À semelhança de Sukhothai, em Ayutthaya – pode encontrar mais aqui – pedalámos em busca dos “ossos vivos” do passado, encontrando múltiplos templos – sendo estes mais impressionantes, dado o seu estado de conservação – e a quatro quilómetros do centro da cidade, vestígios da presença portuguesa da altura dos Descobrimentos.
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Na dourada capital do norte, Chiang Mai – pode encontrar mais aqui – experienciei vários momentos inesquecíveis: a visita ao reino dos tigres; o primeiro encontro com a maravilhosa gastronomia tailandesa e a aula de culinária; o reencontro com Sam; o loop de scotter em redor da cidade na companhia de Kristian; mas principalmente, foi aí que recebi a visita de M. com quem visitei os múltiplos e ricos templos da cidade, onde tudo brilha e reluz como o ouro. Bem vindos à face rica da Tailândia.
Na pequeníssima e sonolenta vila de Muang Ngoi – pode encontrar mais aqui – e que parece já não ser deste século, regressei a um tempo em que praticamente tudo parou. Em redor da vila visitei uma gruta negra como breu e bonitos arrozais, vi pela primeira vez monges de vestes laranjas, comi divinalmente e… cheguei ao Paraíso.
Vindo da monumentalidade da China – pode encontrar mais aqui – chegar ao Laos e a Luang Nam Tha foi uma mudança de paradigma. Nos arredores da vila/cidade encontrei verdes arrozais, cidadãos simpáticos e afáveis, cascatas, nativos a banharem-se no rio, pequenas aldeias, estradas de terra e lama… e um silêncio bastante singular.
Na cidade de Beihai – pode encontrar mais aqui – conheci pessoas extraordinárias que me proporcionaram um dos dias e uma das noites mais memoráveis de todo o país. E como se isso não bastasse, deparei-me com graaaaaaandes aranhas e destilei na bonita e escaldante Praia da prata.
Na cidade de Haikou – pode encontrar mais aqui – encontrei a China das pessoas e do quotidiano ao invés da China turística, ficando com a certeza que aqui, a degradação é um exercício de estilo.
Em Shaoxing – pode encontrar mais aqui – cidade natal do escritor Lu Xun conheci a simpática Shue que me deu a possibilidade de compreender mais um pouco da fascinante cultura chinesa e tive a oportunidade de cozinhar pela primeira vez nesta odisseia asiática.
Rota SW
Ato IX – Um Dia Vou Construir um Castelo
À noite, ao falar com a M. percebi que a minha futura saída da vila de Sagres poderia vir a tornar-se problemática. Desse modo, o objetivo para o sétimo dia de caminhada – oitavo desde que chegara a Porto Covo – passou a ser… tentar aproximar-me o mais possível do Cabo de São Vicente. Depois de uma noite semi-ventosa no poeirento telheiro, acordei mais cedo do que o habitual e por volta das 7.25 estava de partida da aldeia da Carrapateira, sendo o meu primeiro objetivo, chegar à Vila do Bispo.
Ao contrário do dia anterior, o céu estava bastante carregado sendo a despedida desta bela costa coroada por nuvens escuríssimas e pela pálida luz. À medida que caminhava rumo à aldeia da Vilarinha, o sol foi despontando e o céu progressivamente tornou-se mais azul. 🙂 Assim que passei a aldeia, tive de fazer alguns atravessamentos nas ribeiras da Carrapateira e Sinceira, mas devido aos seus reduzidos caudais, as travessias não se revelaram problemáticas – no Inverno a situação pode alterar-se e tornar-se necessário efetuar um percurso alternativo.
No percurso para a aldeia da Pedralva, a variedade “clorofiliana” era grande. Junto às ribeiras encontrei salgueiros, freixos e carvalhos; nas encostas mais secas, sobreiros, pinheiros e oliveiras; e nas encostas mais afastadas do trilho, um denso matagal onde abundavam medronheiros, urzes, estevas, tojos… um autêntico festival. 🙂 Quando passei pela Pedralva, fiquei desiludido! A mesma, não passa de uma aldeia fantasma totalmente recuperada para o turismo rural, porém entre esta opção e deixá-la ao abandono à espera que as casas ruíssem, acho que prefiro a primeira.
