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Dia D para o PC

Ato III – A  Desforra! 😀

Ainda durante a instalação dos programas, comecei a pensar que devia voluntariar-me para lhes pagar mais do que inicialmente tínhamos acordado, uma vez que eles estavam a ter muito trabalho à volta do PC. Na hora H, assim o fiz e ao mesmo tempo, abri uma janela alternativa e convidei-os para jantar – claro que eu pagaria o mesmo. O mentor principal do arranjo disse que não, que não era preciso pagar mais e que o preço acordado era justo, mas relativamente ao jantar respondeu afirmativamente, perfeito! 🙂

IMG_6873 (FILEminimizer)Quando apanhámos o autocarro, paguei-lhes os bilhetes e quando saímos no centro da cidade, começámos à procura de um local para jantar. Porém e apenas trinta minutos depois, eles realmente perceberam a minha intenção de lhes pagar o jantar, e acabaram por escolher que jantaríamos no KFC… É caricato. É preciso vir à China e avariar-me o PC para comer aí! 😉 De qualquer modo, o repasto consistiu obviamente em frango (frango frito e hambúrguers de frango), com coca-colas a acompanhar e o meu plano só foi parcialmente cumprido, pois o “mini-génio” – nome pelo qual batizei o meu salvador – quis pagar os hambúrguers. Quando saímos do KFC, começámos a dirigir-nos para um bar para bebermos umas cervejas e nesse momento não senti o cartão MB – que tinha utilizado horas antes. Ainda fiz uma tentativa ténue para lhes explicar o sucedido, mas como continuaram a andar e eu não tinha a certeza absoluta de o ter perdido, acabei por guardar o assunto para mim e tentei não me preocupar demasiado. :/

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Começámos a avistar luzes e comecei a perceber que afinal o bar era uma discoteca! Eles cumprimentaram uma rapariga que estava na entrada e aos poucos fui-me apercebendo que eram clientes regulares. Deixei a mala no bengaleiro e subímos ao reino do som e da música desta feita, estava a fazê-lo Made in China”. Quase sem ter dado por isso já estávamos sentados numa mesa com pelo menos quinze cervejas em cima da mesma, um prato com fruta previamente descascada e cortada e uns “copos grandes”, que só posteriormente percebi serem utilizados para dados. E para que se querem, dados? Para jogar! E qual o objetivo de jogar? Bem, primeiro de tudo os chineses adoram fazê-lo e são viciados no mesmo; segundo motivo, a equação: discoteca + dados + cerveja = ? Pois! Jogar para beber! E devo dizer que é um forma bastante entusiasmante para o fazer, pois sem darmos por isso e em menos de nada já tínhamos despejado umas quantas garrafas! 😀

Enquanto o fazíamos, a tal rapariga da entrada – que me pareceu ser a Relações Públicas da discoteca – esteve a noite toda connosco a beber e “enfrascar-se” e não posso negar que houve ligeiros momentos em que… me preocupei com o cartão MB, desconfiei ligeiramente de tanta bondade e simpatia e temi pela mochila que ficara no piso térreo – no seu interior estava o PC finalmente arranjado e a máquina fotográfica. Mas aos poucos e poucos fui entrando no ritmo e a partir de certa altura esqueci tais fantasmas e seres mitológicos obscuros. Falavámos via i-phone e com linguagem corporal, ríamos, fumavámos, bebíamos, víamos algumas beldades esvoaçantes, dançávamos, íamos à WC, voltávamos a fumar, a beber, a rir…Eu dizia-lhes que eles eram uns Party animals (animais de festa) e eles sorriam, dizia-lhes que era a minha primeira discoteca na China e eles sorriam. 😀 Ao sair da discoteca reparei que o seu nome era Fire Bird (Pássaro de Fogo) e tal pareceu-me totalmente adequado. 🙂 Enfim, foi uma verdadeira noite de antologia, escrita com uma caneta de ouro fino, que terminou no meu primeiro táxi noturno à porta do hostel, qual cinderela que chega depois do baile na sua carruagem de cristal. 😀

P.S. – Quando cheguei ao hostel, procurei em vão o cartão e depois de verificar que realmente não o tinha , mandei um e-mail à minha irmã a contar das novidades. As boas: PC ressuscitado e as más: Perda e cancelamento do cartão MB.

