Ato III – La Première
Fruto de uma má gestão do frio e da humidade – a colocação da manta de sobrevivência em cima do saco-cama, resultou numa enoooooorme condensação, transpiração e calor – e da incapacidade de me conseguir mover – o arbusto ficava a poucos centímetros da minha cara – a primeira noite em pleno parque natural, de idílica teve pouco, ou nada. 😛 Ao contrário do dia anterior, o sol despontou no horizonte, e à primeira luz matinal já estava a tomar o pequeno-almoço e a arrumar a mochila – o que ainda demorou uma horinha bem redonda.
Pelo topo de arribas xistosas continuei quase sempre junto àquele mar azul e verde carregados, até ao momento em que me enganei no trilho e perdi cerca de vinte minutos a voltar a encontrá-lo. A verdade, é que mesmo com este pequeno contratempo em menos de hora e meia estava no Porto das Barcas e daí até ao centro de Vila Nova de Mil Fontes, o caminho foi completamente desinteressante mas célere. Estava terminada a primeira etapa da rota Vicentina. 🙂 Junto ao forte de São Clemente e enquanto fotograva a bonita aberta onde o rio Mira encontra o mar, encontrei o simpático Sr. Augusto, com quem estive a conversar um pouco e que me disse: “sempre gostei muito da Natureza, você faz parte do meu grupo de crentes”. No centro da vila, parei numa mercearia para comprar mais mantimentos e segui para sul, rumo à vila de Almograve. Depois de cruzar a ponte sobre o rio, entrei numa agradável herdade cheia de sobreiros, dirigindo-me para a praia das Furnas, onde acabei por almoçar.
Durante os onze quilómetros que faltavam, o que mais me surprendeu foi encontrar verdes campos cobertos de flores, um enoooooorme relvado que parecia o local ideal para piquenicar, campos de cultivo e infelizmente, florestas de agressivas acácias que estrangulam e eliminam toda a vegetação autóctone. À medida que andava, a sola do meu pé esquerdo começou aos poucos a ressentir-se e quando cheguei à praia de Almograve, ao descalçar-me encontrei o que já suspeitava… la première… a famosa… bolha, estava oficialmente formada. 😛
Nesta altura, como ainda era cedo – 16.00 – e a terceira etapa era longa – vinte e dois quilómetros – resolvi continuar a andar. O início do trilho para Zambujeira do Mar, revelou-se fascinante e à medida que Almograve ficava para trás, as dunas foram-se modificando e os arenitos passaram de cores suaves e alaranjadas para tons fortes e avermelhados. Espetacular! 😀 A partir do porto de pesca da Lapa das Pombas, onde pude observar rochas xistosas a formarem um quebra-mar natural, a paisagem modificou-se, as falésias tornaram-se imponentes e escarpadas e as dunas cheias de uma vegetação colorida. 🙂 Nesta altura sentia-me cansado, mas sabendo que nas imediações da Entrada do Pau iria encontrar um pinhal, forcei-me a andar mais um par de quilómetros. Para além disso, este pedaço de costa que era realmente fascinante, ajudou a atenuar um pouco o cansaço. 🙂
Assim que encontrei o pinhal, larguei o monstrinho e escolhi um terreno cheio de caruma fofa onde montei abrigo. Perfeito! Melhor mesmo, só quando passados poucos minutos começou a chover e a tela de nylon se revelou impermeável! 😉 Era altura de finalmente repousar mas ao contrário da noite anterior, o local era realmente agradável. Depois de um repasto reconfortante, aproveitei para ler um pouco e às 20.00 já estava deitado, pronto para dormir o tranquilo sono dos andarilhos.