Categorias
Crónicas Em trânsito

Em trânsito: Xi´an – Chengdu. Andando…

Da viagem entre Xi´an e Chengdu não guardo memórias muito especias. Apenas dois ou três apontamentos me ficam na retina. O primeiro? Ser o único galo do galinheiro (compartimento de seis camas) e de ajudar as senhoras a arrumarem as bagagens. 😉 O segundo, uma conversa que tive com uma rapariga chinesa, durante a qual falámos sobre os locais que eu ía visitar na província de Sìchuān e de diferentes rotas possíveis. Mais uma vez reaprendi a ler o bilhete de comboio, inclusivamente os caracteres para escolher onde queria a cama (topo, meio ou baixo). Em terceiro, quando no dia seguinte vi finalmente e pela primeira vez, uma paisagem realmente verde na China! 🙂 Estava coberta de uma flor amarela que cobria campos e campos sem fim e se chama Youcaihua, esta, é muito característica das províncias de Sìchuān e Yúnnán.

Categorias
Crónicas Em trânsito Reflexões

Gente, gente…Gente! Quente, quente…Quente!

Na estação de comboios de Xi ´an e antes de partir para Chengdu, havia gente, gente, gente… muita gente. Multidões!  E estava quente, quente, quente…muito quente. Um calor dos diabos! E entretanto continuo sem perceber porque é que os chineses acampam “à porta” das estações de comboios.

Espera no inferno

Categorias
Crónicas Fotografia

O Dia da Cinza

Conforme o combinado no dia anterior, às 11.00 encontrei-me com um dos rapazes que conhecera em Huashan no Portão Sul da muralha. O dia era cinza e prata, pois uma nuvem de assentou sobre a cidade. :/

WalkingFomos andando pela cidade até ao portão Este e aí comprámos os bilhetes e começamos a percorrer a fortificação, vá, meia fortificação porque quando comparada com a de Pingyao a muralha de Xi´an tem mais do dobro da extensão! À medida que fomos andando, tirámos fotografias e conversámos e para além de alguns factos sobre a China, aprendi que o Cristiano Ronaldo foi rebatizado e se chama Luo C. 🙂

Queres andarQuando demos por findo o passeio – estávamos no portão Oeste – fomos almoçar e consegui pagar-lhe a refeição! Uhuhuh!!! Um feito inolvidável, uma vez que há sempre muita resistência por parte dos chineses em que lhe paguemos algo. 😉 Ah, e durante a refeição, tomámos um refresco típico de Xi´an, o Ice Peak.

       

Antes de nos despedirmos, escreveu-me duas ou três frases em caracteres chineses que me ajudariam a comprar qualquer bilhete, fosse ele de comboio ou autocarro e outra frase em que pedia aos motoristas de autocarro para que parassem em determinado local. Basicamente, esteve a escrever para a minha futura “sobrevivência” no país. 😉

Categorias
Crónicas Reflexões

Mi Amigo Eduardo

Quando cheguei ao hostel, depois do regresso de Huashan e do estrondoso Hot Pot, conheci Eduardo, um rapaz Colombiano. E o que sucedeu? Bem começamos a conversar, a conversar, a conversar… e estivemos algumas horas a fazê-lo. Falámos sobre viagens e diferentes experiências, América do Sul, segurança, economia e das nossas vidas. Expusemos as nossas teorias de como o sol e a temperatura (ou aproximação à linha do Equador) influenciam os povos e os países do nosso planeta e a sua produtividade, riqueza, corrupção, alegria de viver e a festa… Acabámos a trocar contactos e comigo a oferecer-lhe o excelente livro dos mapas de Pequim que recebera de Ryan, experimentando novamente e de um modo intenso, a importância da partilha em viagem. 😀

