Quando cheguei a Wuchang já passava da meia noite e meia e o senhor que conheci no comboio, levou-me até à estação autocarros e disse-me para aguardar ali. Estava frio, bastante frio e à minha volta havia muito “ruído de fundo” com chineses a tentar forçar “negócios” de transportes. Nesse local e enquanto esperava conheci outro chinês (Zhang Shu) que estava em camisa porque ofereceu o casaco à namorada e imediatamente abri a minha mala e ofereci-lhe um casaco. Ele ofereceu-me um cigarro! 🙂 E ficámos a conversar enquanto esperávamos pelo autocarro. Como estava muito frio, ele convenceu-me a apanhar um “táxi-carrinha” com eles para a estação de comboios de Hankou e durante aquela viagem noturna, cidade dentro falou-me dos seus problemas e da pressão exercida à sua volta: sociedade, família e tradição, o que esperam dele e eu tentei animá-lo. Na despedida ele pagou-me o táxi e eu senti mais uma vez a bondade dos desconhecidos a aquecer-me o coração e a alma. 😀
Etiqueta: China Contemporânea
Durante a tarde e depois de contar ao Juan a minha “teoria” acerca dos Hans e do seu “gosto” particular pelas etnias minoritárias, fomos a um atelier de pintura, que utiliza cera na composição dos trabalhos e ficámos estupefactos com a qualidade e beleza do que vimos. 😀 Continuámos a passear juntos e enquanto o fazíamos conversámos, conversámos… conversámos. Era notório o nosso entendimento! 🙂
Fomos deambulando sem objetivos e depois de vermos as “famosas” danças e coreografias de final de dia, demos conta que já era de noite e fomos jantar. Depois do mesmo, fomos beber umas cervejas e fumar para a porta do hostel enquanto esperávamos por “Linda” e pelo seu final de turno e quando ela se voltou a juntar a nós, demos um pequeno passeio. Depois de ela se despedir, fomos comprar mais cervejas e continuámos a conversar, a conversar… e nesse altura tentei ajudar o Juan a organizar o seu trajeto na China – uma vez que ele apenas dispunha de um mês de visto – trocámos os contactos e deitámo-nos já depois das 2.00 e de todo este cardápio. Gracias Juan, pela conversa! Gracias mi amigo! Viva México! 😀
Esta foi a primeira vez, que fiz uma viagem noturna sem ser num vagão-cama e quando me dirigi à carruagem, esta estava atulhada de pessoas e bagagens. As pessoas tinham as feições marcadas e vincadas, o que não me deixou dúvidas quanto à sua origem pobre e humilde e a maioria das bagagens não passavam de sacas gigantes. A viagem não foi serena, porque acordei muitas vezes ao longo da noite, inquieto com o facto de ter de sair na estação correta.O problema é que desta vez não tinha o revisor para me indicar se estava na mesma, ou não. A chegada a Zhangjiajie, ocorreu dez minutos antes da hora prevista – às 5.55 já estava de saída do comboio – e na chegada vi picos na bruma, belo! 🙂 Depois de deixar a estação, apanhei um autocarro para o centro da cidade e imediações de um hostel…
Quando cheguei à cidade dirigi-me imediatamente ao hostel que tinha marcado e diga-se em abono da verdade que só o consegui fazer, porque tinha a morada escrita em caracteres chineses, senão tinha sido impossível, pois as indicações que estão disponíveis no hostelworld, não estão nada claras!
Ao chegar, pedi algumas informações sobre a cidade e alguns papéis escritos em chinês para apontar caso necessitasse, uma vez que não tinha nenhum mapa. E meu primeiro passo foi ir até Chiao Tien Men – porto dos barcos recreativos – comprar o bilhete para partir para o rio Yangtze nessa mesma noite, uma vez que só existia um barco por dia e apesar de ter o hostel marcado não me apetecia passar dois dias inteiros na cidade. Quando comprei o bilhete fiquei a saber que a viagem duraria quarenta horas e apenas chegaria ao destino por volta das 14.00 de Domingo – a viagem estava programada começar na sexta feira, às 22.00!
Com a minha vida organizada pelo menos durante os próximos dias comecei a deambular pela cidade e fui andando ao longo do rio naquele dia cinzento e encoberto. A primeira atração turística que vi foi o HangYadong, que é um conjunto de antigos edifícios e grutas, mas que achei desapontante. Daí segui em direção ao centro da cidade e no caminho encontrei um Carrefour onde aproveitei para comprar mantimentos para a longa viagem que se avizinhava. 😉 Depois do “shopping” encontrei o templo de Arhat e aí foi super interessante ver o contraste entre o mesmo e as torres que o rodeiam, sentindo que estava a ver a dialéctica da cidade na sua forma mais física e material. Já no seu interior e à semelhança de Leshan vi as estátuas das centenas de discípulos de Buda; observei com atenção um monge que estava a abençoar as pessoas; e vi algo que me deixou entusiasmado e que nunca tinha visto anteriormente, um templo parcialmente demolido, andando durante alguns momentos a fotografar os seus escombros. 🙂 Quando sai do templo dirigi-me a Jifongbei e aí encontrei o coração palpitante da cidade moderna e pude observar o lado mais cosmopolita, luxuoso e capitalista de Chongqing: lojas, hóteis e centros comerciais de luxo, um movimento incessante e uma profusão de arranha-céus.
