1. Conhece o termo Dromomania? Considera-se um dromomaníaco, alguém com o “bichinho” de viajar e que não consegue ficar no mesmo local por muito tempo?
Tomei conhecimento do termo quando me falaste do mesmo na primeira mensagem que enviaste via facebook e depois disso acabei por ir investigar. Em termos patológicos não me considero um dromomaníaco, se o termo puder ser considerado de uma forma mais saudável nesse caso, sim. Aliás, sinto que a minha natureza é como o vento.
2. Porque surgiu esta vontade de deixar o país? Qual é a tua história?
A vontade de deixar o país, ou melhor dizendo Viajar, está presente em mim desde sempre, mas talvez de forma mais intensa desde os 14 anos, altura em que acompanhei a minha irmã no seu interrail (durante 2 semanas) e aí foi plantada em mim (sem que eu desse conta) uma semente que despontou na altura da faculdade. Durante esse período viajei primeiro em Portugal e depois fiz dois interrails a solo. Tudo correu sempre bem e a experiência foi de tal modo enriquecedora que percebi que era isso que queria fazer na minha vida, viajar pelo Mundo. Claro que quando acabei o curso não tinha dinheiro disponível e comecei a trabalhar com o objetivo de poupar o máximo que conseguisse para concretizar esse sonho/objetivo. E hoje em dia estou a viver o meu sonho.
3. O mochileiro é considerado um estilo de vida. Concorda? Porquê?
Claro que concordo. Um mochileiro é um cidadão do mundo, um mágico, um ilusionista dos tempos modernos. Da mesma forma que a prática de desporto, Yoga, meditação podem ser considerados estilos de vida, viajar deve estar no mesmo pé de igualdade pois todos estas “atividades” tem como objetivo ajudar o ser humano a evoluir e transformar-se num ser mais completo.
4. O Quirino possui o blogue www.historiasdovento.com. Porque sente esta necessidade de escrever as suas histórias que surgem com o vento e partilhá-las com o mundo?
As minhas histórias não surgem com o vento, surgem sim do facto de eu viver como o vento. Partilhar as minhas histórias faz parte da minha natureza de “escrever”, algo que me dá imenso prazer, desse modo acho que escrever é o complemento ideal de viajar. Para além disso escrever, “obriga-me” a recordar e recordar significa ter memória. Num mundo tão rápido como o atual em que parece que as pessoas só vivem para o futuro, preservar a minha memória faz-me sentir humano e consciente das minhas ações.
5. Através destes géneros de blogues, já conheceu outros “mochileiros” com quem partilhou experiências? Se sim, algum que queira destacar?
A resposta será dada de forma inversa. Ao longo da viagem tenho conhecido outros mochileiros com que tenho partilhado experiências e a partir daí tenho tomado conhecimento dos seus blogues. Como das pessoas que conheci não há ninguém a escrever em português, prefiro não destacar nenhum deles.
6. Existe alguma comunidade de mochileiros portugueses?
Pode existir, que eu tenha conhecimento, não. Mas tenho de dizer a verdade, nunca me debrucei sobre o assunto, nem sequer tiver curiosidade para investigar informação acerca disso.
7. Considera-se mais um imigrante ou um turista?
Considero-me um viajante! A verdade é que todos somos turistas, excepto na nossa cidade Natal. Porém e dada à conotação negativa que a palavra TURISTA tem no meio mocheiro, custa-me a assumir essa realidade, apesar de reconhecer a veracidade da palavra. Emigrante!? Talvez…se poder ser considerado emigrante uma pessoa que está sempre em movimento.
8. Por que países já passou e em qual permaneceu por mais tempo?
Europa: Espanha, França, Itália, Suiça, Eslovénia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Roménia, Bulgária, Turquia, Alemanha, Eslováquia, República Checa, Hungria, Holanda, Grécia, Áustria, Noruega, Reino Unido
Ásia: China, Laos, Tailândia, Malásia, Brunei, Singapura, Indonésia, Timor Leste, Filipinas, Myanmar…
Indonésia (quatro meses).
9. Na hora da despedida, foram criados laços suficientemente fortes para criar saudades no momento de vir embora e partir em nova aventura?
Depende sempre de quem se encontra pelo caminho. Mas sim acontece e sem dúvida que podem ser criados laços bastante fortes e duradouros.
10. Com quanto dinheiro, sensivelmente, inicia as suas viagens? Define algum objetivo antes de partir?
O máximo que conseguir amealhar. Vamos ver relativamente ao futuro, como vai ser a evolução. E não nunca defino objetivos completamente estáticos.
