Na metrópole de Chongqing – pode encontrar mais aqui – apanhei um barco para navegar no grande Yangtze. Porém, antes de embarcar aproveitei o cinzento dia para deambular pelas suas ruas, avenidas e templos.
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Ato III – Domingo, Etapa final
No último dia da viagem, acordei novamente bastante cedo e como às 6.20 já estava levantado, fui até à proa do barco a tempo de ver o Xiling Gorge e a espectacular paisagem natural, em que o rio vai correndo entre “montanhas” mais elevadas. Nessa altura o sol matinal modificou as cores do rio e dos prateados passou-se aos dourados. Quando a luz começou a intensificar-se, desloquei-me até à popa do barco e vi a luz doirada sobre a margem sul do rio, pequenos portos naturais de rocha branca, a água verde e florestas “douradas”. 😀
A manhã e tarde arrastaram-se e durante esse período, comi, arrumei a mala, tomei banho, tirei fotografias, observei a paisagem que se foi tornando mais banal, falei com os companheiros de camarata, dormitei um pouco e estive suspenso à espera do desembarque, que só aconteceu por volta das 15.00.
A viagem de barco pelo Yangtze terminou em Gezhou e daí para Yichang distam apenas trinta e oito quilómetros que foram percorridos de autocarro. No início a estrada estava em obras mas depois apanhámos uma autoestrada impecável e pelo caminho observei uma paisagem muito verde, coberta de árvores e pequenos pináculos de rocha, lembrando-me de WulingYuan – um dos próximos destinos – e reparei que o filme a Máscara – esse “clássico” – estava a passar nos ecrãs do autocarro. 😛
Ato II – Sábado? Loooongooooo dia…
O dia começou com a minha tentativa de ver nascer do sol, porém tal tentativa revelou-se infrutífera pois a neblina era de tal modo espessa que não se via uma réstia de sol. Aproveitei então para tomar o pequeno almoço e na exploração que fiz do barco percebi que havia quartos de seis pessoas – que eram mais baratos, mas que possivelmente quando comprei o meu bilhete já teriam esgotado – um refeitório/sala de refeições e uma zona para lavar a roupa.
Durante o dia aproveitei para fazer uma higiene pessoal mais profunda e aproveitei para lavar o softshell que por esta altura já estava um bocado encardido. Organizei as fotografias tiradas em Kunming e Chongqing, atualizei o excel, escrevi no caderno e almocei. Ao longo do dia e recorrentemente fui olhando para a paisagem do Yangtze e tirando notas: a manhã esteve coberta de nevoeiro, que depois foi progressivamente levantando e a partir das 14.00 o sol despontou. Percorridos duzentos e trinta e nove quilómetros, as encostas dos montes à nossa volta parecem acentuadas e o largo rio dá a sensação de “open space”. 🙂 Há sempre uma neblina embrenhada no ar. Passei uma barreira e do topo vi a proa do barco (16.40). Sentei-me de pernas cruzadas, acompanhado de chá na minha garrafa XPTO – encontrada no viagem entre Kunming e Chongqing – da máquina fotográfica e do computador finalmente operacional. Vista desafogada. Caderno a ser atualizado em tempo real. Lembrar-me volta e meia da M. Estar deitado no convés quente e com o sol a bater-me na face – tempo muito agradável e soalheiro. Vi o pôr do sol e voltei ao quarto, onde jantei cedo.
Durante e depois de jantar estive a conversar com os meus companheiros de camarata, fiquei a saber que todos andavam a viajar pelo seu país e fiquei encantado por ver pessoas tão ativas com aquela idade. 🙂 Quando passámos pela cidade de Yun Yuan vi a iluminação louca dos seus arranha-céus – prédios que mudavam de padrões luminosos – da sua ponte e ao mesmo tempo dos múltiplos raios que rasgavam os céus e fiquei tal como em Chongqing com a forte sensação de estar a ver uma típica cidade asiática.
Ato I – Sexta Feira? Partida!
A minha viagem de seiscentos e quarenta quilómetros pelo Yangtze começou em Chongqing cerca das 22.00, depois do “fabuloso embarque” e quando vi a embarcação, percebi que a mesma era muito mais pequena do que eu inicialmente imaginara. A boa surpresa veio quando cheguei ao quarto e vi que este tinha quatro camas e uma casa de banho ensuite. Excelente! 🙂 Uma vez que por esta altura, já fazia contas ao dias que iria estar sem tomar banho, contando que já vinha de Kunming e de uma viagem muito longa! Desse modo, aproveitei para tomar banho e para tirar fotografias antes da partida e no início da mesma. Quando voltei ao quarto conheci os meus companheiros de camarata, dois senhores e uma senhora todos já com idades na casa dos cinquenta e muitos e infelizmente quando me deitei para dormir, os roncos já faziam estremecer o beliche. 😛
Embarque Infernal
Depois da experiência infernal de Ciqikou, pensava que nenhuma experiência podia ser pior, porém… a vida por vezes prega-nos partidas e quando cheguei ao local de embarque o barulho era imenso, terrível, ensurdecedor… Dezenas de pessoas falavam ao mesmo tempo e eu só pensava: “Mas porque é que estas pessoas têm de falar tão alto, umas com as outras?!”.