Quando regressei ao hostel (13.05) falei com o staff e disse-lhes que não iria passar a noite no mesmo, uma vez que tinha viagem marcada para essa noite, mas que entendia se me quisessem cobrar a noite. Para minha surpresa, disseram que não havia problema nenhum e inclusivamente disseram que podia utilizar o hall, a internet do hostel e que a mala podia continuar guardada! Impecavéis. 😉
Quando estava sentado numa das ruas mais turísticas de Dali, observei dois sujeitos mascarados, o Greedy Piggy and Monkey a enriquecerem, uma vez que estes cobram por cada fotografia que as pessoas tiram com/a eles cerca de 2.50€! E em menos de dez minutos devo ter visto pelo menos quinze pessoas a fazê-lo!
P.S. – Tenho a “ligeira” impressão que se o macaco e porco emigrassem para Portugal ou outros países da Europa, iriam definhar com fome ! 😉
No terceiro e último dia na cidade resolvi ir até à Universidade de Dali pois recebi a informação que daí a vista sobre a cidade era bonita. Quando estava a caminho da mesma, percorri uma grande grande avenida – ou não estivesse eu na China – e ao longo da mesma apenas vi vivendas já construídas, blocos e blocos de vivendas. Mas não se pense que eram cá pechisbeque! Não senhor! Alto gabarito! O “pequeno” detalhe é que esta, era uma urbanização fantasma – diria que 99% das casas estavam desocupadas.
Em toda a China desde que cheguei, vejo construção, construção, construção. As minhas perguntas são: Mas para quê? Para quem? Desde do primeiro momento, vejo famílias por vezes numerosas a viver juntas sob o mesmo teto mas será que existe a ilusão que os chineses vão ser todos ricos!? Fica a questão…
Tigres e Escoceses
Ato VI – O Grande Embuste!
Quando chegámos à Tina´s Guesthouse, bebemos finalmente a nossa cerveja sossegados e ficámos a conversar sobre o ocorrido. Durante a conversa, chegámos à conclusão que parte da informação recebida em Lijiang e antes de começarmos o trilho era em parte faliciosa e que a beleza natural do local não merecia um esquema destes! Na despedida, trocámos e-mails e um abraço sentido e eu fiquei com uma certa pena das nossas rotas não coincidirem. Haveria de ter sido engraçado, viajar com este Escocês! 😀 Já no autocarro, a caminho de Lijiang vi o rio e a garganta mais de perto e com outra atenção e só então percebi, que o clímax do Tiger Liping Gorge se encontra no Upper Gorge. Aí, SIM! O rio mostra toda a sua força, presença, raça e carácter! E fiquei a matutar na seguinte questão: quem chega ao Tiger Lipping Gorge transportado por um autocarro da Tina´s Guesthouse é automaticamente levado a fazer o trekking e a seguir montanha acima em direção ao Middle Gorge e ao embuste!
Relativamente ao trekking não tenho nada a opôr, o mesmo é excelente e oferece-nos uma palete de paisagens vasta, rica e distinta. Porém e remetendo-me apenas à informação, ou melhor desinformação providenciada pelos hostels/guesthouses/hotéis de Lijiang, impedir as pessoas de ver o verdadeiro Gorge, o Upper Gorge, só me faz sentir irritado e enganado, pois está-se a deturpar a realidade do local apenas com o objetivo de ganhar dinheiro e enriquecer à conta de um embuste. 😦 Por este motivo, se de algum modo, puder alertar todos os outros turistas/backpackers/viajantes para esta situação ou situações semelhantes noutros locais do planeta, será isso que farei! Afinal vivemos em comunidade e sociedade e se todos juntos podermos “quebrar” os “maus” sistemas que nos rodeiam diariamente, tanto melhor! 😉
Tigres e Escoceses
Ato V – O Tigre “Embusta” a Presa
“Reza a lenda” que houve uma família que construiu o caminho até ao rio e pelos vistos agora, essa família é dona dessa terra! Isto dentro da reserva natural!? Estranho!? Naaaaaaaaaaa… 😛 os factos começaram a cheirar a marosca fedorenta. Para aumentar a “piada” desta história, inicialmente na zona da “portagem” cobraram-nos 15Y por pessoa e depois de uma recusa, no minuto seguinte o valor já era 10Y por cabeça… por uma questão de PRÍNCIPIO resolvemos não pagar um centavo e logicamente a entrada foi-nos barrada.
