Na cidade de Kefa – pode encontrar mais aqui – conheci o Sr. Jorge, um senhor muito sereno, que era simultaneamente tradutor e guia turístico. Depois de uma conversa profícua, acordámos que ele me transportaria até à fronteira com Timor Leste junto ao enclave de Oecussi, ajudar-me-ia a arranjar dólares e durante a minha estadia na cidade seria simultaneamente meu guia e ojek. Na manhã seguinte, na sua companhia rumei à pequena aldeia de Bitauni, onde visitei uma gruta/santuário, que albergava uma estátua de Cristo. Na gruta, a escuridão não era total pois existia luz natural que penetrava por algumas frinchas, existiam morcegos a voar e no ar sentia-se um odor pesado às suas fezes. Em frente à estátua da Nossa Senhora e do Redentor, o Sr. Jorge acendeu umas velas e rezou durante alguns momentos, enquanto eu observava silenciosamente.
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Na partida da ilha de Lembata – pode encontrar mais aqui – esse paraíso tropical, antes de embarcar num ferry, tirei fotografias à cor da água de múltiplos azuis e verdes e sorri com a pureza infantil das crianças que nadavam nuas, nas imediações do cais. Durante a travessia escrevi alguns textos para o blog, atualizei o caderno, tirei fotografias à bonita paisagem e ao sereno pôr do sol, continuei a ler a “loucura” de Bukowski e pensei que na manhã seguinte iria estar na ilha Timor…
Depois da festa de despedida (Domingo), a noite acabou comigo e com o Gregório a esperar no “terminal” de Tasitalu por um autocarro da 1.00 às 5.00, hora em que finalmente o autocarro/carrinha se dignou a aparecer. 😛 A viagem até Batugade, nas imediações da fronteira demorou cinco horas e foi um martírio, pois para além do “bólide” estar apinhadíssimo, a estrada estava em péssimas condições (nada de novo, em Timor Leste) e eu desconhecia o local onde tinha de sair. Já depois de “desembarcar”, enquanto andava até à fronteira, recordava a data de nascimento errada no visto e pensava que se tivesse que voltar a Díli por causa desse “detalhe”, iria desejar “cortar a cabeça” a alguém! 😛
No controlo de passaporte, no lado da fronteira Timorense tudo foi muito rápido, no lado Indonésio um pouco mais demorado (vários agentes militares e da alfândega) mas simultaneamente todos os intervenientes foram muito simpáticos comigo. Nesse altura, ao olhar para eles, lembrei-me do que aconteceu em 1999 e houve um sentimento estranho ao pensar, se estas pessoas tinham estado envolvidas. Depois dos múltiplos controlos, entrei oficialmente e pela segunda vez no maior país/arquipélago do nosso planeta. 🙂 Já no interior de um mikrolet para Atambua, falei em português com indonésios (o que foi curioso) e passados apenas quarenta minutos, estava a ser largado no centro desta cidade, cinzenta e desinteressante. Aí, não me demorei muito, levantei dinheiro, comprei “mantimentos”, uma capa para a chuva e apanhei um autocarro para a capital de Timor Oeste, Kupang.
Quando cheguei ao destino (22.30 de segunda feira), tive algumas dificuldades de comunicação com o meu condutor (que não percebeu que queria ser deixado numa guesthouse barata). Apesar de tudo o Senhor Félix, revelou-se muito generoso pois deixou-me dormir no interior do autocarro e chamou um ojek (Senhor Nando) com quem combinei partir para o aeroporto nessa madrugada. 🙂 Às 4.30, no meio da escuridão e de uma chuva miudinha, já estava a caminho do aeroporto e quando lá cheguei comprei um bilhete para Bali via Maumerè (6.30). O voo sobre a ilha das Flores e a sua topografia “louca”, revelou-me uma nova visão com uma beleza renovada e senti que a chegada a Bali, passados dois meses, via aérea e vindo de Leste foi como o fechar de um círculo. 🙂
Na chegada à ilha do Hinduísmo, desta vez sem a companhia do meu amigo Manu, o meu primeiro passo foi apanhar um táxi para a Fuji Professional (nome da loja de fotografia, que me foi dado em Díli), porém quando lá cheguei… um balde de água gelada! Assistência técnica e reparações, só em Jakarta! 😦 Desilusão, espelhada na minha face e a “oferta” imediata de uma objetiva por duzentos dólares. Saí da loja um pouco desanimado, mas decidido a ver mais algumas objetivas/preços sem me precipitar demasiado, ao mesmo tempo ponderava seriamente a hipótese de seguir para Jakarta. No meio dos meus pensamentos, comprei um kit limpeza para ver os resultados, mas… 0! Quando andava neste processo físico e mental, encontrei uma agência de viagens que vendia bilhetes de autocarro para a capital e foi assim que decidi, mudar a minha rota e seguir para a ilha de Java.
A viagem que esteve para começar às 15.00 na estação de Ubung, atrasou-se, apenas se iniciando às 19.00 (terça feira) e quando parti para mais uma odisseia nas terras do Oriente, apesar de um pouco cansado, estava de espírito animado. Da maratona para Jakarta, não há muito a dizer, a travessia fez-se pelo norte da ilha de Java, através de estradas em más condições, arrozais, campos de cultivo, muitas vilas e cidades caóticas, em que à semelhança de alguns locais de Sumatra e da Malásia, as construções mais bonitas são as mesquitas – refletindo a importância que a religião/espiritualidade tem na cultura asiática; apanhámos múltiplos engarrafamentos; consegui atualizar o “diário de bordo”; os filmes que passaram eram de pancadaria e sangue a rodos… 😛
À capital cheguei às 12.30 de quinta feira, depois de mais de quarenta horas de viagem consecutivas e se somar as noites passadas em Timor (tanto a de espera em Díli, como a de Kupang), depois de quatro dias seguidos a dormir em autocarros… De Díli para Jakarta, a odisseia derradeira…