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Kinabalu. Ascensão Infinita

Ato II – Kinabalu? Montanha Surreal!

Ao longo da noite acordei inúmeras vezes, fruto da preocupação de ter de me levantar de madrugada e simultaneamente ansioso com o trekking que me aguardava. Afinal, há alguns meses que esperava este encontro com a montanha e foi principalmente Kinabalu que me fez  rumar à ilha do Bornéu. Este era o dia D.

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Antes de sair da guesthouse tomei um super pequeno almoço: dois ovos, seis torradas e café e parti para a receção do parque, onde às sete da manhã conheci o meu guia, Eddie, que me conduziu até ao Timpohon Gate (1866 m) e a primeira etapa do percurso ligou esta entrada a Laban Rata (3273 m).

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O início do trilho realizou-se no meio de uma floresta tropical muito verde, que a partir do quarto/quinto quilómetro desapareceu totalmente e o caminho seguiu no meio de rocha amarelada/alaranjada pontuada aqui e acolá por arbustos. Em duas horas chegámos a Laban Rata – quilómetro seis – bem dentro da barreira temporal definida pelo parque, porém enquanto aguardava pela decisão do ranger – o responsável que define se existem condições de segurança – senti progressivamente um nervoso miudinho, uma vez que existia um nevoeiro que nos envolvia. Felizmente recebemos a confirmação que podíamos continuar a ascensão 🙂 e quando atingimos o sétimo quilómetro, a montanha…

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Transformou-se! A vegetação extinguiu-se quase na totalidade, as faces ficaram mais escarpadas e a rocha adquiriu uma cor metalizada e brilhante. Até começámos a ter direito a uma corda para nos auxiliar na ascensão das zonas mais inclinadas e escorregadias. Passo a passo fomos subindo e em nosso redor apenas víamos rocha em todas as direções. Em certo momento, a visibilidade aumentou progressivamente e comecei realmente a ver os diferentes picos de Kinabalu à nossa volta (St. Jonh´s Peak – 4091 m; Donkey Ears Peak – 4054 m; Ugly Sister Peak – 4032 m).

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Hora e meia volvida, estávamos no oitavo quilómetro, à cota de 3929 m e quase, quase no pico. 🙂 Porém para percorrer os 166 metros de cota que faltavam para chegar ao Low´s Peak (4095 m) e o ponto de altitude máxima precisei de mais meia hora! :/ Aqui senti realmente o “peso” da altitude e parte da energia já despendida. Quatro horas – desde o início do trekking – estávamos no pico de Kinabalu e nessa altura a visibilidade estava perfeita! Céu azul, nuvens abaixo e acima de nós, rocha e picos! Surreal! Espetacular! No pico apenas estivemos quinze minutos e completamente sós… Nada! Nem ninguém! Apenas o vento e o silêncio… 😀

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Começámos então a descida e os primeiros vinte minutos foram mais lentos, pois aproveitei as excelentes condições atmosféricas para tirar algumas fotografias. Porém e pouco tempo depois o vento começou a soprar mais intensamente, tendo de  colocar o keffiyeh a proteger a cabeça. A descida que esperava mais rápida, veio a revelar-se mais lenta que a ascensão e tal aconteceu devido às pedras serem roladas, o trilho estar cheio de água e bastante escorregadio e… a partir do abrigo Layang Layang começou a chover com intensidade, o que aumentou a dificuldade, pois o trilho tornou-se ainda mais escorregadio. :/ O relógio marcava a hora coca-cola light quando regressámos ao Timpohon Gate, nove horas depois encerrei o capítulo de Kinabalu, a montanha surreal. 😀

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Crónicas Em trânsito Fotografia O 1º Dia

Kinabalu. Ascensão Infinita

Ato I – Viagem e Preparação

Na viagem para a montanha Kinabalu no Bornéu – Sabah – houve um misto de tristeza e alegria, por um lado a despedida da M. estava bem presente, pelo outro estava a caminho de um local que se encontrava no meu imaginário graças à descrição de Andy, esse mágico da vida que conheci nas terras do Império do Meio.

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Depois do voo matinal que me levou de Kuala Lumpur até Kota Kinabalu, apanhei uma boleia semi atribulada – o meu “condutor” não sabia onde era a estação de autocarros – com o John Ho, um médico que trabalha em operações de salvamento e que estava na cidade há poucas semanas. Depois de uma hora de viagem e muitos pedidos de desculpa, fui finalmente deixado na estação de carrinhas, onde apanhei o meu meio de transporte para a montanha. 😛

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Na chegada às imediações da montanha, fui largado perto de uma placa que indicava o meu alojamento – Kinabalu Mt Lodge – e de mochila às costas andei um quilómetro até chegar ao destino, uma casa no topo de uma colina, voltada para um vale verde e de onde se via a névoa a correr no meio de árvores e vegetação, comovente. 😀 Nos meus aposentos conheci uma alemã que tinha regressado da montanha nesse dia e quando lhe contei que o meu objetivo era fazer a ascensão e descida num dia, olhou para mim com olhos esbugalhados e exclamou: ”A sério!? Acho que não vais conseguir, mas se o fizeres tens o meu respeito!”. Oh diabo! Comentário animador. Minutos depois apareceu um americano, que é capitão de um barco nas Filipinas, que por sua vez disse: “É apenas uma montanha. Hás-de chegar ao topo!”.

