Categorias
Crónicas Fotografia O 1º Dia

O Magnífico Lú gū hú

Mas afinal o que é Lú gū hú? Lú gū hú é um grande lago que se localiza e separa as províncias de Sìchuān e Yúnnán. Dois terços da sua vasta área localizam-se em Sìchuān e o restante terço em Yúnnán. Este lago é a casa de múltiplas vilas de diferentes etnias: Tibetana, Yi e Mosu (a última sociedade matriacal praticante do mundo). 😀


Ato I – O Nascer do Dia e da Discórdia

Na pequena vila de Luowu onde dormimos, acordámos muito cedo para ver o despontar do novo dia e este maravilhou. 🙂 O lago como espelho perfeito das nuvens e da cor do céu, as montanhas recortadas no horizonte, a cor em transição, desde os azuis, cinzentos e pratas até aos desmaiados rosas e dourados vivos, os barcos, a vegetação circundante, a neblina suave, os “nativos” nas suas rotinas piscatórias.

IMG_4886 (FILEminimizer)      IMG_4921 (FILEminimizer)

Entretanto o Xiaoling voltou ao quarto para dormir mais um pouco e eu aproveitei para ler algumas coisas sobre o país, fazer a barba e re-arrumar a mala. Quando voltou a acordar disse que íamos mudar de hostel com o argumento: “Aqui não há pessoas”, fiquei confuso mas acabei de empacotar a mala e fizemos o nosso check-out. Junto ao lago e porque não percebia as suas intenções e ele também não as conseguia explicar (o Xiaoling tinha um inglês praticamente inexistente e a nossa conversação era feita 99% das vezes com recurso à tradução de mensagens no seu smartphone) estava bastante irritado com a situação por ele criada. Naquele momento, estávamos os dois na rua de “monstrinho” às costas e sem um plano, pelo menos era isso que sentia. :/ Com muitas dificuldades na comunicação e vinte minutos volvidos, lá nos conseguimos entender e finalmente percebi que a sua ideia era dormir em Lǐgé, aldeia que se localizava na outra margem do lago e que ficava “apenas”, a mais de quarenta quilómetros de distância.

     IMG_4945 (FILEminimizer)      IMG_4955 (FILEminimizer)

Categorias
Crónicas Em trânsito Fotografia

Em trânsito: Xichang – Lú gū hú. Viagem Infinita.

Depois do pequeno almoço e ainda cedinho “fugimos” do hotel carunchoso e tentámos apanhar boleia para Yan Yuan. Porém, cedo se percebeu que não iria ser tarefa fácil, pois ao sair da cidade nem os “nativos” sabiam muito bem qual a melhor estrada para o fazermos. Bonito! 😛 Desse modo e após uma hora de espera, fomos forçados primeiro, a apanhar um autocarro para fora de Xichang e depois e devido à falta de carros nessa estrada, a apanhar um segundo autocarro para Yan Yuan  cento e trinta quilómetros.

IMG_4856 (FILEminimizer)Durante a viagem que nos levou por vales e montanhas e de um dia de sol para um dia de chuva, para além da paisagem, consegui ver a vida real do país a desfilar à minha frente qual filme. E uma das minhas “cenas” preferidas foi ver as crianças a sair da escola numa alegre algazarra e se não fossem as suas feições poderia dizer que estava em Portugal, tais as semelhanças. 🙂 Outro facto que ressalvo foi a loooooooooooooonga espera, mais de duas horas, devido a um mega engarrafamento que tinha quilómetros e quilómetros e quilómetros de extensão e que foi gerado por obras na estrada – uma única faixa para ambos os sentidos!

