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O Buda Gigante e o “Monstrinho”

O dia começou no autocarro para Leshan, onde tive mais uma pequena aula de chinês com o Li Xiaoling, um rapaz que conheci na noite anterior já em Chengdu e depois de regressar do parque natural de Jiuzhaigou. Quando chegámos à cidade apanhámos uma carrinha privada – preço idêntico ao autocarro público – que nos levou para zona do Buda, porém a paragem terminal foi feita em frente a um restaurante onde nos tentaram impingir comida e uma viagem para Emeishan. Típico! :/ Neste dia houve uma novidade… Foi a primeira vez desde o início da viagem que carreguei durante todo o dia o meu “monstrinho”, nome com o qual baptizei “carinhosamente” a minha mochilona. E mesmo assim tive sorte porque o Li ajudou-me ao levar a mochila do material eletrónico, que não estava tão leve quanto isso. Lá está, mesmo numa situação menos favorável, o português tem sempre sorte! 😉

      

Durante o dia e passo a passo, visitámos o Buda de Leshan e a área envolvente. E mesmo com o “monstrinho” às costas afirmo que adorei visitar este local. 🙂 Primeiro, recebi o impacto “clorofilino”,  fruto da vegetação luxuriante que nos rodeava. Depois, a extraordinária cor dos templos, pavilhões e muros circundantes de um ocre antigo cheio de profundidade e de textura, a tranquilidade da maioria dos locais, apesar do espaço ser super turístico, as pequenas cavernas, fruto do labor humano e onde me deparei com a frase: “It is easy to draw ghosts, but difficult to draw dogs and horses” (É fácil desenhar fantasmas, mas difícil desenhar cães e cavalos) e que estava relacionada com o facto dos cães e dos cavalos serem os guardiões das almas. Por último e claro, o impacto da presença massiva do Buda.

       

Junto com as multidões chinesas, descemos um penhasco de rocha laranja, abrupta e parcialmente esculpida com relevos, nichos e aberturas e que à distância parece uma aldeia. Observámos o rio verde que corre aos pés do Buda e onde circulam freneticamente barcos turísticos que permitem uma vista frontal do local. E na descida o Buda de Leshan revela-se e agiganta-se. Com setenta e um metros de altura e pontuado pela vegetação que cresce no seu colo, ombros e corpo, como que das suas vestes se tratasse, o grandioso buda molda-se na rocha que lhe dá vida. Quando chegamos à base da estátua, o Buda imponente toma conta de todo o espaço, só temos olhos para a sua dimensão e verificamos que somos mais pequenos que o seu dedo mindinho. É aqui, que sentimos realmente o Buda de Leshan. 🙂

      

Sentir é a palavra certa. O Buda não se vê ou observa, o Buda sente-se! 😀 Penso que não há palavras que consigam realmente definir o que foi estar lá. Mas fazendo uma pálida tentativa, para o leitor não ficar no zero absoluto, posso afirmar que me senti ínfimo, uma partícula mínuscula, algo frágil e fugaz, constituído por ossos, sangue e carne, matéria viva que um dia morrerá. Senti o peso da mortalidade humana. Mas tal não me esmagou. Morte é morte. Vida é vida. E enquanto houver vida, há a esperança e a alegria de podermos sentir. Só assim estamos vivos, só assim somos humanos. 😀

      

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Símbolos e Deturpações na Pagoda

Ao visitar a Dayan Pagoda, o ambiente é de oração, serenidade e silêncio. Mas tal como no dia anterior (nos soldados de Terracota) fiquei com a sensação que o seu valor está inflacionado, de qualquer modo, no seu interior existem uns templos agradáveis de cores suaves (numa zona amarelos, na outra brancos). 

