Os dias em Lushan podem ser resumidos em poucas palavras, mas as principais serão sempre água, muita água associada a riachos, rios, lagos, cascatas, chuva, neblina e nevoeiro… muito nevoeiro :P; rochas associadas a vales, montanhas e escarpas; verde associado às árvores centenárias e à densa vegetação; e claro dores no “ass” associadas a uma hemorróida incomodativa e persistente.
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Huangshan, Montanha Amarela
Ato V – Dureza na Ascensão
Apesar das poucas horas dormidas, acordei com o objetivo de continuar o meu passeio em Huangshan. E se em Tangkou o tempo estava cinzento, quando cheguei ao “portão” da face Este da montanha, em YunGu estava um nevoeiro cerradíssimo. A ascensão até ao White Goose Ridge foi muito, muito dura! E ao cansaço físico – as pernas não se queriam mexer – associou-se o cansaço mental – a cabeça só pensava que não se via nada e qual o objetivo de visitar a montanha naquelas condições atmosféricas, quando podia estar muito bem no hostel deitado num verdadeiro “ninho”.
A verdade é que arrastando-me montanha acima, cheguei ao White Goose Ridge em noventa minutos e a partir daqui o dia melhorou consideravelmente, tanto em termos físicos e mentais, como meteorológicos. O meu primeiro destino foi o Seeing is Believing Peak, mas a verdade é que relativamente à questão de ver para acreditar a ironia era de facto elevada, pois na realidade via-se pouco ou nada e senti-me qual um comandante de um navio, a navegar na bruma, mas sem acesso a GPS. 😛 Daí segui até ao Tiger Pine e a melhor visibilidade da manhã foi entre esse local e o Lion Peak, pois via-se a neblina a circular velozmente entre os picos, belo! 😀
Do Pico do Leão parti para o Purple Cloud Peak (1700 m) mas o panorama não se alterou, nevoeiro cerradíssimo! Com umas condições assim, a melhor parte do dia foi sem dúvida nenhuma percorrer a zona do Xihai Grand Canyon, uma vez que mesmo com um nevoeiro intenso, foi espectacular! 🙂 A atmosfera do local é verdadeiramente singular, descidas e subidas vertiginosas, faces escarpadas, trilhos estreitos e pelo menos uma ponte completamente louca – os guardas eram tão baixos que mais parecia uma ponte para crianças – num precipício! 😛
No caminho de regresso falhei uma bifurcação e consequentemente a ligação entre o Cloud Dispeling Hotel e o Brigth Top Peak, não vendo por esse motivo a famosa Flying rock. O caminho de regresso foi exatamente igual ao do dia anterior, porém com a agravante que neste segundo dia não se via nada! Por isso o objetivo foi apenas um: andar, andar… andar! Até sair de Huangshan de papo cheio de trekkings e fisicamente, extenuado. 🙂
Ato IV – Corpo Aqui, Mente Distante
Devo referir que durante a travessia em Huangshan houve períodos que estava com a cabeça completamente noutro lado, ou seja, estava a pensar seriamente na proposta do dia anterior da M. – feita meio séria, meia a brincar – e a pesar os prós e os contras de tal decisão. A verdade é que encontrei muitos pontos a favor e poucos contra, sendo o mais forte destes a questão puramente monetária. Durante esse processo de pensar ir a Portugal não me senti oprimido e receoso, não! Senti-me feliz com essa possibilidade… os dados estavam lançados! E tomei a minha decisão! 😀
Huangshan, Montanha Amarela
Ato III – Engarrafamento e Fim de Trekking
Durante a ascensão, a montanha foi mudando de cor, alternando entre o branco e amarelado, mas sempre com manchas verdes associadas. No caminho para o Lotus Peak (1864 m) houve alguns momentos confusos, mas a paisagem circundante foi valendo cada degrau, cada passo e apesar do alegre caos que reinava no pico, deu-me um certo prazer lá chegar. 🙂 Mas, mais prazer ainda deu-me o percurso até ao topo. No Lotus Peak atingi a minha altitude máxima nesta montanha e o caminho descendente foi bastante rápido exceto quando apanhei um engarrafamento de pessoas a caminho do pico da Tartaruga – pico intermédio entre o Lotus Peak e o Bright-Top Peak. Sim é verdade! Um engarrafamento de pessoas numa montanha! Eu sei que é de difícil compreensão, mas estamos na China! 😉
Sempre em rota descendente fui até Fairy Walking Bridge e nessa zona da montanha parecia que tinha regressado a WulingYuan, pudendo verificar que Huangshan não era uma montanha “dupla”, antes uma montanha tripla e com extras: pontes, frinchas, caminhos estreitos… 😀 No caminho de regresso dirigi os meus passos ao Bright Top Peak e ao Pico do Alquimista e por essa altura o tempo estava novamente pardacento. Daí segui montanha abaixo durante duas horas e meia até ao “portão” da face Este da montanha, YunGu e quando aí cheguei eram 16.10, ou seja, todo o percurso demorou exatamente oito horas a ser concluído. 🙂
Huangshan, Montanha Amarela
Ato II – Os Heróis da Montanha
Neste período o que mais me desiludiu foi ver o caminho para o Celestial Peak (1810 m) encerrado e o que mais me surpreendeu ao longo do dia foi ver a capacidade do ser humano para ser uma besta de carga, montanha acima, montanha abaixo. Vi homens a carregarem cerca de cinquenta quilogramas aos ombros e fiquei com a certeza que estes homens são uns heróis! E se existem momentos – particularmente nas ascensões – em que me sinto cansado, basta ver um destes homens para pensar que estou a ser piegas!
