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Em trânsito: Shimian – Xichang. Good Cop, Bad Cop

A nossa paragem em Shimian, só tinha um objectivo: arranjar um meio de transporte para Xichang. E o Xiaoling como rapaz desenrascado que é, resolveu que deviamos tentar apanhar boleia e continuar na senda da poupança. Claro que não me opus e passado uns minutos estavámos a apanhar um táxi para os pórticos de entrada da auto-estrada, já com um cartaz em riste que “dizia”: Xichang – em caracteres chineses, pois claro. 😉 Aí encontrámos um polícia, o bonzinho que nos tentou ajudar a realizar os nossos intentos, inclusivamente chegou a mandar parar carros e perguntar-lhes se eles íam na direção de Xichang. Infelizmente, não durou muito porque entretanto chegou o polícia mauzinho  “ser superior”, de tromba fechada e óculos RayBan na fuça – que rapidamente acabou com a boa ação do seu subordinado. Quase sem falar, fez-nos um gesto para que nos afastássemos dali e tivemos que mudar de poleiro.

Durante os vinte minutos seguintes e à vez, fomos mostrando o cartaz aos carros que passavam e felizmente passado esse tempo conseguimos apanhar boleia com três rapazes, que seguiam num jipe. Impecáveis, super-simpáticos, divertidos – apesar de não os compreender, foi isso que senti – e excelentes anfitreões.

A viagem foi tranquila e se num primeiro momento apenas se viam terras áridas, de repente tudo mudou e a paisagem passou a ser verde e cheia de água. Porém, nem tal facto chegou para alterar o aspecto das aldeias que fomos observando ao longo do caminho: pequenas, pobres e sujas. Já na chegada ao destino, senti-me qual estrela de Hollywood, quando um dos rapazes me pediu para tirar uma fotografia com ele e sorrindo os dois tirámos o retrato que encerrou a nossa boleia. 🙂

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Validades

No dia de regresso a Chengdu, ao comprar uns mantimentos para a viagem, reparei pela primeira vez que todos os produtos que comprara estavam fora de validade, inclusivamente o leite. Mas não se pense que era uma ou duas semanas. Não! Meses! No caso do leite, quatro meses! Fiquei a pensar se tal seria consequência do afastamento do parque natural ou se seria uma situação generalizada e decidi que nas próximas oportunidades iria investigar esta questão. 😛

P.S. – Apenas como curiosidade para o leitor. Sim! Acabei por consumir todos os produtos que comprei e não… Não senti nada de anormal no meu organismo! 🙂

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Chengdu? Parques e Arranha-céus

  Arranha Céus      White

Depois da visita aos Pandas, voltei ao “centro” de Chengdu, capital da província de Sìchuān. Mas verdade seja dita, devido à vastidão da cidade é dificil encontrar-lhe o coração. 🙂 Há quem diga que está nas grandíssimas avenidas, fréneticas, cheias de pessoas, motos, autocarros e carros. Há quem diga que está em Wangfujin, nas lojas caras e requintadas das imediações e nos arranha-céus que quais gigantes começam a despontar em todas as direções. Eu digo que talvez esteja nos verdes e animados parques da cidade. Principalmente no People´s park, onde há danças, karaokes, coreografias a serem ensaiadas, bandas a tocar, partidas de xiang qi, majohong e cartas a serem jogadas e onde pessoas de todas as idades parecem convergir e partilhar parte do seu tempo. 😀

       

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Crónicas Fotografia O 1º Dia Reflexões

Apple/Mountain Boy

Depois do loooooongo périplo e finalmente já no quarto do hostel, conheci Wang, um rapaz de Pequim que nos primeiros instantes não largava o i-pad. A verdade é que durante o resto da tarde/noite ele acabou por ser a minha companhia e estivemos a falar durante horas sobre montanhas, sobre a China, maneiras de viajar (turística ou “não turística”), as minhas dificuldades de linguagem e alfabeto e o quanto esse facto me limitava a ir a certas zonas do país. Acabámos o dia, a jantar baozis (massa cozida a vapor com recheios de carne ou vegetais no interior), dumplings e um caldo doce (que não consegui fixar o nome). Antes de dormir ainda houve tempo para um passeio numa daquelas zonas do novo turismo chinês, do tipo: “quanto mais caro melhor!” e, ao olharmos para tudo aquilo, sentimo-nos como estranhos que observam curiosos os peixinhos dentro de um aquário. 🙂