Porém, os chineses desconheciam a resilência da Tag Team: TUGA-SCOTCH e com base nesta permissa partimos em busca de um caminho alternativo, e a verdade é que em menos de um minuto já estávamos num trilho marcado em rota descendente. Cinco minutos volvidos encontrámos mais um ponto de controlo – nesse momento tivemos a certeza que íamos bem encaminhados – e apesar dos avisos sonoros, ou seriam grunhidos!? 😛 Seguimos em frente. Passados poucos minutos encontrámos uma zona de descanso com chineses lá sentados e tentámos perguntar-lhes se estávamos perto, mas não nos responderam e quando seguimos, começaram a acenar e a dizer: “Danger! Danger!” Quando estávamos quase, quase a concretizar o nosso objectivo, esbarrámos num obstáculo que se veio a revelar intransponível, uma escada completamente abrupta e vertical com cerca de quinze metros de altura. Tínhamos a noção que bastava um movimento em falso para nos estatelarmos lá embaixo. Carregados com mochilas e com um estado de espírito pouco sereno resolvemos não arriscar, afinal daquele ponto avistávamos o rio e diga-se em abono da verdade que este, estava muito longe do rugir de um verdadeiro tigre, assemelhando-se mais a pequeno gatinho. 😛
Para “lixar” a cabeça dos chineses mafiosos resolvemos esperar quinze-vinte minutos antes de voltarmos a aparecer – o nosso objetivo era faze-los pensar que tínhamos chegado ao rio – e quando finalmente esse tempo passou, voltámos para trás apenas com um objetivo em mente, beber uma cerveja fresca sossegados na Tina´s Guesthouse. Claro que no caminho de regresso tivemos de voltar a passar pelo checkpoint e os chineses que inicialmente nos acenaram que não, que não podíamos seguir em frente, agora pediam-nos dinheiro! A falar em espanhol segui em frente e quando um chinês berrou mais alto: “MONEY!”, virei-me para ele com cara de poucos amigos e fiz-lhe um manguito de dedo em riste. Quase no topo do trilho esperei pelo Andy que tinha ficado uns metros para trás e quando voltámos a falar, relatou-me que o chinês tinha ficado completamente possuído! A parte final do trajeto foi feito pela estrada de alcatrão e antes da despedida definitiva do Tiger Liping Gorge aproveitámos para tirar fotografias à paisagem e à casa “portagem” dos mafiosos.
Tigres e Escoceses
Ato IV – O Baloiço e a Portagem
De manhã cedo, ao subir ao terraço da nossa guesthouse tive o privilégio de apanhar um pouco de sol na face, de observar os raios de sol a passar por entre os picos das montanhas e na encosta oposta vi o céu azul e a montanha coberta de verdes árvores. Antes de partirmos definitivamente para o nosso trekking e com muita felicidade, fui transportado de volta à infância por um baloiço e neste fiquei suspenso no tempo e no espaço enquanto o sol me acariciava a face e eu me mantive de olhos semi cerrados. 😀
Assim que recomeçámos a andar o trilho continuou a maravilhar-nos com todas as suas diferentes facetas: o sol, o céu azul, as árvores – principalmente pinheiros – os terrenos secos e pedregosos e o seu carácter mais selvagem e indomável tais como as suas faces abruptas e escarpadas, a passagem através de uma cascata e do alto, ver o rio verde claro a correr entre vales e ouvir o seu rugir a intensificar-se. 🙂
Quando chegámos à Tina´s Guesthouse, estávamos mesmo na antecâmara do Middle Gorge e como tínhamos muito tempo antes de apanharmos os respectivos autocarros – o meu de regresso a Lijiang e o Andy para Shangri-La – aproveitámos para comer qualquer coisa antes de descermos para ver o tão afamado Salto do Tigre. Porém na descida para a garganta do rio começaram os nossos problemas… pois no trilho que lhe dava acesso havia uma casa que bloqueava o mesmo e que funcionava como portagem para peões…
Última Noite em Xichang
Depois de voltarmos de Qiong Hai, onde deixamos o hostel Dengba que foi como uma segunda casa, regressámos a Xichang com o objetivo de partir para Lú gū hú no dia seguinte. Porém antes da partida eu e o Xiaoling ainda tivemos de dormir e… o que nos saiu em rifa foi uma espelunquinha, mas muito baratinha (19Y por pessoa, aproximadamente 2.50€) . Ora observem…
P.S. – Até agora este hotel foi caso único, em toda a viagem. Espera-se que permaneça assim. 😛






















