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Teddy Bear Hotel. Comunicação, Conforto e Jantarada

Ainda nesse dia partimos para Emeishan, que fica apenas a quarenta minutos de viagem de Leshan e ficámos alojados no Teddy Bear Hotel. Apesar de apenas termos passado aqui uma noite, este local ficou na memória por diversos motivos, a saber: no nosso quarto dei de caras com um casal de suecos com os quais me “tranquei” na conversa em bom inglês e sem problemas de comunicação; a cama em formato king size e o colchão bastante confortável; a net super rápida e estável e por último mas não menos importante, a bela jantarada chinesa com o Li e com outro rapaz chinês, mais um hóspede do nosso quarto, Lin Wei, que gostava de ser tratado por Xiaoling. Tofu, batatas cortadas muito finas, coelho, porco, arroz e cervejas fizeram parte do repasto. Depois de ter aproveitado para falar com a minha família via skype combinei encontrar-me com o Xiaoling dali a três dias noutro local da província de Sichuan. Desta feita, com o propósito de viajar com ele por uma China mais interior e mais profunda, alterando para isso a minha rota. Em que resultaria tal combinação? Isso, era o que eu desejava saber. 🙂

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O Buda Gigante e o “Monstrinho”

O dia começou no autocarro para Leshan, onde tive mais uma pequena aula de chinês com o Li Xiaoling, um rapaz que conheci na noite anterior já em Chengdu e depois de regressar do parque natural de Jiuzhaigou. Quando chegámos à cidade apanhámos uma carrinha privada – preço idêntico ao autocarro público – que nos levou para zona do Buda, porém a paragem terminal foi feita em frente a um restaurante onde nos tentaram impingir comida e uma viagem para Emeishan. Típico! :/ Neste dia houve uma novidade… Foi a primeira vez desde o início da viagem que carreguei durante todo o dia o meu “monstrinho”, nome com o qual baptizei “carinhosamente” a minha mochilona. E mesmo assim tive sorte porque o Li ajudou-me ao levar a mochila do material eletrónico, que não estava tão leve quanto isso. Lá está, mesmo numa situação menos favorável, o português tem sempre sorte! 😉

      

Durante o dia e passo a passo, visitámos o Buda de Leshan e a área envolvente. E mesmo com o “monstrinho” às costas afirmo que adorei visitar este local. 🙂 Primeiro, recebi o impacto “clorofilino”,  fruto da vegetação luxuriante que nos rodeava. Depois, a extraordinária cor dos templos, pavilhões e muros circundantes de um ocre antigo cheio de profundidade e de textura, a tranquilidade da maioria dos locais, apesar do espaço ser super turístico, as pequenas cavernas, fruto do labor humano e onde me deparei com a frase: “It is easy to draw ghosts, but difficult to draw dogs and horses” (É fácil desenhar fantasmas, mas difícil desenhar cães e cavalos) e que estava relacionada com o facto dos cães e dos cavalos serem os guardiões das almas. Por último e claro, o impacto da presença massiva do Buda.

       

Junto com as multidões chinesas, descemos um penhasco de rocha laranja, abrupta e parcialmente esculpida com relevos, nichos e aberturas e que à distância parece uma aldeia. Observámos o rio verde que corre aos pés do Buda e onde circulam freneticamente barcos turísticos que permitem uma vista frontal do local. E na descida o Buda de Leshan revela-se e agiganta-se. Com setenta e um metros de altura e pontuado pela vegetação que cresce no seu colo, ombros e corpo, como que das suas vestes se tratasse, o grandioso buda molda-se na rocha que lhe dá vida. Quando chegamos à base da estátua, o Buda imponente toma conta de todo o espaço, só temos olhos para a sua dimensão e verificamos que somos mais pequenos que o seu dedo mindinho. É aqui, que sentimos realmente o Buda de Leshan. 🙂

      

Sentir é a palavra certa. O Buda não se vê ou observa, o Buda sente-se! 😀 Penso que não há palavras que consigam realmente definir o que foi estar lá. Mas fazendo uma pálida tentativa, para o leitor não ficar no zero absoluto, posso afirmar que me senti ínfimo, uma partícula mínuscula, algo frágil e fugaz, constituído por ossos, sangue e carne, matéria viva que um dia morrerá. Senti o peso da mortalidade humana. Mas tal não me esmagou. Morte é morte. Vida é vida. E enquanto houver vida, há a esperança e a alegria de podermos sentir. Só assim estamos vivos, só assim somos humanos. 😀