A partir daí, o trilho tornou-se menos plano e mais seco, sendo possível avistar em redor serras e montes de múltiplos verdes. Junto ao parque eólico, para além do ruído constante das pás a girar, encontrei alguns charcos que segundo o site da Rota Vicentina: ” (…) São talvez o habitat mais rico em biodiversidade do SW de Portugal (…) parte dos anfíbios da nossa fauna (…) livres de predadores de ovos e girinos (…) para além dos milhares de girinos, os charcos são povoados por aves, cágados, mamíferos e plantas”. Isto foi o que li. Quanto ao que encontrei, a história foi outra! Biodiversidade? Só de mosquitos! Isso sim, havia em abundância. Quanto ao resto… 😛
A oito quilómetros e meio da Vila do Bispo, o trilho voltou a mudar. Primeiro, estive rodeado de densos arbustos em caminhos serpenteantes de terra batida e posteriormente percorri trilhos arenosos de serenos pinhais. A partir das 11.30, apesar da agradável paisagem, comecei a “sonhar” com a minha chegada e com uma refeição de frango assado, sentado a uma mesa. 🙂 – Em determinados estágios de cansaço/fome a nossa mente/imaginação é mesmo incrível! Conseguindo levar-nos a “viajar” para mundos muuuuuuuuuuuuuito distantes. Naquele momento, o meu “mundo” nem estava assim tão longínquo, talvez a sete quilómetros. 😛
Volvidos noventa minutos de muita salivação, a etapa estava oficialmente terminada, restando-me desse modo, encontrar um poiso para matar o desejo. Não longe da igreja Matriz, encontrei a Tasca do Careca e durante uma horinha, posso dizer que estive realmente feliz. 😉 Terminado o repasto que me soube pela vida, voltei a passar pela igreja que estava então de portas abertas e aproveitei para visitar o seu fresco e bonito interior.
Às 14.25, estando a catorze quilómetros do Cabo de São Vicente e meu objetivo derradeiro, decidi continuar a caminhar e ver como o corpo iria reagir à distância que faltava percorrer. Os primeiros quatro quilómetros junto à estrada de alcatrão, foram bastante desinteressantes, porém e à medida que me fui aproximando de zonas mais naturais e despovoadas, trilhos mais desertos e comecei a avistar Sagres, o oceano e o farol no horizonte, comecei a animar-me. Estava perto…
Na encruzilhada do circuito histórico e do trilho dos pescadores, optei por acabar junto à costa e fazer o circuito da Praia do Telheiro. Estava a sete quilómetros da Finisterra Lusa. À medida que caminhava, a costa foi-se aproximando, as arribas ganharam dimensão, cor e variedade, e a vegetação tornou-se cada vez mais rasteira. Nas imediações da extraordinária praia do Telheiro, onde se encontra a discordância – transição brusquíssima de idades entre formações rochosas – mais espetacular da Península Ibérica, tive de descer o pequeno barranco das Quebradas por uma escada de madeira. 🙂 Continuando a caminhar, os meus olhos foram-se apaixonando pela paisagem e pela sua enoooooooorme riqueza de cores: os brancos da espuma das ondas e dos calcários; os vermelhos dos arenitos; os cremes, cinzentos, negros e laranjas de outras rochas; os verdes da vegetação; os azuis do céu e do mar… BELO! 😀
A partir do barranco da praia do Telheiro, o trilho começou a ser marcado por mariolas – montes de pedras – e os derradeiros três quilómetros transformaram-se num verdadeiro “jogo” de escondidas. 😛 Nesta altura, caminhar requeria uma atenção redobrada não só pela localização das mariolas, mas também pelo transformação progressiva do trillho num terreno duro e pedregoso. Na última meia hora de caminhada, para além de observar a aproximação do farol com alegria, vi bonitas e altas falésias brancas, mas principalmente… lembrei-me de Fernado Pessoa e da “sua” frase: “Pedras no caminho? Guardo-as todas. Um dia vou construir um castelo.” – posteriormente descobri que a mesma não é da sua autoria, mas sim de um blogger brasileiro Nemo Nox! – e ri-me ao imaginar que naquele local, seria preciso não apenas o mestre, mas sim o mestre na companhia de todos os seus heterónimos, a cavarem e a discutirem durante milhares de anos, para construírem o “senhor” dos castelos! 😀
Já na estrada de alcatrão, sem mais pedras no caminho e com o farol/cabo à minha frente, fui sorrindo à medida que percorri os metros finais que me separavam do meu derradeiro destino. Quando cheguei ao Cabo de São Vicente, estava verdadeiramente feliz e um pouco cansado. O esforço físico tinha realmente compensado. Sorri novamente. O objetivo tinha sido alcançado. Tinha acabado de chegar ao antigo FIM do MUNDO… 😀
Rota SW
Ato VI – A Família e o “Dia Santo”
Quatro da manhã. “Lá ao longe”, começo a sentir algo húmido a bater-me levemente na cara. Lentamente, volto à realidade e começo a ouvir um barulho intenso. Estava a chover torrencialmente! O vento fortíssimo que anteriormente se fizera sentir, tinha de um modo improvável, acabado de salvar-me do encharcamento total. 🙂 Rapidamente, coloquei a manta de sobrevivência em cima da mochila como proteção e deixei-me ficar, afinal o meu poiso estava protegido. Entre as 4.00 e as 7.30 dormi de forma intermitente, até finalmente me decidir sair do casulo quentinho. O dia estava cinzento, chuvoso e muito ventoso, e depois de ir recolher a roupa ensopada e a tela de nylon molhada comecei a empacotar tudo.