Categorias
Crónicas Fotografia Reflexões

Huashan a Primeira Montanha

Ato III – O Nascer do Dia, os Chineses e a Ratoeira Dourada

O Nascer do Dia

Acordei às 5.30, ainda de noite com o objetivo de ver nascer o sol e às 6.05 já estava a caminho do Pico Este (2096 m), o qual atingi às 6.20. Durante cinco/dez minutos observei o “terreno” e às 6.30 já estava instalado e pronto para o acontecimento. O sol nasceu algures entre as 6.50 e as 7.00, porém consequência das nuvens, para os espectadores de Huashan, apenas às 7.05 o astro rei se revelou. A partir desse momento e com o passar dos minutos uma luz dourada invadiu progressivamente a face oriental dos Picos Este e Sul, tornando a montanha num local mágico. Durante uma hora andei a passear no Pico Este e nesse tempo fotografei, vi um casal de “doidos” andar junto à beira de penhascos durante 5 minutos (!) :/ e estive no vai não vai para ir ao pavilhão Xia Qi Ting, o qual só é acessível se passarmos um penhasco, com uma corda de rappel.

7       8

Os chineses

Às 8.00, uma vez que a temperatura estava a subir muito rapidamente parei para um mini-striptease e para tomar o pequeno-almoço. Nesse momento conheci dois rapazes chineses de Guangzhou, que escalaram a montanha durante a noite e iriam seguir para Xi´an nessa tarde –  tal como eu. A partir dai ficámos juntos o resto do dia: fomos até ao Pico Sul; mostrei-lhes o exterior das tendas onde dormira, voltei a encontrar as nobres gentes do dia anterior e tirei uma fotografia com/e ao “avô” – que já tinha as minhas luvas postas 😀 e eles foram meus intérpretes num agradecimento com mais palavras; visitámos o escarpado Pico Oeste e começámos a descer a montanha (10.40). Sem nos apercebermos, durante a descida (11.30) fomos levados a seguir o trilho que conduz ao portão Este e a uma ratoeira dourada! Às 14.00 estávamos no portão Este.

     Estou aqui    11

A Ratoeira Dourada

A ratoeira dourada consiste em conduzir as pessoas (durante a descida), para o portão Este, em vez de as conduzir ao portão Oeste. Esta diferença à primeira vista insignificante, conduz as pessoas a um trilho – trilho dos soldados – desinteressante e monótono em que o objectivo é apenas descer degraus! :/ Porém a questão principal nem é essa e se fosse, já era grave! Uma vez que impede as pessoas de ver a verdadeira beleza da montanha durante a descida e no caso de alguns infelizes também na subida. O cerne da questão é que o portão Este fica a oito quilómetros do centro da pequena cidade de Huayin (华阴市), da estação de autocarros, da estação de comboios… enfim fica longe de tudo! E nesse momento, se as pessoas não tiverem carro – a grande maioria – é obrigada a apanhar um mini autocarro para regressar. Ou seja, sem o desejarem as pessoas são conduzidas a uma ratoeira da qual não conseguem escapar! 😦

Podíamos pensar, que ninguém é realmente obrigado a apanhar esse mini autocarro. Errado! A estrada que conduz ao centro de Huayin (华阴市) não tem bermas para peões e está cheia de curvas e contra-curvas, tornando-se um verdadeiro perigo para eventuais caminhadas! Toda esta questão, que eu considero abusiva por parte do parque natural, ganha requintes de ESCÂNDALO, quando no autocarro – operado por uma empresa independente – de regresso a Xi´an (西安) se pode ler um ALERTA  – em mandarim – que as pessoas que apresentarem o bilhete de entrada no parque natural antes de entrar nesse mini autocarro – todas as pessoas o têm – não teriam de pagar o bilhete do mesmo. Porém esta informação não existe em nenhum lugar, a não ser… já no interior de um autocarro que nos leva de regresso à grande urbe. Ou seja, o parque natural e a empresa de autocarros andam a encher os bolsos à conta das pessoas, por sonegação de informação. É legal? É…mas que não passa de um mais um esquema made in China, disso não restam dúvidas!

