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Crónicas Fotografia O 1º Dia Reflexões

Huashan a Primeira Montanha

Ato I – A Ascensão e a Procura

A ascensão da montanha iniciou-se por volta do meio dia e os primeiros quatro quilómetros foram bastante simples e sem dificuldades de maior. Destacando-se os templos e altares taoístas em que fui entrado e os malabarismos de um chinês no topo de um rochedo – há gente muuuuuuuito marada! :/ Após esses momentos de passeio e lazer e a partir do momento em que apareceram os primeiros cadeados com fitas vermelhas – representação simbólica dos desejos das pessoas – presos nas correntes laterais – correntes essas que nos auxiliam na ascensão e nos separam da zona dos penhascos – começaram as dificuldades em Huashan.

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Às 14.00 estava a almoçar na companhia de uma árvore milenar nas traseiras de um templo taoísta 🙂 e às 14.35 a subida complicou-se exponencialmente com seções de inclinações absolutamente diabólicas – Thousand foot Precipice e Hundred foot Crevice. Às 16.00 estava oficialmente no topo do Pico Norte – podia ter chegado antes, mas decidi percorrer uns trilhos alternativos para conhecer mais facetas da montanha – e nessa altura posso dizer que estava verdadeiramente FELIZ por ter chegado ao primeiro pico de Huashan e por ter a oportunidade de ver algo belo depois de o ter conquistado.

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Reflexão: Os montanhistas, alpinistas e praticantes de trekking devem experienciar algo semelhante e quanto maior o esforço ou a provação, maior esse sentimento.


O Pico Norte tem uma altitude de 1614 m e é o anfiteatro de eleição para os restantes quatro picos. Sim! Huashan é uma montanha de cinco picos: Norte, Sul, Este, Oeste e Central. O Pico Norte foi o primeiro a ser conquistado e aí acabei de almoçar aproveitando para descansar um pouco antes de recomeçar a ascensão, o que aconteceu por volta da hora coca-cola light. Nesta altura, porque o tempo estava super-agradável e porque via a quantidade de roupa quente que ainda tinha na mochila, comecei a pensar seriamente em dormir ao relento, nalgum lugar abrigado e o mais próximo possível do Pico Este (local de excelência para ver o nascer do sol na montanha). 🙂

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Às 17.00 estava na base do Jin Sue Guan, a seção que liga o Pico Norte à entrada para os restantes picos principais e posso afirmar que este trecho não é nenhuma pêra doce e que puxa pelo nosso corpo e mente. Cinquenta minutos depois estava no Pico Central (2037 m) e vinte minutos volvidos, cerca das 18.10 atingi o Pico Oeste (2082 m), do qual avistava a face do Pico Sul iluminada pela bela luz dourada do pôr do sol. 😀 Uns momentos antes desse belo acontecimento encontrei um americano e um neozelandês com que estive uns minutos à conversa e comecei a sentir-me desanimado relativamente à possibilidade de dormir ao relento (falaram do vento, do frio – temperaturas que podiam atingir os graus negativos… 😦 ) e comecei a olhar ainda com mais atenção para possíveis abrigos, notando que em alguns locais ainda existia neve.

Às 18.37 já estava a caminho do Pico Sul, o mais elevado da montanha (2155 m) o qual atingi já ao cair da noite, só para tirar a fotografia da praxe (no dia seguinte podia voltar mais calmamente). Quando comecei a descer do Pico Sul em direção ao Pico Este já as luzes dos trilhos da montanha estavam ligadas e iluminavam na medida do possível os degraus. Entretanto, continuava à procura de um abrigo, equacionando várias possibilidades, entre elas ficar num templo que estava a ser reconstruído…quando a meio da descida me deparei com duas grandes tendas.

Instantaneamente parei e comecei a vasculhar a mochila à procura de um papel (escrito em caracteres) que tinha a pergunta: “Quanto $ pela estadia?”. Nesse momento, saiu um homem da tenda e eu fiz-lhe sinal para esperar (enquanto continuava a minha procura pelo papel). O homem ficou completamente imóvel a olhar para mim, enquanto eu tirava papéis, papéis, papéis, papéis… mais pápeis e finalmente passados quatro minutos interminavéis lá achei o tal papel. 🙂 Ao mostrar-lho ele fez-me sinal para entrar com ele para dentro da tenda

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Crónicas Em trânsito

Em trânsito: Xi´an – Huashan. À Nora!

