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Huangshan, Montanha Amarela

Ato IV – Corpo Aqui, Mente Distante

Devo referir que durante a travessia em Huangshan houve períodos que estava com a cabeça completamente noutro lado, ou seja, estava a pensar seriamente na proposta do dia anterior da M. – feita meio séria, meia a brincar – e a pesar os prós e os contras de tal decisão. A verdade é que encontrei muitos pontos a favor e poucos contra, sendo o mais forte destes a questão puramente monetária. Durante esse processo de pensar ir a Portugal não me senti oprimido e receoso, não! Senti-me feliz com essa possibilidade… os dados estavam lançados! E tomei a minha decisão! 😀

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Huangshan, Montanha Amarela

Ato II – Os Heróis da Montanha

Neste período o que mais me desiludiu foi ver o caminho para o Celestial Peak (1810 m) encerrado e o que mais me surpreendeu ao longo do dia foi ver a capacidade do ser humano para ser uma besta de carga, montanha acima, montanha abaixo. Vi homens a carregarem cerca de cinquenta quilogramas aos ombros e fiquei com a certeza que estes homens são uns heróis! E se existem momentos – particularmente nas ascensões – em que me sinto cansado, basta ver um destes homens para pensar que estou a ser piegas!

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Crónicas Fotografia Reflexões

Hello, Monsieur President!

No último dia na cidade visitámos a casa do primeiro Presidente chinês Zhou Enlai e vi o respeito que a Shue nutre pelo mesmo. Para além disso falámos abertamente sobre Mao e percebi finalmente que a sua glorificação começa na escola com a educação e que apenas se as pessoas procurarem informação extra talvez consigam ver mais longe que os demais, a Shue é uma dessas pessoas! 😀 E a sua visão de Mao não está deturpada por informação suavizada – a propósito ela também gosta de Diao Xiao Ping. 😉

IMG_1071 (FILEminimizer)Para além disso, visitámos o principal jardim da cidade, associado a uma história de Amor! Ai tão bonitoooooooo! 😛 E nas imediações da casa de Lu Xun comemos uma gelatina com sabor a mentol – fresca e desenjoativa – e na despedida da cidade, brindámos e bebemos uma taça do famoso vinho de Shaoxing. Ao fazê-lo, pude observar uma vez mais que tudo na vida é relativo, pois o vinho que para mim tinha um sabor delicado e leve, para a Shue que nunca tinha bebido vinho, um sabor forte. 🙂

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Crónicas Fotografia Reflexões

Skyline

Quando me estava a aproximar do rio e vindo da Avenida de Nanjing  onde fui interpelado pelo menos umas cinco vezes por prostitutas e pimp´s a oferecerem “massagens” ou coisa que o valha 😛 – senti que estava a ficar cada vez mais satisfeito e quando desemboquei na Zhongshan Road e vi o skyline de Xangai estva verdadeiramente feliz! 😀

IMG_0636 (FILEminimizer)Antes de começar a deambular no passadiço e ainda com os olhos no horizonte, vi uma estátua imponente de alguém que me parecia o Mao e instantaneamente pensei: ”F@£$-&%, até aqui?! Mas o que é que esta múmia tem a ver com a cidade, ou qual o seu mérito na construção desta China capitalista e vibrante?”. Uns metros mais à frente e depois de ler a placa comemorativa da mesma fiquei muito mais “aliviado”, pois a estátua nada tinha a ver com Mao, era sim de Chen Yi, o primeiro presidente da cidade, após o advento comunista de 1949.

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No passadiço, fui andando e tirando fotografias desde o entardecer até ser finalmente noite e os edifícios brilharem, literalmente e mostrarem todo o seu esplendor. 🙂 Durante grande parte do tempo fui observando o skyline, mas a partir de certa altura comecei a dirigir a minha atenção para as pessoas que por lá circulavam e ao observá-las, constatei que 99% das mesmas estavam acompanhadas. Não sei se por esse facto, se por esperar que o Juan me dissesse algo e ele não ter dito, se por uma combinação de ambas ou até nenhuma das anteriores, a verdade é que nesse momento me senti sozinho. Sozinho, não no sentido miserável, apenas e só… sozinho. Sem ninguém ao meu lado com quem pudesse partilhar. Tinha que me bastar a mim mesmo e foi isso que fiz… até chegar ao hostel e reencontrar Roberto com que fiquei a conversar sobre empregos e desempregos, países, locais para trabalhar ou viver, sobre nós, sobre a crise… sobre os pequenos tudos e nadas que fazem as nossas vidas. 🙂

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Crónicas Fotografia Reflexões

Incompreensões

Na zona da cidade que abrange a concessão francesa e apesar de lá ter visto algumas casas elegantes, fiquei a pensar qual o encanto especial da área ou no porquê de tanta fama, uma vez que para mim não passou de mais um local, que aposto se revelará facilmente “esquecível”.