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Crónicas Fotografia O 1º Dia

O Magnífico Lú gū hú

Ato II – No Rebanho

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No meio de não termos local para pôr a bagagem, a estória do dia continuou quando apareceu uma carrinha turística com um condutor e três raparigas a bordo, que estava a dar a volta ao lago e a parar nos pontos mais cénicos. Quando saíram da carrinha, o Xiaoling foi falar com elas e como queríamos ir para Lǐgé, e podíamos em qualquer momento mandar parar a carrinha, aceitámos o “convite” que elas nos endereçaram e seguimos viagem – as carrinhas que andam à volta de Lú gū hú em passeios turísticos têm a tarifa fixa de 200Y e quanto mais cheia a carrinha estiver, menos paga cada ocupante – ou seja, o “convite” das raparigas não foi genuíno, tratou-se sim de uma forma de baixar o preço a pagar por cada uma delas. 😛 Poucos quilómetros depois de sairmos de Luowu, apanhámos mais duas ocupantes, o preço da viagem continuou a baixar – nesse momento, o valor já se cifrava em 28Y por pessoa – e a quantidade do rebanho a aumentar. 😉

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Partímos então em direção a Zhawoluo e durante a curta viagem vi uma zona do lago de águas mais paradas e rasas, que davam a noção da existência de pequenas ilhas. Quando chegámos à aldeia, esta era completamente dominada pelo turismo: passeios a cavalo e de pónei, vendedores de postais e de imitações baratas de artesanato, bancas de comida com preços inflacionadíssimos, enfim nada de interessante. Porém e felizmente, bastava sairmos vinte/trinta metros do trilho para observar uma face mais rural com campos de cultivo, barcos a recolher vegetação, árvores, flores delicadas e camponeses nos seus afazeres. 🙂 No final da aldeia cruzámos a ponte do matrimónio e na outra margem do lago voltámos a dar de caras com bancas de comida, desta feita com “manjares” exóticos, sendo o sapo  pronto para virar churrasco – uma das iguarias. 😛

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Daí rumámos a Shekua, onde entrámos oficialmente na província de Yúnnán e sem grandes delongas seguimos para Sanjia. Aqui, fizemos uma paragem mais prolongada para dar um “tradicional” passeio de barco em que os remadores de serviço eram maioritariamente mulheres e que vestiam trajes aparentemente tradicionais. Do cais partimos em direção à ilha de Liwubi (tartaruga) e durante o trajeto pudemos ver pássaros brancos que “atacavam” ao primeiro sinal de comida na água e o imenso lago azul petróleo a transformar-se progressivamente em verde azeitona e nas margens a ficar transparente. 🙂 Quando desembarcámos na ilha, recebemos a indicação que tínhamos aproximadamente trinta minutos para a visita e desse modo aproveitámos o pouco tempo disponível para ver a pequena ilha, mas principalmente o seu bonito templo budista. Quando findou esse tempo, voltámos ao barco e fomos conduzidos de regresso a Sanjia onde o nosso “jarbas” nos aguardava.

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Em Luòshui, a refeição degustada em rebanho e graças às nossas companheiras de viagem que comiam como piscos, eu e o Xiaoling pudemos comer mais à vontade. 🙂 Esta aldeia revelou ser maior que as anteriores e aqui verificámos que o autocarro para Lijiang – nosso próximo destino – partia a múltiplas horas com particular incidência na manhã. Até Lǐgé, foi um pulinho e nesse trajeto em que fizemos três paragens bastante rápidas, fruto dos aguaceiros intensos, pude observar as profundas mudanças no lago. A topografia do terreno alterou-se radicalmente e passámos de planícies para montes e vales, a cor do água também mudou e os azuis e verdes ficaram ora  mais esbatidos ora mais profundos. Na chegada a Lǐgé pagámos ao nosso “jarbas” e balímos a despedida. 😀

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Niubeishan no Anfiteatro das Montanhas

Ato I – Em trânsito: Leng Qi – Yujin

Depois do Xiaoling me explicar o seu plano num PC de um cyber-café (escrevia em chinês e a internet traduzia para inglês e eu fazia o processo inverso) e de eu mandar uns e-mails a sossegar a minha família, partimos num táxi-mota montanha acima até Yujin (uma pequena aldeia).

