Primeiro dia de Primavera, dia de frio polar numa cidade pardacenta e vazia perto de si, se houver cidades no Inferno, de certeza que são assim: sem movimento e som, sem cor, sem calor humano, despidas, glaciares, robóticas, sem alma…
O mundo atual é por estes dias, um espaço surreal. Um mundo de distâncias e ausências, recolhimento e silêncio, todos podem ser inimigos uns dos outros, sendo conveniente manter as distâncias em relação a cada corpo que vagueia por aí. Linhas lineares são traçadas no chão para um inimigo invísivel e contagioso, não se pegar às nossas moléculas de vida. Fugimos uns dos outros, para não sermos contaminados pela doença. Fugimos, para não nos tornarmos em anjos de morte.
O tempo passará e com ele novos dias e meses irão ficar gravados na nossa pele, vísceras e entranhas, na nossa memória e alma. A Primavera avançará, e com ela o cheiro do medo e da morte desaparecerá. Quando as mãos se voltarem a cruzar, os corpos a abraçar e os lábios a tocar, lembrem-se o que significa ser Humano. Não se esqueçam desse tempo que passou, e se necessário for, recordem aquele longínquo dia de Primavera.