IMG_4858 (FILEminimizer)

Nesse engarrafamento, aproveitei para comer os bolos secos que comprámos antes de embarcar, noodles instantâneos e ovos cozidos que foram comprados à posteriori a vendedores ambulantes. Continuei a escrever no caderno e principalmente fiquei “siderado” com a qualidade dos filmes de Kung-Fu do tempo da Maria Caxuxa, que estavam a passar no autocarro. Ai! As “barbaridades” que uma pessoa encontra. 😛

IMG_4874 (FILEminimizer)Quando chegámos a Yan Yuan fomos largados num terminal secundário e quando estávamos a caminho da estação principal para rumarmos finalmente para Lú gū hú, uma carrinha de nove lugares estancou ao pé de nós e o condutor perguntou ao Xiaolong para onde íamos. A verdade é que o problema ficou resolvido instantaneamente! 🙂 Até porque o valor pago, era bastante justo, tendo em conta os cento e vinte quilómetros que nos separavam do nosso destino. 🙂 Na viagem o caderno continuou a ser atualizado, mas por vezes a tarefa foi dificultada pela estrada, uma vez que que o piso era um misto alternado de terra e alcatrão e para além disso havia obras em pelo menos metade da sua extensão, sendo necessário parar muitas vezes devido ao trânsito condicionado. A partir de certa altura e fruto do cansaço comecei a dormitar aos poucos e num desse momentos a melhor imagem que guardo foi a luz da lua filtrada pelas nuvens e as estrelas a brilhar no céu negro. Fruto de tantos percalços e atrasos, batizei a viagem para Lú gū hú de “infinita”, a viagem sem fim…

Categorias
Crónicas Fotografia Reflexões

Despedida de Qiong Hai

     

Já no hostel e antes de recolhermos a bagagem, ficámos ainda uns momentos a beber cerveja, a comer amendoins, pevides e favas secas, e a confraternizar com o staff e com o dono do hostel sob um magnífico e soalheiro sol. Na despedida disse-lhes: “A nossa casa é onde nos sentimos bem e durante os dias que aqui estive esta foi a minha casa. Tudo graças a vocês!”. 😀

Categorias
Crónicas Em trânsito Fotografia O 1º Dia

Loujishan. No Reino da Neve e dos Lagos Negros

Para irmos a Loujishan decidimos tentar apanhar boleia, e fruto da sorte o assunto ficou resolvido em menos de dez minutos! 🙂 Na chegada à povoação o condutor pediu para tirar uma fotografia comigo e esse facto está a começar a tornar-se parte da tradição das boleias. 😉 Da povoação até à entrada do parque tivemos de apanhar um táxi/carrinha e depois de pagarmos o bilhete de entrada, apanhámos um autocarro – cujo valor estava incluído – que nos levou por uma estrada de elevados declives e curvas bem apertadas até ao sopé da montanha.

À boleia    Kiri star

Aí existem duas opções: na primeira pode subir-se a pé a escadaria que leva à montanha propriamente visitável e interessante; na segunda apanha-se um teleférico cujo custo é elevado, mas que permite a ascensão e a descida no mesmo dia. Como pretendíamos uma visita mais rápida optámos pela segunda. E mesmo de teleférico, foram necessários quarenta minutos para chegar ao “topo”! 😛

 Panorâmica      

A viagem de teleférico transportou-nos de um reino dourado e azul para um reino de prata, cinza e neblina, na cota dos 3700 m. Assim que chegámos ao “topo” começámos logo a ascensão e durante aproximadamente quatro horas andámos a subir e descer degraus em altitudes que variaram entre os 3700 m e os 3950 m – a cota do Penhasco de Aru. Nos trilhos que percorremos, vimos florestas verdes escuras, outras de troncos caídos, neve, gelo e lagos negros. Neste parque todos os lagos sem exceção, maiores ou menores são negros como o azeviche. As montanhas e os picos envolviam-nos… a neblina, o céu prata, o sol a brilhar, fiapos de nuvens brancas e um céu azul.

           

No topo da montanha o Xiaoling sofreu bastante com a altitude: cansaço extremo, respiração e batimentos cardíacos acelerados… 😦 apenas recuperando e voltando ao seu ritmo físico normal após a viagem de regresso ao sopé da montanha. Aí, tivemos imensa sorte pois conseguimos apanhar um autocarro que estava mesmo a partir, evitando grandes esperas. Mas mais sorte ainda, tivemos na partida do parque, quando ao mostrar a nossa placa ao primeiro carro que vinha na nossa direção – um mercedes ML 500 – o veículo parou e o condutor nos deu boleia de volta a Qiong Hai. À grande. 😉 

            

            

Categorias
Crónicas Fotografia

Pedalando em Qiong Hai

O dia amanheceu já sem chuva e cor de prata, e o nosso primeiro passo foi alugar duas bicicletas para dar a volta ao lago. Qiong Hai, tem quarenta e dois quilómetros de perímetro, mas no final do percurso enganámo-nos numa cortada e esse valor passou para aproximadamente quarenta e oito quilómetros. 😛 O lago pode ser dividido em duas partes distintas, a turística e a real.