Pagoda DouradaDayan PagodaPara mim a surpresa ocorreu, quando numa janela vi uma “suástica” e relembrei-me de uma conversa que tivera com o Adam (Palestiano que conhecera em Pequim) sobre o facto da Cidade Proibida estar cheia de súasticas. Mas a questão é esta: este símbolo na China tem conotações associadas à felicidade e ao dinheiro. Deste modo, foi para para mim super-interessante aprender que os Nazis pegaram e deturparam um símbolo Budista, transformando-o na sua bandeira e imagem máxima.

Qual o significado

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Pedalando em Pingyao

Ato II – O Templo

Em oposição aos exteriores desmaiados do templo, neste caso, seria no interior que residia o seu valor maior. O bilhete não foi propriamente barato (40Y), mas eu queria realmente entrar. Tendo em conta que este espaço (Shuanglin) foi construído há 1500 anos, e que no seu interior estão albergadas mais de 2000 estátuas Budistas em terracota e madeira (dinastias Song, Yuan, Ming e Qing), grande parte delas pintadas, com as cores delicadas originais preservadas e ainda vivas, até um leigo como eu em cultura chinesa percebe que está na presença de algo muito raro. 😀

Buda (4)         Buda

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O Primeiro Dia em Pingyao

Que cidade é esta? Pelas descrições que fui lendo, Pingyao é possivelmente a cidade muralhada mais bem preservada do país, está classificada como Património Mundial pela UNESCO e localiza-se na província de Shānxī, a 800 km de Pequim e aproximadamente a 500 km de Xi´an. Esta foi a parte teórica, agora vamos à prática.

À chegada e quando o relógio marcava as 7.30, fui recebido por um frio de rachar. Sem mapa para me orientar e com umas indicações manhosas (providenciadas pela internet), aproveitei a “boleia” de um rebanho de franceses que iam na mesma direção e após dois dedos de conversa percebi que se deslocavam para o meu hostel. Ora cá está: o Zé tuga volta a ter sorte! 🙂 Depois de uma deambulação de quinze/vinte minutos lá o encontrámos. Depois de efectuado o check-in e de ter largado a bagagem na minha “suite” (onde ninguém dormiria naquela noite a não ser eu) parti à descoberta da cidade.

       

Ao percorrer as ruelas do burgo a caminho da residência da família Jin, fico com a sensação de ter recuado até aos tempos da China Imperial, com as suas casas com paredes de tijolo ou terra, caminhos cobertos de pó, pequenas lojas de ofícios e uma atmosfera silenciosa. 😀 Após a visita, dirigi-me ao magnífico Templo de Confúcio e na entrada, comprei um bilhete global, válido por três dias e com o qual se pode entrar em quase todos os locais turísticos. Segui junto à muralha até à zona do Portão Este e nas proximidades vi uma igreja católica e o Templo de Cheng Huang, outro local extasiante.

      

Só ao percorrer a Rua Sul é que comecei a perceber quão turística Pingyao pode ser: inúmeras lojas de quinquilharia barata a fazer-se passar por antiguidades; restaurantes com preços altamente inflacionados; hotéis; cafés e bares com “boa-pinta”. Nesta rua, visitei a torre do mercado onde acabei por ter uma visão mais panorâmica da cidade e algumas das inúmeras casas museu com os seus pátios espectaculares. Na Rua Este, continuei a visita às casas museu e nas imediações da muralha visitei o Templo de Qing Xu, que segundo as indicações na entrada é o único templo taoísta do mundo aberto ao público e onde vi a minha primeira partida de Xiang Qi (xadrez chinês).

Torre do Mercado      

Já no fim da tarde e após ser brindado com o laranja intenso do pôr-do-sol, havia que terminar o dia, e para terminar em beleza, nada como terminá-lo à mesa. O problema, vá, o ligeiro problema, é que o prato que me saiu em sorte no “jogo da roleta russa” foi de comer pouco e chorar muito…Era picante, picante, picante! O repasto consistia em rins de porco e couves que boiavam num líquido cor de sangue acompanhados por um mar de malaguetas vermelhas e de grãos de pimenta preta. Um espectáculo estrondoso, que tornou o primeiro dia em Pingyao num dia de extremos e me fez passar do gelo da manhã, para o intenso fogo da noite. 😛

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Palácio de Verão, essa Maravilha

Depois do dia anterior ter sido hiper turístico, nada melhor que manter o ritmo. Assim e aproveitando o dia solarengo, os meus passos dirigiram-se ao metro que por sua vez me transportou até às imediações do Palácio de Verão.