Felizmente, para minha felicidade e regozijo, houve um chinês da companhia de transportes que com um megafone na mão mandou dois ou três berros para a multidão em geral – foi a primeira vez que vi tal acontecer! – e de repente todos se calaram! Um silêncio cristalino invadiu a sala de espera e apesar de achar que ele foi extremamente rude com as pessoas, só posso dizer: “Muito obrigado! Salvaste-me da insanidade!” 😀
Depois de falar com o rececionista do hostel, ele aconselhou-me a visitar a cidade antiga de Ciqikou durante a tarde e como não tinha nenhuns planos, segui o seu conselho e embarquei no moderno, limpo e eficiente metro da cidade. 🙂 Quarenta minutos volvidos, cheguei ao destino e inicialmente não estava a perceber o interesse do local, uma vez que apenas via casas pintadas de branco e castanho com alguns detalhes em madeira. Só passados dez/quinze minutos percebi que tinha falhado a entrada do local. Upsss! 😛 Quando finalmente entrei, desejei ardentemente não o ter feito, pelo menos durante os primeiros três quartos de hora, tal a quantidade de pessoas e lojinhas turísticas. Desembocara no “Inferno” e só desejava sair de lá! Comecei a andar à procura de uma saída e passado esse período inicial, desemboquei então num local que se assemelhava a uma feira (bancas de comida e divertimentos semi-decadentes) à beira-rio. E daí pude observar a cidade pernaltuda de Chongqing na outra margem, um mega viaduto e o pardacento rio.
Porém, não desisti totalmente de Ciqikou, dei-lhe mais uma oportunidade e procurei uma entrada alternativa. E aí, esta cidade antiga passou pelo purgatório, redimiu-se das suas falhas e expiou os seus pecados. 😉 Fui trilhando algumas ruas tranquilas e cheias de charme – china clássica – e encontrei o templo de Po Lun que foi um deleite de visita, principalmente a sua Torre do relógio de onde tive uma vista panorâmica sobre o templo mas também sobre a cidade de Chongqing. Infelizmente, não pude acabar a visita sem entrar uma vez mais no Inferno, mas desta feita com um estado de espírito mais Zen e “iluminado”, cortei Ciqikou qual uma faca afiada e saí incólume no outro lado da vila. 🙂
Quando cheguei à cidade dirigi-me imediatamente ao hostel que tinha marcado e diga-se em abono da verdade que só o consegui fazer, porque tinha a morada escrita em caracteres chineses, senão tinha sido impossível, pois as indicações que estão disponíveis no hostelworld, não estão nada claras!
Ao chegar, pedi algumas informações sobre a cidade e alguns papéis escritos em chinês para apontar caso necessitasse, uma vez que não tinha nenhum mapa. E meu primeiro passo foi ir até Chiao Tien Men – porto dos barcos recreativos – comprar o bilhete para partir para o rio Yangtze nessa mesma noite, uma vez que só existia um barco por dia e apesar de ter o hostel marcado não me apetecia passar dois dias inteiros na cidade. Quando comprei o bilhete fiquei a saber que a viagem duraria quarenta horas e apenas chegaria ao destino por volta das 14.00 de Domingo – a viagem estava programada começar na sexta feira, às 22.00!
Com a minha vida organizada pelo menos durante os próximos dias comecei a deambular pela cidade e fui andando ao longo do rio naquele dia cinzento e encoberto. A primeira atração turística que vi foi o HangYadong, que é um conjunto de antigos edifícios e grutas, mas que achei desapontante. Daí segui em direção ao centro da cidade e no caminho encontrei um Carrefour onde aproveitei para comprar mantimentos para a longa viagem que se avizinhava. 😉 Depois do “shopping” encontrei o templo de Arhat e aí foi super interessante ver o contraste entre o mesmo e as torres que o rodeiam, sentindo que estava a ver a dialéctica da cidade na sua forma mais física e material. Já no seu interior e à semelhança de Leshan vi as estátuas das centenas de discípulos de Buda; observei com atenção um monge que estava a abençoar as pessoas; e vi algo que me deixou entusiasmado e que nunca tinha visto anteriormente, um templo parcialmente demolido, andando durante alguns momentos a fotografar os seus escombros. 🙂 Quando sai do templo dirigi-me a Jifongbei e aí encontrei o coração palpitante da cidade moderna e pude observar o lado mais cosmopolita, luxuoso e capitalista de Chongqing: lojas, hóteis e centros comerciais de luxo, um movimento incessante e uma profusão de arranha-céus.
Quando regressei ao hostel (13.05) falei com o staff e disse-lhes que não iria passar a noite no mesmo, uma vez que tinha viagem marcada para essa noite, mas que entendia se me quisessem cobrar a noite. Para minha surpresa, disseram que não havia problema nenhum e inclusivamente disseram que podia utilizar o hall, a internet do hostel e que a mala podia continuar guardada! Impecavéis. 😉
Parti de Kunming ao meio dia e durante a longa viagem que durou quase vinte horas aproveitei para escrever – numa posição de lorde – sobre os meus dias na cidade e escrevi notas soltas em tempo real: tempo cinzento e pardacento; terras castanhas e secas; paisagem entre cortinas translúcidas; velho metediço, a quem tive vontade de dar um chega para lá; túneis; vilas e cidades como tantas outras; vendedores de comida e de “tretas”; alguns vales profundos; ler; paisagem mais verde (16.30); ver a frente do comboio devido a uma longa curva; montanhas e verdes (18.15); pôr a bateria da máquina fotográfica a carregar; agora que já tenho novamente computador, organizar um ficheiro de excel com todos os gastos desde o início (exercício de memória); tentar escrever algo para postar no blog – mas estar cheio de sono. Noite interminável (longa… loooooonga… looooooooooooooooonga).