A caminho da Terra do Bacalhau e dos Vikings, saí pela primeira vez de terras lusas – que segundo os Romanos são: “terras de um povo que não se governa nem se deixa governar” – com o objetivo primordial de procurar trabalho. Durante a travessia aérea, senti-me expetante, ansioso e receoso com a possibilidade de não o conseguir encontrar, mas simultaneamente esperançoso que a realidade dependesse apenas de mim e da minha abordagem. Como fui aprendendo ao longo da minha odisseia asiática, não vale a pena sofrer por antecipação, por isso o melhor era tentar manter-me otimista e rodeado de pensamentos POSITIVOS. O NÃO estaria sempre garantido, por isso o objetivo passaria por ser o mais proativo possível e ter a noção que existiam múltiplos caminhos para a felicidade. Não havia que fechar portas, pois nunca sabemos até onde estas nos podem conduzir.
Na Noruega fiquei o mesmo período que Cristo jejuou no deserto e durante esse tempo, para além de ter perdido a ilusão de ser contratado por uma empresa de Petróleo e Gás – mercado em rota descendente – percebi que até os trabalhos não qualificados – limpezas, restauração… sem conhecimentos de norueguês são difíceis de obter, ainda para mais numa cidade relativamente pequena como Kongsberg. A partir daí tudo se complicou e entrei num ciclo vicioso e circular: Língua – Trabalho/Emprego – € – sem conhecimentos da língua, não se consegue encontrar trabalho, sem este não há dinheiro e sem o último também não se consegue frequentar cursos para aprender a língua.
No país experienciei as quatro estações, observando dias cinzentos e pardacentos – a larga maioria – dias de sol radioso e dias de neve; senti no metabolismo os efeitos da reduzida luz solar – sonolência, inércia, ligeira melancolia – devido à latitude, existe um aumento da inclinação dos raios solares, que no período de Inverno se traduz em dias curtos e noites longas; conheci calorosas pessoas com especial destaque para o Paulo, a Vera, o Leandro, o Marcin e o Anders, o Renato, os trainee, o Joãozinho e o Daniel; vivi e visitei Kongsberg e os seus agradáveis arredores – verdes florestas de altíssimos e antigos pinheiros, colinas e montes rochosos, rios e lagos cor de azeviche – a cidade costeira de Sandefjord, lar do interessante museu das Baleias, e a agradável e tranquila capital Oslo onde destaco a zona portuária de Aker Brygge e a Opera House, que mais se assemelha a um massivo iceberg. 🙂
A Noruega, é um país de natureza, topografia acidentada, fracamente povoado e depois de lá ter estado, tenho a clara noção que apesar dos preços serem globalmente elevadíssimos – transportes, restauração, alojamento… -, a partir do momento que se arranjar trabalho, haverá sempre dinheiro para viver. Sendo um país que proporciona aos seus habitantes, uma excelente qualidade de vida! Para resumir a minha estadia, afirmo que apesar da busca de emprego/trabalho se ter revelado infrutífera, gostei bastante da experiência e sei que quem conseguir emigrar para o país com sucesso, fará uma excelente aposta. 😀
Para além disso, apercebi-me de alguns factos que podem ser resumidos numa ideia que gostaria que os meus conterranêos Lusos acreditassem: “Não somos inferiores aos povos nórdicos, em nada! Sendo tão trabalhadores ou bons vivants como eles. 🙂 A grande diferença, é que vivemos num modelo de sociedade que não funciona e eles não. Este fosso, é explicado pela palavra, CONFIANÇA. O grande problema do nosso país e outros países do sul da Europa, é que foi criada uma nuvem de desconfiança e suspeição generalizadas, que minam e corroem toda a estrutura da sociedade da base ao topo. Somos ensinados a desconfiar e acreditamos que quem falha – e todos falhamos – o faz propositadamente e por obscuros interesses pessoais, em vez de falhar por incompetência/desconhecimento. A realidade é que sendo levados à desconfiança, somos levados à corrupção, à descrença, à inabilidade de sonhar e de nos tornarmos melhores cidadãos, capazes de melhorar o nosso país.