      

Lago no Palácio de Verão

Em Pequim e excluindo a Muralha da China, este foi o local que mais prazer me deu a visitar. E porquê? Bem primeiro de tudo é um local magnífico e maravilhoso, o enorme lago a verde floresta. Segundo, o seu interior está cheio de locais verdadeiramente singulares – por exemplo, a Torre da Fragrância de Buda com a sua espectacular e imponente escadaria. Terceiro, o binómio: ponte/lago gelado. Quarto, comer sentado na escadaria nas proximidades da entrada Norte. Quinto, o dia super alegre e solarengo. Sexto… Sétimo… Enésimo… podia continuar, mas penso que já perceberam a ideia geral! 😉

    Torre da Fragância de Buda       
    O grande lago       

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E ao Sexto dia? O Turista volta à Vida!

Prólogo

Sexto dia na cidade e “finalmente” vamos ter um dia totalmente turístico! Ena ena, já era sem tempo! O meu alter-ego já estava a ficar stressado com tanta descontração e relaxamento, pobrezito. 😉 Neste dia os pratos fortes foram a Cidade Proibida, as Torres do Sino e do Tambor e o Templo de Lama, ah! E finalmente consegui acordar cedo! Uh uh! (este “grito“ é em honra das “Huhu girls”). 😀

Matrioskas em Pequim

A caminho da Cidade Proibida, ainda dava para observar vestígios da neve caída no dia anterior e ao penetrar no seu interior já havia hordas de turistas prontas para a pilhagem e para a violação. Bem! É melhor conter-me na linguagem, afinal eu próprio sou turista e convém adjectivar-me de um modo mais amigável e simpático. Adiante. O início não me foi de fácil digestão, mas assim que comecei a circular, comecei a divertir-me a observar os meus “band of brothers” e as suas ações militares. Um dos melhores momentos foi sem dúvida à frente à sala do trono, quando cada uma das almas que compunha a turba queria tirar à força o seu momento KODAK. Impagável! 😛

Confusão, naaaaaNo meio de nós turistas, volta e meia via-se um dos soldadinhos de chumbo, mas desta vez e ao contrário da praça de Tianmen, não marchavam. Não! Tinham de estar impávidos e serenos e aguardar que os Filhos do Céu não fizessem desabar sobre eles (e já agora sobre nós) nenhuma tormenta. À medida que deambulava pelo espaço e entrava dentro de pátios, dentro de pátios, dentro de pátios… tinha a sensação que a Cidade Proibida se tinha transformado numa Matrioska gigante onde no final as pequenas e graciosas bonecas russas foram substituídas pelos graciosos e convidativos pátios chineses.

Um dos múltiplos portõesTorres do Sino e do Tambor

P.S. – Lamento, mas a experiência foi tão “maravilhosa”! Que só consigo exprimir o que senti com reticências.

Pequim, versão Tibetana

     No pátio     No pátio (2)

O meu primeiro templo na cidade e no país, teve ironicamente um cheirinho a Tibete e ao país que está marcado no mapa como sendo uma das maiores províncias da China, mas passando as questões políticas para segundo plano, vamos falar sobre o que se viu.

Para entender à que estudarE o que se viu? Um magnífico conjunto de templos, com as tradicionais bandeiras tibetanas espalhadas pelo complexo, monges vestidos de laranja e de grená, estátuas lindíssimas, cheiros profundos a incenso e a fumo, preces, orações e oferendas e um ambiente místico, profundo e exótico que atraiu a atenção do virgem ocidental e o deixou com água na boca para os tempos futuros. 😀

Preces e orações