saltou mais à vista, foi observar os ocidentais – principalmente, mas não só – nalgumas esplanadas da zona e ficar com a certeza que nunca ou muito dificilmente vou compreender estas pessoas que esbanjam o dinheiro a comprar cafés, cervejas e pizzas ao preço dos seus países de origem, como se o preço não tivesse que “obrigatoriamente” que descer porque estão na China. :/

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No final a sensação que me dá, é que estas pessoas buscam nos outros países o que já têm nos seus países, ou sejam buscam a standarderização, a globalização e os luxos/confortos que os fazem sentir em casa. Não percebendo que para haver evolução é preciso existir dialética e esta só existe se houver antagonismo e diferenciação espacial – cultural – temporal.

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Nanquim e o Massacre

O dia ainda estava a meio, mas já tinha havido muitas emoções. Porém eu queria mais e achei que a minha viagem em Nanquim devia começar pelo Museu do Massacre, que é o local que homenageia os 300.000 mortos da cidade durante o período que antecedeu a segunda Guerra Mundial. Em 1937 o Japão invadiu a China e tomou de assalto grande parte do vasto território chinês e durante um “curto” período de seis semanas – 13 de Dezembro de 1937 a final de Janeiro de 1938 – a cidade foi reduzida a escombros e a população vítima da brutalidade de grande parte do exército japonês: violações – individuais e em grupo – fuzilamentos indiscriminados, abusos sobre a população, decapitações… enfim o lado negro do ser humano em todo o seu ”esplendor”. 😦

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A experiência começou na porta de entrada com a observação de uma gigante “massa” chinesa à espera de entrar, mas felizmente depois de uns minutos a situação foi desbloqueada. Assim que entrei no recinto vi que o complexo está dividido em duas zonas: exterior – Parque e Memorial e interior – Museu e Arquivo.

IMG_8419 (FILEminimizer)Porque via o relógio a andar depressa e a hora de encerramento a aproximar-se fui primeiro à zona interior e logo de início tomei a resolução de não tirar fotografias, não sentia aquele lugar como turístico, apesar da quantidade de pessoas que por lá circulavam. Antes como um grande memorial da tragédia e um local para preservação da memória histórica e colectiva de uma cidade, de uma nação, da humanidade.

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Na primeira sala, a entrada tinha o molde de uma mão e coloquei a minha mão lá, não sei se para sentir o metal se o peso da história. A sala ampla estava pouco iluminada. No teto o fatídico número 300.000 brilhava, no chão um ponto luminoso por cada vítima. Nas paredes o nome das vítimas gravado em relevo. Não aguentei, fiquei comovido e soltei duas lágrimas furtivas. A visita continuou e sala após sala vou observando o museu e as pessoas que lá circulavam e encontro de tudo: semblantes carregados, graves e sérios, sorridentes (?), atentos e comovidos até às lágrimas – mulheres. O museu vai pintando os negros acontecimentos e eu sigo por aquele espaço, tornando-me menos ignorante. Um dos momentos mais surpreendentes surge quando vi uma suástica nazi pintada das cores da cruz vermelha e ao lado deste, outros dois momentos me ficam particularmente na memória, o da grande parede dos arquivos e a zona dos 12 segundos: 300.000 mortos em seis semanas. A cada 12 segundos o som de uma gota a cair e o retrato de uma das vítimas a iluminar-se – durante essas fatídicas seis semanas, uma vida desapareceu a cada doze segundos na cidade de Nanquim!

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Na zona exterior circulei pelo parque e pelos memoriais, e o momento mais marcante ocorreu quando vi as ossadas humanas encontradas numa escavação arqueológica. A diferença aqui foi saber que não morreram há milhares ou centenas de anos, foram mortas durante o século XX e enterradas em valas comuns. Tão distante e tão próximo…

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Crónicas Reflexões

Paradoxo. Urbanizações Fantasma

No terceiro e último dia na cidade resolvi ir até à Universidade de Dali pois recebi a informação que daí a vista sobre a cidade era bonita. Quando estava a caminho da mesma, percorri uma grande grande avenida – ou não estivesse eu na China – e ao longo da mesma apenas vi vivendas já construídas, blocos e blocos de vivendas. Mas não se pense que eram cá pechisbeque! Não senhor! Alto gabarito! O “pequeno” detalhe é que esta, era uma urbanização fantasma – diria que 99% das casas estavam desocupadas.

IMG_6693 (FILEminimizer)Em toda a China desde que cheguei, vejo construção, construção, construção. As minhas perguntas são: Mas para quê? Para quem? Desde do primeiro momento, vejo famílias por vezes numerosas a viver juntas sob o mesmo teto mas será que existe a ilusão que os chineses vão ser todos ricos!? Fica a questão…