Depois de efectivado o negócio voltámos ao lago Oeste e calmamente começámos a percorrê-lo no sentido dos ponteiros do relógio. Aqui, pude finalmente observar qual o motivo que leva os chineses a batizar Hangzhou de “Cidade do Amor”. A paisagem serena, as pessoas a conversar, os jardins cuidados, as múltiplas pontes, as florestas, as flores – entre elas, os lótus brancos – os templos, as pagodas, os casalinhos apaixonados, os barcos no lago, as colinas circundantes – entre as quais a Solitary Hill – a vista sobre a cidade, a relva verde, mais casalinhos apaixonados, fotografias e retratos de casais com vestidos e fatos de noivos. Tudo isto faz parte do puzzle, Hangzhou, a cidade do Amor! 😀
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A Prova do Chá
No nosso primeiro dia a sério em Hangzhou visitámos a zona a sul do lago e aí encontrámos pequenos lagos, cascatas e trilhos de pedra por entre árvores e vegetação frondosa e lembrei-me de Sintra, tais as semelhanças. 🙂 Ao longo do caminho, também fomos encontrando plantações do famosíssimo chá – LongJing – e numa delas a Shue e a amiga falaram com uma camponesa. Partimos então para uma prova de chá e ficou acordado que se quiséssemos no final podíamos comprar o mesmo. 😉
Andámos até uma aldeia nas imediações e num terraço com vista para os montes e plantações circundantes, tivemos a nossa “degustação” de chá e mais tarde uma pequena “discussão” de preços e qual a quantidade a comprar por cada um de nós – acabei por ficar com cem gramas. Mas durante todo o “processo” o que gostei mesmo, foi da vista e de observar um velhote castiço – que dizia falar japonês – que era o marido da camponesa que encontrámos. 🙂
Regresso à Cozinha
Ao longo do dia fomos acertando agulhas no sentido de fazermos um jantar para toda a gente – staff do hostel e para nós – e quando voltámos ao centro da cidade e posteriormente ao hostel a decisão já estava tomada. Por isso, assim que chegámos, largámos as malas e partimos em direção do supermercado com o objetivo de comprarmos os ingredientes para o repasto e no caminho ainda deu para ver uma bonita praça com uma pagoda e o sol poente refletidos na água. Belo! 🙂 No supermercado e enquanto andávamos a decidir que ingredientes comprar, estava FELIZ! 😀 Estava mesmo feliz, com a possibilidade de voltar a cozinhar e inventar novos sabores, ainda para mais porque iria fazê-lo para nativos do país que estou a visitar. No caminho de regresso disse à Shue que tinha gostado muito de ter passado o dia com ela, e ela por sua vez, disse-me que para si o dia fora muito “rico“. Claro que fiquei contente e orgulhoso. 🙂
A confeção do jantar foi divertida e quando demos por nós já estávamos a alimentar seis pessoas – no início eramos quatro, mas juntaram-se mais dois rapazes que andavam a viajar pelo país de bicicleta – e a ementa final consistiu em: arroz; sopa de tomate e ovo; ovos com cebola e chili; batata doce e cenoura (minha autoria); “talisca” com alho francês, cebola e chili; um prato de chilis verdes “venenosos”; Ah! E snickers e fruta para sobremesa. Foi um belo jantar! Cheinho de comida saborosa e “combibio”. 😀
Shaoxing e Simbolismos
Depois do pequeno almoço e de comprarmos uma capa de chuva para a Shue, uma vez que chovia com bastante intensidade, partimos à descoberta da cidade e dirigimo-nos para o seu centro histórico, onde a figura de monta é o escritor Lu Xun.
Quando começámos a visita ao lago Este da cidade, inicialmente o local não parecia nada de especial, mas à medida que o percorremos, este foi-se revelando e acabou por ser de longe a melhor visita do dia: o lago, as pontes, as colinas escarpadas, os barcos, as paredes brancas e as telhas negras, a vista do topo das colinas, a diferença de cor entre o rio e o lago, as rochas, a vegetação e a conversa! 🙂 E esta – à semelhança do que aconteceu no museu de Suzhou com a Yue – girou em torno dos números e do seu significado na cultura chinesa: número 4 – evoca a morte; número 6 – as “coisas” vão correr suavemente; número 8 – associado ao dinheiro; número 9 – associado ao Imperador, à longevidade sendo o maior número individual. 🙂
Para chegarmos aos outros locais que pretendíamos visitar ainda tivemos que percorrer uma longa distância e durante o percurso deu para observar que: a cidade é bastante grande e que a área envolvente é muito rica em água. Apesar dos outros locais que visitámos terem sido ligeiramente desapontantes, uma vez que não corresponderam às expetativas que inicialmente tinha, a conversa foi ótima e eu continuei a aprender sobre a cultura chinesa – poder e influência da família e da tradição na vida dos jovens – “advocacia, não é profissão de mulher!”, frase proferida pela família da Shue, apesar de ser para isso que ela está a estudar.