      

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Validades

No dia de regresso a Chengdu, ao comprar uns mantimentos para a viagem, reparei pela primeira vez que todos os produtos que comprara estavam fora de validade, inclusivamente o leite. Mas não se pense que era uma ou duas semanas. Não! Meses! No caso do leite, quatro meses! Fiquei a pensar se tal seria consequência do afastamento do parque natural ou se seria uma situação generalizada e decidi que nas próximas oportunidades iria investigar esta questão. 😛

P.S. – Apenas como curiosidade para o leitor. Sim! Acabei por consumir todos os produtos que comprei e não… Não senti nada de anormal no meu organismo! 🙂

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Jiuzhaigou, Fairy Tale

Ato III – Silêncio, Roubo e Consciência

O início do segundo dia no parque foi mais relaxado e apenas fiz a minha entrada às 11.00. O meu plano do dia anterior, foi logo morto à nascença e assim que entrei fui encaminhado para a estrada, por uma funcionária que me olhou furiosa porque eu não tinha comprado o bilhete para os autocarros.

      

Passado um quilómetro e meio de ir rente à estrada, uma vez que o trilho estava fechado, vi uma bifurcação e uma placa a anunciar templo e encaminhei-me para lá. Quando cheguei, deparei-me com uma grande área em reconstrução, completamente deserta e silenciosa. 🙂 Estava dado o mote para o que seria o meu dia. Nas traseiras do templo havia um trilho que não estava cortado – suspeito que por esquecimento – e enveredei por aí experimentando o parque numa dimensão totalmente renovada, a dimensão do silêncio. 😀 Durante as restantes horas que passei no seu interior e nos quilómetros palmilhados – algures entre catorze e dezasseis – vi locais que foram uma novidade e outros que foram uma repetição do dia anterior, porém mesmo esses observei-os com outra atenção e de uma outra perspetiva.

      

Apenas parei um pouco, quando me sentei num passadiço com as botas imersas na água que corria e aí comi uma maçã e um chocolate, foi um momento agradável e tranquilo, como todos os momentos desse dia. 🙂

      Passadiço       Na Aldeia...

No caminho de regresso, ainda tive tempo para apanhar um susto com uma cabra  que surgiu do nada no meio do trilho – som de galhos a quebrar no meio da floresta e do silêncio absoluto – e para observar umas bonitas e coloridas bandeiras budistas que estavam no meio da floresta. Porém ao observá-las senti-me tentado a ficar com uma delas e quando dei por mim já tinha cortado a corda inteira – com o meu canivete – e estava pô-las dentro da mochila. Resumindo, estava a roubar! :/ Assim que o fiz, senti-me logo de consciência pesada e arrependido do meu ato e só encontrei um pouco de paz quando passados alguns minutos me  lembrei de uma ação compensatória. Devolver as bandeiras no topo de Emeishan, uma das quatro montanhas sagradas do budismo e um dos meus futuros destinos.

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Jiuzhaigou, Fairy Tale

Ato II – O Caos e a Ordem

A resposta às minhas dúvidas, foi-me dada na bilheteira no momento da compra dos ingressos tanto para o parque natural, como para os autocarros que aí circulam, quando comprei o bilhete para o segundo dia por “um valor simbólico”. Os dados estavam lançados! Esperava assim que o parque fosse a minha redenção. Porque no Inferno, já eu estava. Sim! A bilheteira também estava um pandemónio! :/ 

    Na saída do Bus    

Tendo um bilhete de autocarro na mão e dois bilhetes para o parque delinei um plano que me satisfez. No primeiro dia decidi aproveitar o transporte ao máximo para conseguir ver as áreas mais afastadas da entrada do parque e no segundo dia circularia provavelmente sem bilhete de autocarro ou a pé. Assim, e sem perceber uma palavrinha de chinês dirigi-me para a paragem inicial de autocarro com a esperança que fosse na direção certa do “Y”. Ao entrar fiquei contente, porque verifiquei que ninguém controlava os bilhetes (cá está! Assumem-no como um dado adquirido) e daqui até à última paragem demorámos pelo menos quarenta minutos passando de fugida por alguns locais que prometiam!  🙂
       Cascata     Na Floresta