Huangshan, Montanha Amarela
Ato I – Huangshan. Partida!
O trajeto entre Tangkou e o “portão” da face Oeste da montanha (Templo da Luz Misericordiosa) durou vinte minutos e a estrada era um conjunto de curvas e contra-curvas no meio de uma paisagem verde.
Quando comprei o bilhete (aproximadamente 29€!) referi que queria voltar no dia seguinte e recebi uma declaração para o devido efeito, deste modo o bilhete teve a validade de dois dias e não de apenas um como é normal – claro que isto não está escrito em lado nenhum e apenas soube deste “detalhe” graças à rececionista do meu hostel! 🙂 Às 8.10 comecei a ascensão da montanha Amarela e se inicialmente o dia estava bastante pardacento, a verdade é que à medida que o tempo passou, o dia foi-se tornando mais claro, o céu “azulou” e o sol despontou. 🙂 À medida que fui subindo degraus parecia que estava numa mistura de Huashan – faces escarpadas – e de Emeishan – verde, verde… verde – e a primeira parte da ascensão até Groting Guests Pine foi bastante rápida – aproximadamente duas horas. Por esta altura, a ascensão não estava ter a dificuldade que esperava, mas fruto da beleza da montanha, a experiência estava a ser muito boa.
WulingYuan Floresta de Pedra
Ato VI – Trilho Final e Circularidades
Depois desse momento curioso apanhei um autocarro que me levou até à vila de Wulang. A parte inicial do trilho foi percorrida numa estrada de terra e só passado uns momentos é que recomeçaram os degraus e a primeira visão da vila foi bastante diferente de tudo até aquele momento, pois à distância parecia que a construção estava completamente embutida na pedra. 🙂 Segui na sua direção e a partir de certo momento o caminho era feito por entre “frinchas” dos rochedos. Depois de visitar a zona da mansão de Tianbo senti que aquele foi um local especial, por vários motivos: a “ponte suspensa” de cordas e um parvalhão a saltar nela que foi imediatamente empurrado (“Queres saltar?Salta! Mas não enquanto eu estiver em cima dela!”); as escadas verticais e de declives acentuados; os locais de passagem muito estreitos e a excelente panorâmica sobre os picos. 😉
Quando saí de lá, parti na direção de outro trilho e ao percorrê-lo, fiquei com a certeza que este também era bastante selvagem e se inicialmente parecia que iria ser outro trilho deserto, o tempo encarregou-se de me mostrar que nem por isso. 😛 Este trilho levou-me a locais espectaculares entre os quais One step to the Heaven e o mágico Corridor in the Cliffs que terminou num espaço aberto magnífico e com umas vistas esmagadoras. 😀 A partir de certo momento e apesar de ter sido aconselhado a voltar para trás – pelas recomendações que recebera das pessoas do hostel e que me ajudaram a organizar os dias no parque – continuei o caminho em sentido descendente até encontrar uma bifurcação. Nesse momento tinha como opções continuar a descer até à saída do parque ou alternativamente voltar a entrar na floresta, por um trilho que não fazia a mínima ideia aonde me conduziria e… optei pela segunda opção. 🙂
A floresta estava demasiado convidativa com as suas sombras e os seus reflexos verdes. O início do trilho foi bastante duro, uma vez que o sentido foi sempre ascendente e com inclinações bastante acentuadas, mas depois e mais perto do topo acabou por suavizar-se aos poucos. Quando lá cheguei não sabia onde me encontrava, apenas que o trilho seguia para Este e que tinha o sentido descendente. Exatamente o que pretendia! 🙂 Quando encontrei umas placas confirmei que estava no direção correta e com a ajuda de um pouco de céu azul e sol – finalmente! Pois os dias anteriores foram sempre muito pardacentos – o caminho tornou-se mais agradável. O trilho desembocou em Zicao Pool e no trilho no qual comecei a minha viagem em WulingYuan. Na despedida optei por percorrer o trilho no sentido que não conhecia e depois percorrê-lo em sentido inverso em toda a sua extensão. Durante o caminho pensei que este trilho era muito mais desinteressante sem a variação que fizera no primeiro dia e a partir de certo momento lembrei-me do meu “amigo” Theo Angelopoulos, dos seus travellings circulares e da circularidade do espaço com a acentuação do fator tempo. E para a minha visita acabar de uma forma perfeitamente circular, ainda fui a tempo de encontrar um rapaz que meteu conversa comigo quando estava sentado no início do trilho a tomar o pequeno almoço no primeiro dia! Curioso, não?! 😉