Procuras no People´s Park
Antes de sair do hostel passei pelo Skype e constatei que o Juan também estava na cidade e ficámos de jantar juntos e beber uma cerveja nessa noite. 🙂 Do hostel dirigi-me de metro para o centro da cidade e quando andava a passear no People´s Park e já mais restabelecido, vi pessoas com papéis ao peito (escritos em caracteres) à procura de companheiros ou companheiras para eles próprios ou para os filhos. Não foi a primeira vez que o vi na China, mas talvez tenha sido a primeira vez que vi um número tão elevado de pessoas a fazê-lo.
Nanquim e o Massacre
O dia ainda estava a meio, mas já tinha havido muitas emoções. Porém eu queria mais e achei que a minha viagem em Nanquim devia começar pelo Museu do Massacre, que é o local que homenageia os 300.000 mortos da cidade durante o período que antecedeu a segunda Guerra Mundial. Em 1937 o Japão invadiu a China e tomou de assalto grande parte do vasto território chinês e durante um “curto” período de seis semanas – 13 de Dezembro de 1937 a final de Janeiro de 1938 – a cidade foi reduzida a escombros e a população vítima da brutalidade de grande parte do exército japonês: violações – individuais e em grupo – fuzilamentos indiscriminados, abusos sobre a população, decapitações… enfim o lado negro do ser humano em todo o seu ”esplendor”. 😦
A experiência começou na porta de entrada com a observação de uma gigante “massa” chinesa à espera de entrar, mas felizmente depois de uns minutos a situação foi desbloqueada. Assim que entrei no recinto vi que o complexo está dividido em duas zonas: exterior – Parque e Memorial e interior – Museu e Arquivo.
Porque via o relógio a andar depressa e a hora de encerramento a aproximar-se fui primeiro à zona interior e logo de início tomei a resolução de não tirar fotografias, não sentia aquele lugar como turístico, apesar da quantidade de pessoas que por lá circulavam. Antes como um grande memorial da tragédia e um local para preservação da memória histórica e colectiva de uma cidade, de uma nação, da humanidade.
Na primeira sala, a entrada tinha o molde de uma mão e coloquei a minha mão lá, não sei se para sentir o metal se o peso da história. A sala ampla estava pouco iluminada. No teto o fatídico número 300.000 brilhava, no chão um ponto luminoso por cada vítima. Nas paredes o nome das vítimas gravado em relevo. Não aguentei, fiquei comovido e soltei duas lágrimas furtivas. A visita continuou e sala após sala vou observando o museu e as pessoas que lá circulavam e encontro de tudo: semblantes carregados, graves e sérios, sorridentes (?), atentos e comovidos até às lágrimas – mulheres. O museu vai pintando os negros acontecimentos e eu sigo por aquele espaço, tornando-me menos ignorante. Um dos momentos mais surpreendentes surge quando vi uma suástica nazi pintada das cores da cruz vermelha e ao lado deste, outros dois momentos me ficam particularmente na memória, o da grande parede dos arquivos e a zona dos 12 segundos: 300.000 mortos em seis semanas. A cada 12 segundos o som de uma gota a cair e o retrato de uma das vítimas a iluminar-se – durante essas fatídicas seis semanas, uma vida desapareceu a cada doze segundos na cidade de Nanquim!