Quando sai na última paragem, estava rodeado de hordas de turistas e cada vez que vinha um autocarro via o seu número a aumentar, a aumentar. “Oh diabo! Mas isto vai ser sempre assim?” :/ Comecei a andar no meio da multidão muito pouco satisfeito com o panorama geral até que… dei de caras com o primeiro lago, um lago de águas azuis translúcidas. “Epá. Isto é bonito!” 🙂 Passados uns momentos quis começar a percorrer algum dos trilhos que ligavam os lagos e cascatas sucessivos, porém fruto de ser época de incêndios quase todos os caminhos estavam fechados! :/ A única solução era ir apanhando os famosos autocarros entupidos de pessoas e ir saindo “nos pontos de interesse. Quando se aí chegava era ver o ver todo o “circo montado” na hora de tirar fotografias, as poses, trajes “tradicionais” para alugar e toda a parafernália existente… Esta foi a descrição do caos. Porém…

        

beleza natural ofusca qualquer um dos detalhes anteriormente referidos, e se em condições normais bastaria apenas um deles para o parque ser considerado penoso ou insuportável, esqueçam! Não estamos em condições normais! Estamos em Jiuzhaigoulocal onde a terra das fadas e da fantasia desceram à terra e onde a beleza natural é tão intensa que passados uns momentos esquecemos todos os problemas. Entramos em estado ZEN e só temos olhos para a Natureza no seu máximo esplendor: cascatas, árvores, cursos de água, aldeias tibetanas (vocacionadas para o turismo de massas é certo), montanhas e lagos… muitos lagos de vários tons de azuis e verdes, cada qual com a sua beleza particular, mas que deixam bem gravada na memória a sua presença. 😀 Fora de série é também o facto de mesmo no final do dia continuarmo-nos a maravilhar, a cada passo, a cada olhar. Comovente! A ordem desceu à terra e eu tive a minha redenção! 😀

Delicadeza

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Jiuzhaigou, Fairy Tale

Aparte

Antes de continuar a relatar os factos, vou apenas fazer um duplo aparte. Para se entender a importância que Jiuzhaigou tem na China e no turismo do país é melhor começar por explicar a realidade. Assim sendo, vamos começar pela economia. O parque cobra em época baixa 80Y de entrada, 80Y para os autocarros e para além disso permite a compra de um bilhete para um segundo dia por um valor simbólico de 20Y. Em época alta, a realidade muda radicalmente. O bilhete de entrada passa a custar 220Y! O custo dos autocarros mantem-se inalterado e deixa de ser possível comprar um bilhete para um segundo dia por um valor simbólico. Resumindo, o parque natural de Jiuzhaigou é de tal modo famoso, que se dá ao luxo de cobrar qualquer coisa como 40€ por dia em época alta! :/

Outro luxo a que Jiuzhaigou se dá é o da imposição! :/ O parque tem a forma de um “Y”, é vastíssimo e da entrada até aos extremos distam qualquer coisa como cinquenta quilómetros! Como ninguém está autorizado a dormir no interior do parque, exceto as populações locais que vivem nas aldeias existentes no seu interior, o staff assume que o turista quer visitar toda a extensão do parque, e como tal, o autocarro mais do que fundamental, torna-se uma obrigação! Desse modo, comprar “apenas” o bilhete de entrada pelo menos para o primeiro dia é algo muito difícil de conseguir.

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Jiuzhaigou, Fairy Tale

Ato I – Estado de espírito? Zero absoluto! 

Apesar da epifania da viagem, quando cheguei ao hostel e seguidamente à vila perdi imediatamente toda essa vontade. O hostel era uma espelunca com quartos na cave, sem janelas, gelados, a cheirar a humidade e com os beliches quase a desfazerem-se. 😦 Para além disso, a casa de banho ao fundo do corredor estava constantemente inundada fruto da escorrência de água pelas paredes. Só faltava mesmo o verdete, porque bolor esse havia em abudância! 😛

A vila por sua vez, era um agregado de casas soturnas ao longo da estrada, com restaurantes de lixo mas com preços de luxo, algumas pousadas e hotéis baratos, mercearias decrépitas que também vendiam quinquilharia turística. Tudo isto enquadrado num vale de árvores altas e verdes escuras e num céu pardacento que também não ajudou a melhorar a minha disposição geral. De qualquer modo e após uma viagem tão longa e cansativa também não me apetecia fazer o que a maior parte das pessoas faz: a visita num dia e no dia seguinte partir para Songpan ou voltar a Chengdu… e com esta realidade na mente fui-me deitar na minha masmorra e esperar por uma aurora redentora.