            

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Huashan a Primeira Montanha

Ato II – A Nobreza das Pobres Gentes

Quando entrei na tenda, estava um radiador em forma de parabólica ligado e dois homens descalços a aquecer os pés. O meu anfitrião pronunciou algumas palavras para os restantes e entretanto apontaram-me um lugar para me sentar e pousar a mochila, enquanto vários pares de olhos me olhavam com curiosidade. Dentro da tenda o espaço era rectangular e alto, a temperatura era agradável (fruto do radiador e do calor humano) e havia algum fumo. Para além disso, fora construída uma plataforma elevada em madeira e contraplacados em forma de U invertido que servia para manter as pessoas afastadas do solo enlameado e gelado. Esta plataforma estava cheia de edredons, sacos de viagem, ferramentas e pessoas sentadas ou deitadas a esfumaçar, a jogar às cartas ou pura e simplesmente silenciosas. Existia ainda, nesta plataforma uma subdivisão feita com outros painéis e panos de tenda, tal e qual uma segunda mini tenda.

Enquanto estava sentado fui dizendo várias vezes xìe xìe (obrigado) e apontei para mim e disse Putaoya (Portugal), entretanto já tinha tirado do bolso do softshel as notas que tinha comigo (cerca de 80Y) e passei-as para as mãos de um deles, que as passou para as mãos de outro e sempre a acenarem que não com a cabeça, foram passando as notas de mão em mão até elas me serem todas entregues. Nesta altura senti-me comovido com a nobreza das pobres gentes.

Ofereceram-me então uma garrafa da qual bebi uns goles para aquecer a garganta e para matar o bicho e tirei da mochila a comida para o jantar. Depois de a oferecer aos presentes (ninguém aceitou) comecei a comer com satisfação e apetite. Terminado o repasto, comecei a rearrumar a mochila e a tirar peças de roupa à vez: gorros, luvas, meias, polar, camisola e calças térmicas que fui mostrando às pessoas (sabendo que eram gente pobre) para ver se alguém aceitava alguma coisa. De tudo o que mostrei apenas aceitaram umas luvas polares, nada mais quiseram! Toda esta situação, comoveu-me. A generosidade, a simplicidade, a honestidade destas pessoas. Após a mostra de roupa ofereceram-me cigarros, mais álcool e fizeram-me uma cama com roupa que lá tinham, resumindo… Deram-me tudo o que tinham, sem esperar nada em troca e foram o espelho perfeito da bondade e da nobreza de carácter. 😀

Antes de nos deitarmos para dormir cerca das 21.30, ainda deu para: perceber o motivo de existência da mini-tenda (havia um casal entre os presentes); ver as luvas a serem entregues ao trabalhador mais velhinho (meio-dente e que fumava cachimbo); ver os passos de dança de um chinês mais extrovertido, ao som de um telemóvel 🙂 ; observar jogos de cartas; fumaradas; notar que as várias pessoas utilizavam o mesmo telemóvel (possivelmente para contactarem com a família); entender que aquelas pessoas eram trabalhadores da construção civil.

Adormeci pensado na minha felicidade e boa sorte. Adormeci a pensar que mesmo que a vida seja bastante dura, apesar da necessidade, da privação, das condições em que cada um trava a sua luta diária, da pobreza… o carácter, o bom carácter pode estar sempre bem presente e vivo na vida das pessoas… é ele que nos torna verdadeiramente nobres. 😀

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Em trânsito: Xi´an – Huashan. À Nora!

Na partida para Huashan (a minha primeira montanha na China e uma das cinco montanhas sagradas do Taoísmo) a primeira mini-aventura ocorreu logo na partida, quando em plena estação de autocarros e com o bilhete já na mão, andei qual barata tonta a mostrá-lo a revisores e motoristas para me indicarem qual o autocarro a apanhar, uma vez que existiam apenas caracteres chineses e não existiam indicações legíveis para leigos do chinês, nomeadamente número do autocarro e local da partida. 😛

A viagem durou sensivelmente uma hora e quarenta minutos e uma vez que Huashan não era a paragem terminal, tive que ir super-atento para perceber o momento exato em que tinha que sair do autocarro pois não há indicações do sítio onde estamos, apenas se ouve a voz do motorista a anunciar o nome do local e digamos que para quem não percebe chinês, nem sempre é tarefa fácil. 😛