11. O que leva na mala? E o que nunca leva na mala?
Cadernos de viagem e capacidade de improviso. Preconceito e sentimentos de superioridade.
12. No artigo da Visão “Correr o Mundo com pouco dinheiro” é possível ler a propósito da sua vida na China. Quais foram as maiores dificuldades que por aí sentiu e qual a experiência que mais o marcou?
A China foi uma escola de vida e de viagem. Foi altamente exigente em vários níveis sendo a linguagem e a incapacidade de ler as maiores barreiras. Desse modo preparar o dia a dia tornou-se fundamental (marcar hostels, ter indicações em caracteres, aprender um pouco de mandarim…).
Dois momentos (mas muitos mais poderia dizer): Dormir numa montanha com trabalhadores humildes da construção e viajar durante 15 dias no país com um “nativo” em que a única maneira de comunicar era com recurso ao seu smartphone (traduções entre chinês e inglês).
13. Apesar dos portugueses serem um povo que tem na sua génese uma grande veia de descobridores, nos últimos tempos, e principalmente com o acentuar da crise económica, acha que estão cada vez mais deprimidos e agarrados ao sofá?
Acho que aos poucos e poucos, perdemos a capacidade de sonhar e de sermos audazes e aventureiros. Estamos acomodados, tacanhos e amorfos e não conseguimos ver que há mais vida fora do défice, da crise e da nossa pequenez.
Acredito que a crise tenha dado uma ajuda mas penso que os factores mais relevantes são a nossa incapacidade mental de lidar com a perda de um Império que foi imenso e com a nossa falta de imaginação para procurar vias alternativas a uma sociedade profundamente doente e autofágica.
14. A falta de dinheiro é um motivo válido para os portugueses viajarem menos ou é um desafio à criatividade e um apelo à aventura?
Para as pessoas que têm responsabilidades para com uma família, não posso dizer que não é um motivo válido. Porém a minha opinião é que na maioria dos casos as pessoas têm demais, compram demais, desperdiçam demais… Investem em coisas ocas e vazias como bens materiais… A viagem pode ser um “investimento” de sensações, experiências, aprendizagens, desafios, aventuras e o retorno que traz é algo que nunca um bem material trará. Nunca! Desse modo penso que a falta de dinheiro é muitas vezes um falso pretexto e que no fundo tudo se resume a uma questão de prioridades.
15. Pensa que o atual contexto económico português é fomentador de dromomania? Ou seja, devido à crise, há mais portugueses a pensar “deixar tudo” e a partir à conquista do mundo à boleia?
Penso que o atual contexto económico português pode ser fomentador de dromomania, porém penso que a crise de identidade que a maioria das sociedades ocidentais apresenta é um motivo ainda mais forte que leva as pessoas a dizer basta e “deixar tudo” e partir à conquista de algo, algo maior que as desafie e as enriqueça…no fundo partir rumo à Viagem.
8 replies on “Entrevista concedida ao Diogo Azeredo (na íntegra)”
As minhas maiores preocupações em viagem são segurança e saúde. Tens alguma recomendação? Por exemplo, costumas fazer seguro?
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Seguro pessoal é sempre uma boa ideia, porque te cobre 24h por dia.
Até porque os seguros de viagem muitas vezes não cobrem muitas das eventualidades que possam ocorrer…
Segurança é sempre fundamental, mas acho que o principal é usar o bom senso. Para além disso é ter sorte…como em tudo na Vida.
Boas viagens e bons regressos… 🙂
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Fico dividida, porque um seguro dar-me-ia paz de espírito, mas com esse dinheiro consigo viajar mais um ou dois meses. Acho que vai ser moeda ao ar! 🙂
Obrigada e boas viagens para ti também!
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Se esses “dois meses” extra, não forem viajados com paz de espírito não me parece, que valham muito a pena…mas é só uma opinião… 😛
Obrigado e boas viagens
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Hummm… Acho que tens razão. Resta-me encontrar um seguro baratinho então! 🙂
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Faz isso! Vale a pena…e é um descanso.
Bons preparativos para tua viagem… 🙂
Qualquer coisa que precises, pergunta. Se souber responder… 🙂
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Oh que bom! Tenho imensas dúvidas, por isso vou aproveitar a ajuda 🙂
Obrigada, Kiri!
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De nada…bons preparativos e boa sorte… 😉
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