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Em trânsito: Chengdu – Jiuzhaigou. Porreiro Pá!

Durante a viagem comprovei o meu novo “super-poder” 😛 , a habilidade para escrever em andamento. Desse modo, aproveitei para pôr o diário em dia, apesar de pouco me servir visto que os apontamentos escritos desta viagem ficaram perdidos algures na China, sendo que, neste momento escrevo o que a memória me permite.

IMG_3101 (FILEminimizer)Os primeiros duzentos quilómetros foram bastante rápidos (duas horas), mas os restantes duzentos e trinta já levaram seis horas a percorrer! A partir de certo momento começámos a entrar em vales e montanhas, cruzámos incontáveis túneis (alguns dos quais longuíssimos) e aldeias com características tibetanas (mas sempre com a bandeira chinesa bem hasteada). Passámos numa ponte de tirantes em que os pilares estavam pintados e ornamentados com cores vivas e símbolos tradicionais e tive o meu primeiro controlo de passaporte no país. As últimas duas horas da viagem foram as mais duras, curvas e contra curvas fechadíssimas em descida e tive uma epifania para ficar uns dias em Jiuzhaigou a relaxar. A viagem acabou de forma abrupta quando sai à pressa e de forma atabalhoada do autocarro após o motorista estancar o bólide e me apontar a saída. Só passados uns momentos notei que possivelmente e durante o controlo de passaporte, ele percebeu onde era o meu hostel, acabando por me deixar nas imediações do mesmo. Como diria o nosso comentador político e “ex-prime minister”: “Porreiro, pá!” 😛

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Dujiangyan. “Esta é a minha praia!”

      

No dia seguinte, fui até Dujiangyan visitar a obra hidráulica mais antiga do mundo! 🙂 O fabuloso sistema de irrigação construído em 256 a.C. por Lin Bin e pelos seus conterrâneos, que demorou oito anos a concluir. Para lá chegar necessitei de andar duas horas de autocarro, uma dentro da imensa Chengdu e a outra para percorrer os setenta quilómetros que separam as duas cidades.   

       

Durante o dia, observei as visitas turísticas de bandeirinha em riste e senti-me diferente pois era o único ocidental entre multidões. 🙂 Vi um extraordinário exemplo de megalomanismo chinês, quando no topo da colina Yulei me deparei com seções e seções de escadas rolantes! :/ Ao percorrer esta fantástica obra de engenharia, vi a “modelação” operada no rio Min e toda a sua envolvente: as ilhas, as múltiplas pontes, os jardins harmoniosos e super bem cuidados, as margens e a cor da água do rio, os templos grandiosos e majestosos (Erwang e Fulonguan), os pavilhões, as muralhas e torres, a pagoda Yulei e senti-me um privilegiado. 😀 Aliás, foi mais intenso do que isso! Senti-me talhado para viajar! Para a vida de nómada! Se houve quem nascesse para ser pintor, escritor, padeiro, engenheiro, porque não há-de alguém ter nascido para viajar!? Este é o meu habitat, o meu ambiente. Esta é a minha essência. Esta é a minha praia! 😀

            

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Chengdu? Parques e Arranha-céus

  Arranha Céus      White

Depois da visita aos Pandas, voltei ao “centro” de Chengdu, capital da província de Sìchuān. Mas verdade seja dita, devido à vastidão da cidade é dificil encontrar-lhe o coração. 🙂 Há quem diga que está nas grandíssimas avenidas, fréneticas, cheias de pessoas, motos, autocarros e carros. Há quem diga que está em Wangfujin, nas lojas caras e requintadas das imediações e nos arranha-céus que quais gigantes começam a despontar em todas as direções. Eu digo que talvez esteja nos verdes e animados parques da cidade. Principalmente no People´s park, onde há danças, karaokes, coreografias a serem ensaiadas, bandas a tocar, partidas de xiang qi, majohong e cartas a serem jogadas e onde pessoas de todas as idades parecem convergir e partilhar parte do seu tempo. 😀