      

     Arcos

      

No decorrer da manhã, pedalámos pela zona turística. Aqui, as margens estavam bastante arranjadas com jardins, zonas para bicicletas, árvores, estátuas, zonas pedonais, embarcadouros e barcos a remos. A partir do meio-dia chegou o sol, e, à medida que fomos avançando começámos a ver o Qiong Hai real. O das aldeias, o dos velhotes e das crianças, o das pessoas sentadas na rua a jogar às cartas ou majhong, a conversar ou pura e simplesmente a ver o tempo passar. O Qiong Hai dos camponeses, dos carros e das motas a buzinar, dos verdes campos cheios de água e vida, o do suor e esforço humano e animal, o dos bois, das vacas e dos incontáveis pássaros, o dos montes à volta do lago e das flores… rosas, roxas, amarelas e brancas. 🙂

Categorias
Crónicas O 1º Dia

Xichang. O Momento mais Baixo

O dia acordou chuvoso e muito cinzento, talvez pronúncio do que se avizinhava. Depois do pequeno-almoço, mudámos-nos para um hostel em Qiong Hai (o lago que fica nas imendiações de Xichang). Como o dia estava péssimo e o meu PC avariado, voltámos a Xichang para tentar encontrar uma loja que resolvesse o problema.

Deixámos o computador entregue a um informático que nos disse solucionar o assunto em quatro horas por 420Y (aproximadamente 52,50€) e passámos a tarde num cyber-café, a aguardar. Passadas cinco horas recebemos a notícia via telemóvel que afinal não tinha sido possível tratar do difícil caso, uma vez que o disco rígido conseguia ser recolocado mas que não tinha as drivers necessárias. Quando voltámos ao hostel, estava triste e sentia que o dia tinha sido completamente perdido (este sentimento apenas foi atenuado, mas muito ligeiramente, porque durante o dia esteve sempre, sempre a chover). 😦

Num dia tão merdoso, o serão foi a única coisa positiva: a malta do hostel, os shots de cerveja (TSINGTAO), os cigarros, sentir o bom ambiente, acabar de organizar as fotografias de Pequim, falar via bate-papo (Gmail), dizer a um chinês que gozou comigo duas vezes que este estava a ser rude e estúpido e que apesar de eu não perceber chinês, percebia a linguagem corporal. Durante a ceia comemos tofu frito, ovos mexidos e feijões de soja, jogámos ao pedra-papel-tesoura para ver quem bebia e fingi que estava tudo bem com o chinês ao ser polido na despedida.

Categorias
Crónicas Em trânsito Fotografia

Em trânsito: Hai luo gou – Shimian. Condução à Chinesa

Tudo o que é bom, em algum momento tem de acabar e foi o que aconteceu com a nossa boleia. De Hai luo gou, o Johnny levou-nos até Shimian e daqui seguiu para Chengdu. Durante a viagem destaque para o rio, as laranjeiras, as vilas, os buracos e… a condução “à Chinesa”. 😛

Laranjas    Mirror

Esta condução baseia-se na premissa que a sinalização não interessa e que se não há carros de frente é para ultrapassar. Atenção, que refiro este facto não para me queixar do Johny que felizmente é um condutor minimamanete consciente, mas pela besta que se ia espetando em nós, não fossem uns reflexos de felino do nosso condutor. Xìe Xìe Johny! Safaste-nos o pêlo. Quem sabe… a Vida! 😀

Categorias
Crónicas Fotografia O 1º Dia

Yadzin. O Parque das Rochas Vermelhas

No dia anterior e depois da chegada a Lin Qi, acabámos por não nos despedir do Johny e da “amiga”. Uma vez que a nossa rota era semelhante, a boleia continuou e seguimos todos juntos, até Hai luo gou. Aí passámos a noite num hostel barato e de manhã fomos com os nosso benfeitores até ao Parque Natural de Yadzin e ao planeta das rochas brancas e vermelhas.