Nessa altura, voltou a passar por mim um senhor alto com ar simpático, que na noite anterior já tinha metido conversa comigo porque achara curioso o facto de eu ir dormir ao relento, e que me convidou a tomar um chá na sua caravana antes de partir. Já com tudo arrumado, de mochila às costas e com um saco na mão, onde tinha os poucos mantimentos que me restavam – tâmaras, nozes, mel e pão… – dirigi-me à sua moradia. Na zona do toldo, Freddy apresentou-me a sua esposa, Anette e uma das suas filhas, Merriake e depois de me perguntarem o que queria beber, ficámos a conversar durante algum tempo. Quando olhei para o telemóvel, fiquei admirado porque já tinham passado um par de horas e a conversa não dava sinais de abrandamento. Nessa altura, como não me apetecia partir, perguntei-lhes se tinham planos e como estes eram inexistentes, resolvi prolongar um pouco a estadia no parque de campismo do Serrão. Foi assim, que após quatro dias de caminhada intensa, tive um dia santo de descanso. 🙂
Com essa resolução tomada, aproveitei o forte vento que se fazia sentir para colocar a roupa, a tela de nylon e a manta de sobrevivência a secar, e continuámos a conversar até às 15.00. Nesse tempo, fiquei a saber que: eram alemães; tinham três filhos; desde que começaram a criar a família – vinte e tal anos -, estavam a ter pela primeira vez, um período de descanso mais prolongado, estando na ponta final de oito meses de “sabática”; Freddy era pastor da igreja Prostestante e Anette assistente social; no regresso à Alemanha iriam mudar-se de Frankfurt para Berlim… e abordámos inúmeros temas: sociedade, deus/religião/espiritualismo, viagens, história, trabalho/emprego, ser humano…
Depois de tantas horas de conversa contínua e construtiva, e de um almoço saboroso que até teve direito a oração, enquanto eles ficaram a dormir a sesta, aproveitei para ir a Aljezur renovar o stock de mantimentos. Com os pés cobertos de compeed, visitei a zona antiga da vila, principalmente o bonito castelo, donde avistei toda a branca povoação, os campos férteis, as várzeas e os montes em redor. Do topo, segui até ao Intermarché onde me voltei a abastecer e terminadas as compras, regressei ao parque de campismo, desta feita por uma estrada de alcatrão serpenteante, sempre em sentido ascendente. Quando estava quase, quase a chegar, o suave sol que iluminou aquele fim de tarde, estava claramente em rota descendente.
Já de regresso à “mansão”, Anette informou-me que um avião da Germanwings que ligava Barcelona e Düsseldorf se tinha despenhado nos Alpes, sendo altamente improvável que existissem sobreviventes. Mais um desastre aéreo – este viria a saber mais tarde, “poderia” ter sido evitado! Passado uma hora e pouco, Freddy e Merriake reapareceram, sendo o jantar servido pouco depois. Apesar da fatídica notícia, à refeição e ao serão ninguém referiu o assunto, e continuámos a nossa animadíssima conversa, que foi sendo regada com vinho tinto e quase no final, um calicezinho de brandy. 😉 À saída da caravana, Freddy convidou-me para beber um café na manhã seguinte antes de nos despedirmos. Bastante mole e indolente, regressei à zona dos balneários onde voltei a dormir, desta feita com o corpo mais repousado, com a alma mais cheia e o sono mais profundo. 😛
















