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Com estas duas opiniões tão distintas parti para o HQ (headquarters) do parque natural e na receção disseram-me que antes de preencher os formulários de inscrição, tinha de falar com o Mr. Dick, o responsável do parque. No centro de conservação tive um pequeno meeting, onde falámos sobre a ascensão num dia e como a mesma é considerada um caso “especial”, existem regras muitos específicas, tais como limites de tempo e afins. Na despedida apertou-me a mão, desejou-me boa sorte e uma boa ascensão…

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Crónicas Fotografia

Faces de KL

Kuala Lumpur é à semelhança de Bangkok, uma cidade de várias faces e ficará na memória pela soma das suas partes. A primeira delas será a incrível quantidade de massagistas – oficiais e oficiosas – que oferecem os seus serviços ao longo da Jalan Bukit Bintang e que foi o local onde acabámos por ficar hospedados, num minúsculo e bafiento quarto de dez metros quadrados. Nas suas imediações, a Jalan Alor também fica na retina pela quantidade absurda de restaurantes de rua, mas principalmente pelos seus empregados que nos assediam constantemente. Chega a ser exasperante! E consegue ser pior que qualquer rua, praia, estação/terminal de autocarros/comboios da Tailândia! É obra! 😛

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KL tais como outras cidades asiáticas, está minada de centro comerciais monumentais e gigantescos, cheios de lojas e restaurantes de fast food e quando visitámos o Macdonald´s, o seu interior estava minado de muçulmanos, que consumiam alegremente um dos mais famosos ícones ocidentais. Aliás um dos motivos que nos levou a “visitar” o local, foi a desapontante e inflacionada gastronomia malaia, isto apesar de haver uma grande mescla na cozinha fruto da aceitação natural de todas as culturas e cidadãos que compõem o país: malaios, indianos e chineses.

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Outra das faces da cidade é a sua Chinatown, que fica nas imediações da Jalan Petaling e onde é possível encontrar magníficos mercados de rua cheios de contrafações: roupas, óculos, relógios, perfumes; templos chineses e hindus e não muito longe o agradável Central Market. 🙂

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Nas nossas deambulações – tanto a pé como de metro de superfície – deu para notar que a cidade apresenta um elevado ritmo de construção e às vezes imaginei-me na mesma, há cerca de vinte, trinta anos atrás, numa altura em que o grande ícone da cidade, as Torres Petronas ainda não existiam. E a propósito, depois das visitarmos, posso afirmar que pagar para subir às “petroninhas” não vale a pena. Apesar da vista ser fascinante – vê-se tudo de cima! Tudo mesmo! Outros arranha-céus, mesquitas, piscina no topo de edifícios – o que se aprende é residual e no final sentimos que pagámos para ver uma mera panorâmica de Kuala Lumpur.

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Mais fascinante foi observá-las já iluminadas, ao final da tarde e mesmo nessa altura houve um certo desapontamento pois esperávamos uma iluminação muito mais intensa. Só quando começámos a tirar fotografias é que percebemos que a luz extra vinha da máquina fotográfica. Os nossos olhos veem a luz “real” e a fotografia distorce e amplifica a realidade, transformando estas torres num projeto de fição científica. 😉

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Crónicas Fotografia Reflexões

Dias em Pangkor? Tranquilos!

Os dias em Pulau (ilha) Pangkor foram… muito, muito tranquilos e depois de toda a azáfama das ilhas do sul da Tailândia soube bem chegar a um local muito mais pacífico, relaxado e não ser incomodado de cinco em cinco segundos por vendedores ambulantes, à semelhança de Koh Samui. 🙂

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Na praia, a maioria das pessoas que encontrámos eram nativas do país e foi muito interessante observar que o tipo de brincadeiras praticadas não se altera, independentemente de estarmos na presença de uma sociedade islâmica e claramente marcada pela religião. 🙂

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Nos dias que aqui estivemos aproveitámos para tomar banhos de sol na praia – que apesar de não ser tão bonita como as existentes nas Phi Phi, era agradável – e na piscina do hotel; comer deliciosos e frescos peixes grelhados; começar a conhecer os sabores da comida malaia; escrever no caderno; ver macacos a invadirem as varandas em busca de comida fácil e pela primeira vez tucanos em liberdade; assistir ao quase afogamento de uma criança – na piscina – e comprovar como este pode ser rápido, silencioso e potencialmente letal :/ ; comer frescos gelados e partir em direção à capital… Kuala Lumpur, de seu nome. 🙂

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Crónicas Em trânsito Fotografia

