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Crónicas Em trânsito

Em trânsito: Pequim- Pingyao. Escola em Movimento

O meu primeiro comboio noturno foi uma autêntica sala de aulas em diversos aspetos. Primeiro que tudo aprendi a ler um bilhete de comboio na China. Seguidamente, e de muito mais importância, foi a autêntica aula prática em que participei ao falar com um rapaz chinês, na qual comecei a tentar perceber melhor o país em que me irei mover:

– Lições sobre Economia real (salário bruto 4000Y – salário líquido 3300Y; Valores mensais para o aluguer de casas, algures entre 1500-2000Y);

– Lições sobre Sociedade e Trabalho (“Existem leis criadas pelo governo relativamente ao descanso dos trabalhadores –  dois dias por semana, mas as empresas não cumprem a lei e o governo não quer saber”“Se num mês descansar dois ou três dias já é uma sorte“; “No primeiro ano, ninguém ousa falar de férias ao patrão” “O mercado Chinês é extremamente competitivo! Não queres? Salta! Há  quem queira”);

– Lições sobre China clássica e Medicina (Os 5 elementos: Ouro – Água – Madeira –Fogo – Solo relacionam-se com a medicina tradicional chinesa que é uma Medicina de prevenção).

Para além disso experienciei (refira-se que com bastante prazer), escrever à luz do PC. A ilusão “absoluta” do movimento relativo (o meu comboio estava parado e ao ver o outro comboio a mover-se, tive a sensação que me estava a mover) lembrou-me uma citação de Theroux sobre de como os movimentos dos comboios ajudaram a criar o Jazz e, adormeci embalado pelo Tum, Tum…Tum, Tum.

No dia seguinte bem cedo percebi o seguinte: os comboios noturnos têm um método para os passageiros saírem nas estações certas (acho que tal facto ocorre para evitar borlas e não por “samaritanismo”), que consiste em fazer as pessoas entregar o bilhete no início da viagem (ficamos com um cartão magnético) e na devolução do mesmo por um funcionário quando estamos a passar na estação de destino. Para um leigo, como eu que não percebe nada de chinês isto é espectacular! 😉

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Crónicas Fotografia O 1º Dia

O Primeiro Dia em Pequim

O primeiro dia em Pequim correspondeu ao primeiro dia da viagem (vá, vamos excluir os aeroportos e os aviões, porque esses pouco se alteram em qualquer lugar do mundo, correspondendo a um modelo previamente standarderizado). Quando aterrei o dia estava cinzento e enevoado. “Oh diabo! Welcome to smog my friend?” A ver vamos. No aeroporto, para sair para a zona das bagagens foi necessário aguardar numa fila o controlo dos passaportes e de um “cupão” que é importante para o controlo de emigração e deve ser entregue à entrada e à saída do país. Mas não se pense que o controlo dos passaportes só é aplicado aos ocidentais, não senhor! Aplica-se também aos próprios cidadãos. Ora muito bem! Cá temos um primeiro cheirinho a burocracia. Quando ia a caminho do metro passou por mim um ocidental e na zona de comprar os bilhetes meti conversa com ele. Para minha sorte calhou-me na rifa um italiano (Stefano) que já vive na cidade há sete anos e durante a nossa viagem até ao centro de Pequim, contou-me coisas sobre si e deu-me algumas dicas.

Já na hostel (que foi bastante fácil de encontrar) e apesar do cansaço (esquecer-me recorrentemente de objetos antes de sair, acho que foi a faceta mais visível) o meu objetivo passou por continuar acordado e manter o ritmo o mais normalizado possível. Desse modo, o corpo é forçado a começar a habituar-se ao horário do destino. O resto do dia foi passado a deambular por Pequim de forma errática e sem grandes objetivos definidos. Acabei por seguir até aos muros exteriores da Cidade Proibida por uns hutongs (ruas e vielas que formam um bairro, em que as casas tem tradicionalmente pátios interiores) e seguidamente dirigi-me ao parque Jingshan (no seu interior este parque alberga alguns pavilhões chineses, que se localizam no topo de uma colina e proporcionam uma bela panorâmica sobre a Cidade Proibida, mas não neste dia) onde andei tranquilamente a passear com um chinês que pôs conversa comigo quando estávamos sentado num banco do jardim.

Saí do parque e continuei a deambular por avenidas monumentais e por mais hutongs. Aqui, pela primeira vez entrei numa mercearia e sem falar uma palavra de chinês e só com comunicação gestual consegui comprar uma garrafa de água de litro e meio (que inicialmente custava 5Y) por 1Y, percebendo automaticamente a importância que o regatear tem na cultura deste país. De rua em rua, viela em viela fui parar à rua principal do hutong mais antigo da cidade (Nanluogu Xiang) e lembrei-me de uma citação de Theroux: “É axiomático que logo que um lugar ganha a reputação de ser um paraíso se torna um Inferno” – a rua era um misto de discoteca pirosa e de um circo. Enfim demasiado turístico e demasiadas pessoas para o meu gosto, mas se calhar é melhor começar-me a habituar e rapidamente ao turismo de massas aqui na China.

Quando saí desta zona de hutongs, não sabia onde é que andava e o melhor foi quando abri a mala para ir buscar o mapa e verifiquei que não o tinha, a cereja no topo do bolo veio quando me apercebi que nem sequer o nome da rua ou localização do hostel tinha comigo. Nesta altura, tentei recorrer à ajuda de algumas pessoas que passavam na rua ou que trabalhavam em lojas ali nas imediações mas comecei a perceber que o inglês continua a ser pouco falado (mesmo em pessoas mais jovens). Moral da história: cansado, perdido (durante mais ou menos hora e meia) e sem perceber uma única letra que me rodeava ou palavra que me diziam comecei a ficar nervoso e a pensar como raio me ia livrar daquela situação incómoda que tinha criado. Após uns momentos de reflexão lembrei-me de ir a um hotel grande (em que aí falam inglês) pedir um mapa e para marcarem onde estávamos. Com base no mapa e na minha bússola lá me consegui orientar e voltar à base – apenas por curiosidade, diga-se que estava aproximadamente a três quilómetros na direção Noroeste.

Quando ia a chegar ao hostel estava esfomeado e encontrei um famoso mercado de rua noturno com comida, porém para o dia acabar em beleza paguei 17Y por um pratito de noodles mal-amanhado e reaprendi que antes de concluir qualquer negócio só mostro o dinheiro depois de acertado o preço (nem que seja por mímica). Já no hostel confirmei que na China o Facebook está bloqueado (tinha quase a certeza deste facto) e a má surpresa veio quando percebi que nem no blog conseguia entrar (também bloqueado). Depois de avisar que estava tudo bem (via skype, o telemóvel desde Barcelona que não tinha rede) finalizei a preparação para Muntianyu e às 20.00 já estava a dormir o merecido sono dos viajantes.

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Citações Reflexões

A Necessidade de Mobilidade

Sentimos uma necessidade absoluta de nos movermos. Mais, de nos movermos numa direção específica. Uma dupla necessidade, portanto: de nos pormos a caminho e de sabermos para onde.

D.H. Lawrence in, Sea and Sardinia (1921)

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Citações Reflexões

Os Países e as Pessoas

Os países atravessam-nos, mais do que nós a eles.

Claude Roy