Confesso que em certas alturas do percurso tive um certo medo: a mota estava carregadíssima (três pessoas, duas mochilas de campismo e uma mochila pequena), ninguém tinha capacete, a estrada era cheia de curvas, esburacada e tinha pedregulhos nas bermas. À medida que o caminho foi percorrido começaram a surgir árvores com flores de diferentes cores (brancas, cor-de-rosa, amarelas e verdes) entre as quais se deixava adivinhar o vislumbre das neves longínquas e o medo esse, desapareceu, dando lugar ao maravilhamento. 🙂 A aldeia de Yujin encaixa-se bem no meio da montanha e está rodeada com campos de cultivo. Saudaram-nos os rostos sujos e envergonhados das crianças, as anciãs e anciões de cachimbo na boca, as árvores em flor e os picos brancos como pano de fundo, entre eles o todo-poderoso Gongga (7556 m). 

Fomos recebidos por uma família. Com eles jantámos uma maravilhosa comida caseira, fizemos serão, bebemos vinho chinês (50 ºC), fumou-se um cigarro depois do jantar e ouviu-se um ditado chinês: “Um cigarro depois da refeição, sabe a nozes”. 😛 Vi os rostos felizes das pessoas à nossa volta, e mesmo não falando ou percebendo chinês adorei este momento. Nele percebi a importância que as refeições têm neste país. A comida como sinónimo de partilha e convívio, estreita os laços da família e a família na China é a chave de toda a cultura. 😀

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Banquete à mesa. Indigestão Informática

Depois dos dois dias desgastantes mas memoráveis em Emeishan, tivemos um banquete no regresso a Chengdu: chá, arroz, galinha picante com amendoins, porco com vegetais, entremeada frita duas vezes e umas batatas finíssimas. Delicioso! 😀 Ainda neste dia e depois de regressarmos ao hostel o computador deixou de trabalhar e Li disse-me que o problema era possivelmente o disco rígido. A ver… nos próximos “episódios”.

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Teddy Bear Hotel. Comunicação, Conforto e Jantarada

Ainda nesse dia partimos para Emeishan, que fica apenas a quarenta minutos de viagem de Leshan e ficámos alojados no Teddy Bear Hotel. Apesar de apenas termos passado aqui uma noite, este local ficou na memória por diversos motivos, a saber: no nosso quarto dei de caras com um casal de suecos com os quais me “tranquei” na conversa em bom inglês e sem problemas de comunicação; a cama em formato king size e o colchão bastante confortável; a net super rápida e estável e por último mas não menos importante, a bela jantarada chinesa com o Li e com outro rapaz chinês, mais um hóspede do nosso quarto, Lin Wei, que gostava de ser tratado por Xiaoling. Tofu, batatas cortadas muito finas, coelho, porco, arroz e cervejas fizeram parte do repasto. Depois de ter aproveitado para falar com a minha família via skype combinei encontrar-me com o Xiaoling dali a três dias noutro local da província de Sichuan. Desta feita, com o propósito de viajar com ele por uma China mais interior e mais profunda, alterando para isso a minha rota. Em que resultaria tal combinação? Isso, era o que eu desejava saber. 🙂

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Validades

No dia de regresso a Chengdu, ao comprar uns mantimentos para a viagem, reparei pela primeira vez que todos os produtos que comprara estavam fora de validade, inclusivamente o leite. Mas não se pense que era uma ou duas semanas. Não! Meses! No caso do leite, quatro meses! Fiquei a pensar se tal seria consequência do afastamento do parque natural ou se seria uma situação generalizada e decidi que nas próximas oportunidades iria investigar esta questão. 😛

P.S. – Apenas como curiosidade para o leitor. Sim! Acabei por consumir todos os produtos que comprei e não… Não senti nada de anormal no meu organismo! 🙂

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Hot Pot

Quando chegámos a Xi´an, fui levado pelos meus dois amigos chineses ao meu primeiro Hot Pot na China. Mas não se pense que foi um Hot Pot qualquer, não! Fomos a um com um serviço Sete Estrelas! 😀 Antes do jantar e enquanto esperávamos foram servidos aperitivos de borla, na casa de banho havia um empregado para nos abrir a torneira, pôr-nos a espuma nas mãos e passar o papel para as secar!? Havia uma pequena creche, consolas para os míudos; manicure para as senhoras e serviço de massagens (sem encargos), panos para limpar óculos, toalhas quentes para as mãos (várias vezes durante a refeição), aventais para as pessoas não se sujarem. Abismado por todo o sem fim de comodidades e luxos fornecidas aos clientes, o mais importante seria mesmo a comida! Comida de excelente qualidade, fresquíssima e muito saborosa.