Em trânsito: Koh Phi Phi – Pulau Pangkor. Cruzando Fronteiras

Ato II – Malásia Side

Às 6.00 da manhã já estávamos acordados e prontos para seguir até um novo país. Mas não se pode dizer que estivéssemos frescos, pois à longa viagem do dia anterior juntou-se uma noite dormida miseravelmente, fruto do quarto “fabuloso” mas principalmente da preocupação que se apoderou dos nossos espíritos… uma vez que na noite anterior marcámos um hotel num resort em Pulau Pangkor e posteriormente vimos que a ilha ficava longíssimo da fronteira – “apenas” trezentos e cinquenta quilómetros! Para fazer em transportes públicos! E sem a noção de horários das ligações terrestres e marítimas… – caricato! Na única vez que tínhamos marcado um hotel realmente bom, havia a fortíssima probabilidade de não conseguirmos chegar a tempo de dormir a primeira noite. :/

A andar, rumámos para fronteira e à medida que o fazíamos, senti um nervoso miudinho pois não tinha nenhum comprovativo de saída da Malásia. A saída da Tailândia estava mais do que garantida mas… e a entrada no nosso destino imediato? Porém e após o controlo de passaporte em ambos os postos de  fronteira, a minha preocupação revelou-se totalmente infundada, pois ao olhar para o passaporte vi um carimbo que mostrava noventa dias! E sem pagar! 🙂 Já com a burocracia resolvida entrámos oficialmente na Malásia e à semelhança da passagem da China para o Laos, a fronteira foi cruzada a caminhar de mochila às costas. 🙂

Às 8.00 entrámos oficialmente na cidade Malaia de Padang Besar – o nome é exatamente igual ao da cidade da Tailândia! – e depois de levantarmos dinheiro, tentámos encontrar autocarros que nos levassem mais para sul. Quando chegámos à estação, a mesma estava fechada e com um aviso no portão a informar que apenas abria às 10.00! :/ Sentámo-nos no chão, abri o laptop e comecei a procurar alguma informação no guia da Lonely Planet. Esta cidade era muito menos desenvolvida do que imaginara e como não oferecia alternativas imediatas, disse à M. que tínhamos de ir para Kangar o mais rapidamente possível. Não existindo autocarros, tivemos de apanhar um táxi. No terminal, fiquei super admirado quando vi o valor da viagem afixado e o taxista a não querer negociar o preço! Depois das mafiosices constantes do sul da Tailândia, esta clareza era uma boa mudança! Ainda para mais quando o valor para fazer os trinta e poucos quilómetros se revelou justo. 🙂

De táxi, chegámos à estação de Kangar às 9.40 e já na bilheteira perguntei se existia um autocarro para Ipoh – a maior cidade do centro da Malásia e que tinha ligação com Lumut, a cidade portuária onde teríamos que apanhar o barco para Pulau Pangkor. Porém e felizmente a M. disse para reformular a pergunta para Lumut e assim fiz e… não é que havia um autocarro direto!? Pois é! Tudo indicava que estávamos “safos” e nesse momento as nossas probabilidades de chegar a Pulau Pangkor passaram de uma miragem para uma certeza absoluta. Que alívio! 😀

Antes de embarcarmos decidimos comer e pela primeira vez tivemos contacto com a comida Malaia  cheiro forte a especiarias, pratos com caril, picante q.b., muita variedade. Escolhemos o que queríamos comer e quando estávamos para pagar, um desconhecido que estava no balcão, apontou para a nossa mesa e fez sinal ao empregado que iria pagar-nos a refeição. Eu e a M. dissemos que não. Que não podíamos aceitar e ele respondeu-nos: ”Don´t be shy.” E acabou mesmo por pagar tudo! Comovidos com a bondade deste senhor, ficámos de lágrimas nos olhos e só pudemos dizer obrigado, várias vezes. 🙂

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Quando entrámos no autocarro, os assentos pareciam umas autênticas poltronas! 😀 Nunca tinha visto nada assim. Pusemo-nos à vontade e enquanto a M. dormia eu aproveitei para atualizar o caderno. A viagem até Lumut foi muito tranquila e confortável e com uma paragem que fizemos em Ipoh para mudarmos de autocarro, a mesma durou seis horas e meia! Já em Lumut e depois de verificarmos que havia muitas opções para posteriormente irmos para Kuala Lumpur, andámos dois minutos a pé até ao cais de embarque, onde apanhámos o barco. A viagem foi feita já com o sol em rota descendente e a paisagem revelou uma ilha muita verde. Já em Pulau Pangkor apanhámos uma carrinha táxi cor-de-rosa, de valor fixo até ao nosso hotel e já na receção demos com a conta impressa e o recibo pronto! Ehhhh, eficiência! 🙂 Quando chegámos ao quarto ficámos bastante agradados com o mesmo e depois de um mergulho na bonita piscina, jantámos num pequeno restaurante. Depois da refeição, voltámos ao quarto, onde aterrámos na cama, cansados das múltiplas viagens dos dias anteriores e de todo o carrossel de emoções que fomos vivendo.

No barco     IMG_2681 (FILEminimizer)

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