O meu primeiro comboio noturno foi uma autêntica sala de aulas em diversos aspetos. Primeiro que tudo aprendi a ler um bilhete de comboio na China. Seguidamente, e de muito mais importância, foi a autêntica aula prática em que participei ao falar com um rapaz chinês, na qual comecei a tentar perceber melhor o país em que me irei mover:
– Lições sobre Economia real (salário bruto 4000Y – salário líquido 3300Y; Valores mensais para o aluguer de casas, algures entre 1500-2000Y);
– Lições sobre Sociedade e Trabalho (“Existem leis criadas pelo governo relativamente ao descanso dos trabalhadores – dois dias por semana, mas as empresas não cumprem a lei e o governo não quer saber”; “Se num mês descansar dois ou três dias já é uma sorte“; “No primeiro ano, ninguém ousa falar de férias ao patrão”; “O mercado Chinês é extremamente competitivo! Não queres? Salta! Há quem queira”);
– Lições sobre China clássica e Medicina (Os 5 elementos: Ouro – Água – Madeira –Fogo – Solo relacionam-se com a medicina tradicional chinesa que é uma Medicina de prevenção).
Para além disso experienciei (refira-se que com bastante prazer), escrever à luz do PC. A ilusão “absoluta” do movimento relativo (o meu comboio estava parado e ao ver o outro comboio a mover-se, tive a sensação que me estava a mover) lembrou-me uma citação de Theroux sobre de como os movimentos dos comboios ajudaram a criar o Jazz e, adormeci embalado pelo Tum, Tum…Tum, Tum.
No dia seguinte bem cedo percebi o seguinte: os comboios noturnos têm um método para os passageiros saírem nas estações certas (acho que tal facto ocorre para evitar borlas e não por “samaritanismo”), que consiste em fazer as pessoas entregar o bilhete no início da viagem (ficamos com um cartão magnético) e na devolução do mesmo por um funcionário quando estamos a passar na estação de destino. Para um leigo, como eu que não percebe nada de chinês isto é espectacular! 😉