Categorias
Crónicas Fotografia Reflexões

Huashan a Primeira Montanha

Ato II – A Nobreza das Pobres Gentes

Quando entrei na tenda, estava um radiador em forma de parabólica ligado e dois homens descalços a aquecer os pés. O meu anfitrião pronunciou algumas palavras para os restantes e entretanto apontaram-me um lugar para me sentar e pousar a mochila, enquanto vários pares de olhos me olhavam com curiosidade. Dentro da tenda o espaço era rectangular e alto, a temperatura era agradável (fruto do radiador e do calor humano) e havia algum fumo. Para além disso, fora construída uma plataforma elevada em madeira e contraplacados em forma de U invertido que servia para manter as pessoas afastadas do solo enlameado e gelado. Esta plataforma estava cheia de edredons, sacos de viagem, ferramentas e pessoas sentadas ou deitadas a esfumaçar, a jogar às cartas ou pura e simplesmente silenciosas. Existia ainda, nesta plataforma uma subdivisão feita com outros painéis e panos de tenda, tal e qual uma segunda mini tenda.

Enquanto estava sentado fui dizendo várias vezes xìe xìe (obrigado) e apontei para mim e disse Putaoya (Portugal), entretanto já tinha tirado do bolso do softshel as notas que tinha comigo (cerca de 80Y) e passei-as para as mãos de um deles, que as passou para as mãos de outro e sempre a acenarem que não com a cabeça, foram passando as notas de mão em mão até elas me serem todas entregues. Nesta altura senti-me comovido com a nobreza das pobres gentes.

Ofereceram-me então uma garrafa da qual bebi uns goles para aquecer a garganta e para matar o bicho e tirei da mochila a comida para o jantar. Depois de a oferecer aos presentes (ninguém aceitou) comecei a comer com satisfação e apetite. Terminado o repasto, comecei a rearrumar a mochila e a tirar peças de roupa à vez: gorros, luvas, meias, polar, camisola e calças térmicas que fui mostrando às pessoas (sabendo que eram gente pobre) para ver se alguém aceitava alguma coisa. De tudo o que mostrei apenas aceitaram umas luvas polares, nada mais quiseram! Toda esta situação, comoveu-me. A generosidade, a simplicidade, a honestidade destas pessoas. Após a mostra de roupa ofereceram-me cigarros, mais álcool e fizeram-me uma cama com roupa que lá tinham, resumindo… Deram-me tudo o que tinham, sem esperar nada em troca e foram o espelho perfeito da bondade e da nobreza de carácter. 😀

Antes de nos deitarmos para dormir cerca das 21.30, ainda deu para: perceber o motivo de existência da mini-tenda (havia um casal entre os presentes); ver as luvas a serem entregues ao trabalhador mais velhinho (meio-dente e que fumava cachimbo); ver os passos de dança de um chinês mais extrovertido, ao som de um telemóvel 🙂 ; observar jogos de cartas; fumaradas; notar que as várias pessoas utilizavam o mesmo telemóvel (possivelmente para contactarem com a família); entender que aquelas pessoas eram trabalhadores da construção civil.

Adormeci pensado na minha felicidade e boa sorte. Adormeci a pensar que mesmo que a vida seja bastante dura, apesar da necessidade, da privação, das condições em que cada um trava a sua luta diária, da pobreza… o carácter, o bom carácter pode estar sempre bem presente e vivo na vida das pessoas… é ele que nos torna verdadeiramente nobres. 😀

Categorias
Crónicas Em trânsito

Em trânsito: Xi´an – Huashan. À Nora!