Na zona exterior circulei pelo parque e pelos memoriais, e o momento mais marcante ocorreu quando vi as ossadas humanas encontradas numa escavação arqueológica. A diferença aqui foi saber que não morreram há milhares ou centenas de anos, foram mortas durante o século XX e enterradas em valas comuns. Tão distante e tão próximo…
A Bondade dos Desconhecidos
Quando cheguei a Wuchang já passava da meia noite e meia e o senhor que conheci no comboio, levou-me até à estação autocarros e disse-me para aguardar ali. Estava frio, bastante frio e à minha volta havia muito “ruído de fundo” com chineses a tentar forçar “negócios” de transportes. Nesse local e enquanto esperava conheci outro chinês (Zhang Shu) que estava em camisa porque ofereceu o casaco à namorada e imediatamente abri a minha mala e ofereci-lhe um casaco. Ele ofereceu-me um cigarro! 🙂 E ficámos a conversar enquanto esperávamos pelo autocarro. Como estava muito frio, ele convenceu-me a apanhar um “táxi-carrinha” com eles para a estação de comboios de Hankou e durante aquela viagem noturna, cidade dentro falou-me dos seus problemas e da pressão exercida à sua volta: sociedade, família e tradição, o que esperam dele e eu tentei animá-lo. Na despedida ele pagou-me o táxi e eu senti mais uma vez a bondade dos desconhecidos a aquecer-me o coração e a alma. 😀
Durante a tarde e depois de contar ao Juan a minha “teoria” acerca dos Hans e do seu “gosto” particular pelas etnias minoritárias, fomos a um atelier de pintura, que utiliza cera na composição dos trabalhos e ficámos estupefactos com a qualidade e beleza do que vimos. 😀 Continuámos a passear juntos e enquanto o fazíamos conversámos, conversámos… conversámos. Era notório o nosso entendimento! 🙂
Fomos deambulando sem objetivos e depois de vermos as “famosas” danças e coreografias de final de dia, demos conta que já era de noite e fomos jantar. Depois do mesmo, fomos beber umas cervejas e fumar para a porta do hostel enquanto esperávamos por “Linda” e pelo seu final de turno e quando ela se voltou a juntar a nós, demos um pequeno passeio. Depois de ela se despedir, fomos comprar mais cervejas e continuámos a conversar, a conversar… e nesse altura tentei ajudar o Juan a organizar o seu trajeto na China – uma vez que ele apenas dispunha de um mês de visto – trocámos os contactos e deitámo-nos já depois das 2.00 e de todo este cardápio. Gracias Juan, pela conversa! Gracias mi amigo! Viva México! 😀
Na chegada a Fenghuang estava bastante abafado e calor. Para chegar ao hostel foi preciso muita sorte e perseverança, pois as indicações providenciadas na internet eram completamente rídiculas e desprovidas de qualquer sentido. Desse modo e assim que finalmente cheguei ao mesmo, libertei parte da minha irritação na rececionista, mesmo assim tentei controlar-me pois sabia que a culpa não era dela, mas como ela era a face visível do hostel…
Depois de me levar aos meus aposentos, convidou-me a mim e ao meu companheiro de quarto – um rapaz mexicano – para subirmos com ela até ao topo da pequena montanha de Fenghuang por caminhos alternativos e assim evitarmos o pagamento de 128Y! (mais de 15€). A caminhada montanha acima foi agradável pela companhia e pela conversa, quanto à montanha em si? Mais uma “chulice” chinesa! Que desta feita, foi contornada! 😛
Entretanto “Linda” – nome ocidental da rececionista – regressou ao hostel e eu continuei a passear com o Juan – nesta altura o meu companheiro de quarto, já tinha nome 🙂 – e ficámos a saber que para entrar em certas zonas da cidade antiga tínhamos de pagar bilhete! Outra vez, os chineses a abusar dos turistas. Porém e quando entrámos na parte antiga e mais cénica da cidade, ninguém nos cobrou nada e pudemos ver sem problemas o rio, as pontes, o sol dourado, as casas à beira rio e os monumentos antigos. Enquanto isso, assisti a mais um momento em que os Hans se mascaram de etnias minoritárias, neste caso de Miaos e achei tal facto caricato, pois a maioria dos Miaos que vi só queriam vestir-se de forma casual e passar por Hans. 😉
Esta foi a primeira vez, que fiz uma viagem noturna sem ser num vagão-cama e quando me dirigi à carruagem, esta estava atulhada de pessoas e bagagens. As pessoas tinham as feições marcadas e vincadas, o que não me deixou dúvidas quanto à sua origem pobre e humilde e a maioria das bagagens não passavam de sacas gigantes. A viagem não foi serena, porque acordei muitas vezes ao longo da noite, inquieto com o facto de ter de sair na estação correta.O problema é que desta vez não tinha o revisor para me indicar se estava na mesma, ou não. A chegada a Zhangjiajie, ocorreu dez minutos antes da hora prevista – às 5.55 já estava de saída do comboio – e na chegada vi picos na bruma, belo! 🙂 Depois de deixar a estação, apanhei um autocarro para o centro da cidade e imediações de um hostel…









