Na partida para Huashan (a minha primeira montanha na China e uma das cinco montanhas sagradas do Taoísmo) a primeira mini-aventura ocorreu logo na partida, quando em plena estação de autocarros e com o bilhete já na mão, andei qual barata tonta a mostrá-lo a revisores e motoristas para me indicarem qual o autocarro a apanhar, uma vez que existiam apenas caracteres chineses e não existiam indicações legíveis para leigos do chinês, nomeadamente número do autocarro e local da partida. 😛

A viagem durou sensivelmente uma hora e quarenta minutos e uma vez que Huashan não era a paragem terminal, tive que ir super-atento para perceber o momento exato em que tinha que sair do autocarro pois não há indicações do sítio onde estamos, apenas se ouve a voz do motorista a anunciar o nome do local e digamos que para quem não percebe chinês, nem sempre é tarefa fácil. 😛

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No Quarteirão Islâmico

Andava a deambular pelo centro da cidade com o intuito de ir ao quarteirão islâmico, mas como não sabia onde se localizava, limitei-me a andar e a observar o que a cidade me estava a oferecer (principalmente, muito movimento), quando… nas imediações da Torre do Tambor e por mero acaso encontrei o que procurava: o afamado quarteirão islâmico de Xi´an. 🙂

Quarteirão Islâmico

Quarteirão Islâmico (2)Imediatamente enveredei por umas ruelas, deambulando e sentindo o ambiente. Luzes a piscar, multidões, comida… muita comida, cheiros espalhados pelo ar, frutos secos, quinquelharia, roupa, óleos e incensos… Enfim, uma atmosfera completamente preenchida de sensações e bastante diferente das ruas chinesas tradicionais, como se de repente entrássemos noutro país. Um país das “Arábias” e com cheiro a Mil e Uma Noites. 😉

À saída do quarteirão Islâmico

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Libertem o Capitalismo, esse Animal Selvagem!

Ao sair da pagoda percorri parcialmete a avenida Xanta Nanlu em direção a sul e observei que esta zona foi completamente restaurada e irá servir o novo turismo chinês: estátuas e monumentos a vangloriar os antigos heróis e poetas mas com versões bastante exageradas e romantizadas, centros comerciais, lojas, restaurantes, bares e cafés luxuosos. Diao Xiao Peng abriu o país ao capitalismo e agora, com o “Boom Chinês”, há que o servir em doses generosas a quem tiver dinheiro para o consumir.

Nas imediações, ao consultar o mapa, vi umas manchas verdes com enormes lagos e pensei que se tratava de um parque gigantesco. Poderia ser agradável passear por lá um bocado. Porém, qual não foi o meu espanto, quando em vez de um parque público me deparei com o “PARAÍSO DE TANG” que para mim foi equivalente a encontrar o “Inferno de Tang” – bandeirinhas, flores de plástico, templos e torres modernas disfarçadas de antigas, tudo a brilhar e com um “cheiro” asséptico e plastificado que me fez inverter a marcha e voltar a “correr” para o centro poluído e caótico da cidade. Ao menos nesse ainda há realidade. 😉


Uma nota final sobre a bondade dos desconhecidos: Na paragem de autocarro do “Inferno de Tang” uns chineses ajudaram-me a voltar ao centro da cidade e pagaram-me o bilhete de autocarro (de nada serviu eu querer devolver-lhes o dinheiro), isto apesar de não falarem uma única palavra de inglês. 😀

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Símbolos e Deturpações na Pagoda

Ao visitar a Dayan Pagoda, o ambiente é de oração, serenidade e silêncio. Mas tal como no dia anterior (nos soldados de Terracota) fiquei com a sensação que o seu valor está inflacionado, de qualquer modo, no seu interior existem uns templos agradáveis de cores suaves (numa zona amarelos, na outra brancos). 

Pagoda DouradaDayan PagodaPara mim a surpresa ocorreu, quando numa janela vi uma “suástica” e relembrei-me de uma conversa que tivera com o Adam (Palestiano que conhecera em Pequim) sobre o facto da Cidade Proibida estar cheia de súasticas. Mas a questão é esta: este símbolo na China tem conotações associadas à felicidade e ao dinheiro. Deste modo, foi para para mim super-interessante aprender que os Nazis pegaram e deturparam um símbolo Budista, transformando-o na sua bandeira e imagem máxima.

Qual o significado

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Despedidas no Museu

No dia seguinte e último dia do Xiang em Xi´an consegui finalmente comer um saboroso pequeno- almoço chinês: Tofu doce (tien) e um frito delicioso. Partimos para o museu de Xi´an e na entrada fui barrado (o bilhete é gratuito mas é obrigatório levar um documento de identificação). Por esse motivo tivemos de nos despedir aí, o Xiang nesse dia voltou para Luoyang e eu fui obrigado a voltar ao hostel para ir buscar o passaporte. :/

      

Quanto ao museu, posso dizer que gostei muito, principalmente da seção de cerâmica e que vale bem a pena passar aqui um par de horas do nosso dia e aprender um pouco mais sobre a cultura Chinesa. 🙂

      No museu     No museu (2)

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Lights & Music

Quando voltámos dos soldados de Terracota, apanhámos um autocarro para as imediações da Dayan Pagoda e aí passeámos durante um bocado. Quando parámos, o Xiang explicou-me que queria ver um espetáculo numas fontes ali nas imediações e aguardámos durante duas horas e meia o seu início. Mas afinal o que me levou, a ficar à espera durante todo esse tempo? Bem ao que parece Xi´an tem nas imediações da Dayan Pagoda a maior fonte da Ásia e todos os dias e pontualmente às oito da noite, ocorre um espectáculo de luz, água e música. Viver e aprender! 😉

O espectáculo é verdadeiramente um espectáculo e valeu todo o tempo de espera! 😀 Naqueles momentos senti-me verdadeiramente feliz e durante instantes percebi que pertencia ao Mundo e que podia estar em qualquer lugar do nosso planeta. 