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No Quarteirão Islâmico

Andava a deambular pelo centro da cidade com o intuito de ir ao quarteirão islâmico, mas como não sabia onde se localizava, limitei-me a andar e a observar o que a cidade me estava a oferecer (principalmente, muito movimento), quando… nas imediações da Torre do Tambor e por mero acaso encontrei o que procurava: o afamado quarteirão islâmico de Xi´an. 🙂

Quarteirão Islâmico

Quarteirão Islâmico (2)Imediatamente enveredei por umas ruelas, deambulando e sentindo o ambiente. Luzes a piscar, multidões, comida… muita comida, cheiros espalhados pelo ar, frutos secos, quinquelharia, roupa, óleos e incensos… Enfim, uma atmosfera completamente preenchida de sensações e bastante diferente das ruas chinesas tradicionais, como se de repente entrássemos noutro país. Um país das “Arábias” e com cheiro a Mil e Uma Noites. 😉

À saída do quarteirão Islâmico

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Libertem o Capitalismo, esse Animal Selvagem!

Ao sair da pagoda percorri parcialmete a avenida Xanta Nanlu em direção a sul e observei que esta zona foi completamente restaurada e irá servir o novo turismo chinês: estátuas e monumentos a vangloriar os antigos heróis e poetas mas com versões bastante exageradas e romantizadas, centros comerciais, lojas, restaurantes, bares e cafés luxuosos. Diao Xiao Peng abriu o país ao capitalismo e agora, com o “Boom Chinês”, há que o servir em doses generosas a quem tiver dinheiro para o consumir.

Nas imediações, ao consultar o mapa, vi umas manchas verdes com enormes lagos e pensei que se tratava de um parque gigantesco. Poderia ser agradável passear por lá um bocado. Porém, qual não foi o meu espanto, quando em vez de um parque público me deparei com o “PARAÍSO DE TANG” que para mim foi equivalente a encontrar o “Inferno de Tang” – bandeirinhas, flores de plástico, templos e torres modernas disfarçadas de antigas, tudo a brilhar e com um “cheiro” asséptico e plastificado que me fez inverter a marcha e voltar a “correr” para o centro poluído e caótico da cidade. Ao menos nesse ainda há realidade. 😉


Uma nota final sobre a bondade dos desconhecidos: Na paragem de autocarro do “Inferno de Tang” uns chineses ajudaram-me a voltar ao centro da cidade e pagaram-me o bilhete de autocarro (de nada serviu eu querer devolver-lhes o dinheiro), isto apesar de não falarem uma única palavra de inglês. 😀

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Lights & Music

Quando voltámos dos soldados de Terracota, apanhámos um autocarro para as imediações da Dayan Pagoda e aí passeámos durante um bocado. Quando parámos, o Xiang explicou-me que queria ver um espetáculo numas fontes ali nas imediações e aguardámos durante duas horas e meia o seu início. Mas afinal o que me levou, a ficar à espera durante todo esse tempo? Bem ao que parece Xi´an tem nas imediações da Dayan Pagoda a maior fonte da Ásia e todos os dias e pontualmente às oito da noite, ocorre um espectáculo de luz, água e música. Viver e aprender! 😉

O espectáculo é verdadeiramente um espectáculo e valeu todo o tempo de espera! 😀 Naqueles momentos senti-me verdadeiramente feliz e durante instantes percebi que pertencia ao Mundo e que podia estar em qualquer lugar do nosso planeta. 

          

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Tratado como um Príncipe em Xi´an

Quando regressei da minha deambulação noturna, re-encontrei Chen (o gerente) e uma vez que estávamos na primeira semana de vida do hostel, resolvi dar-lhe umas sugestões para possíveis melhoramentos.

A partir daí, a conversa desenrolou-se com naturalidade e percebi que afinal Chen não era gerente, antes um amigo do dono e que tinha vindo de Xangai para o ajudar no início do negócio (Chen é dono de um hostel em Xangai). A conversa foi fluindo, cervejas internacionais e cigarros foram oferecidos. Falou-se sobre negócios, hostels, China (sociedade e locais a visitar), família, viagens… 😀

No final do serão, fui convidado a jantar com o staff do hostel (no dia seguinte) e a aparecer em Xangai para uma estadia no seu hostel. Quando nos despedimos, não me senti um simples hóspede, senti-me um amigo de longa data, um amigo que durante umas horas foi tratado como um príncipe em Xi´an. 😀