Na partida para Huashan (a minha primeira montanha na China e uma das cinco montanhas sagradas do Taoísmo) a primeira mini-aventura ocorreu logo na partida, quando em plena estação de autocarros e com o bilhete já na mão, andei qual barata tonta a mostrá-lo a revisores e motoristas para me indicarem qual o autocarro a apanhar, uma vez que existiam apenas caracteres chineses e não existiam indicações legíveis para leigos do chinês, nomeadamente número do autocarro e local da partida. 😛

A viagem durou sensivelmente uma hora e quarenta minutos e uma vez que Huashan não era a paragem terminal, tive que ir super-atento para perceber o momento exato em que tinha que sair do autocarro pois não há indicações do sítio onde estamos, apenas se ouve a voz do motorista a anunciar o nome do local e digamos que para quem não percebe chinês, nem sempre é tarefa fácil. 😛

Categorias
Crónicas Fotografia

Símbolos e Deturpações na Pagoda

Ao visitar a Dayan Pagoda, o ambiente é de oração, serenidade e silêncio. Mas tal como no dia anterior (nos soldados de Terracota) fiquei com a sensação que o seu valor está inflacionado, de qualquer modo, no seu interior existem uns templos agradáveis de cores suaves (numa zona amarelos, na outra brancos). 

Pagoda DouradaDayan PagodaPara mim a surpresa ocorreu, quando numa janela vi uma “suástica” e relembrei-me de uma conversa que tivera com o Adam (Palestiano que conhecera em Pequim) sobre o facto da Cidade Proibida estar cheia de súasticas. Mas a questão é esta: este símbolo na China tem conotações associadas à felicidade e ao dinheiro. Deste modo, foi para para mim super-interessante aprender que os Nazis pegaram e deturparam um símbolo Budista, transformando-o na sua bandeira e imagem máxima.

Qual o significado

Categorias
Crónicas

Breakfast, o Genuíno

Na noite anterior e depois do magnífico serão, quando cheguei ao quarto encontrei um rapaz chinês, Xiang Shuo de seu nome. Era a primeira vez, desde que chegara à China que tinha a oportunidade de conviver com um “nativo” durante mais tempo e apesar de alguns problemas de comunicação, resolvemos acertar agulhas para visitar a cidade de Xi´an juntos.

O dia começou por isso com o meu primeiro pequeno almoço à moda chinesa e não posso dizer que tenha sido memorável. O repasto incluiu uma sopa de sabor rude e agreste, em que cada colherada era equivalente a um calafrio na espinha e um frito de forma arredondada que parecia palha, mas que em sabor era muito muito melhor que a malfadada sopa (ainda dizem que a sopinha aconchega o estômago, naaaaaaaaaa… nem toda!!!) 😉

À medida que o pequeno almoço ia decorrendo fui pensado: se o problema era a falta de educação do meu paladar ou se a comida era mesmo e valia a pena dar uma nova hipótese aos pequenos almoços chineses. A resposta foi-me então dada pela tigela do Xiang, que quando acabou o pequeno-almoço a deixou a mais de meio. Percebi assim, que este breakfast não passara de uma imitação barata e de péssima qualidade e que o genuíno tinha de esperar até uma nova degustação. 😛

Categorias
Crónicas

Tratado como um Príncipe em Xi´an

Quando regressei da minha deambulação noturna, re-encontrei Chen (o gerente) e uma vez que estávamos na primeira semana de vida do hostel, resolvi dar-lhe umas sugestões para possíveis melhoramentos.

A partir daí, a conversa desenrolou-se com naturalidade e percebi que afinal Chen não era gerente, antes um amigo do dono e que tinha vindo de Xangai para o ajudar no início do negócio (Chen é dono de um hostel em Xangai). A conversa foi fluindo, cervejas internacionais e cigarros foram oferecidos. Falou-se sobre negócios, hostels, China (sociedade e locais a visitar), família, viagens… 😀

No final do serão, fui convidado a jantar com o staff do hostel (no dia seguinte) e a aparecer em Xangai para uma estadia no seu hostel. Quando nos despedimos, não me senti um simples hóspede, senti-me um amigo de longa data, um amigo que durante umas horas foi tratado como um príncipe em Xi´an. 😀