WulingYuan Floresta de Pedra
Ato V – Reencontro na Montanha
O último dia começou quando apanhei o autocarro e fui largado exactamente no mesmo local onde tinha chegado na tarde/noite anterior e logo no início do trilho, a primeira ponte estava guardada por macacos que felizmente não me arreliaram. 🙂 Desta vez o caminho foi feito em sentido ascendente, sendo por isso mais duro, mas ao mesmo tempo mais relaxado, pois já não havia a pressão do tempo associada e durante a ascensão fui observando com atenção o verde da “selva” e os picos que me rodeavam.
A ascensão durou hora e meia e quando cheguei ao topo dei de caras com a chinesa do dia anterior. 🙂 Quando nos reencontrámos, rimo-nos da coincidência e ficámos a conversar um pouco. Vim a saber que ela era de Suzhou e ao trocarmos os e-mails ficou combinado encontrarmo-nos lá e que ela seria minha cicerone na cidade. 😉
WulingYuan Floresta de Pedra
Ato IV – Enganos e Aposta Arriscada
Durante o percurso tentei encontrar o caminho que me levaria à zona inferior da montanha, sem sucesso e quando perguntei a um funcionário do parque o preço do teleférico e ele me respondeu: 22Y (quase 3€) pensei que o mesmo era razoável e por esse motivo apanhei um autocarro que me levou até à zona do mesmo. Porém quando lá cheguei, surpresa das surpresas o preço era 72Y (aproximadamente 9€). Fiquei chocado! Era muito dinheiro por um teleférico e no meio de uma excursão de chineses dirigi-me até à sua entrada com duas pequenas esperanças: não pagar; perceber quais eram as minhas alternativas. Não obtive nem uma, nem outra e num cenário de stress – fruto da hora já avançada, 18.00 – apanhei o autocarro de volta à zona dos Avatares. Aí tentei voltar a encontrar o trilho, mas esse devaneio apenas durou três minutos pois percebi que estava a queimar tempo útil e precioso. Comecei a raciocinar muito rapidamente sobre as minhas opções e ao olhar para o mapa, percebi que a minha melhor hipótese era apanhar um autocarro para o topo da montanha e zona do pavilhão Tianzi – onde tinha estado durante a manhã – e a partir daí descer até encontrar a estrada.
Era arriscado e um tiro incerto, mas naquele momento não havia tempo para mais. Para além disso já estava a improvisar! E muuuuuuuito! 😛 Apanhei então o autocarro – ainda estive dez/quinze minutos à espera que partisse, o que complicou ainda mais o cenário – que me levou de volta ao topo da montanha e fiz uma viagem que me pareceu interminável – mas que durou apenas meia hora – sozinho com o motorista, o que àquela hora não era de estranhar! Assim que o autocarro parou, sai disparado a correr em direção à descida e nesta altura as probabilidades de sucesso eram diminutas, uma vez que já eram 18.47 e os autocarros no parque páram às 19.30. Comecei a andar com um ritmo elevado e mesmo apertadíssimo de tempo, o caminho e a paisagem eram de tal modo apelativas que não resisti a tirar duas ou três fotografias. 😉 À medida que fui descendo, a luz do dia foi-se esvanecendo e o trilho tornou-se mais verde, mais húmido, mais escorregadio. A partir de certa altura tive de abrandar o ritmo pois pensei: “O mais importante é não cair, porque senão fico aqui estatelado e não sei quando é que me encontram” – o trilho estava de tal modo com tanto musgo e “verdete” que parecia não ser utilizado por ninguém há já algum tempo.