          

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Os Famosos Soldados de Terracota? So What?

Depois do malfadado pequeno-almoço, dirigimo-nos para a estação de comboios, onde apanhámos o autocarro (8Y) para o local arqueológico (sensivelmente, a quarenta quilómetros da cidade), onde estão “sepultados” os famosos soldados de Terracota. Porém e antes de o conseguirmos fazer, haveria que ultrapassar uma multidão de pessoas e de esquemas, para finalmente sairmos daquele covil de leões e ladrõesQuando chegámos ao destino, o primeiro impacto veio com o preço do bilhete, 150Y!? Dassssssss, é caro!!! :/ Após a compra, e já quando nos preparávamos para entrar pediram-nos mais 5Y de transporte para nos levar até à entrada dos pavilhões. Nessa altura, em que já estava a achar o “roubo” demasiado, disse ao Xiang que podíamos andar e desse modo víamos a área à volta dos pavilhões arqueológicos, ele concordou e passados quinze minutos estávamos a entrar pelo próprio pé num dos locais mais turísticos do país.

       

A ordem que escolhemos para visitar os pavilhões foi completamente aleatória, mas acabou por ser determinante no nosso “humor” geral e final – pavilhão 3, pavilhão 2 e pavilhão 1. Ao fazermos este percurso fomos em crescente e acabámos por deixar o local mais monumental e impressionante para último! 🙂 Para além da grandiosidade do espaço e da quantidade de soldados, o que foi achei mais fantástico, foi observar as singularidades de cada soldado: a sua altura, feições, armadura e postura.

            

Este é de facto um local único no mundo, isso para mim é claro, mas penso que o preço a pagar é demasiado elevado. Mesmo com as características únicas associadas ao espaço e ao que encerra, não querendo resumir tudo a números, o valor certo seria 80Y-100Y. Deste modo, a relação custo/qualidade não correspondeu de todo à realidade e saí do local, a pensar: os famosos soldados de Terracota? So what?

Hordas e destroços

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Breakfast, o Genuíno

Na noite anterior e depois do magnífico serão, quando cheguei ao quarto encontrei um rapaz chinês, Xiang Shuo de seu nome. Era a primeira vez, desde que chegara à China que tinha a oportunidade de conviver com um “nativo” durante mais tempo e apesar de alguns problemas de comunicação, resolvemos acertar agulhas para visitar a cidade de Xi´an juntos.

O dia começou por isso com o meu primeiro pequeno almoço à moda chinesa e não posso dizer que tenha sido memorável. O repasto incluiu uma sopa de sabor rude e agreste, em que cada colherada era equivalente a um calafrio na espinha e um frito de forma arredondada que parecia palha, mas que em sabor era muito muito melhor que a malfadada sopa (ainda dizem que a sopinha aconchega o estômago, naaaaaaaaaa… nem toda!!!) 😉

À medida que o pequeno almoço ia decorrendo fui pensado: se o problema era a falta de educação do meu paladar ou se a comida era mesmo e valia a pena dar uma nova hipótese aos pequenos almoços chineses. A resposta foi-me então dada pela tigela do Xiang, que quando acabou o pequeno-almoço a deixou a mais de meio. Percebi assim, que este breakfast não passara de uma imitação barata e de péssima qualidade e que o genuíno tinha de esperar até uma nova degustação. 😛

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Tratado como um Príncipe em Xi´an

Quando regressei da minha deambulação noturna, re-encontrei Chen (o gerente) e uma vez que estávamos na primeira semana de vida do hostel, resolvi dar-lhe umas sugestões para possíveis melhoramentos.

A partir daí, a conversa desenrolou-se com naturalidade e percebi que afinal Chen não era gerente, antes um amigo do dono e que tinha vindo de Xangai para o ajudar no início do negócio (Chen é dono de um hostel em Xangai). A conversa foi fluindo, cervejas internacionais e cigarros foram oferecidos. Falou-se sobre negócios, hostels, China (sociedade e locais a visitar), família, viagens… 😀

No final do serão, fui convidado a jantar com o staff do hostel (no dia seguinte) e a aparecer em Xangai para uma estadia no seu hostel. Quando nos despedimos, não me senti um simples hóspede, senti-me um amigo de longa data, um amigo que durante umas horas foi tratado como um príncipe em Xi´an. 😀