Como se fazem os NoodlesComo se toda esta descrição não fosse suficiente para um jantar memóravel, no final e irredutivelmente ainda me pagaram o jantar! Um resumo perfeito e do mais alto calibre, do que significa ser-se anfitreão nas terras do Império do Meio. 😀

Hot Pot

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Breakfast, o Genuíno

Na noite anterior e depois do magnífico serão, quando cheguei ao quarto encontrei um rapaz chinês, Xiang Shuo de seu nome. Era a primeira vez, desde que chegara à China que tinha a oportunidade de conviver com um “nativo” durante mais tempo e apesar de alguns problemas de comunicação, resolvemos acertar agulhas para visitar a cidade de Xi´an juntos.

O dia começou por isso com o meu primeiro pequeno almoço à moda chinesa e não posso dizer que tenha sido memorável. O repasto incluiu uma sopa de sabor rude e agreste, em que cada colherada era equivalente a um calafrio na espinha e um frito de forma arredondada que parecia palha, mas que em sabor era muito muito melhor que a malfadada sopa (ainda dizem que a sopinha aconchega o estômago, naaaaaaaaaa… nem toda!!!) 😉

À medida que o pequeno almoço ia decorrendo fui pensado: se o problema era a falta de educação do meu paladar ou se a comida era mesmo e valia a pena dar uma nova hipótese aos pequenos almoços chineses. A resposta foi-me então dada pela tigela do Xiang, que quando acabou o pequeno-almoço a deixou a mais de meio. Percebi assim, que este breakfast não passara de uma imitação barata e de péssima qualidade e que o genuíno tinha de esperar até uma nova degustação. 😛

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O Primeiro Dia em Pingyao

Que cidade é esta? Pelas descrições que fui lendo, Pingyao é possivelmente a cidade muralhada mais bem preservada do país, está classificada como Património Mundial pela UNESCO e localiza-se na província de Shānxī, a 800 km de Pequim e aproximadamente a 500 km de Xi´an. Esta foi a parte teórica, agora vamos à prática.

À chegada e quando o relógio marcava as 7.30, fui recebido por um frio de rachar. Sem mapa para me orientar e com umas indicações manhosas (providenciadas pela internet), aproveitei a “boleia” de um rebanho de franceses que iam na mesma direção e após dois dedos de conversa percebi que se deslocavam para o meu hostel. Ora cá está: o Zé tuga volta a ter sorte! 🙂 Depois de uma deambulação de quinze/vinte minutos lá o encontrámos. Depois de efectuado o check-in e de ter largado a bagagem na minha “suite” (onde ninguém dormiria naquela noite a não ser eu) parti à descoberta da cidade.

       

Ao percorrer as ruelas do burgo a caminho da residência da família Jin, fico com a sensação de ter recuado até aos tempos da China Imperial, com as suas casas com paredes de tijolo ou terra, caminhos cobertos de pó, pequenas lojas de ofícios e uma atmosfera silenciosa. 😀 Após a visita, dirigi-me ao magnífico Templo de Confúcio e na entrada, comprei um bilhete global, válido por três dias e com o qual se pode entrar em quase todos os locais turísticos. Segui junto à muralha até à zona do Portão Este e nas proximidades vi uma igreja católica e o Templo de Cheng Huang, outro local extasiante.

      

Só ao percorrer a Rua Sul é que comecei a perceber quão turística Pingyao pode ser: inúmeras lojas de quinquilharia barata a fazer-se passar por antiguidades; restaurantes com preços altamente inflacionados; hotéis; cafés e bares com “boa-pinta”. Nesta rua, visitei a torre do mercado onde acabei por ter uma visão mais panorâmica da cidade e algumas das inúmeras casas museu com os seus pátios espectaculares. Na Rua Este, continuei a visita às casas museu e nas imediações da muralha visitei o Templo de Qing Xu, que segundo as indicações na entrada é o único templo taoísta do mundo aberto ao público e onde vi a minha primeira partida de Xiang Qi (xadrez chinês).

Torre do Mercado      

Já no fim da tarde e após ser brindado com o laranja intenso do pôr-do-sol, havia que terminar o dia, e para terminar em beleza, nada como terminá-lo à mesa. O problema, vá, o ligeiro problema, é que o prato que me saiu em sorte no “jogo da roleta russa” foi de comer pouco e chorar muito…Era picante, picante, picante! O repasto consistia em rins de porco e couves que boiavam num líquido cor de sangue acompanhados por um mar de malaguetas vermelhas e de grãos de pimenta preta. Um espectáculo estrondoso, que tornou o primeiro dia em Pingyao num dia de extremos e me fez passar do gelo da manhã, para o intenso fogo da noite. 😛

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Mercado de Rua

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