IMG_0579 (FILEminimizer)O que de facto me saltou mais à vista, foi observar os ocidentais – principalmente, mas não só – nalgumas esplanadas da zona e ficar com a certeza que nunca ou muito dificilmente vou compreender estas pessoas que esbanjam o dinheiro a comprar cafés, cervejas e pizzas ao preço dos seus países de origem, como se o preço não tivesse que “obrigatoriamente” que descer porque estão na China. :/

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No final a sensação que me dá, é que estas pessoas buscam nos outros países o que já têm nos seus países, ou sejam buscam a standarderização, a globalização e os luxos/confortos que os fazem sentir em casa. Não percebendo que para haver evolução é preciso existir dialética e esta só existe se houver antagonismo e diferenciação espacial – cultural – temporal.

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Crónicas Fotografia O 1º Dia Reflexões

Nanquim e o Massacre

O dia ainda estava a meio, mas já tinha havido muitas emoções. Porém eu queria mais e achei que a minha viagem em Nanquim devia começar pelo Museu do Massacre, que é o local que homenageia os 300.000 mortos da cidade durante o período que antecedeu a segunda Guerra Mundial. Em 1937 o Japão invadiu a China e tomou de assalto grande parte do vasto território chinês e durante um “curto” período de seis semanas – 13 de Dezembro de 1937 a final de Janeiro de 1938 – a cidade foi reduzida a escombros e a população vítima da brutalidade de grande parte do exército japonês: violações – individuais e em grupo – fuzilamentos indiscriminados, abusos sobre a população, decapitações… enfim o lado negro do ser humano em todo o seu ”esplendor”. 😦

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A experiência começou na porta de entrada com a observação de uma gigante “massa” chinesa à espera de entrar, mas felizmente depois de uns minutos a situação foi desbloqueada. Assim que entrei no recinto vi que o complexo está dividido em duas zonas: exterior – Parque e Memorial e interior – Museu e Arquivo.

IMG_8419 (FILEminimizer)Porque via o relógio a andar depressa e a hora de encerramento a aproximar-se fui primeiro à zona interior e logo de início tomei a resolução de não tirar fotografias, não sentia aquele lugar como turístico, apesar da quantidade de pessoas que por lá circulavam. Antes como um grande memorial da tragédia e um local para preservação da memória histórica e colectiva de uma cidade, de uma nação, da humanidade.

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Na primeira sala, a entrada tinha o molde de uma mão e coloquei a minha mão lá, não sei se para sentir o metal se o peso da história. A sala ampla estava pouco iluminada. No teto o fatídico número 300.000 brilhava, no chão um ponto luminoso por cada vítima. Nas paredes o nome das vítimas gravado em relevo. Não aguentei, fiquei comovido e soltei duas lágrimas furtivas. A visita continuou e sala após sala vou observando o museu e as pessoas que lá circulavam e encontro de tudo: semblantes carregados, graves e sérios, sorridentes (?), atentos e comovidos até às lágrimas – mulheres. O museu vai pintando os negros acontecimentos e eu sigo por aquele espaço, tornando-me menos ignorante. Um dos momentos mais surpreendentes surge quando vi uma suástica nazi pintada das cores da cruz vermelha e ao lado deste, outros dois momentos me ficam particularmente na memória, o da grande parede dos arquivos e a zona dos 12 segundos: 300.000 mortos em seis semanas. A cada 12 segundos o som de uma gota a cair e o retrato de uma das vítimas a iluminar-se – durante essas fatídicas seis semanas, uma vida desapareceu a cada doze segundos na cidade de Nanquim!

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Na zona exterior circulei pelo parque e pelos memoriais, e o momento mais marcante ocorreu quando vi as ossadas humanas encontradas numa escavação arqueológica. A diferença aqui foi saber que não morreram há milhares ou centenas de anos, foram mortas durante o século XX e enterradas em valas comuns. Tão distante e tão próximo…

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Crónicas Em trânsito Reflexões

Em trânsito: Fenghuang – Wuchang. Estupada!