No final do trilho passei por umas pontes antigas que me agradaram, por umas casas abandonadas e comecei a descer finalmente em direção à estrada, sem saber onde me encontrava e qual a direção da saída do parque. Atingi a mesma às 19.27 já de noite. Passados poucos momentos comecei a ouvir o som de um autocarro e quando lhe vi os faróis comecei a agitar os braços freneticamente. Parecia uma galinha esbaforida! 😛 O autocarro que tinha apenas os faróis ligados, estancou, o motorista abriu a porta e perguntou: “WulingYuan?” eu acenei que sim com a cabeça e o autocarro que estava na mais completa escuridão foi subitamente iluminado e vi então, que estava cheio de pessoas que olharam para mim com um ar completamente aparvalhado, intrigado e curioso, algo do género: “Mas de onde é que este tipo saiu?”. Quando o autocarro arrancou estava orgulhoso de ter conseguido, mas ao mesmo tempo ciente da minha boa sorte. 😀 Durante a viagem o corpo foi descomprimindo e enquanto percorria o caminho até à entrada do parque pensava que se não tivesse apanhado este autocarro estava bem lixado porque a distância era longa, muuuuuito looooonga! Quando cheguei à entrada do parque tive a oportunidade de ver a sua bonita iluminação e na despedida de mais um dia, observei as típicas coreografias chinesas – comuns a quase todos os parques e praças do país. 🙂
WulingYuan Floresta de Pedra
Ato III – Ascensão e Avatares
Na manhã do segundo dia, apanhei o autocarro para a zona de Ten Mille Natural Gallery e junto ao carril do comboio turístico comecei a andar em terreno plano. Porém e a partir da zona onde o carril do comboio acabou, o trilho mudou e até ao pavilhão de Tianzi, foi sempre a subir. Durante o caminho suei, vi um “super-pai” – ocidental – a carregar a filha de aproximadamente três anos às costas! E continuei a ver picos de pedra coroados de verde. Depois do bonito pavilhão e já no topo vi um Macdonald´s a ser construído e encontrei para além de uma grande praça com uma estátua de gosto duvidoso – versão ultra-romantizada de um herói de guerra – muitas bancas de comida e quinquelharia e um “terminal” de autocarros.
Aí, voltei a apanhar um autocarro que me deixou num local onde contava fazer mais um percurso fora dos trilhos mais batidos, mas infelizmente recebi a informação que tal era impossível pois os mesmos estavam parcialmente destruídos e bloqueados há vários anos. Desse modo, tive de me contentar com o trilho mais frequentado, mas que não deixou de ser tranquilo e onde andei durante duas horas. Os meus destaques vão para: os picos One Dangerous Step, Celestial Bridge e Emperor´s Throne; a compra de uma maçaroca de milho cujo preço foi regateado; o almoço sossegado em Dragon Head Peak; e encontrar uma simpática chinesa. 🙂
Findado o percurso voltei a apanhar outro autocarro que me levou montanha abaixo e parque adentro até à zona de YuanJiaJie onde fiz o percurso dos “Avatares” – local no qual James Cameron se inspirou para criar parte de um dos cenários do seu Avatar. Para mim, um local bonito mas depois do que vi até esse momento sem nenhum destaque especial excetuando a Greatest Natural Bridge e a zona onde as pessoas deixam os seus desejos em forma de cadeados – à semelhança do que encontrei na montanha de Huashan. Porém este local, não sei se fruto dos “Avatares” ou por ser uma zona central com bons acessos – múltiplos autocarros e teleféricos – estava “atulhada” de pessoas que viajavam de forma independente e de grupos de bandeirinha em riste. Deixei o local a sentir que a minha experiência não foi tão aprazível, como em outros locais de WulingYuan.






















