      

Este local foi uma grande surpresa e para mim algo totalmente inesperado. A paisagem é diferente de tudo o que vi e consiste numa área gigantesca de pedras vermelhas e brancas junto a um rio. À primeira vista e pela descrição pode não parecer muito apelativo, mas posso afirmar que é mesmo ver para crer. É lindo! O facto mais interessante é que o vermelho não passa de uma película exterior e se observarmos com atenção vemos que as rochas por debaixo da película são brancas. A melhor maneira de explicar é imaginarem o tronco de uma árvore coberto de líquenes, mas neste caso o tronco é substituído pela rocha branca que fica total ou parcialmente coberta por um revestimento vermelho. Descoberta positiva e diferente, valeu a pena ter vindo a Yadzin, o parque das rochas vermelhas. 🙂

   

Categorias
Crónicas Em trânsito

Niubeishan no Anfiteatro das Montanhas

Ato VII – O Caminho de Regresso

Depois da recompensa e das despedidas, a nossa atenção voltou-se para o regresso a Lin Qi ou a Yujin e o nosso primeiro passo foi falar com Johny para saber se ele nos arranjava boleia. Apesar de inicialmente ele se ter mostrado muito renitente – questões de seguros, caso acontecesse alguma coisa de mal – lá o conseguimos convencer. A primeira parte do caminho foi um corta-mato feito a pé entre o pico de Niubeishan (牛背山) e a casa onde almoçáramos três dias atrás, onde o Johnny tinha deixado o seu SUV. Incrivelmente, esta foi a parte mais tranquila.

A segunda parte consistiu na descida entre este local e outra casa semelhante, mas localizada a uma cota inferior. O caminho estava cheio de lama, buracos, curvas apertadas e por isso a velocidade era muito reduzida: 10-15 km/h. Em certo momento o Johny pediu-nos sair do carro e irmos um bocado a pé devido à insegurança da descida. Fruto de um corta-mato que fizemos dentro da floresta, da lama e da neve, desencontrámo-nos dele e tivemos de voltar para trás à boleia numa carrinha de caixa aberta alta. Nessa curta viagem tive uma bela oportunidade para de experienciar novamente o medo, ao ver os precipícios do meu lado da estrada. :/

A terceira e última parte do caminho começou nessa segunda casa e apenas terminou em Lin Qi. Nesse último troço, saímos ainda do carro algumas vezes devido aos penhascos assustadores e à ausência total de proteções laterais na estrada. Mesmo assim ainda deu para suar um pouco, pelo menos no início do caminho. 😛 A estrada era toda ela de terra batida e a inexistência de placas e indicações, fez com que nos perdêssemos três vezes em cruzamentos. Apesar de tudo e à medida que íamos progredindo (muito lentamente, 10 km/h) o ambiente foi-se desanuviando e deu para apreciar a paisagem que desfilava ao nosso lado: montanhas, verdes vales e o céu azul. No total a viagem durou aproximadamente sete horas, quase tanto como o trekking de subida, e de certo, com muitos mais sustos e percalços do que este.

Categorias
Crónicas Fotografia

Niubeishan no Anfiteatro das Montanhas

Ato VI – A Recompensa

Para ir ver o nascer do sol, acordámos por volta das 6.00. Quando saímos da tenda ainda era de noite e havia muitas estrelas no céu. Caminhámos para o ponto mais alto da montanha e aí aguardámos pelo nascer do astro rei, aproveitando para ver o cavalgar do dia perante a noite, e a transformação do céu negro para azul. 🙂

          

Nessa altura tivemos a nossa recompensa. Diga-se, uma recompensa muito aguardada e algo merecida, uma vez que esperámos durante três dias por aquele momento. E o momento não desiludiu, antes pelo contrário! Foi BELO ver o nascer do sol, a multidão que aguardava expectante, a suave neblina nas montanhas da face Este qual uma delicada pintura chinesa, o céu completamente limpo nas montanhas da face Oeste, os reflexos dourados nos grandes picos brancos e nas outras montanhas de faces negras e cinzentas, e claro, ver o pico da Gongga a brilhar em toda a sua majestade e altivez, com uma visibilidade perfeita, perfeita, perfeita! Indescritível! 😀