Para além de escrever sobre os dias em Portugal, durante os três voos e as duas escalas (Amesterdão e Pequim) aproveitei para dormir, escrever no computador, enviar e-mails e ver diferentes paisagens do alto, qual uma águia imperial. 🙂 Na entrada na China voltei a ser controlado com papéis, carimbos e… lérias! E refleti sobre a segurança nos aviões, os lobbies e a estupidez associada a essa falsa noção de… segurança. E tudo isso, foi despontado quando tive a oportunidade de observar que os talheres que são utilizados em primeira classe nos aviões são de metal e com base nesse facto pergunto-me: “Será que apenas os não terroristas, viajam em primeira classe?” e “Porquê tanta alarido à volta de mini-tesouras e outros metais nas bagagens de bordo, quando esse metal é fornecido pelas próprias companhias aéreas?” Enfim… contradições do mundo moderno, assético e seguro em que vivemos.
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Huangshan, Montanha Amarela
Ato I – Huangshan. Partida!
O trajeto entre Tangkou e o “portão” da face Oeste da montanha (Templo da Luz Misericordiosa) durou vinte minutos e a estrada era um conjunto de curvas e contra-curvas no meio de uma paisagem verde.
Quando comprei o bilhete (aproximadamente 29€!) referi que queria voltar no dia seguinte e recebi uma declaração para o devido efeito, deste modo o bilhete teve a validade de dois dias e não de apenas um como é normal – claro que isto não está escrito em lado nenhum e apenas soube deste “detalhe” graças à rececionista do meu hostel! 🙂 Às 8.10 comecei a ascensão da montanha Amarela e se inicialmente o dia estava bastante pardacento, a verdade é que à medida que o tempo passou, o dia foi-se tornando mais claro, o céu “azulou” e o sol despontou. 🙂 À medida que fui subindo degraus parecia que estava numa mistura de Huashan – faces escarpadas – e de Emeishan – verde, verde… verde – e a primeira parte da ascensão até Groting Guests Pine foi bastante rápida – aproximadamente duas horas. Por esta altura, a ascensão não estava ter a dificuldade que esperava, mas fruto da beleza da montanha, a experiência estava a ser muito boa.
Na chegada ao hostel, ao falar com a rapariga da receção e ao contar-lhe o sucedido, ela confirmou-me que de facto Mr. Hu era da concorrência e que muitas vezes os motoristas dos autocarros páram em frente a determinados restaurantes ou hotéis para receberem umas luvinhas extra. Finalizados os esclarecimentos, coloquei a bagagem no quarto (que cheirava completamente a novo e estava imaculado) e fizemos um briefing (super-esclarecedor e elucidativo) sobre a montanha. 🙂 Aí, percebi que para ter uma boa visão do conjunto geral da montanha iria necessitar de dois dias inteiros de trekking e preparei o “plano de ataque” para os próximos dias.
P.S. – As camas do hostel eram FABULOSAS! Um verdadeiro ninho de conforto e de longe as melhores na China! 😀
Dica sobre Hostels na China
Na China, os hostels cobram quase sempre mais se marcarmos presencialmente ou pelo site oficial da YHA China do que por outros websites (hostelsworld e hostelbookers, por exemplo) e por vezes o aumento é bastante significativo! Nesse dia, tive mais um belo exemplo prático, pois antes de dormir falei com um casal (que estava no meu quarto) e descobrimos que eles estavam a pagar mais 20Y (cerca de 2,50€) do que eu, pelas mesmas condições!! Por um quarto num dormitório? A diferença é demasiada e despropositada!
Hello, Monsieur President!
No último dia na cidade visitámos a casa do primeiro Presidente chinês Zhou Enlai e vi o respeito que a Shue nutre pelo mesmo. Para além disso falámos abertamente sobre Mao e percebi finalmente que a sua glorificação começa na escola com a educação e que apenas se as pessoas procurarem informação extra talvez consigam ver mais longe que os demais, a Shue é uma dessas pessoas! 😀 E a sua visão de Mao não está deturpada por informação suavizada – a propósito ela também gosta de Diao Xiao Ping. 😉
Para além disso, visitámos o principal jardim da cidade, associado a uma história de Amor! Ai tão bonitoooooooo! 😛 E nas imediações da casa de Lu Xun comemos uma gelatina com sabor a mentol – fresca e desenjoativa – e na despedida da cidade, brindámos e bebemos uma taça do famoso vinho de Shaoxing. Ao fazê-lo, pude observar uma vez mais que tudo na vida é relativo, pois o vinho que para mim tinha um sabor delicado e leve, para a Shue que nunca tinha bebido vinho, um sabor forte. 🙂
Shaoxing e Simbolismos
Depois do pequeno almoço e de comprarmos uma capa de chuva para a Shue, uma vez que chovia com bastante intensidade, partimos à descoberta da cidade e dirigimo-nos para o seu centro histórico, onde a figura de monta é o escritor Lu Xun.