Desde o momento que comecei a preparar a minha viagem, sabia que havia uma zona da China onde as ligações eram uma incógnita completa. Esse momento acabara de chegar, pois a ligação entre a zona central do país e Nanquim  uma das únicas três cidades que foi a capital da China, para além de Xi´an e Pequim  e que não fica assim tão distante de Xangai era o meu próximo passo. E este, era um graaaaaaande passo! Pelo menos em termos de distância. 🙂

A primeira fase da viagem decorreu entre Fenghuang – partida às 12.30 – e Changsha e foi feita de autocarro. Durante a viagem escrevi no caderno, dormitei um pouco e observei a paisagem que se resume em poucas palavras: auto-estrada e tempo muito cinzento. Quando entrámos em Changsha, não fazia a mínima ideia para onde é que estaria a ser levado e mentalmente estava a tentar relaxar pois o tempo estava a passar muito rapidamente e o meu limite para apanhar o comboio estava a ficar muito reduzido. Quando saí do autocarro (18.30) chovia e fazia frio – em contraste ao dia anterior quente e abafado – e fiquei muito feliz porque ao ver que a estação de autocarros, estava mesmo “colada” com a de comboios, soube imediatamente que iria conseguir apanhar o comboio para WuChang o que me permitia a ligação posterior para Hankou e daí para Nanquim.

Uma vez que o comboio estava cheio, comprei o bilhete sem lugar marcado, e dirigi-me para a plataforma e… o comboio só apareceu às 19.50! Já dentro do comboio o atraso continuou a aumentar e só saímos da estação de Changsha às 21.00. Era a primeira vez que tal acontecia durante a viagem! E tinha de ser precisamente neste dia de ligações altamente intricadas! :/ Nesse momento tive a certeza absoluta que não iria chegar a tempo, rosnei pragas e estava irritado, muito irritado: “Tanta m@§£€, para uma caganita!” Sem nada poder fazer relativamente a esse assunto, aproveitei a viagem entre Changsha e WuChang – uma das três cidades que forma a megalópole de Wuhan – para escrever no caderno, levantar-me para “esticar” o corpo, comer qualquer coisa e sentir os olhos a fechar fruto do cansaço. Pensei: “Quando lá chegar, logo se vê como mudo de estação” e conheci um chinês que era engenheiro informático (mas que parecia um rapazito) e em quinze minutos de conversa, ele informou-me que existiam autocarros que ligavam as diferentes estações de comboio de Wuhan, vinte e quatro horas por dia. 🙂


Reflexão: Aprende de vez… que sofrer por antecipação, não compensa!  😉

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Crónicas Fotografia O 1º Dia Reflexões

Fenghuang. Quando os Huans e os Miaos se trocam

Na chegada a Fenghuang estava bastante abafado e calor. Para chegar ao hostel foi preciso muita sorte e perseverança, pois as indicações providenciadas na internet eram completamente rídiculas e desprovidas de qualquer sentido. :/ Desse modo e assim que finalmente cheguei ao mesmo, libertei parte da minha irritação na rececionista, mesmo assim tentei controlar-me pois sabia que a culpa não era dela, mas como ela era a face visível do hostel

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Depois de me levar aos meus aposentos, convidou-me a mim e ao meu companheiro de quarto – um rapaz mexicano – para subirmos com ela até ao topo da pequena montanha de Fenghuang por caminhos alternativos e assim evitarmos o pagamento de 128Y! (mais de 15€). A caminhada montanha acima foi agradável pela companhia e pela conversa, quanto à montanha em si? Mais uma “chulice” chinesa! Que desta feita, foi contornada! 😛

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Entretanto “Linda” – nome ocidental da rececionista – regressou ao hostel e eu continuei a passear com o Juan  nesta altura o meu companheiro de quarto, já tinha nome 🙂 – e ficámos a saber que para entrar em certas zonas da cidade antiga tínhamos de pagar bilhete! Outra vez, os chineses a abusar dos turistas. :/ Porém e quando entrámos na parte antiga e mais cénica da cidade, ninguém nos cobrou nada e pudemos ver sem problemas o rio, as pontes, o sol dourado, as casas à beira rio e os monumentos antigos. Enquanto isso, assisti a mais um momento em que os Hans se mascaram de etnias minoritárias, neste caso de Miaos e achei tal facto caricato, pois a maioria dos Miaos que vi só queriam vestir-se de forma casual e passar por Hans. 😉