Quando começámos a visita ao lago Este da cidade, inicialmente o local não parecia nada de especial, mas à medida que o percorremos, este foi-se revelando e acabou por ser de longe a melhor visita do dia: o lago, as pontes, as colinas escarpadas, os barcos, as paredes brancas e as telhas negras, a vista do topo das colinas, a diferença de cor entre o rio e o lago, as rochas, a vegetação e a conversa! 🙂 E esta – à semelhança do que aconteceu no museu de Suzhou com a Yue – girou em torno dos números e do seu significado na cultura chinesa: número 4 – evoca a morte; número 6 – as “coisas” vão correr suavemente; número 8 – associado ao dinheiro; número 9 – associado ao Imperador, à longevidade sendo o maior número individual. 🙂
Para chegarmos aos outros locais que pretendíamos visitar ainda tivemos que percorrer uma longa distância e durante o percurso deu para observar que: a cidade é bastante grande e que a área envolvente é muito rica em água. Apesar dos outros locais que visitámos terem sido ligeiramente desapontantes, uma vez que não corresponderam às expetativas que inicialmente tinha, a conversa foi ótima e eu continuei a aprender sobre a cultura chinesa – poder e influência da família e da tradição na vida dos jovens – “advocacia, não é profissão de mulher!”, frase proferida pela família da Shue, apesar de ser para isso que ela está a estudar.
Skyline
Quando me estava a aproximar do rio e vindo da Avenida de Nanjing – onde fui interpelado pelo menos umas cinco vezes por prostitutas e pimp´s a oferecerem “massagens” ou coisa que o valha 😛 – senti que estava a ficar cada vez mais satisfeito e quando desemboquei na Zhongshan Road e vi o skyline de Xangai estva verdadeiramente feliz! 😀
Antes de começar a deambular no passadiço e ainda com os olhos no horizonte, vi uma estátua imponente de alguém que me parecia o Mao e instantaneamente pensei: ”F@£$-&%, até aqui?! Mas o que é que esta múmia tem a ver com a cidade, ou qual o seu mérito na construção desta China capitalista e vibrante?”. Uns metros mais à frente e depois de ler a placa comemorativa da mesma fiquei muito mais “aliviado”, pois a estátua nada tinha a ver com Mao, era sim de Chen Yi, o primeiro presidente da cidade, após o advento comunista de 1949.
No passadiço, fui andando e tirando fotografias desde o entardecer até ser finalmente noite e os edifícios brilharem, literalmente e mostrarem todo o seu esplendor. 🙂 Durante grande parte do tempo fui observando o skyline, mas a partir de certa altura comecei a dirigir a minha atenção para as pessoas que por lá circulavam e ao observá-las, constatei que 99% das mesmas estavam acompanhadas. Não sei se por esse facto, se por esperar que o Juan me dissesse algo e ele não ter dito, se por uma combinação de ambas ou até nenhuma das anteriores, a verdade é que nesse momento me senti sozinho. Sozinho, não no sentido miserável, apenas e só… sozinho. Sem ninguém ao meu lado com quem pudesse partilhar. Tinha que me bastar a mim mesmo e foi isso que fiz… até chegar ao hostel e reencontrar Roberto com que fiquei a conversar sobre empregos e desempregos, países, locais para trabalhar ou viver, sobre nós, sobre a crise… sobre os pequenos tudos e nadas que fazem as nossas vidas. 🙂
Museu de Xangai
À saída do parque fui interpelado por três jovens que me perguntaram se lhes podia tirar uma fotografia e a seguir continuámos na conversa enquanto nos dirigíamos ao Champs Elysées de Xangai. Segundo eles o museu da cidade – que era o meu destino – estava com umas filas bastante grandes e era melhor fazer um compasso de espera, antes de ir para lá. Antes de entrarmos nos Champs Elysées – centro comercial, pedi para lhes tirar uma fotografia e depois da mesma seguimos pelos corredores. Só quando comecei a entrar num local mais pequeno, comecei a estranhar o ambiente e quando vi os meus ”três amigos” a sentarem-se numa mesinha com chávenas de chá à frente, tive a certeza absoluta onde estava e com quem estava! E pensei: “Filhos da P$%€! Não acredito nesta m£§%@! Outra vez?!”. Claro que nesse momento e instantaneamente disse que tinha que ir e abandonei o local qual relâmpago. No caminho ainda houve um ligeiro momento no qual pensei voltar atrás e confrontar estes mafiosos e dizer-lhes na cara: “Eu sei perfeitamente quem vocês são e o que fazem!”. Mas logo de seguida pensei que não pretendia meter-me em chatices e que queria ultrapassar a situação o mais rapidamente possível.
Durante o caminho de regresso ao parque recordei Pequim, o profissionalismo destes gangues e no à vontade que demonstram a enrolar a vítima e a distraí-la com conversa, para além de revelarem uma enorme capacidade de adaptação e de criação de empatia com a mesma.
Em Wuxi apenas estive um dia, mas no tempo que aqui estive apreciei bastante a cidade e foi com uma certa pena que deixei a mesma. De qualquer modo e do que vi destaco a cidade antiga de Huishan e as suas bonitas casas brancas de telha negra e pátios incontáveis; os seus canais e reflexos; as suas pontes; os seus templos; as suas esplanadas e as texturas e rugosidades das suas paredes. 🙂
O museu de Terracota que gostei bastante e com o qual aprendi um pouco mais sobre o país, através das suas coloridas peças de terracota, mesmo com o segurança a andar quase em cima dos meus calcanhares. 😛 E um passeio noturno de bicicleta em redor do lago com a rececionista do hostel e no qual tive a oportunidade de aprender mais sobre a China: festivais (Lua e Primavera), feriados, binómio Mao/Diao Xiao Ping, família, tradição, viagens, o porquê de viajar. E devo referir que foi das poucas vezes que consegui ter uma conversa realmente aberta acerca do país, sem constrangimentos de qualquer ordem. 😀

















