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Crónicas Fotografia Reflexões

WulingYuan Floresta de Pedra

Ato VI – Trilho Final e Circularidades

Depois desse momento curioso apanhei um autocarro que me levou até à vila de Wulang. A parte inicial do trilho foi percorrida numa estrada de terra e só passado uns momentos é que recomeçaram os degraus e a primeira visão da vila foi bastante diferente de tudo até aquele momento, pois à distância parecia que a construção estava completamente embutida na pedra. 🙂 Segui na sua direção e a partir de certo momento o caminho era feito por entre “frinchas” dos rochedos. Depois de visitar a zona da mansão de Tianbo senti que aquele foi um local especial, por vários motivos: a “ponte suspensa” de cordas e um parvalhão a saltar nela que foi imediatamente empurrado (“Queres saltar?Salta! Mas não enquanto eu estiver em cima dela!”); as escadas verticais e de declives acentuados; os locais de passagem muito estreitos e a excelente panorâmica sobre os picos. 😉

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Quando saí de lá, parti na direção de outro trilho e ao percorrê-lo, fiquei com a certeza que este também era bastante selvagem e se inicialmente parecia que iria ser outro trilho deserto, o tempo encarregou-se de me mostrar que nem por isso. 😛 Este trilho levou-me a locais espectaculares entre os quais One step to the Heaven e o mágico Corridor in the Cliffs que terminou num espaço aberto magnífico e com umas vistas esmagadoras. 😀 A partir de certo momento e apesar de ter sido aconselhado a voltar para trás – pelas recomendações que recebera das pessoas do hostel e que me ajudaram a organizar os dias no parque – continuei o caminho em sentido descendente até encontrar uma bifurcação. Nesse momento tinha como opções continuar a descer até à saída do parque ou alternativamente voltar a entrar na floresta, por um trilho que não fazia a mínima ideia aonde me conduziria e… optei pela segunda opção. 🙂

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A floresta estava demasiado convidativa com as suas sombras e os seus reflexos verdes. O início do trilho foi bastante duro, uma vez que o sentido foi sempre ascendente e com inclinações bastante acentuadas, mas depois e mais perto do topo acabou por suavizar-se aos poucos. Quando lá cheguei não sabia onde me encontrava, apenas que o trilho seguia para Este e que tinha o sentido descendente. Exatamente o que pretendia! 🙂 Quando encontrei umas placas confirmei que estava no direção correta e com a ajuda de um pouco de céu azul e sol – finalmente! Pois os dias anteriores foram sempre muito pardacentos – o caminho tornou-se mais agradável. O trilho desembocou em Zicao Pool e no trilho no qual comecei a minha viagem em WulingYuan. Na despedida optei por percorrer o trilho no sentido que não conhecia e depois percorrê-lo em sentido inverso em toda a sua extensão. Durante o caminho pensei que este trilho era muito mais desinteressante sem a variação que fizera no primeiro dia e a partir de certo momento lembrei-me do meu “amigo” Theo Angelopoulos, dos seus travellings circulares e da circularidade do espaço com a acentuação do fator tempo. E para a minha visita acabar de uma forma perfeitamente circular, ainda fui a tempo de encontrar um rapaz que meteu conversa comigo quando estava sentado no início do trilho a tomar o pequeno almoço no primeiro dia! Curioso, não?! 😉

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Em trânsito Reflexões

Embarque Infernal

Depois da experiência infernal de Ciqikou, pensava que nenhuma experiência podia ser pior, porém… a vida por vezes prega-nos partidas e quando cheguei ao local de embarque o barulho era imenso, terrível, ensurdecedor… :/ Dezenas de pessoas falavam ao mesmo tempo e eu só pensava: “Mas porque é que estas pessoas têm de falar tão alto, umas com as outras?!”.

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Felizmente, para minha felicidade e regozijo, houve um chinês da companhia de transportes que com um megafone na mão mandou dois ou três berros para a multidão em geral – foi a primeira vez que vi tal acontecer! – e de repente todos se calaram! Um silêncio cristalino invadiu a sala de espera e apesar de achar que ele foi extremamente rude com as pessoas, só posso dizer: “Muito obrigado! Salvaste-me da insanidade!” 😀